Ciro muda discurso e aprova acordo com FMI









Ciro muda discurso e aprova acordo com FMI
BRASÍLIA – À saída da conversa com o presidente Fernando Henrique Cardoso, o candidato da Frente Trabalhista à Presidência, Ciro Gomes (PPS/PDT/PTB), adotou um discurso sereno para quem vinha sendo o mais ácido crítico da atual política econômica. Com palavras aparentemente escolhidas para reduzir as resistências de investidores e empresários à sua candidatura, Ciro se comprometeu com a manutenção da estabilidade econômica e, pela primeira vez, deu garantias claras de que, caso eleito, cumprirá contratos e manterá o superávit de 3,75% do Produto Interno Bruto (PIB), previsto na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Afirmou, ainda, que o Governo não tinha alternativas ao acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

“Compreendo como inevitável a evolução desses entendimentos, não sem lamentar”, disse, depois de se reunir por cerca de uma hora com Fernando Henrique. Ele observou, no entanto, que só se pronunciará, definitivamente, sobre o assunto por escrito e após ter conhecimento dos documentos que detalham o entendimento entre o Brasil e o FMI. A pedido do candidato, Fernando Henrique autorizou o ministro da Fazenda, Pedro Malan, e o presidente do Banco Central (BC), Armínio Fraga, a entregarem os papéis oficiais do acordo, que prevê a liberação de US$ 30 bilhões para o Brasil.

Apesar de pedir tempo para estudar o acordo, Ciro deixou claro que aceita os pressupostos do entendimento, ao garantir que, se eleito, praticará a austeridade fiscal, manterá a estabilidade da moeda e não romperá nenhum contrato. Era tudo o que o Palácio do Planalto esperava e o efeito das declarações do candidato foi imediato no mercado, com a queda da cotação do dólar.

Nas últimas semanas, Ciro vinha dando declarações dúbias sobre as negociações com FMI e os assessores econômicos dele informaram que o candidato pretendia apresentar a FHC propostas de mudança no acordo, embora tenham sido desmentidos por ele. Primeiro dos presidenciáveis a ser recebido por Fernando Henrique, Ciro evitou dar detalhes sobre o encontro.


Garotinho ataca e afirma que a reunião “não acrescentou nada”
BRASÍLIA – O candidato à Presidência da República pelo PSB, Anthony Garotinho, manteve ontem, ao fim do encontro com o presidente Fernando Henrique Cardoso, o discurso radical contra o Governo e contra a política econômica e disse que a audiência “não acrescentou nada”. “O presidente é um grande diplomata, mas esperávamos mais informações, como uma cópia do acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional)”, reclamou.

Em carta entregue ao presidente, Garotinho não mediu as palavras, e afirmou que “a responsabilidade pela grave crise é clara, inequívoca e, por isso, intransferível: É o resultado de oito anos de uma política econômica equivocada que enfraqueceu a economia brasileira”. A declaração de Fernando Henrique de que não havia lido o texto do candidato socialista também provocou reações.

“Logo depois da minha audiência, começou a do José Serra (candidato da coligação PSDB-PMDB a presidente), talvez para tratar do preço do pãozinho”, ironizou. Apesar das críticas ao terceiro acordo com o FMI em quatro anos, ele reconheceu que o novo empréstimo era a única alternativa no momento, e apenas questionou a redução do limite das reservas cambiais de US$ 15 bilhões para US$ 5 bilhões.

O candidato perguntou ao presidente do Banco Central (BC), Armínio Fraga, quanto ele avaliava que seria usado das reservas até o fim do ano. “Isso vai depender do mercado”, teria respondido Fraga.

Garotinho foi o único candidato a não falar na sala do Palácio do Planalto reservada para entrevistas e pronunciamentos após as audiências. Preferiu distribuir nota à imprensa, porque tinha pressa para se reunir, reservadamente, com empresários ligados ao meio evangélico, e concedeu entrevista no fim da tarde num hotel de Brasília.

Por intermédio dos colaboradores, Garotinho disse que saiu do Planalto mais pessimista em relação à situação econômica após o relato do presidente. Na nota, diferente da entregue a Fernando Henrique, insinuou que a equipe do Ministério da Fazenda e do BC, que negociou com o Fundo, está a serviço de instituições bancárias norte-americanas.

“Em 2003, os burocratas de hoje terão voltado para os Estados Unidos, muitos deles para trabalhar no Banco Mundial (Bird) e outros no próprio FMI, e os bancos aumentarão seus lucros”, afirmou, sem, no entanto, citar nomes.


Lula promete honrar contratos e controlar inflação
BRASÍLIA – O candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, comprometeu-se ontem, durante encontro com o presidente Fernando Henrique Cardoso, em Brasília, manter o rigor fiscal, honrar os contratos e controlar a inflação, mas reafirmou que, se vencer a eleição, começará a mudar a política econômica “no primeiro dia de seu Governo”. “No entanto, diante das turbulências financeiras das últimas semanas torna-se necessário agir de imediato. Não é possível esperar até que o próximo presidente tome posse”, enfatizou.

Lula afirmou que tem consciência da gravidade da situação do País e prometeu dialogar com todos os segmentos da sociedade brasileira para vencer a crise. Ele entregou ao presidente Fernando Henrique um documento de quatro páginas. Nele, há mais de seu programa de governo do que respostas aos apelos que o presidente da República tem feito para que diga, claramente, quais são seus planos para um eventual governo petista. Lula evitou, ainda, fazer comentários direto, na leitura de seu texto no Palácio do Planalto, a respeito do acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Minutos antes de embarcar num vôo particular para São Paulo, o candidato esclareceu que não falou a respeito do FMI porque já o tinha feito no dia em que o acordo foi assinado, em nota oficial. No documento, Lula admitiu que o atual Governo “não tinha outra saída a não ser buscar o acordo com o Fundo”.

Entre as sugestões contidas no documento entregue ao presidente, Lula pediu medidas para reativar a indústria nacional, “que hoje está com 20,4% de sua capacidade ociosa”, um projeto de renovação da frota nacional, “que pode ajudar o setor automobilístico a sair da crise”, a aprovação do projeto de lei que acaba com a cumulatividade na cobrança do PIS, aporte financeiro para as microempresas, e vigilância para evitar abusos nos preços do gás de cozinha, do pãozinho e dos alimentos essenciais.

Lula estava acompanhado do presidente do PT, José Dirceu, do candidato ao Senado por São Paulo, deputado Aloizio Mercadante, e do coordenador do programa de Governo, Antônio Palocci.


José Serra festeja o resultado do encontro com o presidente
BRASÍLIA – Os conselheiros da campanha presidencial do senador José Serra (PSDB-SP) receberam com muita reserva e preocupação a notícia do encontro do presidente Fernando Henrique Cardoso com os quatro principais candidatos a sua sucessão, mas ontem respiraram aliviados. Presentes à reunião com Serra, os presidentes nacionais do PMDB, deputado Michel Temer (SP), e do PSDB, deputado José Aníbal (SP), avaliaram que seu candidato se saiu muito bem e que a conversa com Fernando Henrique “foi útil” para reforçar a estratégia eleitoral de colar o tucano ao Governo.

“Meu candidato foi muito bem porque passou, claramente, sua identidade com aquilo que o Governo fez e está fazendo”, resumiu Aníbal. “O encontro foi muito bom porque colou Serra ao Governo e a posição do partido é a de que ele tem que colar mais”, completou Temer.

No pronunciamento que fez à imprensa, ao final da reunião, Serra não só elogiou os termos da negociação entre o Gove rno e o Fundo Monetário Internacional (FMI), que ele próprio defendera muito antes de o acordo ter sido fechado, como a iniciativa do encontro.

“Creio que o Governo, o Banco Central (BC) e o Ministério da Fazenda superaram as expectativas, conseguindo um entendimento que eu não esperava que fosse tão bom.

Todos trabalharam bem e o convite aos candidatos revelou a preocupação do presidente Fernando Henrique com o Brasil, acima dos interesses partidários e eleitorais. É hora de todos fazerem o mesmo”, discursou Serra, ao reafirmar a disposição de dar todos os elementos necessários para garantir a transição.

Serra aproveitou a presença do presidente do BC, Armínio Fraga, e do ministro da
Fazenda, Pedro Malan, para pedir detalhes do acordo negociado com o Fundo. Na saída, fez questão de contar que examinara detalhes do acordo que garantiu ao Governo empréstimo de US$ 30 bilhões do FMI e outros US$ 7 bilhões do Banco Interamericano de Desenvolvimento e do Banco Mundial. Insistiu que o novo empréstimo não impôs nenhum sacrifício adicional à população brasileira, porque o recurso foi obtido com as menores taxas de juros do mercado, 5,27% ao ano, e o prazo de pagamento foi conveniente, de cinco anos.

Mas não é apenas pelos elogios ao Governo que Temer e Aníbal acreditam que o tucano poderá tirar proveito do encontro. Serra aproveitou para apresentar quatro sugestões e a esperança dos políticos é a de que seu candidato seja atendido em pelo menos um: o de o Governo agir rápido para evitar que o aumento do preço do trigo não reflita no preço do pão francês.


FHC dá início à transição
Presidente se reúne com os quatro principais candidatos ao Palácio do Planalto e inaugura, com sucesso, um modelo de transição inédito na história política do País

BRASÍLIA – O presidente Fernando Henrique Cardoso conseguiu ontem o objetivo maior a que se propôs quando convidou os principais candidatos à Presidência da República para uma rodada de conversas no Palácio do Planalto: inaugurou com sucesso um modelo de transição inédito na história política do País e arrancou dos presidenciáveis, em maior ou menor intensidade, o compromisso de respeitar os contratos assumidos pelo Governo, de manter a estabilidade econômica e de cumprir a meta de superávit de 3,75% do Produto Interno Bruto (PIB) nas contas públicas. Para o presidente, os encontros “foram uma prova de maturidade das instituições políticas nacionais”.

As reuniões com Ciro Gomes (PPS), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Anthony Garotinho (PSB) e José Serra (PSDB) seguiram o roteiro preparado pelo Palácio do Planalto.

Nenhum imprevisto, nenhuma grande surpresa. No fim do dia, todos fizeram um balanço positivo. Fernando Henrique considerou que foi um sucesso. Os candidatos acreditavam ter mantido a coerência dos discursos.

O presidente recebeu os candidatos acompanhado do ministro da Fazenda, Pedro Malan, e do chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Euclydes Scalco, além do presidente do Banco Central (BC), Armínio Fraga.

A principal razão de comemoração no Planalto foi o resultado positivo do encontro com
Ciro Gomes, aguardado com muita expectativa. Todos respiraram aliviados quando o
candidato, em pronunciamento formal no Salão Leste do palácio, declarou apoio ao acordo e à estabilidade da moeda.

Fernando Henrique não escondeu sua satisfação com a compreensão de todos, em relação à defesa do acordo, embora dedicasse deferência especial ao candidato do PT.

Prova disso foram os dez minutos especiais que reservou para o petista, numa sala localizada ao lado de seu gabinete.

Em vez de começar a narrar as reuniões pela ordem, o presidente começou falando da reunião com Lula, com quem tinha mais afinidade e a quem já avisou que apoiará no segundo turno, caso o candidato governista, José Serra, não chegue lá. O último a ser citado pelo presidente foi Anthony Garotinho.

Indagado sobre afirmações de que o candidato não apoiaria o acordo, Fernando Henrique disse que a conversa “foi diferente” e que ele, assim como os outros, “concordou que o empréstimo era o melhor caminho”. Para o presidente, afirmações diferentes “são fruto do clima de campanha”.

Não foi só Lula que teve um encontro reservado com Fernando Henrique. Decidido a aumentar seu prestígio junto ao eleitorado nordestino, enterrando de vez a má fama de inimigo do Nordeste, Serra também teve reunião reservada com o presidente.

Neste encontro, para o qual o candidato convidou apenas o líder do PSDB no Senado, Geraldo Melo (RN), o tema principal foi o Nordeste. Serra planeja para os próximos dias uma viagem a Pernambuco, ao lado do governador Jarbas Vasconcelos (PMDB), especialmente para lançar, em grande estilo, um programa específico de desenvolvimento para o Nordeste.

CAÇAS – Em resposta às declarações de alguns candidatos que criticaram a licitação internacional que está sendo promovida para a compra de aviões para a Força Aérea, Fernando Henrique negou que o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) esteja condicionado à escolha do avião Gripen, de consórcio sueco-inglês. Para ele, pensar dessa forma é “subdesenvolvimento intelectual e colonialismo mental”. Ele fez questão de ressaltar ainda que, “em hipótese alguma, o Governo se sujeitaria a isso”.


Coligações apostam nos caciques para a Câmara Federal
Quando for ao ar hoje o primeiro guia eleitoral de TV, ficará claro também quais são as candidaturas prioritárias dos partidos para a disputa a deputado federal. Os 39 segundos de estréia do PPS serão ocupados apenas pelo senador e presidente nacional da legenda, Roberto Freire, que aproveitará para pedir voto para o presidenciável Ciro Gomes. Freire ganhará um reforço de peso na primeira aparição: terá a atriz Patrícia Pilar, esposa de Ciro, pedindo votos para ele.

Outro que ganha tratamento diferenciado é o ex-governador Miguel Arraes. Do espaço de 1 minuto e 15 segundos do PSB, Arraes terá sempre 30 segundos. Ele já tem pronto um bordão, que será massificado no guia: “Um homem como muitos. Um político como poucos”, será a frase repetida sempre que o candidato aparecer. Das principais candidaturas do PSB, apenas Eduardo Campos e Djalma Paes aparecem hoje, além de Arraes.

Na coligação União por Pernambuco, o espaço será ocupado pelos principais puxadores de votos dos partidos que compõem a aliança (PMDB/PFL/PSDB/PPB). Vão inaugurar o guia candidatos como Joaquim Francisco, Roberto Magalhães, Carlos Eduardo Cadoca e Pedro Corrêa. Na Frente de Esquerda, os destaques serão os petistas Fernando Ferro, Paulo Rubem Santiago e Pedro Eugênio, que já possuem mandato parlamentar.


Artigos

Comportamento e atitude
Renato A. Pontes Cunha

A consecução do objetivo da implantação de um pólo agroindustrial sucroalcooleiro, no sertão de Pernambuco, passa necessariamente pela alavancagem dos recursos financeiros destinados à edificação dos canais de captação e distribuição de água, assim como de infra-estrutura para a logística de transportes, nos moldes delineados pelos projetos da Codevasf. Para isso, a fonte de recursos seria a Cide do Petróleo, que prevê contribuição fiscal de, no mínimo, R$ 7,2 bilhões para 2002, fruto de arrecadação proveniente da importação e comercialização do petróleo e de seus derivados, bem como do preço do álcool no mercado interno. É essa a chance que temos de presentear o nosso Oeste com a cultura da cana-de-açúcar que, naquela região, manteria sinergia com a rotatividade de lavouras ali existentes, resultantes de diversos empreendimentos já consolidados, como os plantios de mangas, uvas, melões etc. Além disso, viabilizaria o abastecimento de ração para o pólo ovino/caprino, através do fornecimento de bagaço hidrolizado, um outro produto nobre do setor sucroalcooleiro, que também poderia ser utilizado para geração de energia elétrica.

Outra vantagem desse pólo está na quebra de sazonalidade e o conseqüente estabelecimento em Pernambuco de uma agricultura da cana-de-açúcar que passaria a funcionar durante todo o ano. A atividade teria a irrigação como base para uma sustentabilidade, requerida quando se tenciona implementar, com modernidade, uma agricultura mais estável, estruturadora de emprego e renda.

O consumidor de gasolina e de álcool é o indutor da formação dos recursos da Cide, agora previstos em orçamento, num aprimoramento, mais transparente do que à época da conta PPE (parcela de preços específicos), que vigorou até dezembro do ano passado.

A homologação da Cide ocorreu por meio de artigo constitucional (artigo 177) oriundo da Emenda nº 33 de 11 de dezembro de 2001, que prevê em seu item II: “os recursos da arrecadação serão destinados: a) ao pagamento de subsídios a preços ou transporte de álcool combustível, gás natural e seus derivados de petróleo, b) ao financiamento de projetos ambientais relacionados com a indústria do petróleo e do gás, c) ao financiamento de programas de infra-estrutura de transportes”.

Pretendemos, ao levantar essa questão, sensibilizar os parlamentares de nosso Estado, a exemplo do que já ocorreu com os de Minas Gerias, os quais propuseram um Projeto de Lei (PL 6770/2002) para a regulamentação do destino daqueles recursos. Os deputados mineiros defendem no caso os interesses econômicos de seu Estado, através de uma atuação parlamentar organizada. Certamente serão coroados de êxito e Minas concentrará a maioria dos recursos capitaneados por suas empresas de construção civil, a menos que, tempestivamente venhamos a colidir, se houver necessidade, no rateio dos recursos. A capacidade de articulação de nossa bancada é eficaz, razão pela qual permitimo-nos levantar a lebre, pois acreditamos em bons frutos.

As obras do metrô de Curitiba-PR, por exemplo, estão sendo também efetuadas com essas dotações.

O comportamento de nossos parlamentares federais, em função das próximas eleições de outubro, certamente não será regido apenas pelo histórico do passado, como são sabedores em sua grande maioria. O dinamismo da sociedade é intenso e as atitudes pioneiras têm que servir de lastro para a abertura de novas perspectivas para o nosso Estado. A capacidade de formulação de estratégias será fundamental para a alavancagem de novos recursos que poderão democratizar o seu uso em projetos que beneficiem significativamente a nossa economia. A Sudene se foi, tendo restado apenas seu esqueleto, sem caixa. A atitude requerida é a de luta pela ancoragem, dessa Cide, seja pela via parlamentar, seja através de Medida Provisória do Governo Federal. O fato é que há dinheiro em abundância. Aliás, eles sempre existiram para obras de alcance social, faltando às vezes a devida convergência em bloco, no tempo real, para sua pronta mobilização. São as atitudes que guardam coerência com as
necessidades do presente, fazendo futuro expansionista e promissor.

Vamos continuar a perseguir esses objetivos, na convicção de estarmos colaborando decisivamente para a agricultura pernambucana, buscando oportunidades para que ela assuma uma nova dimensão e para que seja criado um novo pólo de desenvolvimento, o que, inexoravelmente consolidará a nossa vitoriosa performance nos agronegócios. E musculatura mais densa para o tecido social de nossa gente.


Colunistas

PINGA FOGO - Inaldo Sampaio

Guia eleitoral
Começa hoje o guia eleitoral nas emissoras de rádio e televisão. Visto por muitos como uma “chatice”, ele é, na verdade, um poderoso instrumento de politização, dado que proporciona aos eleitores a oportunidade de conhecer mais profundamente as idéias e propostas dos seus candidatos. O que ele não é é “salvador da pátria” , pelo menos para os candidatos que se habituaram, de uns anos para cá, a absolutizarem a propaganda eleitoral gratuita.

Aliás, em Pernambuco há um grande número de políticos que absolutizam o marketing político. Que ele é importante, é, porque comunicação em campanha política é fundamental. Mas os marqueteiros não fazem milagre nem substituem os candidatos.

Muito pelo contrário. Às vezes, até atrapalham quando insistem em “artificializar” a
imagem do candidato, como fizeram com o prefeito Roberto Magalhães na campanha
eleitoral do ano 2000.

Todo mundo em Pernambuco sabe que Roberto Magalhães é um político conservador na acepção literal do termo, porém educado e lhano com os seus adversários. Todavia, obrigaram-no a dizer desaforos na televisão e a vestir-se como não queria. Resultado: perdeu a eleição mais ganha que houve na história de Pernambuco.

Ainda não é tempo
Neto de Agamenon Magalhães, que, segundo Miguel Arraes, “foi a maior cabeça política que Pernambuco já teve”, o deputado federal e presidente eleito da CNI, Armando Monteiro, não pretende queimar etapas. Andou admitindo em conversa com amigos que poderia disputar o Governo de Pernambuco, daqui a quatro anos, mas depois recuou. Por enquanto, está ligado apenas em sua reeleição para a Câmara Federal. Com uma votação bem superior à de 1998.

Dedos alheios
Tem um dedo de Arraes e outro do economista Tito Riff o documento entregue ontem por Garotinho a FHC expondo os pontos de vista do PSB sobre o acordo com o FMI. Já as idéias de Ciro Gomes foram alinhavadas por Mangabeira Unger, Mauro Benevides Filho e José Alexandre Scheinkman, este último, recém-incorporado à sua equipe.

Reunião de amigos
Não terá conotação política o coquetel que os “macielistas” irão oferecer no próximo dia 26, às 18h, na Blue Angel da Benfica, ao vice-presidente da República. A finalidade da reunião é comemorar o aniversário do vice, que transcorreu no dia 21 de julho, sem festa, devido ao falecimento de sua genitora, D. Carmem Sylvia Maciel.

Fernando Morais sai da disputa em São Paulo
Alegando não querer ser “mero figurante”, e sim candidato de verdade, o escritor Fernando Morais (autor de Olga, A Ilha) deixa a disputa pelo Governo de São Paulo. O deputado Lamartine Posella, também do PMDB, o substituirá.

Líder da greve da PM lança-se amanhã na briga
Líder da 1ª greve da PM (1997), o major Alberto Feitosa (PL) estará lançando nesta 4ª feira, no Bar Repertório, na Torre sua candidatura à Câmara Federal. Desta vez, ele convidou Humberto Costa e não Jarbas Vasconcelos.

No rastro de Ciro
A exemplo de Ciro Gomes em relação ao “mercado”, os candidatos majoritários da “União por Pernambuco” estão pouco se “lixando” para os candidatos proporcionais.

Sexta, 16, o líder do PSDB, Antonio Moraes, reuniu cerca de 1.500 pessoas na inauguração do seu comitê. E sequer Sérgio Guerra esteve lá.

Voto fechado
O presidente do PSDB, Augusto César, arquivou sua mágoa de Marco Maciel pelo fato de o vice-presidente ter estado em Serra Talhada, em 2000, pedindo votos para o candidato do PFL à Prefeitura. Sábado, ao lado do prefeito Geni Pereira (PSDB), anunciou que votará fechado: Marco Maciel e Sérgio Guerra.

Pela contabilidade de Roberto Bruto, presidente da Associação dos Delegados de Polícia de Pernambuco, mais de 90% da categoria apóia a reeleição de Carlos Wilson (PTB). Segundo ele, quando Wilson foi governador a Polícia Civil pernambucana era uma das mais bem remuneradas do País. Hoje, só ganha para a Paraíba e o Piauí.

Mesmo inocentado pelo TRE-PE da acusação do PMDB de Paulista de que falsificara documentos quando do pedido de registro de sua candidatura à Assembléia Legislativa, o vice-prefeito A guinaldo Fenelon (PV) ainda não pode respirar aliviado. O advogado Gilderley Gondim recorreu da sentença ao TSE.

Se Ciro Gomes eleger-se presidente, ou romperá logo com Roberto Freire ou Roberto Freire romperá com ele. Aquela reprimenda da última 6ª feira, através da qual desautorizou, categoricamente, o presidente nacional do PPS de falar por ele, dando essa atribuição, apenas, ao jornalista Egídio Serpa, deixou o senador pernambucano entalado.

Mesmo sofrido pela perda do filho, Júnior, em acidente de carro, sábado, no Sertão, o deputado federal Severino Cavalcanti (PPB) talvez se renda à pressão dos prefeitos que estavam comprometidos com a candidatura dele à Assembléia Legislativa. Eles querem Ana Cristina, irmã do morto, como candidata.


Editorial

EXCEÇÃO NA COLÔMBIA

Com poucos dias de empossado na Presidência da República da Colômbia, Álvaro Uribe decretou estado de comoção interna, que equivale ao estado de sítio, por 90 dias prorrogáveis por mais 90, envolvendo medidas de exceção que lhe permitem governar por decreto, apesar e dizer-se liberal. E, como não poderia deixar de acontecer na América Latina, criou mais uma taxa, uma espécie de CPMF, mas sobre propriedades, sob o pretexto de financiar o combate às guerrilhas. Acreditamos, porém, que não será com menos democracia e mais agressão ao bolso do contribuinte que o vizinho país resolverá esse velho problema. Falta decisão política. O poder ali é dividido entre liberais e conservadores, há muitos anos, sem que nada mude. As guerrilhas resolveram ficar com as sobras. Tudo indica que ainda não será desta vez que o Governo colombiano retomará o controle sobre grande porção do território do país, ao qual incrivelmente renunciou. Uma tentativa desesperada de estabelecer um diálogo e um modus vivendi, capaz de levar à paz, principalmente com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), guerrilha em atividade há mais de 40 anos.

Na Colômbia de hoje, a guerrilha de esquerda e os paramilitares de direita repetem a história de seu país na passagem do século 19 para o 20, tão bem pintada por Gabriel García Márquez em seu Cem anos de solidão. Combate-se por combater. Ninguém sabe mais por que está combatendo. Tanto um lado como o outro misturam tráfico de drogas e outras atividades ilegais com o exercício prático de suas teorias, ideologias, e com a perseguição de seus alegados objetivos. Na ficção histórico-fantástica de García Márquez, o coronel Aureliano Buendía, já velho, fazia soldadinhos de chumbo para vender e não sabia mais por que havia lutado a vida inteira. Algo semelhante ocorre com ex-guerrilheiros latino-americanos que vêm fazer seqüestros no Brasil, não mais para derrubar Pinochet ou qualquer outro ditador, mas para arranjar dinheiro para financiar uma dolce vita.

O mais grave para o Brasil e outros vizinhos é que assessores das forças armadas dos Estados Unidos, que podem ser precursores de contingentes armados, como ocorreu no Vietnam e outras partes do mundo, já estão na Colômbia, sob o pretexto de treinar soldados colombianos para o combate aos traficantes de drogas. Não constituem boas lembranças para a América Latina esses treinamentos, que geralmente eram conduzidos no Panamá e serviam para criar e sustentar ditaduras sangrentas. Claro que todos concordam com a necessidade de combater o tráfico de drogas, e gerrilhas que já perderam a hora e a vez. Uma coisa, contudo, é combater o negócio da droga, até aceitando ajuda do Governo americano, grande interessado, por ter o seu país o maior contingente de vítimas da droga. Outra coisa é aceitar intervenção militar em nossos países; ainda mais numa conjuntura de crise mundial e de exacerbação daquilo que os dirigentes americanos chamam de sua missão antiterrorista global. A redemocratização da América do Sul foi um processo duro e longo, com muitas vítimas. Não vamos jogar tudo fora e recomeçar o ciclo.

O fato atual é que Uribe tem 180 dias para governar por decreto e adotar medidas restritivas à liberdade, como toque de recolher, buscas e prisões sem mandado judicial; e muito dinheiro. Além de criar duas novas brigadas de elite, pretende financiar uma rede de 100 mil informantes civis das forças de segurança. Já morreram mais de 40 mil pessoas nessa luta e o povo colombiano não agüenta mais tanto sofrimento. Conseguirá o seu Governo, desta vez, ganhar a guerra? Ou as restrições às liberdades serão vãs? Não seria melhor fazer reformas econômicas e sociais?


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08/20/2002


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