Ciro reage a ataque de Serra, que revida e polariza disputa









Ciro reage a ataque de Serra, que revida e polariza disputa
Ciro Gomes (PPS) e José Serra (PSDB) protagonizaram mais um dia de confronto direto na disputa presidencial, desdobrando a polarização eleitoral que ficou evidente no debate entre os candidatos realizado no último domingo à noite pela TV Bandeirantes.

Ciro reagiu às acusações de Serra de que mente ao falar sobre suas ações no passado. Disse que a "violência" e "grosseria" do tucano serão julgadas pela população e soltou uma nota oficial procurando responder a cada um dos pontos levantados por Serra.

O tucano contra-atacou: "Em uma campanha é muito importante que os candidatos se apresentem como são, não de forma enganosa". E voltou a afirmar que Ciro mentiu ao dizer que o mínimo equivalia a US$ 100 quando era ministro da Fazenda, entre outras coisas.

O clima crescente de hostilidade entre os dois candidatos foi ampliado por ações de duas lideranças políticas do Nordeste. O ex-governador cearense Tasso Jereissati (PSDB), que já não vinha escondendo com gestos e palavras sua predileção pela candidatura Ciro, subiu o tom das críticas a seu colega de partido. Acusou Serra de ter feito "malandragem" ao favorecer seu adversário no Estado, o candidato ao governo Sérgio Machado (PMDB), com a liberação de verbas do Ministério da Saúde no final do ano passado. Machado retrucou.

Candidato à reeleição em Pernambuco, o governador Jarbas Vasconcelos (PMDB), por sua vez, tido por Serra no início do ano, antes de recusar o cargo, como o vice ideal para sua chapa, anunciou que abrirá seu palanque no Estado para Ciro Gomes.


Candidato do PPS rebate tucano
Acusado por José Serra (PSDB) de "faltar com a verdade" no debate da TV Bandeirantes, o candidato do PPS, Ciro Gomes, dedicou-se ontem a rebater as acusações feitas pelo tucano.

Dizendo-se "perseguido", sugeriu que o atraso nas respostas deve-se à sua "responsabilidade" em não ceder à "baixaria", o que, segundo ele, pode ter sido confundido com "insegurança".

"A grosseria, a violência com que este senhor tem se comportado, a população vai julgar. Agora eu, que tenho a responsabilidade de ter a serenidade, que estou me preparando para ser presidente do Brasil, tenho de reagir sem dar a ele o mesmo nível, que é o que ele quer, me arrastar, porque está em desespero, para uma baixaria para onde eu não posso ir. Às vezes prudência pode parecer alguma insegurança", afirmou, em entrevista à rádio Bandeirantes.

Embora aliados do ex-governador afirmem não estar preocupados com a possibilidade de Serra conseguir carimbar no candidato do PPS o rótulo de mentiroso, a campanha também emitiu ontem nota oficial sobre o assunto.

No documento, o pepessista rebate cada uma das acusações feitas pelo tucano. Ao comentar a declaração de que teria mentido sobre o salário mínimo em sua gestão como ministro equivaler a US$ 100, diz que ""como todo economista honesto sabe, e o trabalhador mais ainda, não é a expressão nominal, mas o poder de compra que interessa."

Contesta ainda os dados apresentados sobre a dívida mobiliária do Ceará e sobre o prêmio mundial da Unicef concedido por programa criado na gestão de Tasso Jereissati (PSDB) e também desenvolvido sob o seu governo.

Interlocutores do presidenciável argumentam que Ciro não respondeu aos ataques durante o debate como parte de uma estratégia que pretende evitar confrontos diretos com um adversário que disputa a terceira colocação nas pesquisas.

Credibilidade
"Mas estamos discutindo credibilidade, seriedade, falar a verdade ou mentir. Isto é um assunto subjetivo que tem a ver com o tipo de autoridade que você vai exercitar e com o tipo de relação ética que tem com a sociedade", disse ontem o presidenciável.

Ele também voltou a insistir no destino que teria sido dado ao dinheiro obtido pelo governo com as privatizações. "Ao invés de responder, o candidato vem me criticar, me chamar de mentiroso, usando palavrórios de lorde inglês: faltar com a verdade."

Ainda assim, declarou já ter sido "muito" amigo de Serra no passado. "Muito mesmo. Saíamos juntos, ajudei a elegê-lo líder do PSDB. Ele provavelmente vai desmentir, mas isso é história."

Na entrevista, prosseguiu afirmando estar sendo submetido a um "torturante" patrulhamento sobre suas alianças e disse acreditar estar ""incomodando descalibradamente poderosos".

Apesar disso, prometeu reagir com equilíbrio às provocações por ser esse um ""atributo de um bom presidente".

O candidato do PPS reiterou o fato de que não pretende se comprometer com um eventual acordo assinado entre o Brasil e o FMI e defendeu o uso de medidas provisórias. "Alguns assuntos exigem que o presidente tenha capacidade de reagir, inclusive porque pode acontecer [algo] de madrugada. Os mercados são globais."
Ciro criticou o jornal "O Estado de S. Paulo", que, em editorial, acusou-o de "flertar com o fascismo". "O jornal assumiu, editorialmente, o patrocínio da candidatura oficial. E, nesse patrocínio, acredito que tem passado um pouco da conta em sua serenidade." Atacou também a Rede Globo pela edição do debate de 1989, entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-presidente Fernando Collor de Mello.


Ata mostra que Ciro não fundou PSDB no Ceará
Ao contrário do que afirma, Ciro Gomes (PPS) não foi um dos fundadores do PSDB no Ceará. A ata do partido mostra que ele e o ex-governador Tasso Jereissati só se filiaram ao PSDB em 9 de março de 1990, quase um ano depois da fundação do PSDB no Estado.

"Pega a ata de fundação do PSDB no Ceará. Eu não fui fundador nacional do PSDB porque eu era prefeito de Fortaleza. E fui o único prefeito de capital que apoiou Mário Covas para presidente. Tasso era governador. Passada a eleição, fundamos o PSDB no Ceará. A primeira ata, o primeiro diretório está lá, no cartório registrado. Isso é a minha história, a história dele", disse Ciro em entrevista ontem.

O PSDB já existia oficialmente no Ceará desde junho de 1989 nacionalmente, o PSDB existe desde junho de 1988.

Mas seus fundadores oficiais no Estado foram a ex-deputada Moema São Thiago e o empresário Amarílio Macêdo, que, na época, saiu do PMDB após ter rompido com Tasso, em 1988.

Moema afirma que Ciro e Tasso, apesar de não terem deixado logo o PMDB, ajudaram a articular nacionalmente a criação do novo partido.

O que teria atrasado a filiação dos dois, segundo ela, seria a renúncia do pernambucano Roberto Magalhães na chapa de vice do então candidato a presidente Mário Covas, durante a campanha presidencial em 1989.

Mas essa não é toda a história. Ainda no PMDB, em julho de 1989, o grupo de Tasso e Ciro chegou a cogitar apoio à candidatura de Fernando Collor à Presidência, mas desistiu para apoiar Covas. Especulou-se na época que a dupla namorou a idéia de entrar no antigo PRN, partido de Collor.

Durante o debate na TV Bandeirantes, no domingo, o candidato José Serra (PSDB) afirmou que Ciro mentia ao afirmar que seria fundador do partido. Ontem, Ciro fez sua defesa.

Ciro passou por três partidos políticos antes de chegar ao PPS. No início da carreira política, Ciro se elegeu deputado estadual pelo PSD em 1982. O partido, de sustentação ao regime militar, tinha como principal liderança no Estado o ""coronel" e ex-governador César Cals.

Em sua segunda disputa à Assembléia Legislativa, em 1986, Ciro se filiou ao PMDB, na primeira eleição ganha pelo grupo de Tasso, que propunha o rompimento com os ""coronéis" do regime militar. Pelo PMDB, Ciro foi eleito prefeito de Fortaleza, em 1988. Ele já estava no PSDB quando se elegeu governador, em 1990.


Ministério isenta vice de Ciro de acusação
Trabalho afirma que não houve desvio de recursos da Força Sindical, mas erro de processamento de dados

O Ministério do Trabalho isentou ontem a Força Sindical de suposta irregularidade na aplicação de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) apontada por investigação em curso pela Controladoria Geral da União.

Em nota, o ministério atribuiu a um "procedimento indevido" na alimentação do sistema de informática a identificação de um trabalhador treinado em 32 cursos profissionalizantes, ministrados em Estados diferentes.
Ontem mesmo, a controladora-geral da União, Anadyr Rodrigues, também divulgou nota. Destacando que a nota do ministério se tratava apenas de uma das irregularidades encontradas, ela nega que o caso esteja encerrado e diz que a explicação do Ministério do Trabalho "não esgota as questões suscitadas no relatório de auditoria". A íntegra das investigações não foi tornada pública.

Possíveis desvios na aplicação de dinheiro do FAT para treinamento de trabalhadores têm incomodado o presidente licenciado da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, candidato a vice na chapa do presidenciável Ciro Gomes (PPS-PDT-PTB).

O Ministério do Trabalho atribuiu a falha às empresas contratadas pela Força Sindical, com recursos do FAT, para treinar trabalhadores. Essas "executoras" teriam cadastrado alguns trabalhadores com um mesmo número de CPF, de forma aleatória.

Por isso, o sistema associou os cursos de todos esses trabalhadores ao primeiro treinando inscrito, gerando a informação de que ele teria participado de 32 cursos e não de apenas um.

Para o ministério, portanto, não houve desvio de recursos e sim um erro de processamento dos dados. "A Força Sindical, com base em seus registros internos, listas de frequência dos cursos e fichas cadastrais dos treinandos, poderá comprovar e remover a suspeita de irregularidades", informou a nota do Trabalho.

O ministério adiantou ainda que está revisando o sistema de processamento de dados e estuda utilizar o número do PIS dos trabalhadores para identificá-los.

A explicação do Ministério do Trabalho foi combinada entre o ministro Paulo Jobim e seu antecessor, Francisco Dornelles (PPB-RJ). Integrantes da Força Sindical souberam em primeira mão que o ministério divulgaria a nota e anteontem já sabiam o conteúdo.

Funcionários do ministério também discutiram com a Controladoria Geral da União uma versão mais branda para a resposta que seria dada ainda ontem à tarde por Anadyr. Pretendiam que a controladora-geral tratasse o relatório de auditoria como algo preliminar. Até elogiaram a auditoria feita pela Secretaria Federal de Controle, subordinada a Anadyr, mas não conseguiram.

Auditoria feitas pelo Tribunal de Contas da União no FAT em 98 apontaram falhas nos cursos ministrados sob a responsabilidade da Força Sindical. A auditoria apontou diversas falhas no Plano Nacional de Qualificação do Trabalhador, que tinha como responsável o secretário de Políticas e Públicas e Emprego do Ministério do Trabalho, Nassim Mehedff.

Procurado ontem pela Folha para comentar o assunto, Francisco Dornelles não respondeu aos recados deixados. Antes, havia dito ao jornal que "foi dado como um fato julgado e conclusivo algo que não passa de um pedido de informações". O ministro Paulo Jobim não quis comentar a troca de notas. A controladora-geral Anadyr Rodrigues não atendeu ao pedido de entrevista.


Presidenciável do PPS rejeita apoio de Collor
O presidenciável da Frente Trabalhista (PDT, PTB e PPS), Ciro Gomes, disse ontem que o fato de o ex-presidente Fernando Collor de Mello (PRTB) estar pedindo votos a ele em Alagoas não passa de uma "tentativa de vingança".

Candidato ao governo alagoano, Collor disse anteontem que irá votar em Ciro nas próximas eleições. Ciro sempre rechaça as comparações com Collor. "Creio que é uma tentativa de vingança. Lutei contra o Collor no primeiro turno, votando no Covas [Mário, do PSDB, morto em 2001", lutei no segundo turno votando no Lula, em 1989. Depois lutei na frente do impeachment. Não pedi esse apoio, não recebi esse apoio, não tenho nada a ver com esse apoio", disse Ciro, em entrevista pela manhã à Rádio Bandeirantes.

À tarde, em Campinas (SP), Ciro declarou que a comparação com o ex-presidente traz a ele uma "certa indignação": "Ele [Collor" parece um gozador, e eu tenho suportado isso com certa indignação. Mas eu já vi que a sociedade está começando a ver que essa é uma jogada meio rasteira".

O candidato da Frente Trabalhista sugeriu que Collor o ignorasse durante a corrida eleitoral: "Desejo que ele [Collor" faça sua vida por lá sem me envolver".

O presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), e o ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) criticaram ontem a manifestação de apoio de Collor a Ciro Gomes. Ambos tentaram descolar a imagem do presidenciável da imagem de Collor.

""Evidentemente o ex-presidente Collor não quer fazer bem ao Ciro. Não é conveniente para o Ciro ele dizer que apóia sua candidatura. O gesto do ex-presidente foi por maldade ou por megalomania. Ninguém desconhece a megalomania do Collor", disse ACM. Para Bornhausen, Collor quis espaço na mídia: "Achei engraçado. Acho que ele fez isso para aparecer, da mesma forma como foi candidato a prefeito de São Paulo, nas eleições de 2000".


Aliado de Serra, Jarbas abre palanque a Ciro
"O problema de Serra entender ou deixar de entender não é meu, é dele", diz governador de Pernambuco

A candidatura de José Serra (PSDB) à Presidência sofreu ontem um forte abalo no Nordeste, um das regiões de mais difícil penetração para o candidato tucano: o governador de Pernambuco e candidato à reeleição, Jarbas Vasconcelos (PMDB), abriu seu palanque no Estado para o presidenciável do PPS, Ciro Gomes.
Antigo vice dos sonhos do candidato do PSDB à Presidência, José Serra, Jarbas afirmou também que Ciro "tem sido agressivo em termos de procurar votos na rua" e que o tucano não fez o que o candidato do PPS fez nos primeiros momentos de campanha: "Serra deveria ter andado mais, ter feito mais aparições", disse.
O governador reiterou seu apoio ao presidenciável do PSDB, mas disse que não vê "nada demais" em aceitar Ciro em um evento político, porque o PPS integra a coligação que o apóia.

Jarbas se mostrou despreocupado com a reação de Serra. "O problema de Serra entender ou deixar de entender [a decisão de abrir o palanque a Ciro] não é meu, é dele." Jarbas disse ainda que não faz política "com esse negócio de gostar ou não gostar". Segundo ele, "isso [gostar ou não] é negócio de homem e mulher".

A aliança com Jarbas tem grande importância estratégica na campanha de Serra. Sem o apoio de caciques da política nordestina, como Antonio Carlos Magalhães, Inocêncio Oliveira, Roseana Sarney e Tasso Jereissati, o governador pernambucano transformou-se no único nome de peso capaz de impulsionar a candidatura governista na região.

Com 65% das intenções de voto no Estado, segundo o Ibope, Jarbas teria a missão de transferir esse apoio a Serra. Dessa forma, poderia desencadear um "efeito dominó" nos Estados nordestinos, onde o tucano tem sua pior avaliação. Pernambuco tem 5,4 milhões de eleitores, o equivalente a 4,7% do eleitorado nacional. Os votos da região Nordeste representam 26,9% do total no país.

A vantagem de Jarbas nas pesquisas levou o governador a adotar uma estratégia de campanha diferenciada da de seus concorrentes. Ele retardou o início da campanha em quase um mês. Com isso, Serra ficou sem palanque em Pernambuco e foi o único presidenciável a não visitar o Estado desde 6 de julho.

Jarbas só abriu sua campanha no fim de semana. Amanhã à noite, Serra já estará em Recife para inaugurar seu comitê eleitoral ao lado do governador. Na sexta-feira, os dois participarão de uma caminhada na cidad e.

Jarbas nega que sua estratégia tenha prejudicado Serra. Disse que já foi acusado de fazer campanha para o tucano antes do período legal e que, agora, o acusam de não ajudar o candidato. "Que contradição é essa?"
O governador disse também que não participará do comício de Ciro em Petrolina, sertão do Estado, no próximo fim de semana. Segundo ele, o presidenciável do PPS é que deverá optar por subir ou não em seu palanque.

Se isso ocorrer, afirmou, vai reiterar seu "compromisso com Serra". "Não vejo nenhuma dificuldade em dizer que Ciro estará lá presente, episodicamente, uma vez só, porque o PPS está me apoiando, o Roberto Freire [senador e presidente nacional do PPS] está me apoiando", declarou.

Sobre o desempenho do tucano na campanha, o governador elogiou seu discurso de apoio ao governo "sem continuísmo", mas disse que "uma pessoa com a capacidade e o preparo de Serra poderia ter feito mais aparições públicas, o que ele não fez".


PL, que apóia Lula, passa o dia entre Alckmin e Maluf
Medeiros se encontra com ex-prefeito; Rossi e tucano se reúnem

Logo de manhã, Francisco Rossi, ex-prefeito de Osasco e uma das estrelas do PL em São Paulo, foi levar o seu apoio ao candidato do PSDB, o governador Geraldo Alckmin. À tarde, o deputado federal Luiz Antônio Medeiros, presidente regional da sigla, tentou consertar o estrago com uma visita a Paulo Maluf (PPB), com quem está coligado oficialmente.

"Creio que eu represento uma dissidência importante no PL a favor da candidatura do Alckmin. Eu continuo no PL, nossos companheiros continuam. Iremos ser uma dissidência apoiando o Alckmin", alardeou Rossi, que não conseguiu emplacar o seu nome na convenção do partido como candidato ao governo paulista.
Depois de tomar um café com Maluf, no escritório do PPB, nos Jardins, Medeiros ironizou a força política do dissidente. "É um caso isolado, sem sentido, o PL está com Lula [candidato do PT à Presidência] e com Maluf".

Com mais veneno, como é habitual, o candidato do PPB lembrou que Rossi o apoiou na eleição de 1998 e atacava os tucanos estaduais no programa de TV.

"Cabe ao jornalismo investigativo procurar saber o motivo da adesão", recomendou, levantando suspeitas sobre um possível custo do apoio. Na ocasião em que Rossi se aliou ao malufismo, políticos do PSDB insinuaram que ele havia "vendido" a sua participação na campanha do PPB.

O presidente nacional do PL, deputado Valdemar Costa Neto (SP), acompanhou ontem à tarde, de Brasília, o episódio da "dupla militância" liberal em São Paulo. "Não há dissidência, Rossi vai sozinho, pois não tinha um bom relacionamento com o Medeiros", disse. "Sabe mulher que não aguenta mais o marido? Era esse o caso. Não há o que fazer".

Questionado sobre o número de "dissidentes", Rossi se limitou a afirmar: "Não sei, mas acho que seria mais do que suficiente para ter me dado 80% dos votos da convenção, caso meu nome estivesse na cédula".
Apenas duas opções foram apresentadas pelo PL aos seu filiados: ser a favor ou contra a aliança com o PPB. "O partido se transformou em um balcão de negócios", afirmou Rossi. Ele disse que movia um processo contra o PL por causa dessa polêmica.

Alckmin preferiu destacar a importância regional do novo aliado. "Não foi nem conversado sobre o PL", disse.

Em 98, após ter sido derrotado no primeiro turno, Rossi apoiou Maluf na disputa com o governador tucano Mário Covas, então candidato à reeleição.

Alckmin, que era vice de Covas, afirmou ontem não ver problemas na mudança de postura de Rossi. "Ele é uma liderança independente, só vai fortalecer a nossa campanha", disse.

"É uma pequena contribuição que a gente dá, de coração, para ter o Estado em mãos limpas, em mãos decentes, em mãos honestas", retribuiu o ex-prefeito de Osasco à gentileza tucana.

O encontro entre os dois aconteceu no escritório de Rossi, em Osasco, e foi articulado pelo prefeito da cidade, Celso Giglio (PSDB), para quem o novo apoio irá levar Alckmin à liderança das pesquisas de intenção de voto.

Logo após deixar o escritório, Alckmin já sentiu um pequeno sintoma do novo apoio: foi cercado por um grupo de evangélicos, aliados do ex-prefeito, que fizeram questão de tirar fotos com o governador. O tema das campanhas eleitorais do político do PL era um hino com o refrão "Segura na mão de Deus e vai".


Lula recomenda filme a Malan
Presidenciável assiste a "Cidade de Deus", sobre violência juvenil

Dentro de sua estratégia de campanha de dar prioridade a propostas direcionadas à juventude, o candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, assistiu ontem, ao lado da mulher, Marisa, à pré-estréia do filme "Cidade de Deus", em São Paulo.

A fita, dirigida por Fernando Meirelles a partir do livro homônimo do escritor Paulo Lins, narra a trajetória de crianças e adolescentes da periferia do Rio de Janeiro, do primeiro contato com a criminalidade à participação em gangues que traficam drogas e armas.

O petista definiu "Cidade de Deus", que estréia em circuito comercial no final do mês, como um filme "belíssimo, mas duro". "Este filme deveria ser visto por muita gente neste país, dos governadores ao ministro da Fazenda. Existem muitas Cidades de Deus país afora", declarou.

Ele afirmou ter sido informado de que o presidente Fernando Henrique Cardoso verá o filme em breve. "Espero que ele atente para algumas das cenas."

Alternativas
Lula vem pontuando sua campanha com a necessidade de criar alternativas para os jovens, especialmente os de áreas carentes. "Se o Estado não der essa oportunidade, o narcotráfico vai dar. E uma das maneiras mais eficientes de criar uma alternativa é pela cultura", afirmou. Ele prometeu fomentar a criação de casas de culturas.

O petista afirmou ainda que o filme era uma demonstração de que é preciso fazer ações preventivas contra a violência. "Quando a polícia entra na história, já é tarde", disse. Ele criticou a visão de pessoas que acham que apenas policiamento é suficiente.

"Pior é quando começam a defender o Exército para combater o crime, pena de morte ou prisão perpétua", declarou. A seu lado estava o candidato ao governo paulista José Genoino, que já defendeu a prisão perpétua a "sequestradores que matam".

Também foi anunciado ontem que o documentarista João Moreira Salles fará um documentário a respeito da campanha presidencial do petista.


Senado aprova aumento do salário mínimo
O Senado aprovou ontem, em votação simbólica, a MP (medida provisória) que aumenta o salário mínimo de R$ 180 para R$ 200, valor que já está sendo pago desde o dia 1º de abril. A MP já foi aprovada pela Câmara.
Foram rejeitadas emendas que poderiam elevar o valor para até R$ 241. De acordo com o texto da MP, o valor diário do salário mínimo passa a corresponder a R$ 6,67, e o valor por hora, R$ 0,91.

O aumento foi resultado de negociação com o Congresso, que aceitou remanejar parte do dinheiro destinado a emendas parlamentares para que a Previdência Social recebesse mais verbas e pudesse reajustar o valor das aposentadorias.


Artigos

A quadratura do círculo
Clóvis Rossi

SÃO PAULO - A julgar pelo debate de domingo na TV Bandeirantes, José Serra está tentando uma espécie de quadratura do círculo: ser o candidato de Fernando Henrique Cardoso sem ser o candidato do governo Fernando Henrique Cardoso.

É a única explicação para o fato de Serra ter pulado na cadeira quando Anthony Garotinho o citou como candidato de um governo que acaba "melancolicamente".

Serra respondeu que era candidato do governo, sim, mas "do governo José Serra", uma entidade que não existe, pelo menos não ainda. < BR>
De forma similar, Serra fugiu da resposta sobre o que o governo fez com a pilha de dinheiro arrecadada com as privatizações.

Ou então preferiu culpar os 116 dias da gestão Ciro Gomes na Fazenda (em 1994) pelo "lento crescimento" da economia brasileira.

Digamos, só para raciocinar, que os 116 dias de Ciro tenham sido mesmo um completo desastre. Ainda assim, o governo Fernando Henrique teve exatos 2.743 dias (até o domingo do debate) para corrigir eventuais erros. Se não o fez, se o crescimento da economia é lento, a culpa é de Ciro ou do governo FHC?

Dá até para entender por que Serra diz orgulhar-se de ser o candidato de FHC, mas não quer ser o candidato do governo: o presidente, bem ou mal, é mais popular que o seu governo -por um desses fenômenos de comunicação que às vezes ocorre.

Mas a quadratura do círculo, como se sabe, é impossível. Por isso, Serra por pouco não se afundou, no debate, em bate-boca com Anthony Garotinho, exatamente o que não poderia interessar-lhe de forma nenhuma.
Seria a polarização entre os dois últimos colocados -considerando-se os principais candidatos-, algo tão emocionante como a disputa pelo terceiro lugar em Copa do Mundo.


Colunistas

PAINEL

Dor de cabeça
A nota do Ministério do Trabalho que isentou Paulinho, vice de Ciro, de culpa em desvios do FAT foi articulada por Francisco Dornelles. O ex-ministro procurou o Planalto com o seguinte recado: o caso pode respingar politicamente no governo.

Ex-cabo eleitoral
Dornelles foi quem sempre fez a ponte entre Paulinho e o Planalto. O sindicalista apoiou a reeleição de FHC e serviu de aliado nos embates com a CUT. Os recursos do FAT repassados à Força Sindical tiveram o aval do ex-ministro do Trabalho.

Agenda cheia...
Exemplo de um dia confuso na campanha de Serra: uma hora antes de começar palestra do tucano no Instituto Ethos (que abriga 640 empresas - 30% do PIB), anteontem, um assessor telefonou avisando que, por motivos particulares, ele não iria mais. José Aníbal o substituiria.

...de confusão
Aníbal chegou ao Ethos às 18h30. Dos 450 empresários que haviam confirmado presença na palestra de Serra, apenas 220 ficaram. Cerca de 40 minutos depois, no entanto, chegou Serra. "Eu cumpro meus compromissos, meu assessor desmarcou a palestra por iniciativa própria."

Carona sagrada
O Movimento Evangélico Popular Socialista lançará na próxima semana no Rio o livro "As Idéias de Ciro à Luz da Bíblia". O grupo, formado por pastores filiados ao PPS, quer alavancar a candidatura Ciro no movimento evangélico, que está, em sua maioria, ao lado de Garotinho.

Maré alta
Garotinho (PSB), que teve de ir mancando ao debate da TV Bandeirantes no domingo, após ser ferido no acidente com seu palanque no Rio de Janeiro, na sexta, dava entrevista aos jornalistas na emissora quando exclamou, de repente: "Ai!". Alguém tinha pisado no seu pé.

Campanha limpa
O PTB-SP suspeita que o PT de Lula, e não o PSDB, esteja por trás da pichação "Ciro é Collor" feita nos muros de SP.

Silêncio estratégico
Líder nas pesquisas, Lula foi aconselhado por petistas a abreviar as entrevistas coletivas até o início do horário eleitoral. Acham que é o melhor modo de evitar que o presidenciável solte frases polêmicas que possam prejudicar sua campanha.

Outras palavras
De Delfim Netto (PPB), sobre José Aníbal (PSDB) dizer que o ex-ministro tem feito terrorismo econômico: "Ele é muito apressado, não leu minha declaração. O que disse é que o Brasil precisa desesperadamente da ajuda do FMI para que o câmbio não continue crescendo".

Visitas à Folha
O deputado federal José Dirceu, presidente nacional do PT, visitou ontem a Folha, onde foi recebido em almoço. Estava acompanhado da assessora de imprensa Telma Feher.

Edevaldo Alves da Silva, presidente da UniFMU e do Imae (Instituto Metropolitano de Altos Estudos), visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Arnaldo Niskier, membro do conselho do Imae e da Academia Brasileira de Letras, de Luiz Gonzaga Belluzzo, do conselho do Imae, de José Marques de Mello, diretor da Faculdade de Comunicação da UniFiam, de Rodolfo Konder, diretor cultural da UniFMU, de José Aristodemo Pinotti, diretor do núcleo da saúde da UniFMU, e de Cláudio Willer, presidente da União Brasileira de Escritores.

O vereador Carlos Apolinario, candidato ao governo de São Paulo pelo PGT, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado do assessor Alexandre Costa.

José Albertino Vasconcelos, gerente da agência Barão de Limeira do Bradesco, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Marcio Martin Fernandes, gerente do posto Folha do banco.

TIROTEIO

De Geddel Vieira Lima (PMDB), sobre o jornal de ACM na Bahia o acusar de promover bingos de bois e vacas para atrair eleitores aos comícios:
- É mais uma mentira dele. Ciro tinha razão, ACM é sujo que só pau de galinheiro.

CONTRAPONTO

A última sessão de cinema
Os produtores do filme "Cidade de Deus" promoveram ontem, no Centro Cultural São Paulo, uma sessão especial para o presidenciável do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, que foi acompanhado de assessores e outros políticos petistas.
O filme, dirigido pelo cineasta paulista Fernando Meirelles e baseado no romance de Paulo Lins, narra o crescimento do crime organizado num bairro do Rio entre os anos 60 e 80.
Numa das cenas, os personagens decidem assaltar um paulista porque, no dizer deles, "nenhum é cem por cento confiável". O diálogo gerou risadas e um certo constrangimento na sala, apinhada de paulistas.
Quase no fim do filme, outro personagem faz um comentário irônico sobre as jornalistas -segundo ele, não saberiam fazer sexo. A sala também estava lotada de jornalistas.
Lula caiu na gargalhada.


Editorial

AJUSTE ONEROSO

O saldo positivo acumulado ao longo do ano pela balança comercial brasileira já chegou a US$ 4 bilhões. Esse superávit corresponde àquele que até há pouco se esperava para o ano de 2002 (segundo levantamento das expectativas médias do mercado realizado pelo Banco Central no final de maio).

Houve, portanto, uma rápida inflexão para melhor no desempenho da balança. Numa conjuntura de grave escassez de dólares, essa melhora é fator de alívio (embora nem de longe suficiente para que se possa prescindir de um socorro financeiro do FMI). Mas os fatores que parecem estar reforçando o superávit comercial não são animadores.

A melhora do saldo não é fruto de exportações dinâmicas, mas sim de importações muito deprimidas. A cotação do dólar subiu bastante em junho e julho, mas sua influência sobre os fluxos de comércio exterior -desestimulando importações e estimulando exportações- não é instantânea. Além disso, as exportações, que já estavam inibidas pelo baixo dinamismo da demanda internacional, agora vêm sofrendo com o corte da oferta de crédito externo.

Por isso, além da alta do dólar, parece lícito atribuir a melhora mais rápida do saldo comercial também à perda de dinamismo da atividade econômica no Brasil, que reforçou o desestímulo às importações.
As evidências de que a economia perdeu força vêm surgindo já há semanas. Dentre as mais recentes destaca-se a queda de 1,4% na produção industrial em São Paulo de maio para junho, apurada pela Fiesp.

O ajuste da balança comercial que se vem observando se baseia, em suma, na compressão da atividade -e, portanto, do emprego e da renda. Não é desse tipo de ajuste das contas externas que o país necessita. O acordo com o Fundo Monetário Internacional é apenas um paliativo. Para crescer de maneira sustentável, sem esbarrar na fragilidade das contas externas, o país precisa reforçar sua capacidade de exportar. E isso requer pol íticas específicas, coordenadas e agressivas, que já tardam.


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08/07/2002


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