Aníbal rejeita tese de Maciel
Aníbal rejeita tese de Maciel
Presidente nacional do PSDB defende Serra e nega que pesquisas devam definir candidato
De passagem por Pernambuco, o presidente do PSDB nacional, deputado José Aníbal (SP), discordou publicamente, ontem, do vice-presidente Marco Maciel (PFL), segundo o qual as pesquisas eleitorais é que deverão definir quem será o cabeça de chapa da aliança governista. "Eu não concordo com esta tese de jeito nenhum. Se fosse assim, ninguém precisa conversar mais nada nem formar alianças. Há muitas outras variáveis no processo, como a qualidade e o potencial de apoios do candidato", enfatizou.
José Aníbal foi taxativo ao afirmar que um partido com a densidade e estrutura do PSDB, ainda por cima na condição de ser o partido do presidente da República, "não abre mão da candidatura própria nem hoje nem amanhã". Segundo ele, o PSDB tem um projeto que precisa continuar avançando. E não será uma ou outra circunstância, leia-se a desvantagem do ministro da Saúde, José Serra (PSDB) em relação à candidata pefelista, Roseana Sarney, governadora do Maranhão, nas pesquisas, que fará o PSDB recuar na sua posição de mantera hegemonia da aliança.
O presidente do PSDB previu que antes de junho, quando os partidos definirão seus palanques nas convenções, Serra, que até hoje ainda patina nos 6%, estará bem posicionado nas pesquisas. "O quadro era um antes dele (Serra) ser confirmado como candidato e agora já é outro", destacou. José Aníbal revelou estar conversando todos os dias com o presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP), e já dá quase como certa a adesão do PMDB ao candidato do Palácio do Planalto.
A seu ver, a aliança tácita que estava se formando entre o PMDB e o PFL em torno de Roseana Sarney "era tudo boataria". "Não posso dizer que está tudo fechado com o PMDB agora, mas as conversas têm crescido muito", enfatizou. Em seguida, complementou: "Mas a gente também conversa com o PFL e continua trabalhando pela convergência". José Aníbal está em Pernambuco desde ontem. Já foi ao município de Goiana, acompanhado do deputado federal Luiz Piauhylino.
Hoje ele deverá fazer mais alguns contatos políticos visando os preparativos da visita que o presidente Fernando Henrique Cardoso e Serra farão ao Estado na segunda-feira e, principalmente, o lançamento da candidatura do ministro aqui. O grande ato político do PSDB neste sentido acontecerá quando Serra for a Passira, onde a prefeita é tucana, vistoriar obras do projeto Alvorada. Todos os cinco deputados federais, mais os 11 estaduais, pelo menos 30 dos 43 prefeitos do partido e, no mínimo, 100 dos seus 300 vereadores, se engajarão oficialmente na campanha de Serra. De acordo com José Aníbal, depois de Pernambuco, Serra, que já esteve no Rio Grande do Norte, vai a Alagoas, Mato Grosso e Rio Grande do Sul. "Vamos andar", salientou, em tom otimista, José Aníbal, que no sábado estará na ilha de Fernando de Noronha. No domingo, ele volta ao Recife e só retorna para Brasília na terça-feira.
Prefeito monta plano estratégico da PCR
A equipe do Governo João Paulo se reuniu durante dois dias consecutivos, no Mar Hotel, em Boa Viagem, para apresentação do plano estratégico deste ano, mas o trabalho não foi concluído. Como o tempo foi insuficiente para a exibição das ações de algumas pastas, a Prefeitura decidiu remarcar para os dias 4 e 5 do próximo mês um novo encontro para finalização dos trabalhos.
Na lista das secretarias que ainda não mostraram o "dever de casa" estão a pasta de Serviços Públicos, Cultura, Assuntos Jurídicos, Administração, Comunicação Social e Desenvolvimento Econômico, além das empresas (CTTU, Emprel, Emlurb, Csurb, e a Guarda Municipal). A PCR pretende montar uma agenda para divulgação do planejamento de cada pasta.
A primeira a disponibilizar o calendário de atividades para este ano será a Secretaria de Saúde. Na próxima terça-feira, o secretário de Saúde e pré-candidato do PT ao Governo do Estado, Humberto Costa, fará a explanação de seu roteiro. Dentre as novidades apresentadas pelo secretário estará o lançamento do programa de erradicação da filariose, no prazo máximo de 10 anos. O projeto prevê a ampliação do diagnóstico e do tratamento das pessoas portadoras da doença.
De acordo com Humberto Costa, a PCR vai combater as muriçocas (transmissoras da doença) utilizando métodos biológicos produzidos pelo Centro de Saúde Aggeu Magalhães. Haverá, ainda, ações de saneamento e vedações de fossas. O programa terá uma maior cobertura nos bairros de Água Fria, Dois Unidos e Arruda, áreas consideradas de maior incidência no Recife.
O secretário anunciará também, o programa integrado de combate à dengue. O trabalho será permanente nas comunidades. Como forma de erradicar o mosquito transmissor da dengue, a PCR fará uma licitação para compra de 15 mil caixas d'águas em substituição aos depósitos de armazenamento usadas nas residências. Na área de Educação, a Secretaria prevê a inclusão de mais 6 mil alunos no Bolsa Escola Municipal. A pessoa que tem um filho recebe R$ 90,00. Se tiver duas ou mais crianças o valoraumenta para um salário mínimo (R$ 180,00).
O Governo João Paulo vai intensificar o Programa Orçamento Participativo (OP), promovendo reuniões nos bairros de classe média que até então não foram visitados. A partir do dia 15 de março, o número de plenárias será ampliada de 38 para 52 e as plenárias temáticas subirão de 7 para 10. A expectativa é que a quantidade de participantes amplie de 42 mil para 52 mil pessoas. Outra novidade é a inclusão de novos temas. Farão parte das discussões a questão do negro, da juventude e a habitação. "Queremos ficar mais próximos da sociedade. Vamos descentralizar as temáticas para ficarmos mais perto das pessoas", disse João Paulo.
Câmara espera volta de Speck ao município
Os vereadores de Paulista aguardam para hoje o retorno do prefeito de Paulista, Antônio Speck (PMDB). A viagem de férias para Santa Catarina, sua terra natal, causou polêmica no município. A reação partiu do vereador Amauri Pinto (PSB), alegando que o chefe do Executivo ausentou-se do município sem pedir licença à Câmara Municipal nem passar o cargo para o vice-prefeito, Aguinaldo Fenelon (PV).
A denúncia de Amauri Pinto, no entanto, foi contestada pela Prefeitura de Paulista. A informação oficial foi de que o prefeito ficaria fora da cidade por menos de 15 dias, estando, portanto, sem a obrigação de transferir o cargo. Pela Lei Orgânica do Município, o chefe do Executivo pode ficar fora por até 14 dias, sem a necessidade de passar o cargo para o vice.
Por conta do impasse, Amauri Pinto tinha a intenção de realizar uma reunião extraordinária com os vereadores para dar posse ao vice-prefeito. Ontem, o presidente da Câmara, Cláudio Russel (PFL), garantiu que a convocação (prevista para tarde de ontem) nãoaconteceu. "Esse assunto está encerrado. O prefeito está retornando amanhã (hoje), portanto não existe mais motivo para essa polêmica", garantiu. Russel disse, ainda, que ontem esteve reunido com 16 vereadores, mas o assunto em pauta foi o Carnaval. "Nem sequer tratamos deste caso. Até porque, com a volta do prefeito ao município, essa discussão perde o sentido", ressaltou.
Segundo ele, toda polêmica criada com a viagem do prefeito foi provocada por um grupo de vereadores de oposição. "Não havia motivo para tanta confusão. O prefeito está legalmente correto". O posicionamento de Russel, foi compartilhada pelo vice-prefeito Aguinaldo Fenelon. Segundo ele, Antônio Speck não infringiu a lei. "Acho que os vereadores tiveram outro entendimento, porque ele viajou de férias. O prefeito diz que vai ficar menos de 15 dias fora do município, então não tinha a obrigação leg al de passar o cargo", reconheceu. A Prefeitura não confirmou o retorno do prefeito para hoje. A informação é de que ele voltará ao município na próxima semana.
João Paulo exige segurança para Mattos
PT bate no Governo e prefeito diz que, se vereador morrer, será culpa do Estado
O caso do vereador de Itambé Manoel Mattos (PT) abriu uma crise entre o Governo do Estado e a cúpula do PT. Os petistas denunciaram o secretário de Defesa Social, Gustavo Lima, ao Ministério Público (MP), alegando descaso na apuração das denúncias feitas pelo vereador. Ele se diz ameaçado de morte por grupos de extermínio. Um documento, assinado pelo presidente regional do partido, Paulo Santana, foi entregue ao Procurador Geral de Justiça do Estado, Romero Andrade.
Ontem, o prefeito João Paulo afirmou que, se algo acontecer contra o parlamentar, o Estado será o responsável. "O papel do Estado é de defender o cidadão. A postura do secretário Gustavo Lima em não receber o PT para conversar compromete a imagem da instituição. Sua postura deve estar acima da questão partidária", criticou.
Na representação contra o secretário, a direção do PT pede que a denúncia seja levada ao Tribunal de Justiça para abertura de um processo judicial. Os petistas alegaram, ainda, que as recentes declarações de Gustavo Lima contra Manoel Mattos também contribuíram para o partido acionar o Ministério Público.
Segundo o presidente da Câmara do Recife, Dilson Peixoto, a direção do PT já estava indignada com o secretário porque, na última terça-feira, ele ironizou as críticas do vereador sobre a falta de atenção da secretaria quanto a sua proteção pessoal. "Ele comparou Mattos a um personagem de desenho animado, que morre e ressuscita. Nos jornais de hoje (ontem) ele faz outra declaração desastrosa, ao dizer que o vereador quer faturar politicamente", comentou o petista.
A idéia inicial do PT era de denunciar o Governo do Estado pelo descaso com que tratou as denúncias feitas por Manoel Mattos. O nome do secretário foi incluído depois das declarações que ele fez à Imprensa, "É estranho que isso tenha partido de quem cuida da segurança pública", comentou Paulo Santana. No documento encaminhado ao MP, está um resumo da atuação de Mattos no combate e no enfrentamento aos grupos de extermínio e nos pedidos de providências feitos ao Governo do Estado para protegê-lo. "Nenhuma das nossas reivindicações foram atendidas pelo Governo", afirmou Manoel Mattos. Romero Andrade disse que a denúncia será analisada pela sua assessoria.
Vereador responde a inquérito policial
Polícia Civil de Itambé investiga denúncias contra Manoel Mattos, do PT
Para a Polícia Civil de Itambé, o vereador Manoel Mattos não é vítima e sim acusado. O delegado do município, situado na Zona da Mata pernambucana, Francisco Cerpa, diz que, até agora, não há fatos "relevantes" para que a Secretaria de Defesa Social ofereça proteção policial diuturna para o parlamentar. Segundo ele, a Polícia concentra-se apenas na investigação de um inquérito que foi aberto no distrito contra Mattos, onde ele aparece como réu em uma denúncia por porte ilegal de arma, ameaça contra a vida, disparo de arma de fogo e constrangimento.
Cerpa disse que reconvocará o vereador para prestar depoimento na próxima terça-feira, às 10h, na delegacia da cidade. Na primeira intimação - para um depoimento no dia 22 deste mês - Manoel Mattos não compareceu. Segundo Manoel Mattos, a sua ausência se deu porque a intimação foi remetida para a Câmara Municipal e à presidência do Legislativo só o encaminhou no dia anterior. Data que inviabilizaria a formulação da sua defesa. Além disto, complementou a justificativa, até então não recebeu as cópias das provas que foram solicitadas para análise.
De acordo com o inquérito narrado pelo delegado por telefone, o vereador foi acusado de, no dia 27 de janeiro de 2001, ter se dirigido à boate Fogeama, localizada também em Itambé, e feito arruaças. O delegado adiantou que as quatro testemunhas ouvidas afirmaram que ele teria chegado à boate por volta das 23h e, como a encontrou de portas fechadas, fez disparos para o alto e ameaçou funcionários da casa.
"Tudo leva a crer que o senhor Manoel cometeu esses crimes", declarou o delegado Francisco Cerpa, acrescentando que, mesmo que o vereador não compareça à convocação desta terça, chegará a uma conclusão sobre o inquérito porque "não há provas documentais". Cerpa lembrou, ainda, que o vereador é citado em outras quatro ocorrências que o acusam de cometer crimes comuns. Todas já foram encaminhadas à Justiça.
A versão a respeito da suposta arruaça ocorrida no dia 27 de dezembro é completamente rechaçada pelo vice-prefeito,Renato Ribeiro, também do PT. Ele assegura que há uma "armação" por trás destas denúncias. Que "querem cassar o mandato dele (de Manoel Mattos)", afirma. Ribeiro chega a dizer que as testemunhas do caso foram "compradas" para prestarem depoimentos que comprometem Manoel Mattos. "Tudo é uma mentira".
O vice-prefeito condenou, através de carta enviada ao jornal, as declarações do secretário de Defesa Social, Gustavo Lima, ironizando as ameaças recebidas por Matos. "Custa crer que uma autoridade, que deveria velar pela nossa segurança, cometa tal leviandade", comentou, referindo-se ao fato de "sua excelência negar a ação de grupos de extermínio". (S.B.)
Roseana propõe encontro com candidato tucano
BRASÍLIA - A movimentação da cúpula do PMDB governista rumo à candidatura do tucano José Serra provocou a reação imediata do PFL. A governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), ligou para Serra e marcou um encontro dos dois para a próxima semana. Segundo os articuladores pefelistas, Roseana não está pensando em desistir da sua candidatura, mas insiste em conversar sobre a manutenção da aliança governista. Ela dirá a Serra que ainda acredita na possibilidade de unidade e que a melhor saída é um candidato único.
Os pefelistas temem ficar isolados ou vir a ocupar um lugar de pouco destaque numa posterior recomposição da aliança que elegeu Fernando Henrique Cardoso duas vezes e que continua no poder. O crescimento da pré-candidatura de Roseana nas pesquisas foi construída com a utilização do tempo dos programas partidários do PFL no rádio e na TV.
Roseana tem uma aparição programada para o próximo dia 31 e depois ficará afastada do horário eleitoral gratuito até dia 6 de julho. Isso pode causar uma espécie de vácuo em sua campanha, dificultando a manutenção dos índices de popularidade conquistados, de cerca de 20% das intenções de voto.
Roseana disse a aliados não estar convencida da concretização do apoio do PMDB a Serra. Isso porque o apoio peemedebista consolida a candidatura do ministro da Saúde, e deixa o PFL numa posição secundária na aliança, sem poder de barganha. A estratégia é continuar investindo também no entendimento com o PMDB.
O PFL aposta no pragmatismo dos peemedebistas, que esperariam até junho, data das convenções partidárias, para se certificar de que a candidatura Serra irá decolar. O presidente do PFL, Jorge Bornhausen, disse ontem que esse não seria o melhor momento para o PMDB tomar essa decisão. "Não acredito que o PMDB faça sua opção numa semana marcada pelas balas de Santo André e pela dengue que se alastra no País",afirmou.
Caciques pefelistas mandaram recados ao presidente FHC de que o PFL não está gostando nada dos avanços no acordo entre Serra e o PMDB. O principal argumento é o papel do PFL na manutenção da governabilidade, com conseqüente apoio às teses governistas no Congresso.
Empresário admite erro em depoimento
Sérgio Gomes da Silva insiste em dizer que as portas da Pajero destravaram
SÃO PAULO - Em entrevista coleti va ontem, o empresário Sérgio Gomes da Silva, que estava com Celso Daniel na hora em que o prefeito de Santo André foi levado por seus assassinos, afirmou: "Posso ter cometido erros em meu depoimento, mas nenhuma contradição". Gomes da Silva, 45 anos, respondia à pergunta de um repórter sobre uma suposta "contradição" em seu depoimento: ele afirmou à polícia que as portas de seu carro, uma Pajero blindada, destravaram na hora em que o carro foi abordado pelos assassinos de Daniel. Perícia da polícia descartou qualquer problema.
"Não sou técnico, não sou mecânico e nem especialista", afirmou o empresário, que trabalhou com Daniel na prefeitura nos anos 80, e que jantou com ele horas antes do seqüestro. "Só sei que na hora que o carro deles me barrou e eu parei, as travas se abriram. Depois, travou (não conseguiu mais fechá-las)". Foi a primeira vez que Sérgio Gomes da Silva falou à imprensa sobre o momento do seqüestro do petista Daniel, cujo corpo foi encontrado
Ele deu alguns detalhes sobre a perseguição ocorrida na noite da última sexta-feira, na região do Sacomã (zona Sul de SP). O empresário afirmou que, no momento em que seu carro parou, e um dos carros dos assassinos o ultrapassou, ele chegou a pensar que eles iam embora. "Mas deram a volta e desceram atirando. Na hora que eles passaram por mim, a impressão que tive é que foram embora. Mas, deram a volta. Atiraram várias vezes na volta. Quando desceram, as portas estavam abertas".
Ele reafirmou que os carros que o perseguiram eram uma Blazer e um Santana. Sobre sua relação com Celso Daniel, 50 anos, o empresário disse que eram bons amigos e que ajudou na campanha dele, na década de 80. "Mas eu não pensava em trabalhar na prefeitura, queria cuidar da minha vida, da minha empresa", disse.
O líder do PTB na Assembléia Legislativa de São Paulo, Campos Machado, anunciou ontem que encaminhará uma nova representação ao Ministério Público Estadual (MPE), pedindo a reabertura das investigações sobre as relações do empresário Sérgio Gomes da Silva com a Rotedali Serviços e Limpeza Urbana. A Rotedali, contratada sem licitação pela prefeitura de Santo André, teria pago R$ 272 mil a Silva, no início de 2000, por "serviços de consultoria".
A investida de Machado faz parte de uma estratégia iniciada ontem pela cúpula do PTB no Estado, que decidiu mobilizar todos os diretórios estaduais para defender a política de segurança do Governo estadual.
Artigos
A valorização da polícia
Carlos Wilson
Senador por pernambuco
Não foi a morte do prefeito de Santo André, Celso Daniel, que gerou o clima de insegurança que toma conta da população brasileira. O drama do seu assassinato apenas deu volume a uma indignação que estava presente no dia-a-dia de todos os brasileiros.
Celso agora, Antônio Costa, o Toninho do PT, prefeito de Campinas, há quatro meses, a deputada alagoana Ceci Cunha, há três anos, e tantos outros que foram vitimados pela violência apenas engrossam uma estatística macabra. Morrem mais brasileiros vitimados pelo crime do que soldados americanos no Golfo Pérsico, no Vietnã ou no Afeganistão. Um único bairro em São Paulo, Capela do Socorro, apresenta indicadores de homicídio superiores a Nova York. Isso para não se falar das balas perdidas que tantas vítimas fizeram e fazem no Rio, ou dos números da violência em cidades como o meu outrora pacato Recife ou a bonita Vitória, capital do Espírito Santo.
A violência não destingue classe social. Tira o luxo do rico e eterniza amiséria do pobre. No Brasil se mata por um par de tênis ou por um boné. Se seqüestra, com o requinte do crime organizado, ou com o improviso da tortura. E, neste momento de tensão e de comoção, é importante que a população em geral e o governo em particular, valorizem os efetivos da polícia.
Foi a partir deste sentimento que cidades como Nova York, Palermo e Tóquio enfrentaram, com sucesso, ondas de violência com efeitos tão nocivos como esta. Não se trata apenas de anunciar novos efetivos, contratação de novos soldados e policiais ou de adquirir novos armamentos. É preciso resgatar a dignidade da atividade. Distinguir o bom policial do policial bandido.
O fortalecimento das corregedorias policiais dentro do Departamento de Polícia de Nova York permitiu ao prefeito Rudolf Giuliani iniciar o enfrentamento da banalização do crime. Foi uma auditoria no patrimônio de agentes de justiça, que permitiu ao juiz Giovanni Falcone iniciar o confronto com a máfia e deflagrar a Operação Mãos Limpas, em Palermo.
NoBrasil, um policial militar é obrigado a deixar a sua farda no quartel, porque suas condições de vida o obrigam a viver ao lado da marginalidade, em favelas e cortiços. O filho de um PM não pode revelar a atividade de seu pai, sob pena de ser vítima ele próprio da discriminação, quando não da exterminação pura e simples.
A valorização da atividade policial no Brasil passa sobretudo pelo resgate da dignidade do papel do agente da lei. Não é pela força, pelo desfile ostensivo de viaturas ocupadas por rambos subdesenvolvidos, que vai se enfrentar o crime. Esta é uma guerra onde as vítimas já cairam antes mesmo do embate armado.
O policial brasileiro deve poder exercer o seu poder de agente da lei sem constrangimentos, amparado sobretudo pela moral e pela habilitação que lhe foi conferida pela sociedade. Não pela força das suas armas. Deve saber que seu companheiro, seu parceiro está do seu lado, defende o mesmo interesse que o seu. E não os interesses do crime.
A lei deve estar acima de tudo. E um agente da polícia judiciária deve ter todos os recursos disponíveis para processar um inquérito com a brevidade necessária e a eficiência desejável. Os promotores e juízes devem ter acesso à formulação destes inquéritos, de forma a superar barreiras corporativas, como as que existem hoje.
A justiça deve ser ágil e os processos criminais concluídos em prazo nunca superior a 120 dias, com sentença em primeira instância e 180 dias com sentença transitado em julgado. Hoje, o prazo médio de conclusão de um processo é superior a cinco anos. A protelação da tramitação não raro devolvem o réu ao perigoso convívio da sociedade.
Os presídios devem ser seguros. Não depósitos de presos amontoados em cadeias públicas. A realidade obriga um criminoso primário, que furtou pelas circunstâncias, ao convívio com um seqüestrador ou um traficante. Celas que foram projetadas para abrigar cinco ou seis reclusos, recebem quase sempre 30 ou 35 presos.
Dotar as polícias de meios para o exercício de suas atividades é obrigação doEstado. Para isso, os contribuintes pagam impostos altíssimos. Exigir que a Justiça seja limpa, honesta e eficiente é o mínimo que um cidadão pode almejar. Os governadores e seus secretários de Segurança e Justiça, o presidente da República e seu ministro da Justiça são os responsáveis pela segurança dos cidadãos. Se a legislação é obsoleto, é preciso mudá-la. Se há juízes e policiais corrompidos, é preciso extirpá-los.
O Brasil vive uma onda de violência sem precedentes em sua história. Quem, se não a polícia, vai enfrentá-la? Para isso é preciso, antes de mais nada, valorizar a atividade do agente da lei.
Colunistas
DIÁRIO POLÍTICO - Divane Carvalho
Uma peça de marketing
Quem se der ao trabalho de ler, atentamente, os esclarecimentos de João Paulo sobre a contratação da Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos-Finatec- de Brasília, para ajudá-lo a administrar o Recife, vai tomar um susto. Não porque ele diz que " o grau de descontrole e ineficácia encontrado na PCR, propositadamente montado nos governos passados, exige ajuda externa para reestruturar, atualizar, capacitar, mod ernizar e desenvolver a gestão da administração municipal e profissionalizar o seu conjunto de trabalhadores". Por ele admitir que precisa de profissionais habilitados para essa tarefa, o que pode ser interpretada como declaração pública de que sua equipe não tem condições de fazer o governo como ele imagina, no que considera um espaço pequeno de tempo. Intitulado A contratação de uma fundação universitária, o documento, divulgado na reunião do secretariado, quinta-feira, também é uma habeas corpus para justificar a contratação da empresa sem licitação, além de uma peça de marketing paraa Finatec, apontada como " reconhecidamente uma das três fundações mais capacitadas para o trabalho de desenvolvimento do setor público no Brasil". Os recifenses esperam que João Paulo esteja certo e que a fundação melhore o gerenciamento da PCR. Mesmo que só tenha trabalhado para uma prefeitura, a de Araraquara (SP), como mostra sua extensa lista de clientes formada por agências reguladoras, ministérios, bancos, tribunais, faculdades, fundações, institutos e os governos do Acre e do Amapá.
A pernambucana Severina Rodrigues, Tia Nenen, é a agente de saúde de Olinda que vai receber de FHC, segunda-feira, a placa comemorativa à meta alcançada pelo Ministério da Saúde, de contratação de 150 mil agentes de saúde em todo Brasil
Sucesso A entrevista de Eduardo Suplicy (PT-SP) a Edenevaldo Alves da Emissora Rural de Petrolina, ontem, provocou uma enxurrada de telefonemas para a rádio, um recorde de ligações. Porque os ouvintes confundiram o senador com seu filho roqueiro, Supla, que fez o maior sucesso na Casa dos Artistas, do SBT.
Pista Ninguém sabe o que João Paulo pretende fazer no calçadão de Boa Viagem. Pois mal terminou de marcar a pista, pintada recentemente de muitas cores, e mandou quebrar vários locais para consertar o piso. Dinheiro jogado fora, isso.
Indenização José Arlindo diz que é favorável ao pagamento de indenização, pelo Estado, às pessoas que não se recuperaram profissionalmente ou ficaram com seqüelas físicas e psíquicas quando lutaram contra a ditadura. Fora esses casos, o secretário de Planejamento acha que ninguém deve pedir o benefício.
Inauguração A ministra do STJ, Fátima Nancy, visita Goiana, hoje, a convite do presidente do TJPE, Nildo Nery. Participa da inauguração do novo Fórum, às 16h, e vai conhecer o Programa Viver Legal que unificará maternidades e cartórios para emissão de Registro de Nascimento.
Viagem Raul Jungmann não vem mais ao Recife, hoje, como estava programado, para um encontro com empresários. Segundo a assessoria do ministro do Desenvolvimento Agrário, ele cancelou a viagem porque foi convocado, pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, para uma reunião na Casa Civil.
Revolta 1 A população de Garanhuns está revoltada porque o Governo do Estado mandou construir uma penitenciária feminina no município e acha que isso vai ser muito ruim para o turismo na cidade.
Revolta 2 Os políticos da região já foram acionados e comerciantes, maçons e rotarianos querem sugerir ao go vernador Jarbas Vasconcelos que transfira para o prédio a cadeia pública, que está bem estragada. E coloque a penitenciária em outro lugar.
Editorial
DENGUE
A dengue é considerada hoje o maior problema de saúde pública dos países tropicais. As condições climáticas lhe são favoráveis. O Aedes aegypti, mosquito transmissor da doença, prolifera em ambientes com temperatura e umidade elevadas. Daí por que no verão, período de calor forte e chuvas abundantes, ocorre o maior número de casos.
O Brasil oferece terreno fértil para a proliferação do inseto. Mais de 20% da população das grandes e médias cidades vivem em condições precárias de saneamento básico. Sem abastecimento regular de água e coleta constante de lixo, formam-se os criadouros ideais do Aedes aegypti. Os moradores das áreas de risco precisam manter água em reservatórios, e o lixo moderno, descartável por excelência, forma depósitos artificiais que atraem o mosquito.
A violência urbana é outro aliado da enfermidade. Os técnicos não conseguem entrar nas casas para inspecioná-las. Amedrontada, a população teme estar diante de um bandido disfarçado que se diz funcionário da Vigilância Sanitária. Não lhe abre a porta.
Mais. O país recebe grande fluxo de turistas. O ser humano é a fonte da transmissão do mal. É ele quem contamina o mosquito. Ora, não há possibilidade de inspecionar portos, aeroportos, ferroviárias, rodoviárias e estradas para detectar possíveis infectados. Ainda que houvesse, a dengue, em muitos casos, é assintomático ou confunde-se com gripe ou resfriado.
Erradicar a dengue no curto prazo, pois, é impossível. Mas o poder público pode e deve tomar medidas capazes de mantê-lo sob controle e, sobretudo, de salvar vidas. Campanhas educativas mudam hábitos da população. Os brasileiros têm o costume de manter, nas dependências domésticas, vasos de plantas com pratinhos de água. Conscientes do perigo, poderão livrar-se do risco potencial.
Certas ações simples, porém indispensáveis, não podem ser negligenciadas. É o caso de atacar os possíveis focos do Aedes aegypti. A Vigilância Sanitária deve fiscalizar cemitérios, borracharias, depósitos de ferro velho e providenciar a limpeza de terrenos baldios. São ações preventivas eficazes e urgentes.
Mas, enquanto perdurarem as situações de precariedade em saneamento básico, haverá infectados. O Brasil deu um passo adiante para conviver com o mal. Especializou profissionais da área de saúde a fim de tratar as formas graves da infecção e reduzir-lhe a letalidade a quase zero. Vale o exemplo. Manaus registrou 58 ocorrências de dengue hemorrágica. O único óbito deveu-se ao fato de o enfermo não ter procurado o hospital de referência.
A escassez de recursos impede que todos os hospitais tenham unidades especializadas em dengue. Mas impõe-se que todas as cidades tenham pelo menos um centro de atendimento aos casos graves. Com socorro adequado e tempestivo, é possível evitar mortes. Nenhum governo pode ignorar esse avanço.
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01/25/2002
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