ALCÂNTARA DEFENDE MANUTENÇÃO DA FILA ÚNICA PARA DOAÇÃO DE ÓRGÃOS



O senador Lúcio Alcântara (PSDB-CE) manifestou sua preocupação com o movimento que está surgindo pela alteração do dispositivo da lei de doação de órgãos que trata da fila única. Alcântara definiu o dispositivo, que permite a qualquer pessoa ser atendida independentemente de situação financeira, influência ou prestígio, como um dos instrumentos mais sérios da lei.
- Sem essa lei, seguramente, o Brasil estaria pior. Até porque muitas das coisas que se faziam nesse setor se faziam sem nenhuma cobertura legal - afirmou o senador, acrescentando que a lei veio para colocar a doação de órgãos em seus devidos termos. Tendo defendido arduamente a lei no Senado, ele se disse preocupado com a tentativa de alteração da fila única, já denunciada pelo jornalista Elio Gaspari.
Conforme Alcântara, propiciar a qualquer um receber órgãos é uma das características mais democráticas da lei, que coloca todos em pé de igualdade, permitindo um maior controle da sociedade nesse assunto. "Igualando pessoas independentemente de raça, condição social, condição econômica ou crença religiosa, essa lista única evita que aquele que tem pistolão ou dinheiro fure a fila", observou ele.
O senador relatou que os interessados em alterar essa norma alegam a necessidade de levar em conta a gravidade de uns pacientes sobre outros e a necessidade de aumentar o número de transplantes em alguns hospitais. Para Lúcio Alcântara, "o que há é um movimento sorrateiro para abalar o critério de eqüidade e justiça traduzido pela lista única".
Ele também lembrou que, quando o projeto tramitava no Senado, seus críticos diziam que a iniciativa serviria apenas para facilitar aos ricos receber órgãos doados pelos pobres, para saquear bancos de órgãos e para a venda de partes do corpo humano, o que o senador assegura que jamais se confirmou.
- A essas críticas, eu sempre respondi que essa lei era uma das primeiras no Brasil que ia dar chance ao pobre, ao humilde, ao desempregado, por causa da fila única. Então não podemos permitir que se mexa nessa grande conquista da lei - disse o parlamentar.
O senador admitiu, contudo, que se uma criança estiver em primeiro lugar na lista para receber um coração e se o órgão disponível para doação é de um adulto, a fila pode ser furada para que se beneficie o paciente seguinte. Da mesma forma, ele admite que a fila pode ser furada para atender às exigências da compatibilidade. "Às vezes, o órgão doado não é compatível histologicamente com o da pessoa que vai recebê-lo. Mas isso já tem critérios bem definidos. Não há por que se mexer nisso", esclareceu. Conforme o senador, é escondendo-se nesses argumentos que muitos querem hoje alterar uma lei por ele definida como essencialmente justa.

16/08/2000

Agência Senado


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