ACM pressiona, mas Ciro não muda guia









ACM pressiona, mas Ciro não muda guia
SÃO PAULO – A assessoria de campanha do presidenciável Ciro Gomes (PPS) garantiu ontem que não há força humana capaz de tirar o marqueteiro Einhart Jacome da Paz da campanha. O comentário, feito em São Paulo, é uma reação a afirmações do ex-senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), que vem defendendo mudanças no programa eleitoral de Ciro, coordenado pelo marqueteiro. Embora afirme que não há planos de mudar a linha do programa, o candidato do PPS entende que a campanha tem de ter uma dinâmica afim com o momento do debate.

ACM defendeu ontem, em Salvador, uma mudança radical no programa eleitoral do candidato da Frente Trabalhista à Presidência. Mas negou que venha a integrar a cúpula da campanha ou que possa ceder o publicitário Fernando Barros (um dos sócios da Propeg), que no momento trabalha para o PFL baiano. “Acho que ele deveria mudar o cenário do programa”, opinou ACM, lembrando que o candidato tucano José Serra (PSDB) utiliza vários artistas e Ciro também deveria fazer isso. “Ele (Ciro) tem Patrícia Pillar...”, observou.

Se depender do presidente nacional do PFL, Jorge Bornhausen, além de responder aos ataques de Serra, Ciro Gomes também deve partir para cima do PT. O próprio Bornhausen já aponta dois caminhos: a ligação da CUT e do MST com o partido e o cancelamento, anunciado por Lula, da construção de uma plataforma da Petrobras. “A CUT e o MST são os sócios ocultos do PT nesta campanha, por conveniência eleitoral”, afirma Bornhausen. Mas isso vai até o dia 27 (data do segundo turno), porque no dia 28 eles voltarão à ativa e não deixarão de ser sócios.

NOVO FÔLEGO – Os pontos ganhos nas pesquisas de intenção de votos deram novo fôlego à campanha de José Serra em Minas Gerais, onde boa parte do tucanato confessava desânimo e outros tantos ameaçavam migrar para a candidatura adversária de Ciro Gomes. Além de servir para consolidar o apoio dos tucanos e motivar as bases a pedir votos a Serra, a reação dele abriu caminho para que o comando estadual da campanha começasse o trabalho de reaproximação do PFL mineiro, hoje engajado a Ciro quase na totalidade.

“Nunca houve um risco iminente de debandada do PSDB mineiro, mas o crescimento vem em muito boa hora, porque o desânimo e a apreensão eram muito grandes,” afirma o candidato a senador Eduardo Azeredo (PSDB). Foi no embalo dos bons ventos das pesquisas que Serra desembarcou ontem à noite para um comício em Santa Luzia, na Grande Belo Horizonte, governado pelo prefeito Carlos Alberto Calixto (PFL), um dos poucos chefes de executivos municipais pefelistas que mantiveram o apoio ao tucano em tempo de popularidade em queda.


Sensus confirma crescimento de José Serra e queda de Ciro
BRASÍLIA – A última pesquisa Sensus, encomendada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) e divulgada ontem, confirma a tendência de recuperação de José Serra (PSDB) e queda de Ciro Gomes (PPS), como foi indicado nos levantamentos dos institutos Vox Populi e Ibope. Na sondagem de voto espontâneo, Ciro caiu de 19% para 17,1% e Serra subiu de 7,3% para 9,4%. O líder da pesquisa, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), subiu de 25,8% para 26,4%. Anthony Garotinho (PSB) oscilou de 6,2% para 5,9%.

No voto estimulado, Lula foi de 33,4% para 34%. Ciro caiu de 28,6% para 25,5% e Serra passou de 13,4% para 14,7%, diminuindo a distância entre os dois de 15,2% para 10,8%. Garotinho foi de 12,1% para 10,4%.

Nas simulações de segundo turno, Ciro e Lula estão tecnicamente empatados. Ciro aparece com pequena vantagem, vencendo por 44,7% a 43,3%. No levantamento anterior, ele ganhava por 48,6% a 42%. Se a disputa fosse entre Lula e Serra, Lula venceria por 49,2% a 36,3%. A pesquisa foi feita entre os dias 24 e 26, com dois mil entrevistados em 195 cidades. A margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos.


Petista agora quer saber quem são os pais das “obras órfãs”
Depois de pedir um exame de DNA das obras federais de maior visibilidade em Pernambuco, o candidato a senador Dilson Peixoto (PT) pediu ontem, em debate na Rádio CBN, que os pais das “obras órfãs” se apresentassem aos eleitores pernambucanos. “As nossas obras de maior visibilidade sempre têm pais demais.

Quero saber quem são os pais do Hospital das Clínicas, do presídio de segurança mínima, da termelétrica que desabou e do aeroporto que afundou em Caruaru”, enumerou Dilson Peixoto, em nova provocação ao governador Jarbas Vasconcelos, candidato à reeleição pelo PMDB, e ao vice-presidente, Marco Maciel, candidato ao senado pelo PFL.

“Vamos derrubar essa imagem de administrador inquestionável e mostrar que Jarbas é um mestre da enganação”, disse. “A Delegacia de Olinda, por exemplo, não tem banheiro. Os policiais usam o posto de combustível”, afirmou, acrescentando que situações como essas explicam a falta de bons serviços à população na área de segurança pública.

Na mesma entrevista, o candidato a senador, mantendo a intenção de polarizar sua campanha com o candidato a senador pelo PFL, Marco Maciel, renovou suas críticas, aproveitando os ataques desferidos pelo deputado federal Joel de Hollanda (PFL), aliado de Maciel, que o atacou no horário gratuito de anteontem. “Prefiro ter as pernas curtas e andar ao lado do povo a ter as longas pernas de Maciel, que se escora nas elites e defendeu a ditadura.”

No ar, Dilson Peixoto aproveitou a entrevista para defender o candidato a senador Carlos Wilson (PTB), apontado como contraditório pelo PSTU por já ter sido da Arena.

“Wilson fez a trajetória inversa. O mundo mudou e algumas pessoas mudam. O PT, por exemplo, não pode pensar do mesmo jeito, com 21 anos hoje”, disse.

Questionado, a propósito das alianças, pelo apoio que o presidenciável Lula ganhou do ex-presidente José Sarney (PMDB), Dilson Peixoto disse que, “ao contrário do que ocorre com o apoio de ACM ao candidato Ciro Gomes (PPS), Sarney não vai mandar no palanque de Lula”.


Colunistas

PINGO FOGO – Inaldo Sampaio

Voto descasado
Pelo menos até o momento, o eleitor pernambucano não está casando o voto. Lula está em primeiro para presidente da República, Jarbas para o governo estadual, e Marco Maciel e Carlos Wilson para as duas vagas no Senado. Na campanha de 86, como se sabe, a emoção do guia eleitoral de Miguel Arraes fez com que ele arrastasse consigo os dois senadores, Mansueto de Lavor e Antonio Farias, deixando para trás Roberto Magalhães, que era favorito.

Já na campanha de 94 esse mesmo fenômeno não se repetiu. Arraes chegou ao governo pela terceira vez mas só conseguiu levar um dos senadores: Roberto Freire. O outro senador eleito foi Carlos Wilson, então apoiado pela coligação adversária (Jarbas, Roberto Magalhães, Marco Maciel, etc). Em 98 Jarbas elegeu o pefelista José Jorge mas as circunstâncias eram muito diferentes. Havia naquela eleição um forte desejo de mudança, de modo que, qualquer candidato que tivesse feito parte daquela chapa, era pule de dez.

Hoje, o desafio do governador é a eleição de Sérgio Guerra, que ainda permanece em desvantagem em relação a Carlos Wilson. Este, na medida em que se atrela a Ciro Gomes e secundariza Lula, que também o apóia, trabalha indiretamente pela vitória do tucano.

Serrista convicto
Além de Guilherme Robalinho (saúde), há outro “serrista” convicto na equipe de Jarbas: o procurador-geral do Estado Sílvio Pessoa. Para ele, “o Brasil ganharia muito se Serra vier a ser eleito presidente”, pois além de ser um homem público de excepcionais qualidades “é menos tolerante e concessivo” do que o presidente FHC.

Aliás, acrescenta o procurador-geral, é esse o pr incipal motivo pelo qual muitos “coronéis” nordestinos têm horror a ele.

Irritação 1
Inocêncio Oliveira (PFL) saiu do sério por causa desta nota publicada, ontem, na coluna “Painel” da Folha de São Paulo: “De olho no crescimento de José Serra nas pesquisas, Inocêncio Oliveira passou a dizer em Pernambuco que nunca fechou uma aliança com Ciro Gomes nem jamais descartou apoiar o presidenciável tucano”.

Irritação 2
O líder pefelista enviou uma carta a Otávio Frias Filho pedindo uma retificação da nota, sem, no entanto, ameaçar processá-lo. Diz que o seu apoio a Ciro Gomes foi fruto de uma “profunda reflexão”, e que pede votos para ele, em Pernambuco, nas barbas de Marco Maciel, Jarbas Vasconcelos e Sérgio Guerra, que são partidários de José Serra.

Henrique abrirá hoje em Vitória o comitê eleitoral
Henrique Queiroz (PPB) aproveita a data do seu aniversário, hoje, para abrir um comitê eleitoral em Vitória de Santo Antão. Lá, irá medir forças com Aglaílson Júnior (PSB) e Elias Lira (PFL), que são os seus principais adversários.

Comitê de Batata será inaugurado hoje às 19 horas
Candidato à reeleição, o deputado Carlos Batata (PSDB) inaugura hoje às 19h o seu comitê eleitoral. Fica na Rua Gonçalves Maia, ao lado do Consulado Americano. Marco Maciel e Sérgio Guerra deverão passar por lá.

Atenção em dobro
O deputado José Augusto Farias (PSB) diz que “está atento” à fragmentação dos votos em Surubim, seu principal reduto, por causa do lançamento de outras três candidaturas, e por isso mesmo caiu em campo. Ampliou sua base de apoio em outros 30 municípios da Mata, Agreste e Sertão, o que garantiria o seu retorno.

Bom de conversa
Encerrando a série de entrevistas com os “presidenciáveis”, o “Bom Dia Brasil” da Globo receberá, hoje, Lula. Dos três que foram sabatinados anteriormente, quem melhor se saiu foi Garotinho. Não se deixou encurralar nenhuma vez por Míriam Leitão, que, segundo o “Macaco Simão”, deveria ser privatizada.

Pelo menos numa particularidade as pesquisas do Ibope, Vox Populi e Sensus estão de acordo: o horário eleitoral está levantando Serra e derrubando Ciro Gomes. Os três também detectaram que Lula permanece firme, no 1º lugar, com cerca de 35% de intenções de voto, e que seria imbatível, hoje, no 2º turno.

Os defensores públicos de Pernambuco já chegaram à conclusão de que, sozinhos, não irão convencer o governo estadual a conceder autonomia administrativa e financeira ao órgão a que pertencem, e resolveram pedir apoio a outras entidades. O presidente do sindicato da categoria, Jânio Piancó, solicitou a colaboração de Ademar Rigueira (OAB).

A FIR promoverá hoje, às 10 da manhã, um segundo debate de natureza política. Os convidados desta vez são Eduardo Campos (PSB) e Marcelo Santa Cruz (PT). O primeiro é candidato à reeleição e o segundo a deputado estadual. O debate anterior foi com Maurício Rands (PT) e Raul Jungman (PMDB).

Há consenso nos meios políticos, tanto da situação como da oposição, de que o candidato a senador, Dílson Peixoto (PT), poderá surpreender nessas eleições, graças à consistência do seu discurso. Nota-se o crescimento da candidatura dele entre o eleitorado jovem, particularmente nos cursinhos pré vestibulares e nas universidades.


Editorial

CHANTECLAIR RENASCE

Começaram as obras de restauração de um dos mais poéticos e tradicionais monumentos arquitetônicos do Século 20 do Recife, o edifício Chanteclair. É a iniciativa privada investindo no desenvolvimento urbano e cultural da cidade, acreditando nas potencialidades turísticas desta Capital. Na verdade, ele integra um conjunto de construções, em estilo chamado de eclético por alguns urbanistas, que deram um ar moderno ao primitivo bairro, hoje chamado de Recife Antigo. O nome Chanteclair deveu-se, tão somente, ao funcionamento, a partir da década de 40 do século passado, de famosa boate com esse nome, localizada no extremo oeste daquele conjunto arquitetônico.

Entre os muitos bares com radiolas de ficha e presença de mulheres, que começaram a proliferar no local em virtude do enorme fluxo de fuzileiros navais (marines) norte-americanos, com seus dólares, à época da Segunda Guerra Mundial, o velho Chanteclair brilhava como uma espécie de estrela de primeira grandeza.

Pernambucanos que estão chegando ou ultrapassando a casa dos 60 anos, e que tiveram a sua iniciação boêmia naquela casa de mulheres, danças e músicas, devem estar agora saudando o renascimento do antigo prédio. Mas, os tempos são outros, diferentes os costumes. O Recife Antigo não é mais o porto das meretrizes, das brigas de marinheiros e dos pileque da mocidade. E, por isso, o Chanteclair remoçado não será o de outrora, voltará reencarnado em um grande centro cultural, ainda que também um não menos efervescente ponto de encontro.

As primeiras notícias sobre o processo de restauro, por uma equipe de especialistas e operários treinados particularmente para atuar em construções antigas, informam que serão feitos todos os esforços no sentido de dar ao complexo as condições originais da estrutura interna e da fachada, que se encontram “em avançado estado de decomposição”. Antes do começo dos trabalhos, no último dia 15 deste mês de agosto, foi realizado por uma equipe de arquitetos um estudo detalhado de todo os ornatos e detalhes da fachada. O que não puder ser recuperado terá de ser refeito totalmente.

O projeto de restauração do Chanteclair e os de dezenas de outros realizados em igrejas multisseculares e prédios históricos, como o Cinema Guarany, em Triunfo, mostra que Pernambuco tem dado passos largos nas técnicas de restauro, tanto de monumentos arquitetônicos quanto de obras raras e documentos escritos. Neste particular, a Fundação Joaquim Nabuco já se tornou um centro de irradiação regional.

Além da presença ativa da iniciativa privada, recursos para a restauração do Chanteclair, assim como para todo o chamado Paço da Alfândega e diversas obras de infra-estrutura que darão suporte ao empreendimento, estão sendo emprestados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), com participação, também, da Prefeitura da Cidade do Recife e do Governo do Estado.

Transformado, o velho Chanteclair será um centro de lazer para qualquer tipo de público, com oito salas de cinema, cafeteria, livraria e café-concerto. Mas o tempo antigo talvez possa ser, também, relembrado pelos velhos boêmios, quando estes visitarem o bar mais famoso do velho bairro portuário do Recife, o restaurante Gambrinos, a ser restaurado.

A restauração do Chanteclair é mais um passo para a completa vitalização do Recife Antigo. Só não precisamos novamente chegar ao aglomerado de 27 mil pessoas por quilômetro quadrado, densidade populacional atribuída àquele bairro, por alguns historiadores, no século 16. Nem seria isso recomendável, num mundo que está ficando cada vez mais habitado, mas dispõe ainda de tantas áreas desocupadas.


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08/29/2002


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