Aliados escondem apoio a Serra nos Estados









Aliados escondem apoio a Serra nos Estados
Tucano não aparece nos outdoors dos candidatos a governador em 9 dos Estados com mais eleitores

Em 9 dos 12 Estados com maior número de eleitores do país, os aliados do candidato à Presidência José Serra (PSDB) estão escondendo seu apoio ao candidato nos materiais de campanha.

Nesses locais, onde estão concentrados 82,9% do eleitorado brasileiro, a fotografia de Serra não aparecia até a semana passada na maioria dos outdoors dos candidatos ao governo do Estado que fazem parte da coligação PSDB-PMDB. Seu nome também mal era citado nos comícios.

As exceções são o candidato do PMDB ao governo do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, e a candidata ao governo do Rio, Solange Amaral. Apesar de ser do PFL, Solange está coligada com o PSDB e PMDB no Rio. Seu padrinho político, o prefeito Cesar Maia, é um dos principais expoentes pefelistas que dá apoio a Serra. Também faz campanha para o tucano o candidato do PMDB ao governo de Santa Catarina, Luiz Henrique.
Os Estados onde Serra está sendo escondido pelos aliados são: São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Paraná, Pernambuco, Ceará, Pará, Goiás e Maranhão.

Uma das explicações para a foto de Serra não aparecer nos outdoors dos candidatos a governador é o fato de ele estar em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto. Há um mês, quando Serra ainda estava em segundo lugar, o candidato ao governo do Paraná, Beto Richa (PSDB), espalhou outdoors com sua foto e do ex-ministro pelas maiores cidades do Estado. Na última quinzena, após a queda de Serra, o ex-ministro da Saúde foi limado das peças.

Segundo pesquisa Datafolha realizada na última terça-feira, Serra tem 16% das intenções de votos, abaixo de Ciro Gomes (28%) e Lula (33%). Serra tinha 21% na pesquisa de 7 de junho e 20% na pesquisa realizada entre os dias 4 e 5 de julho.

Esconder Serra pode criar uma espécie de círculo vicioso. De um lado, os candidatos não vinculam sua imagem a dele temendo "contaminar" suas campanhas com o desempenho dele nas pesquisas. De outro, a falta de apoio regional dificulta o crescimento.

Em Goiás, o governador Marconi Perillo (PSDB), candidato à reeleição, fez uma coligação com 11 partidos, que apóiam diferentes candidatos ao Planalto. Para não perder aliados, mal cita o nome de Serra nos comícios. O resultado é que a base dos tucanos goianos, antes serrista, já começa a acenar para a Frente Trabalhista de Ciro Gomes (PPS-PDT-PTB).

Em Santa Catarina, apesar de Luiz Henrique mostrar Serra em sua campanha, o apoio mais importante seria o do governador Esperidião Amin (PPB), candidato à reeleição e hoje favorito na disputa. Amin anunciou seu voto em Serra, mas não pede votos para o tucano. O governador já deixou claro que não dará exclusividade de palanque a ninguém. Uma insinuação de que Ciro Gomes também poderá usar esse espaço.

Adesivo
Justamente no Rio, onde Solange Amaral estampou uma foto gigantesca de Serra na frente do seu comitê, aconteceu um fato curioso. Em 23 de julho, após uma caminhada pedindo votos no bairro de Irajá (zona norte), Rita Camata (PMDB) - candidata à vice na chapa de Serra- pegou uma carona com o deputado federal Márcio Fortes, que é secretário-geral do PSDB e candidato à reeleição. Ao ver que no carro só havia um adesivo com o nome de Fortes, perguntou: "Cadê o número do Serra aqui?".

O comando de campanha de Serra afirma que a ausência de fotos do ex-ministro em outdoors de candidatos a governador é resultado de um atraso no envio do material publicitário. No entanto, dizem, há 20 dias as coordenações estaduais receberam a logomarca da campanha de Serra.

No Maranhão, a coordenação da campanha de Roberto Rocha (PSDB) ao governo afirma que, até a última quinta-feira, o material não havia chegado.

Nos bastidores, as informações são outras: os tucanos locais estão contrariados com o comando nacional do partido, que tentou rifar a candidatura de Rocha em troca da neutralidade da família Sarney na disputa nacional, articulação que acabou fracassando.

No Pará, a coordenação da campanha de Simão Jatene (PSDB) explica que a prioridade é vincular o nome de Jatene ao do governador tucano Almir Gabriel, já que ele tem 80% de aprovação no Estado, segundo pesquisas locais.

Contando com 65% das intenções de voto dos pernambucanos, o governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) retardou o início da sua campanha. Quando começá-la, promete pedir votos para Serra.


Ciro e Serra travam duelo verbal na TV
O primeiro debate entre os presidenciáveis, realizado ontem à noite pela TV Bandeirantes, foi marcado pelo tiroteio verbal entre José Serra (PSDB-PMDB) e Ciro Gomes (Frente Trabalhista).

Na verdade, o tiroteio partiu mais de Serra, colocando Ciro na defensiva, a ponto de ter deixado sem resposta duas acusações de Serra de que mentira. Uma foi a de que não é fundador do PSDB, ao contrário do que diz sempre, e a outra a de que pagou antecipadamente a dívida do Ceará.

O eixo do tiroteio foi o papel de cada um deles no Plano Real. Serra culpou os 116 dias de gestão de Ciro na Fazenda de estar na origem do "lento crescimento econômico" do país, por ter aberto "precipitadamente" a economia.

Ciro respondeu que chegara ao Ministério da Fazenda atendendo apelo "patético" de Fernando Henrique Cardoso (para substituir Rubens Ricupero, que se demitira por ter sido pilhado pronunciando frases inconvenientes por uma parabólica).

Disse também que a inflação de julho (de 1994) havia sido de zero por cento, mas já estava em 3% em agosto e que o desabastecimento levaria ao colapso do Plano Real. Por isso, teve que abrir o país às importações.
Serra voltou ao ataque: "A inflação de julho daquele ano não foi zero. Foi 6,84%. Em agosto foi 1,86%, em setembro foi 1,53%".
Ciro, por sua vez, acusou Serra de não ter apoiado o Plano Real. O senador retrucou que defendera tanto o Real que se tornara o candidato do principal responsável pelo plano, o presidente Fernando Henrique Cardoso.

Uma segunda marca do debate foi o fato de o governo FHC ter sido duramente criticado, o que em parte é consequência de haver três candidatos oposicionistas contra um governista.

Mesmo o governista (Serra) hesitou inicialmente em assumir sua condição, preferindo-se dizer-se candidato de seu próprio governo. Só na mensagem final, mencionou o orgulho que sentia em ser candidato de FHC.
O confronto Serra/Ciro deixou o líder em todas as pesquisas até agora, Luiz Inácio Lula da Silva, à vontade, quase como se fosse um coadjuvante, e não o alvo a ser atacado, como é a praxe quando se trata do primeiro colocado.

Até o principal temor do petista, o de ser acusado de falta de experiência e preparo, não entrou em debate. O próprio Lula resolveu usar o tema para dizer, ao final, que o problema não era de experiência, "mas de caráter e de compromisso com o povo deste país".

Anthony Garotinho (PSB), por sua vez, portou-se como franco atirador, disparando contra todos os três rivais sucessivamente, usando a sua experiência como radialista, o que o deixa à vontade em programas do gênero.
Até o choque Serra/Ciro, as perguntas giraram em torno de questões de programa de governo (emprego, Previdência, educação), temas que todos os candidatos têm praticamente decorados. Em consequência, as respostas acabaram sendo uma espécie de antecipação do horário eleitoral.

Cada candidato repetiu afirmações que tem feito em comícios e entrevistas, com razoável grau de concordância entre eles. Como era previsível, houve absoluta coincidência em torno da necessidade do crescimento da economia e da geração de emprego.

Além de discutirem sobre o Plano Real, Ciro e Serra trocaram farpas também a respeito do salário-mínimo. Serra cobrou a promessa de Ciro de levar o salário-mínimo a US$ 100 em todos os dias de seu governo. Ciro disse que o mínimo fora de US$ 100 em sua gestão no Ministério da Fazenda, quando o dólar custava R$ 0,85.

Serra contra-atacou dizendo que, na média dos 116 dias de Ciro, o mínimo fora de US$ 82.

Ciro treplicou afirmando que assumira depois do reajuste do mínimo, que se dá em maio, e acusou Serra de "desonestidade intelectual". Serra ganhou direito de resposta, para acrescentar outros dados que, segundo ele, representavam falta de "compromisso com a verdade" (a filiação ao PSDB e a dívida do Ceará).

Ciro ganhou igualmente direito de resposta, mas não contestou as duas afirmações de Serra. Preferiu dizer que não pretende "esmagar ninguém", porque está pensando "no dia seguinte". Ou seja, está pensando em um grande "pacto" de governo, para o qual, se eleito, necessitará certamente do PSDB de Serra.


Governo atrasa repasse a obra no Ceará
Grupo de Tasso avalia que apoio a Ciro seja o motivo; construção de barragem é prejudicada por falta de pagamento

O apoio do grupo do ex-governador Tasso Jereissati (PSDB) à candidatura de Ciro Gomes (PPS) começou a causar problemas para os cofres da administração cearense. A principal obra do governo, a barragem do Castanhão, já foi paralisada no mês passado nos municípios de Jaguaribara, Jaguaribe, Jaguaretama e Alto Santo.

A empreiteira Andrade Gutierrez deve novamente suspender os trabalhos ainda nesta semana, por falta do pagamento de R$ 25 milhões. Em comunicado feito ao Sintepav (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção de Estradas, Pavimentação e Obras de Terraplanagem do Estado do Ceará), a construtora já informou que dará férias coletivas aos empregados na obra.

O governador Beni Veras (PSDB), mentor do grupo de empresários que levou Jereissati e Ciro ao poder no Ceará, tem criticado abertamente, em cerimônias públicas, o comando do Ministério da Integração Nacional, responsável direto pelo repasse das verbas para a construção.

Tasso e Veras avaliam que a escassez esteja diretamente ligada à decisão de não fazer campanha para o candidato tucano à Presidência, José Serra.

"O palanque dele aqui é outro", ironiza o ex-governador do Estado e candidato ao Senado. Refere-se ao concorrente à sucessão estadual pelo PMDB, senador Sérgio Machado, seu ex-colega de partido e hoje desafeto.

R$ 420 milhões
O custo da obra do Castanhão, considerada a mais importante para o grupo de Tasso neste ano de eleições, é de R$ 420 milhões. Um volume de R$ 58 milhões foi aprovado no orçamento do governo federal para este ano.

Mas apenas R$ 5 milhões chegaram para o Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas), que gerencia a construção, até o momento. Anteontem, o presidente do órgão, Francisco Rufino, fazia a romaria por verbas em gabinetes de Brasília.

Saiu de lá com a promessa de liberação de R$ 10 milhões, menos da metade do que seria suficiente para manter o canteiro de obras montado no rio Jaguaribe.

O próprio governador Beni Veras juntou-se a Lúcio Alcântara, candidato dos tucanos à sucessão cearense, e foi a Brasília no mês passado cobrar o repasse dos recursos ao presidente Fernando Henrique Cardoso. Ouviram o "sim" no Palácio do Planalto, mas a torneira continuou fechada.

A situação provocou inclusive um constrangimento recente. Na cerimônia de aniversário dos 50 anos do Banco do Nordeste, realizada em Fortaleza, Veras quebrou a harmonia da festa, que contava com a presença dos ministros Pedro Parente (Casa Civil) e Pedro Malan (Fazenda). Atacou a falta de prumo do governo federal com os recursos para a região.

As obras do barragem, que deveriam ser inauguradas ao final da era FHC -fez parte das promessas de campanha da reeleição do presidente-, em dezembro, contemplam um projeto de irrigação de 43 mil hectares e o abastecimento de água para a região metropolitana de Fortaleza, entre outras serventias.


Tucano é figura central de disputa por governo
Aliado de Tasso tem 44% das intenções de voto no Ceará, segundo pesquisa do Ibope

O principal nome em jogo na sucessão cearense é o do ex-governador Tasso Jereissati (PSDB), que disputa o Senado.

Um tucano, apoiado por ele, e um ex-tucano, adversário ferrenho do ex-governador, dividem os holofotes: os senadores e candidatos ao governo do Estado Lúcio Alcântara (PSDB) e Sérgio Machado (PMDB). Machado deixou o PSDB depois de ser uma das figuras mais importantes no governo de Tasso -que se elegeu em 86, 94 e 98.

Alcântara tem 44% das intenções de voto, contra 12% do peemedebista -de acordo com levantamento feito pelo Ibope divulgado na última sexta-feira. Os demais candidatos somam, juntos, 16%, o que definiria a disputa no primeiro turno.

Apesar de estar agora na oposição, Machado sempre foi um aliado de Tasso. Quando o tucano assumiu o governo pela primeira vez, Machado foi seu secretário de governo. O relacionamento entre eles já estava estremecido desde 90, mas o rompimento definitivo aconteceu em 98, quando o senador insistia em ser o candidato ao governo e Tasso se candidatou.

Machado só deixou o PSDB neste ano. É muito ligado a José Serra, que tomou a vaga de Tasso com presidenciável tucano, o que acirra o clima de rivalidade entre os grupos políticos.

Lúcio, por sua vez, fazia parte do chamado grupo dos coronéis, que governou o Estado durante o regime militar (1964-85). Foi prefeito biônico de Fortaleza.

Os dois candidatos invadiram o interior para disputar eleitores e o apoio de prefeitos. O volume da campanha de Machado, porém, é nitidamente maior que o de Lúcio. As ruas de Fortaleza estão repletas de cartazes, pinturas em paredes e fotos do peemedebista.

Tasso já disse suspeitar que o governo federal esteja ajudando Machado, o candidato mais ligado a Serra. Machado é o presidente da Comissão do Orçamento no Senado, e teve uma verba liberada contra seca no Estado suspensa após o ex-governador levantar dúvidas de superfaturamento.


Alcântara cita insatisfação com FHC
Um dos políticos mais próximos a Tasso Jereissati (PSDB), Lúcio Alcântara, 59, não assume apenas a candidatura ao governo do Estado, mas a defesa do ex-governador em sua campanha.
A seguir, trechos da entrevista que ele concedeu em Fortaleza.

Agência Folha - O sr. representa a continuidade. O que pretende manter e o que pensa mudar?
Lúcio Alcântara - Os fundamentos do projeto serão mantidos, porque eles têm sido repetidamente aprovados pelo povo. É claro que cada circunstância exige novas propostas. O próprio Tasso chegou a declarar que era o fim de um ciclo e o início de um outro.

Agência Folha - Sergio Machado (PMDB) também pode ser visto como um representante do governo?
Alcântara - No início do governo Tasso, em 86, muitas pessoas pegaram carona na popularidade dele, na oportunidade política que surgiu, mas não tinham compromisso nenhum com o processo que ele desencadeou.

Agência Folha - Sua ligação com o grupo dos coronéis pode ser apontada como um ponto negativo?
Alcântara - Tenho uma trajetória conhecida de todos e tenho tido êxito, porque as pessoas estão julgando o meu desempenho. Nunca hesitei em tomar decisões ousadas: lutei pelas Diretas, apoiei Lula no segundo turno em 89.

Agência Folha - A possibilidade de liberação de verba para Machado gerou mágoa com o governo?
Alcântara - Trouxe insatisfação, porque sugeria favorecimento. Isso não é admissível numa campanha, considerando inclusive a lealdade que o grupo do Tasso sempre teve com o governo FHC.

Agência Folha - O sr. acha que, com um presidente cearense, seria mais fácil administrar?
Alcântara - Acho. Claro que o presidente é de todos os brasil eiros, mas, se um Estado periférico, como o Ceará, tiver um presidente que conhece melhor sua realidade, ele pode, dentro de limites éticos, ajudar mais o Estado.


Garotinho diz que superlotação foi motivo do acidente com palanque
O candidato do PSB à Presidência, Anthony Garotinho, disse ontem acreditar que a superlotação foi o motivo do desabamento do palanque onde fez seu primeiro comício de campanha, na Cinelândia (centro do Rio).
"Tinha muita gente no palanque. Isso não poderia ter ocorrido", afirmou Garotinho antes de embarcar para São Paulo, onde participaria do debate entre os presidenciáveis.

O acesso ao palanque estava sendo controlado pelo coronel Paulo Gomes, ex-secretário estadual de Defesa Civil. A polícia abriu inquérito para apurar as responsabilidades. A estimativa era de que cerca de 150 pessoas estivessem no palanque.

A empresa Abertura Promoções e Eventos, contratada para montar o palanque, não tinha autorização do Corpo de Bombeiros para o serviço.

Pelo menos 40 pessoas ficaram feridas, entre elas Garotinho, que teve uma contusão na coxa esquerda, e sua mulher, a candidata ao governo do Rio, Rosinha Matheus (PSB), que teve um trauma no abdômen. O casal ficou dois dias no hospital Copa D'Or (Copacabana, zona sul).

Havia a possibilidade de Garotinho faltar ao debate, já que os médicos anunciaram que ele poderia permanecer hospitalizado até hoje. Às 8h15, porém, o casal recebeu alta e foi para casa, de onde Garotinho só saiu para viajar.

O ex-governador seguiu para São Paulo andando com dificuldade. "Quero agradecer aos que me telefonaram e aos que fizeram orações", disse. "Nunca imaginei que pudesse ocorrer uma coisa daquela."


Na TV, Lula investirá em vale-remédio
Objetivo é ampliar a intenção de voto nas classes D e E; candidato não diz de onde vai tirar o dinheiro

O PT procurará no custo dos remédios o remédio para tentar conter a queda de seu candidato nas pesquisas. Como símbolo da estratégia de priorizar o eleitor que ganha até R$ 1.000, a campanha na TV do candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva, será focada na divulgação de uma espécie de vale-remédio, no qual o governo federal subsidiaria parte do custo de medicamentos para a população de baixa renda.

Na tentativa de ampliar a intenção de voto em Lula nas classes D e E, o PT defenderá nos programas do horário eleitoral gratuito, que começa no dia 20, a ampliação nacional de instituições financeiras como o Banco do Povo, que oferece à população de baixa renda empréstimos de pequeno montante a juros baixos e sem necessidade de garantias.

Outro projeto na mesma direção será a extensão a todo o país de programa que paga o transporte e os uniformes de estudantes de escolas públicas, na linha de programa criado pela prefeita Marta Suplicy em São Paulo.

Nenhum desses projetos consta claramente do programa de governo petista, divulgado no mês passado. Nem a origem dos recursos que os bancarão.

Lula tem se esquivado de responder questões sobre a origem do dinheiro para os programas sociais do partido. "Na mão do PT, R$ 1 vale R$ 2", tem repetido em referência à suposta maior eficiência dos gastos de administração do partido, vendidas como menos propensas à corrupção e aos gastos desnecessários.

Os economistas do partido afirmam que a retomada do crescimento industrial, a redução de impostos no setor produtivo, o estímulo à exportação e o combate à corrupção gerarão novas receitas, que seriam direcionadas aos programas sociais.

Esses projetos que serão levados à TV surgiram a partir de pesquisa feita com eleitores de baixa renda que tentou dimensionar carências que poderiam ser supridas pelo governo federal.

Ao todo, a pesquisa levantou 23 itens passíveis de atuação. Desses foram retirados seis que seriam prioritários e para os quais foram criados programas específicos.

O carro-chefe é o vale-remédio dado o grau de aflição que atinge pessoas carentes com os preços de medicamentos, principalmente os de uso continuado.

O vale-remédio pontua ainda uma característica de propagandas eleitorais dirigidas pelo publicitário Duda Mendonça. Ela criou campanhas sobre a "Farmácia do Povo", que pretendia fornecer medicamentos mais baratos produzidos por instituições públicas, para Miguel Arraes (PSB) e para Paulo Maluf (PPB) em 1998.

Será ainda uma resposta petista a um dos pontos tidos como positivos da candidatura presidencial de José Serra (PSDB): sua gestão à frente do Ministério da Saúde, em especial a implantação do programa dos genéricos.

Desde maio, Lula está em queda nas pesquisas. Pelo Datafolha, tinha 43%, recuou para 40% em junho, 38% em 5 de julho e 33% na pesquisa divulgada quarta-feira. Nesse levantamento, Ciro aparece com 28%, e Serra, com 16%.

Lula perdeu mais pontos nas classes de alta renda (12) do que nas de baixa renda (5). Caiu mais também na faixa de eleitores mais escolarizados (6) do que na faixa dos menos escolarizados (3). Assim é o eleitor de renda menor e escolaridade menor que lhe deu a liderança no levantamento passado. É esse público que a campanha na televisão tentará atingir.


PT gaúcho tenta se descolar de pivô de CPI
Diógenes Oliveira, do Clube de Seguros da Cidadania, diz que pediu desfiliação provisória

Um dos principais problemas do PT gaúcho na campanha eleitoral deste ano, na qual sua hegemonia no Estado está sendo ameaçada pelo PPS de Antônio Britto, é explicar ao eleitorado as relações do partido com o economista Diógenes Oliveira.

Depois de quase derrubar o governador Olívio Dutra (PT), é a vez de a campanha do candidato Tarso Genro tentar descolar-se da imagem de Oliveira, pivô do episódio central da CPI da Segurança Pública no Estado -que pediu o indiciamento de 44 pessoas, incluindo o governador.

Oliveira, 58, é acusado de ser ligado ao jogo do bicho e ocultar supostos interesses de petistas com bicheiros do Estado.

O vereador Estilac Xavier (PT), aliado de Tarso, afirma que não houve nenhuma participação de Oliveira na campanha do correligionário. "Ele mesmo sabe que uma participação seria constrangedora para as duas partes", diz.

"Não sou mais filiado ao PT", diz Oliveira. "Pedi uma desfiliação provisória porque, nos episódios dessa malcheirosa CPI, foram feitas várias imputações em relação a mim, e agora estou na Justiça demonstrando a inexistência desses fatos. Não estou participando da política eleitoral, muito menos da partidária."

Para o presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, Jair Krischke, adversário de Oliveira, "ele está mais preocupado em resolver os problemas que tem na Justiça".

Conversa gravada
Oliveira era presidente do Clube de Seguros da Cidadania, que arrecadava fundos para o PT, quando teve uma conversa sua com o chefe de polícia Luiz Fernando Tubino gravada. Nela, ele pedia, em nome de Olívio, que fosse abrandada a repressão aos bicheiros -o governador negou saber do caso, e Oliveira negou posteriormente ter usado o seu nome.

As investigações subsequentes estão tramitando na Assembléia Legislativa e no Ministério Público Federal. No Ministério Público Estadual, foram arquivadas em relação à cúpula estadual -mas Oliveira foi denunciado.
Dizendo-se vítima de "linchamento moral", Oliveira afirma ter sido "usado" para atingir o governo de Olívio. "Até pouco tempo atrás, eu era filiado ao PT e tinha relação de correligionário com Olívio, Tarso e todos os petistas."

Os vínculos de Oliveira com Olívio são antigos. No primeiro governo do PT em Porto Alegre (89-92), ele foi interventor da empresa de ônibus Trevo e, depois, secretário municipal dos Transportes. Na campanha de 98, arrecadava fundos com os empresários.

O ex-presidente do Clube de Segu ros da Cidadania -que comprou um prédio e o cedeu em comodato para ser sede do PT- é dono da agência de turismo Pangea, responsável pelos roteiros do MSTur -programa de visitas a assentamentos guiadas pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), feito com apoio do governo.

Oliveira militou na VPR (Vanguarda Popular Revolucionária) durante o regime militar e saiu do país em 1970, trocado pelo cônsul do Japão em São Paulo, Nobuo Okushi, sequestrado em 1970.


Artigos

Uma gota de otimismo
Vinicius Torres Freire

SÃO PAULO - Havia muito tempo que não se via tanta notícia sobre o Brasil na mídia global -desde 1999, quando explodiu a crise do primeiro governo FHC. É ingrato, mas poderia ser pior. Na semana passada, os analistas passaram a dizer que não se pode deixar o Brasil cair.

Empresas dos EUA e da Europa têm dezenas de bilhões de dólares investidos aqui. Bancos e investidores ficariam na pior se, depois da Argentina e de megaempresas americanas, o Brasil também fosse à breca. O crédito mundial poderia emperrar. O governo americano acordou e vai emprestar dinheiro do próprio bolso -não do FMI- para tirar o pequeno Uruguai da lama.

A crise então vai passar? No melhor dos casos, sairemos dessa só com mais inflação, e, desde que o BC não tenha a idéia de jerico de elevar os juros, pode até começar alguma recuperação. Mas há vários poréns.
A tensão no mercado vai continuar até se conhecer o novo presidente e o que ele vai fazer, não tem jeito.
Há o enorme porém americano. Não se sabe a extensão da picaretagem nas empresas, nem o quanto o governo Bush está metido nisso, uma ameaça ao mercado mundial.

A economia dos EUA está falhando. O investimento externo nos EUA este ano é só um terço do que foi em 2000. Por isso tudo, o dólar pode cair diante do euro e do iene, um pepino para Europa e Japão.

Em setembro, sai nova rodada de balanços de empresas americanas. Se ruins, o que não é improvável, vem mais turbulência. Na mesma época, os americanos recebem seu extrato anual de aposentadorias e investimentos, magrinho por causa da queda das Bolsas. Com o susto, podem parar de gastar -mais areia na economia. Pior, Bush pode atacar o Iraque. O petróleo pode subir muito e, aí, Deus nos ajude.

O país precisa de dólares do FMI -e do Banco Mundial também, que se podem usar com mais liberdade para acalmar a crise. O dinheiro deve vir e amainar a seca de crédito para as empresas. Quanto e como vem é a questão. Mas apostar em desastre certo é burrice. Por ora, ao menos.


Colunistas

PAINEL

Longe da confusão
FHC comunicou a aliados que fará uma viagem internacional de três meses assim que deixar o Planalto, em janeiro. Não quer acompanhar de perto o início do governo de seu sucessor, que, acredita, será conturbado.

Matemática cirista
Após subir nas pesquisas e encostar em Lula, Ciro Gomes contabiliza ter o apoio quase integral do PFL. Dos principais líderes do partido, não estariam do seu lado apenas Jaime Lerner (PR), Cesar Maia (RJ), Heráclito Fortes (PI) e Marco Maciel (PE).

Luz de velas
Na última sexta, Maurício Dias David, assessor econômico de Ciro, jantou com o pefelista Cesar Maia, que está com Serra. Prato pedido pelo economista: o apoio do prefeito do Rio de Janeiro ao presidenciável do PPS.

Contagem regressiva
Paulinho foi tema de um bolão no final de semana, em uma roda de tucanos. A aposta era para ver quem acertava quantos dias mais o sindicalista do PTB conseguirá se manter na vice do presidenciável Ciro Gomes.

Rede de campanha
Funcionários do Banco Central estão utilizando o correio eletrônico interno da instituição para criticar Ciro. Em uma das mensagens, que chegou às mãos do PPS, é reproduzida uma reportagem com o título: "Projetos de Ciro no CE fracassaram".

Terrorismo econômico
As mensagens no correio eletrônico do BC terminam com a frase: "Lula presidente para romper com o FMI!".

Coronel e aprendiz
Nota publicada na semana passada na capa do jornal "Correio da Bahia", de ACM, chamou o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB) de "agatunado" e o acusou de promover bingos de bois, vacas e bezerros para atrair eleitores a seus comícios pelo interior do Estado da BA.

Provocação dupla
Antes do debate da TV Bandeirantes de ontem, José Serra (PSDB) dizia que Lula (PT) entende muito mais de economia do que Ciro Gomes (PPS). Mesmo com o presidenciável petista não tendo diploma.

Caso de polícia
Moroni Torgan (PFL-CE) é o primeiro candidato a pedir proteção da PF na campanha eleitoral (a dos presidenciáveis é prevista em lei). O deputado, que foi o relator da CPI do Narcotráfico, estaria sofrendo ameaças no Ceará. O Ministério da Justiça autorizou a escolta.

Livre para voar
Portaria do Ministério do Planejamento liberou as despesas com passagens aéreas e diárias do Ministério das Comunicações. Dias atrás, o ministro Juarez Quadros reclamara à equipe econômica que não teria mais dinheiro para gastos com viagens a partir de setembro.

Campanha regional
Anthony Garotinho (PSB) lidera a disputa presidencial nos morros do Rio de Janeiro. Pesquisa do Iser (Instituto de Estudos da Religião) em 37 favelas apontou o ex-governador do Estado com 36,8% das intenções de voto, contra 19,7% de Lula, 12,7% de Ciro e 4,1% de Serra.

Pesquisa localizada
Juntas, as favelas do Rio de Janeiro têm cerca de 1 milhão de eleitores. A pesquisa do Iser foi feita entre os dias 10 e 22 de julho com 857 eleitores. Dentre eles, 20,2% ainda estão indecisos. Lula (PT) tem a maior rejeição, 25,2%, seguido de José Serra (PSDB), com 14,8%.

Outros interesses
Chamado de "picareta" por Jutahy Júnior, Roberto Jefferson (PTB) diz que há pouco tempo era tratado de "amigo" pelo tucano. Principalmente quando o deputado do PSDB precisava do voto do PTB para eleger Aécio Neves à Presidência da Câmara.

TIROTEIO

Do presidente do TST (Tribunal Superior do Trabalho), Francisco Fausto, sobre as irregularidades nas comissão de conciliação prévia:
- Sou mais favorável à legalização do jogo do bicho do que a permitir o atual funcionamento das comissões de conciliação prévia. Perto das fraudes praticadas por elas, o jogo do bicho é menos criminoso.

CONTRAPONTO

Silêncio no tribunal
O Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo -notabilizado pelo escândalo do Fórum Trabalhista durante a gestão do presidente Nicolau dos Santos Neto- vai inaugurar um memorial que traz, entre outros atrativos, histórias gravadas por juízes de todo o país.

Um dos depoimentos é do atual vice-presidente do TST (Tribunal Superior do Trabalho), Vantuil Abdala.
Nos anos 70, contou o magistrado, presidia uma audiência numa junta de conciliação e julgamento de Corumbá, no Pantanal do Mato Grosso do Sul.

Fazia um calor intenso, como é comum na região, e o juiz Abdala mandou abrir a janela e a porta da sala onde transcorria a sessão.

De repente, no meio de um depoimento, uma vaca colocou a cabeça na janela. Olhou para os lados e "declarou" para o juiz:
- Muuuuu.....


Editorial

MERCOSUL EM RISCO

O Mercosul perdeu relevância. Como realidade política subsiste. Economicamente, míngua.

O Mercosul assumiu aos olhos da diplomacia do Cone Sul, em especial a brasileira, o sentido de unir os fracos para tentar encarar com menos riscos a globalização. O bloco seria um sistema de reforço político mútuo capaz de proporcionar melhores oportunidades econômicas.

O desmanche recente ensina que não há projeto regional sustentável sem projetos nacionais consistentes. Mais ainda, revelou-se inviável a hipótese mais ou sada que seria compensar a fraqueza de cada país com a construção de um bloco regional.

Governos do Mercosul aprofundaram a dependência, sobretudo a financeira, principalmente no Brasil e na Argentina.

Tentou-se agir em duas frentes simultaneamente. De um lado, pesava o consenso de Washington-caracterizado por liberalização comercial, privatizações e desregulamentação-, seguido à risca pelos países do Cone Sul. De outro, esboçavam-se políticas de integração regional que supostamente os colocariam em melhor posição diante dos EUA.

Em vez de aprofundar a integração, os países do Mercosul adotaram um aberturismo irresponsável que, a cada crise, tornou o projeto do bloco regional menos viável.

Aos olhos da comunidade internacional, talvez pese mais a imagem usada em recente edição eletrônica da revista "The Economist", em que os países do Mercosul são comparados a dominós que desabam uns sobre os outros.

Mesmo assim, ainda há quem acredite que a saída é insistir no modelo para criar oportunidades de negócios que ajudem a sair da crise.

Essa opção parece hoje mais complicada, pois os sócios do Mercosul necessitam do FMI e do beneplácito de Washington, cuja contrapartida tende a ser a aceleração da Alca.

O sonho que ocupou diplomatas renascerá apenas, a julgar pela grave crise regional e global, num futuro incerto e distante para o qual ainda não há sequer um roteiro.


Topo da página



08/05/2002


Artigos Relacionados


Serra não empolga aliados

Serra atacará aliados de Ciro

Serra tenta mobilizar aliados

Serra adia anúncio de programa e irrita aliados

Serra do Mar recebe 263 novos aliados para cuidar da preservação

Serra reúne aliados para tentar conter Lula