Zuanazzi: "Dilma disse apenas que o governo queria salvar a Varig"
O ex-presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Milton Zuanazzi defendeu na noite desta quarta-feira (11), na Comissão de Serviços de Infra-Estrutura (CI), os atos da agência durante o processo venda da Varig e da VarigLog. Sobre a participação da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, nos episódios, Zuanazzi não sancionou a versão da ex-diretora da Anac Denise Abreu de que a ministra teria interferido a favor da venda da VarigLog a um consórcio que não tinha as condições legais para fazer a compra.
O ex-presidente da Anac disse que, durante uma reunião na Casa Civil no dia 22 de junho de 2006, expôs a posição da agência contrária à conclusão do negócio da Varig Log, em face da não comprovação de capacidade financeira dos sócios minoritários do consórcio que tinha sócios majoritários estrangeiros. Segundo Zuanazzi, a ministra disse apenas: "Essa é a posição da Anac. A posição do governo é a de salvar a Varig".
Zuanazzi disse que a ex-diretora da Anac alarmou-se em excesso com a informação de que a ministra Dilma Rousseff havia enviado ao Ministério da Defesa denúncia de que ela, Denise, tentava favorecer a TAM e a Gol no negócio. Zuanazzi disse que tentou tranqüilizar Denise, ao explicar que o então ministro Valdir Pires não havia encontrado motivos para abrir inquérito contra a diretora.
Antes de ser questionado pelos senadores, Zuanazzi fez uma exposição de aproximadamente uma hora, historiando o que, a seu ver, foi a seqüência de eventos entre o momento em que a crise da Varig veio à tona e a transferência da Varig e da VarigLog. Ele procurou separar as duas operações, observando que a venda da Varig deu-se no âmbito da 8ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, enquanto a da VarigLog ocorreu em âmbito privado.
Zuanazzi disse, no entanto, que, a certa altura, o juiz da 8ª Vara, Luiz Roberto Ayoub, transmitiu-lhe as pressões do consórcio que comprava a Varig Log e que também se candidatava, na Justiça, a ficar com a Varig.
- Ele me disse que o grupo era o mesmo e que exigia a liberação da venda da VarigLog, para ficar também com a Varig, garantindo 20 milhões de dólares para que a empresa continuasse voando até o leilão - afirmou Zuanazzi.
O ex-presidente da agência disse ainda que no dia 19 de junho de 2006, diante da falta de perspectiva para a Varig, Ayoub lhe telefonou instruindo-o a organizar um programa de contingência, ou seja, um programa de redistribuição dos bilhetes da Varig para outras companhias, o que começou a ser feito, num "gabinete de crise" no Ministério da Defesa. No dia 21, entretanto, o mesmo juiz lhe telefonou para dizer que havia surgido uma proposta, justamente a do grupo que também comprava a VarigLog, e que a decretação de falência poderia ser revertida.
- Era uma boa proposta, no valor de 277 milhões de reais, porque a Varig só tinha onze aeronaves voando e não havia conseguido a venda por 500 milhões de reais, quando tinha 73 aviões operando - justificou Zuanazzi. Ele explicou que a transferência da VarigLog foi possível porque o consórcio retirou a ação judicial contra a Anac e apresentou toda a documentação requerida pela agência.
Questionado pela senadora Ideli Salvatti (PT-SC) se nos processos de transferência das empresas haviam sido utilizados recursos públicos, Zuanazzi respondeu que "não", mas esse ponto de vista foi contestado pelo senador Demóstenes Torres (DEM-GO). Segundo o parlamentar, a empresa Flex, remanescente da Varig, tem dívidas de R$ 2 bilhões com o Tesouro Nacional.
O ex-presidente da Anac disse que pessoalmente é contra as restrições à participação estrangeira nas vendas de companhias, mas que a Anac fez as exigências porque tinha de cumprir a lei.
Sobre a ex-diretora da Anac Denise Abreu, que denunciou pressões por parte da ministra Dilma, Zuanazzi disse foi que ela teria sido "vítima de sacanagens", como no episódio da foto em que apareceu nos jornais fumando charuto durante a crise da aviação.
Na opinião do líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR), as transferências das duas empresas ocorreram de maneira transparente e legal:
- Não vejo por que tanta celeuma - disse
- Vi hoje aqui muita pescaria e pouco peixe - ironizou o senador Wellington Salgado (PMDB-MG).
11/06/2008
Agência Senado
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