PFL reage a Serra e ameaça lançar Tuma em São Paulo









PFL reage a Serra e ameaça lançar Tuma em São Paulo
Partido encomenda pesquisa e vê "xerife" como palanque para Roseana

A iminência de uma aliança entre tucanos e peemedebistas em torno da pré-candidatura do ministro José Serra (PSDB) à Presidência da República pode precipitar o lançamento do nome do senador Romeu Tuma (PFL) para disputar o governo de São Paulo.

O partido deve ter em mãos até a próxima quarta-feira o resultado de uma pesquisa que vai medir o potencial da candidatura, que garantiria à presidenciável Roseana Sarney um palanque no maior colégio eleitoral do país.

Além de ser considerado pela cúpula pefelista o nome mais forte do partido em São Paulo, com índices de intenção de voto variando entre 9% e 11% na última pesquisa Datafolha, realizada em dezembro, Tuma está à vontade para falar de segurança pública.

O tema tornou-se central para as candidaturas majoritárias desde o assassinato do prefeito petista de Santo André, Celso Daniel, há duas semanas. Eleito senador sob a alcunha de "xerife", Tuma é delegado aposentado e chegou a diretor-geral da Polícia Federal no governo Collor (1990-1992).

Pragmático, o PFL também vai avaliar o impacto do assassinato de Daniel na candidatura à reeleição de Geraldo Alckmin (PSDB). Até o começo do ano, pretendia compor a chapa de Alckmin, com Tuma candidato à reeleição. Aliado preferencial do governador paulista, o partido pode encontrar numa eventual queda de intenção de voto em Alckmin mais um motivo para se afastar do palanque tucano, onde só haveria lugar para a candidatura presidencial de José Serra.

O desembarque do PFL pode isolar Alckmin. Uma aliança com o PMDB de Quércia, que tem conversado com o PT, é improvável. O candidato petista ao governo será o deputado José Genoino. O ex-prefeito Paulo Maluf, líder das pesquisas, será o candidato do PPB.

Candidaturas próprias do PFL aos governos dos Estados passaram a ser cogitadas desde que tucanos e peemedebistas começaram a dar sinais de aproximação. O auge do namoro se deu na última segunda-feira, quando Serra convidou pessoalmente o governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos (PMDB), para ser seu vice.

Minas e Rio
Na semana passada, o PFL decidiu suspender as conversas sobre alianças estaduais. Além de Tuma, o partido estuda o lançamento de candidaturas próprias em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. Os nomes cotados para disputar o governo mineiro são os dos ministros Roberto Brant (Previdência) e Carlos Melles (Esportes) e o do presidente da CNT (Confederação Nacional dos Transportes), Clésio Andrade.

No Rio, o nome mais citado é o do secretário municipal do Meio Ambiente, Eduardo Paes. Mas a possibilidade de o prefeito Cesar Maia concorrer à sucessão de Anthony Garotinho (PSB) não está descartada. O vice-presidente da Câmara dos Deputados, Efraim Morais, pode disputar o governo da Paraíba, governada pelo peemedebista José Maranhão.

Pesquisas internas mostram que Morais, com 12% de intenção de voto, está longe dos líderes. "Mas também está longe do traço", afirma Saulo Queiroz, secretário-executivo do PFL, para explicar o pré-requisito para ser candidato do PFL. "O partido decidiu apostar todas as fichas no projeto nacional, na candidatura de Roseana Sarney", diz.

Tuma foi consultado sobre a candidatura majoritária na semana passada, durante a gravação do programa do PFL que vai ao ar hoje à noite. "Ele não manifestou desconforto com essa hipótese", afirma Queiroz. Tuma entrará em cena justamente para falar sobre segurança.


A pedido de Serra, Jarbas busca atrair PPB
Governador pernambucano foi incumbido de conversar com deputado pepebista e tentar aliança com Roseana

O governador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) inicia hoje no Recife as articulações para tentar atrair o apoio do PPB à pré-candidatura à Presidência do ministro da Saúde, José Serra, do PSDB.

O pedido para que Jarbas articulasse as conversações com o partido, personificado em Paulo Maluf, foi feito por Serra na segunda, na visita que fez a Recife com o presidente Fernando Henrique Cardoso. É inusitado a partir do momento em que o malufismo sempre foi adversário do ministro em São Paulo -em 1996, Serra ficou em terceiro na eleição para prefeito que consagrou Celso Pitta, então o representante do malufismo.
"Serra perguntou se eu tinha acesso ao PPB. Eu disse: "Tenho, tenho acesso ao Pedro Corrêa [deputado federal, PE", que é o primeiro vice-presidente, e ao Severino Cavalcanti [deputado federal, PE", que é o secretário-geral da Câmara'", afirmou Jarbas.

O encontro entre o governador e Pedro Corrêa foi marcado para as 10h30, na sede do governo estadual. Jarbas também deverá conversar sobre a aliança com a governadora do Maranhão e pré-candidata do PFL, Roseana Sarney, em data não definida.

Cotado para ser candidato a vice na eventual chapa de Serra, o governador disse que não conversará em nome do ministro nem do PMDB. "Vou só ajudar a fazer os contatos." Defensor da aliança governista nas eleições deste ano, Jarbas não descartou a possibilidade de o seu partido ficar novamente de fora da chapa majoritária que concorrerá à Presidência, caso a coligação seja mantida.

"São mais de dois partidos e alguém vai ter de sobrar. Se vai ser o PMDB, o PFL, o tempo é que vai dizer isso." Jarbas disse que os partidos não devem se aliar pensando apenas em cargos porque "não tem vaga para todo mundo".

União da base
O governador acha que, se os partidos aliados não se unirem ainda no primeiro turno, "correrão o risco de nem ir para o segundo". No entanto, ele considera a negociação para a manutenção da aliança uma tarefa difícil hoje.

Primeiro, por considerar "estapafúrdia" a possibilidade de o partido do governo ficar sem candidato. "É estranho e estapafúrdio, mas pode. Você não pode entrar numa aliança privilegiado."
Segundo, porque, para Jarbas, "não vai ser uma coisa fácil" convencer Roseana Sarney a abrir mão da candidatura. "Quem tem 20% faz um 21 e aí fica uma coisa complicada", afirmou. "Mas o assunto deve ser conversado."

Jarbas disse também que, provavelmente, haveria resistências dentro do PMDB a uma eventual composição com Roseana "por causa das coisas acirradas que existem entre os dois partidos".

Entretanto, disse que, apesar de apoiar a pré-candidatura de Serra, não teria "nenhum preconceito" em votar na governadora "se a candidata dentro da base for ela".

Para ele, sem candidato de consenso, o PMDB está pagando pois "vem cometendo uma série sucessiva de erros". "O partido é governista e inventou uma história de candidatura própria de oposição que tinha que dar nisso."


PMDB dissidente quer barrar apoio a tucano
Os oposicionistas do PMDB desencadearam operação para tentar impedir que a cúpula do partido, majoritariamente simpática ao PSDB, feche aliança com José Serra, ministro da Saúde e pré-candidato tucano à Presidência.

A estratégia é tentar repetir 1998, ano em que o PMDB foi impedido oficialmente de apoiar a reeleição de FHC. Se a cúpula não puder fechar oficialmente, o que significa ser vice na chapa de Serra e oferecer o tempo de TV do partido ao PSDB, perde cacife na negociação com os tucanos.

No entanto, ao contrário de 1998, os governistas têm o controle da presidência e da Executiva. A tendência é, aos trancos e barrancos, fechar com Serra ou, hipótese menos provável, com a governadora Roseana Sarney (PFL-MA).

Publicamente, o jogo de Itamar Franco, capitão dos oposicionistas, é a candidatura própria a presidente. Mas, no bastidor, ele quer unir seus aliados para apoiar o PT, por improvável que pareça, a própria Roseana.

A operação anti-Serra começou ontem com um pe dido dos oposicionistas de convocação de uma convenção extraordinária para 3 de março, a fim de garantir a realização da prévia presidencial de 17 de março. Os governistas, se não conseguirem adiar ou cancelar a prévia, deverão boicotá-la e alegar que, sem quórum, o recado das bases é favorável a uma aliança.

Como há argumentos regimentais que podem inviabilizar a convenção extra, a idéia oposicionista é criar um imbróglio jurídico para ser discutido nos tribunais e impedir o apoio a Serra. Os oposicionistas citam o artigo 66 do estatuto: a convenção extraordinária pode ser convocada por um terço dos 514 convencionais. Para os governistas, porém, o estatuto diz que a fixação da convenção cabe à Executiva, controlada por eles.


Itamar e Geddel trocam insultos e acirram divisão
O governador de Minas, Itamar Franco, e o líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA), defensor de uma aliança com o PSDB, trocaram insultos ontem.

Itamar chamou Geddel de "anãozinho do Orçamento", em referência à CPI do Orçamento, de 93. Geddel rebateu afirmando que foi inocentado. Disse ainda que "prestava solidariedade" a Henrique Hargreaves, hoje secretário da Casa Civil de Itamar. Hargreaves também foi acusado e inocentado.

Itamar bateu duro porque Geddel cobrou dele uma definição em relação à participação na prévia presidencial do PMDB, marcada para 17 de março, e comparou seu desempenho eleitoral ao de Enéas Carneiro, do Prona.
Segundo Geddel, a pesquisa CNT/Sensus divulgada anteontem mostra que o PMDB não tem um pré-candidato viável. Itamar caiu de 9,1% para 3,8% em um mês. Enéas teve 1,6%.

Em nota, Itamar disse que participará da prévia e se referiu ao líder do PMDB como "percevejo de gabinete". Para Geddel, Itamar "é um nômade partidário".


Presidente do PFL tenta aproximação com Brizola
O presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), visitou ontem o presidente do PDT, Leonel Brizola, em seu apartamento, no Rio. O encontro faz parte do esforço para dar um caráter pluripartidário à candidatura presidencial da governadora do Maranhão, Roseana Sarney.

Bornhausen negou que esteja procurando Brizola para tentar frear o crescimento eleitoral do governador do Rio, Anthony Garotinho (PSB), nas pesquisas de intenção de voto.

O governador, pré-candidato à Presidência da República, aparece em terceira posição nas últimas pesquisas, atrás de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) -que está em primeiro- e de Roseana, e já causa preocupação entre os pefelistas.

Inimigos políticos
Brizola e Garotinho são inimigos políticos e não conversam desde que o governador foi expulso do PDT, no final de 2000.

Segundo Bornhausen, não há a intenção de que o PDT apóie a governadora pefelista no primeiro turno da eleição, mas busca-se o apoio dos pedetistas para um eventual segundo turno.

"Temos certeza de que Roseana estará no segundo turno e, embora seja cedo para alianças, queremos mostrar que estamos abertos ao diálogo", disse o senador.

Para o PDT, o encontro foi útil como demonstração de vitalidade no cenário político. A legenda não tem, até agora, candidato próprio na disputa presidencial.

Brizola mantém a disposição de apoiar o governador de Minas Gerais, Itamar Franco (PMDB), que, no entanto, sofre rejeições de seu próprio partido. Ciro Gomes (PPS) também já procurou o líder pedetista, mas só obteve declarações de simpatia, sem compromissos de aliança.


Garotinho quer apoio de Ciro e Itamar
A direção nacional do PSB decidiu procurar os presidenciáveis Ciro Gomes (PPS) e Itamar Franco (PMDB) para discutir com eles termos de uma convivência pacífica durante o primeiro turno.

A intenção é evitar possíveis atritos com o governador do Rio, Anthony Garotinho, pré-candidato do partido à Presidência da República.

"Não acreditamos que possa haver aliança das oposições ainda no primeiro turno, mas queremos preservar as condições para que ela ocorra no segundo", afirmou Garotinho.

Ao mesmo tempo, o PSB intensificou os contatos para atrair PL, PDC, PSL e PST. Aqui, os objetivos são imediatos. Garotinho deseja ter como vice em sua chapa o senador mineiro José Alencar (PL). No caso dos outros partidos, interessa para o PSB o tempo de que dispõem no horário eleitoral gratuito, o que poderá aumentar a exposição do governador do Rio na televisão.

Garotinho reconhece que os programas no horário gratuito são uma das razões de seu crescimento nas pesquisas de intenção de voto.

Os últimos resultados confirmam que ele atingiu o terceiro lugar, estando atrás do líder Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e da governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL).

Outro fator a que o governador atribui seu crescimento é "a realização de obras de interesse do povo". Ontem, ele inaugurou o quarto restaurante popular do Estado, na cidade de Niterói, em cerimônia com a presença de mais de 2.000 pessoas.

Em seu discurso, aproveitou para criticar o prefeito local, Jorge Roberto Silveira (PDT), contrário à obra e pré-candidato de seu partido ao governo estadual.

Na inauguração, Garotinho estava acompanhado de sua mulher, Rosinha Matheus, apontada como a candidata do PSB ao mesmo cargo.


Artigos

Do medo à raiva
Clóvis Rossi

NOVA YORK - Na primeira vez que vim a Nova York, já faz pouco mais de um quarto de século, ouvi tantas recomendações sobre os perigos da cidade que tive medo até de descansar a mala na calçada, em frente ao Central Park, enquanto pagava o táxi que me trouxera.

Temia que fosse roubada, mesmo à luz do dia e em um ponto central.

Dava vontade de voltar para a segurança de São Paulo.

Hoje, vinte e alguns anos depois, dá é raiva sentir-me seguro em Nova York, enquanto em São Paulo a sensação é de que todos fazemos uma roleta-russa diária.

Não vou entrar na discussão dos motivos pelos quais, nesse período de tempo, Nova York conseguiu recuperar padrões de segurança razoavelmente civilizados (inferiores, em todo o caso, ao de muitas cidades européias), ao passo que São Paulo descia aos infernos.

Pujança econômica, ambas têm, claro que na proporção da riqueza dos países em que se situam (suspeito até que São Paulo seja mais rica como participação no PIB brasileiro do que Nova York em relação à economia dos EUA). Não se trata, pois, de falta de recursos para que o poder público ofereça o essencial, o direito de ir e vir sem terror.

Nova York não avaliza nem teses caras à esquerda nem à direita. A desigualdade social também é grande por aqui, mas, não obstante, a criminalidade foi reduzida. É claro que desníveis sociais iguais aos do Brasil são obscenos, mas, se a riqueza de uns poucos estimula os instintos de quem pouco ou nada tem, então Nova York deveria ter criminalidade sempre em alta.

Na outra ponta, não são os imigrantes que fazem o crime aumentar, demonstra também a cidade. O difícil, em Nova York, é ouvir alguém falando inglês sem carregadíssimo sotaque estrangeiro.

Para os otimistas, Nova York oferece a esperança de que é, sim, possível sair do fundo do poço. Para os pessimistas (ou realistas), dá a sensação de que fracassamos na construção de São Paulo (e, talvez, do Brasil).


Colunistas

PAINEL

Salvar a pele
Geraldo Alckmin telefonou ontem à tarde para Jorge Bornhausen (PFL) e marcou uma conversa para hoje. O governador tenta evitar que o PFL lance o senador Romeu Tuma ao governo de SP como represália pela aproximação entre PSDB e PMDB na eleição presidencial.

Outra história
Alckmin avisou ao PFL que também irá procurar Roseana Sarney. Dirá que as di ficuldades federais não devem atrapalhar o bom entendimento entre os partidos no Estado.

Geladeira estratégica
Alckmin não deverá receber boas notícias do PFL. Jorge Bornhausen determinou aos diretórios estaduais do partido que congelem todas as negociações com os tucanos: "Não vamos dar nosso tempo de TV para palanques de adversários".

Questão de DNA
Tucanos de Brasília desdenham a movimentação do PFL por candidatura própria. "É só uma ameaça. Eles voltam. São governistas por natureza."

Palpite internacional
Dick Morris, marqueteiro do ex-presidente Bill Clinton, vem ao Brasil na semana que vem para encontrar-se com a equipe de José Serra. O marqueteiro procura clientes e pode fechar com o tucano, caso Serra não consiga tirar Nizan Guanaes da campanha de Roseana Sarney.

No mundo da Lua
Roseana Sarney recebe hoje em São Luís o astronauta "Buzz" Aldrin, um dos dois primeiros homens a pisar na Lua. Acompanhado do cineasta John Cameron, Aldrin busca apoio para um filme sobre sua viagem ao espaço, a ser rodado em parte na base de Alcântara (MA).

Anais do Congresso
Resposta de Geddel Vieira Lima a Itamar, que o chamou de anãozinho do Orçamento: "E o Hargreaves [secretário do mineiro] não é o gigante do Orçamento? Afinal, ele é tão alto...".

O número zero
Raul Jungmann (Desenvolvimento Agrário) não saiu do zero quando foi incluído como candidato a presidente na última pesquisa do Ibope.

Dois a mais
Pedro Simon e Jungmann, dois dos pré-candidatos do PMDB à Presidência, assinaram ontem um manifesto pela convocação de uma convenção extraordinária do partido para garantir a realização das prévias.

Faísca petista
Eduardo Suplicy vai reunir amanhã, numa mesma mesa, além de Lula, o prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, e o governador Olívio Dutra, pré-candidatos ao governo do RS pelo PT. O senador lançará seu livro sobre o programa Renda Mínima.

Melhor prevenir
Ramez Tebet cancelou viagem que faria a Itália com uma comitiva. O presidente do Senado achou que pegaria mal viajar às custas do dinheiro público num momento em que o Legislativo é criticado por não colaborar para resolver a crise de segurança.

Apoio pessoal
Aloizio Mercadante (PT) telefonou anteontem para Ciro Gomes (PPS) a fim de solidarizar-se com a atriz Patrícia Pillar, que trata de um câncer de mama. O petista diz que não falou de política com o presidenciável.

Pequenos e divididos
A disputa pela liderança rachou a pequena bancada do PPS. Seis deputados apóiam João Herrmann (SP). Outros seis, Régis Cavalcante (AL). O fiel da balança é Pimentel Gomes (CE), primo de Ciro.

Visita à Folha
Sergio Amaral, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de William França, coordenador de comunicação do ministério.

TIROTEIO

De Paulo Pereira da Silva, da Força Sindical, criticando a proposta do presidente da CUT, João Felício, de marcar greve contra a mudança da CLT:
- Felício deveria se preocupar em defender a maioria da base da CUT, formada por servidores públicos. Eles não são regidos pela CLT e estão há vários anos sem reajuste salarial.

CONTRAPONTO

Apagar as digitais
O ministro da Saúde, José Serra, pré-candidato do PSDB à Presidência, esteve am Alagoas anteontem, onde visitou cinco cidades para atos oficiais e contatos políticos.
A viagem começou em Maceió, num encontro com empresários na Associação Comercial de Alagoas.
Após o discurso do ministro, o governador do Estado, Ronaldo Lessa (PSB), tomou a palavra:
- Gostaria de agradecer a presença em Alagoas do presidente da República, José Serra.
Assim que acabou de falar, Lessa percebeu a gafe e apressou-se em corrigir:
- Presidente, não, ministro da Saúde. Se o Garotinho souber que eu chamei o Serra de presidente ele me mata!
Em seguida, Lessa dirigiu-se aos cinegrafistas e brincou:
- Por favor, apaguem essas fitas. O Garotinho nunca poderá ver essas imagens.


Editorial

DESAVENÇA LÓGICA

É curiosa a reação dos italianos às mais recentes declarações do papa João Paulo 2º contra o divórcio. É preciso convir que o pontífice foi de fato veemente. Ele sugeriu que advogados e até mesmo magistrados deixem de atuar em casos de divórcio. A população da Itália, embora nos últimos anos venha poupando o combalido papa de críticas, desta vez censurou-o com vigor.

Segundo uma pesquisa, 87,5% dos italianos, que são quase todos (98%) católicos, discordam do bispo de Roma. Até políticos de partidos cristãos criticaram o sumo pontífice. Alguns analistas o acusaram mesmo de incitar à desobediência civil.

Na verdade, a dissensão entre o papa e os italianos tem origem lógico-teológica. João Paulo 2º fala, como não poderia deixar de ser, sob o ponto de vista da Igreja Católica, que é o de uma moral categórica, incondicionada. Para Roma, as regras de conduta (aí incluído o respeito à indissolubilidade do casamento) foram dadas por Deus, inexistindo, portanto, para o católico, a escolha de acatá-las ou não.

Já a opinião pública opera primordialmente sob a lógica do Estado, que também é positiva, mas utilitária. Desde o instante em que a sociedade inscreveu o divórcio entre suas leis, ele tornou-se legítimo.

São duas lógicas incompatíveis. A preponderar a da igreja, divórcio, aborto e preservativos são e sempre serão inaceitáveis. A incompatibilidade, porém, não leva necessariamente a um impasse. Os dogmas da igreja valem apenas para católicos, os que desejem seguir fielmente as determinações do papa. Não dizem, portanto, respeito ao Estado, o qual pode -e deve- seguir observando sua lógica positiva, utilitária e condicionada. Se o advogado se recusa a trabalhar com um caso de divórcio, deve indicar outro profissional. Se um juiz achar o mesmo, contudo, deverá renunciar ao seu cargo.

A grande vantagem da lógica do Estado laico é que, sem prender-se a pontos de vista absolutos e inegociáveis, ela tende a evitar o confronto e, assim, a violência.


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01/31/2002


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