Antônio Britto quer as oposições unidas no segundo turno










Antônio Britto quer as oposições unidas no segundo turno
Ele quer unir as oposições numa grande frente para vencer as eleições deste ano para o governo do Estado. O candidato a governador pelo PPS, Antônio Britto, conta com o apoio do PMDB e do PPB, além do PDT e PTB que já tem, para vencer um eventual segundo turno contra Tarso Genro (PT). Para isso, Britto promete inclusive participação no governo para os possíveis aliados.

Foi em vista dessa grande coalizão que Britto diz ter agüentado calado diversos ataques que sofreu nesta eleição, especialmente do PDT. Caso vença o pleito, o ex-governador pretende garantir maioria na Assembléia Legislativa para executar suas políticas prioritárias para emprego e segurança. O candidato do PPS analisa, também, a atuação do PT gaúcho na campanha e no governo.

Jornal do Comércio - Apesar de suas prioridades serem emprego e segurança nesta eleição, continuará procurando atrair empresas como no governo anterior?

Antônio Britto
- Quem determina as prioridades nunca é o governante. É o anseio da sociedade. Estamos procurando fazer um planejamento de governo ouvindo a sociedade. Estive em 180 municípios, participei de mais de 300 reuniões e em nenhuma as pessoas deixaram de me pedir segurança e emprego. Então, assumimos uma prioridade nascida da própria sociedade. Elas não são incompatíveis entre si, porque o grande momento da segurança em um lugar é quando é atingido um equilíbrio social tão bom em que desapareçam a miséria, a desigualdade, a injustiça. É uma utopia. Enquanto isso, devemos tentar resolver o problema da segurança. E podemos trabalhar nos dois objetivos de forma muito concreta. Na segurança, a prioridade das prioridades é devolver confiança ao pessoal, tirando o partido de dentro da Brigada e da Polícia Civil, orientando-os a que cumpram a lei, não importa se é com o MST, se é com o PPS, se é com o PFL, e devolvendo a certeza de que o sujeito será promovido ou não, por ser competente ou não, e não por ser amigo do partido A, B ou C. Também vamos pegar cada centavo que houver no Estado e dar prioridade a aumentar os efetivos e os investimentos em carros e equipamentos.

JC - Como interpreta a queda de seus índices nas pesquisas de opinião nesta fase da campanha?

Britto
- Absolutamente previsível. Nossa estratégia parte do pressuposto de que a eleição é em dois turnos. No primeiro turno, houve um enfrentamento muito duro e necessário com o atual governo. Esse enfrentamento acabou nos deixando na obrigação de dedicar bastante tempo, do pouco que temos, a denunciar o que aconteceu no Estado nestes quatro anos, as promessas não cumpridas, as mentiras. E eu ainda tive que defender minha honra, mais uma vez atingida por essa campanha de ódio que infelizmente caracteriza o PT do Rio Grande do Sul. Enquanto isso acontecia, dois candidatos muito bons, que são o Celso e o Rigotto tiveram acesso à televisão. O Rigotto tem uma eternidade de tempo, livre do entre-choque que havia entre nós e o PT. Tudo faz parte do manual. Agora, vamos nos preparar para chegar ao segundo turno. Depois, para ganhar a eleição. Decidimos que terminaríamos o primeiro turno sem fazer um gesto ou levantar uma palavra contra o Rigotto e o Celso (Bernardi, PPB), porque trabalhamos com a idéia de que, se a eleição é em dois turnos, o Rio Grande do Sul exige que as oposições estejam unidas no segundo turno.

JC - Germano Rigotto foi beneficiado por estar fora do tiroteio maior da campanha, que foi entre o seu partido e o PT de Tarso Genro?

Britto
- O Rigotto é um candidato de muita qualidade, representa um partido forte que é o PMDB e teve o benefício do tempo de televisão e do fato de que ele pode cuidar apenas de apresentar propostas, enquanto a nós cabia a tarefa, primeiro, de defender a nossa honra e, segundo, de pôr em discussão o que foi essa decepção de governo do PT. Cumprimos essa tarefa com convicção, com a certeza de que prestamos um serviço ao Rio Grande. A eleição é em dois turnos e já pudemos passar a apresentar nosso projeto de governo. Mantivemos uma atitude de muito respeito e fraternidade com o PMDB e o PPB porque, para nós, o fundamental é a unidade das oposições, não só para derrotar esse modelo, mas para poder governar com êxito a partir do apoio de diversos partidos.

JC - Como conquistará os apoios do PMDB e do PPB se, nos programas eleitorais, eles expõem críticas a sua forma personalista e isolada de administrar quando foi governo?

Britto
- É preciso compreender essas críticas. Essas pessoas participaram do governo conosco. No caso do PMDB, queriam que eu fosse candidato a governador pelo partido. Celso e Rigotto são dois amigos meus que, por essas coisas da política, estão com legitimidade tentando chegar ao mesmo lugar que eu. Então, fazem as suas críticas. Mas justiça se faça: nada que seja pessoal, nada que envolva honra. Até porque eles participaram do mesmo governo. Estiveram juntos o tempo todo. Se um dos dois passar para o segundo turno, vamos apoiar com tranqüilidade e entusiasmo. Se nós formos para o segundo turno, pediremos apoio não apenas para a eleição, mas para o governo, porque se o próximo governador não for um fazedor de consensos, este Estado vai viver desastres.

JC - Como responde à crítica do PT de que, depois de ter comandado o processo de privatização da CRT, o senhor prestou consultoria a um dos principais novos acionistas da empresa, o Banco Opportunity?

Britto
Eu ficaria extremamente surpreso se o PT deixasse de ser PT no Rio Grande do Sul e resolvesse fazer uma campanha limpa. Ficaria surpreso, porque infelizmente a tradição do PT no Estado, diferentemente do Lula, é a tradição da mentira na campanha eleitoral. Em 1994, fui vítima de uma mentira nojenta. Me acusaram por fatos havidos no Ministério da Previdência três anos antes de eu ser ministro. Quem me acusou acabou condenado a um ano e meio de cadeia. Agora, em 2002, me acusam de ter ido trabalhar no banco que perdeu a disputa pela CRT. Ora, se houvesse favorecimento, eu estaria trabalhando com quem
ganhou e não com quem perdeu. É uma pena que o debate político pelas mãos do PT vá para esse nível. Espero que as pessoas compreendam que eu não tinha outra alternativa, senão defender o meu maior patrimônio, que é uma vida pública limpa e honrada.

JC - Qual sua estratégia para vencer o bloqueio de alguns pedetistas ao seu nome, em função da privatização de empresas estatais em seu governo anterior?

Britto
- Já mostrei aos gaúchos que sou uma pessoa paciente e pacienciosa. E aprendi que, em política, nunca se consegue 100% das pessoas em 100% dos municípios. É natural que os problemas surjam em função da força da política municipal, mas quem teve paciência para conquistar o apoio do Leonel Brizola, não vai ter falta de paciência para conquistar qualquer outro apoio. Vamos trabalhar com calma e tranqüilidade, porque tenho um sonho, que não é apenas ser governador do Rio Grande do Sul. Quero ser um governador capaz de unir o Estado; num primeiro momento, unindo as oposições e ganhando com elas a eleição. Por isso eu agüentei calado tanta coisa que foi dita por aí. Para juntar as pessoas, é preciso ouvir quieto muita coisa, salvo quando mexe na honra. É com esse espírito que festejamos o apoio do PDT e do PTB e, se formos ao segundo turno, não vamos convidar o PMDB e o PPB apenas para nos apoiarem, nós já vamos convidá-los a participar do governo conosco porque queremos fazer um governo suprapartidário.

JC - Acredita que vai disputar o segundo turno com o candidato do PT, Tarso Genro?

Britto
- Com a eleição, aprendi a ter duas atitudes. Uma é de respeito. Jamais me vi ganhando etapa A ou B. A outra é a atitude do otimismo. Quero ganhar. Acho que temos uma proposta c om experiência, com segurança, para administrar o Rio Grande do Sul, mas não cometeria a pretensão de tentar adivinhar o resultado de eleição. Quem faz isso geralmente se quebra.

JC - Caso eleito, como obterá maioria na Assembléia Legislativa?

Britto
- Nós temos experiência nisso. Fui eleito, em 1994, a partir de uma coligação do PMDB com o PSDB. Ao longo do governo, fomos somando esforços. Incorporamos o apoio do PPB, do PFL, do PL, do PTB de Sérgio Zambiasi, e eu tenho um orgulho de dizer que, cortando uma tradição gaúcha, o governo terminou com muito mais apoio do que quando começou. Basta comparar com o atual governo, que sequer conseguiu conviver com o PDT. Temos isso como patrimônio político. Nesta campanha, tive que ouvir uma série de coisas que não merecia e o impulso me mandava responder, mas a serenidade me dizia para não responder porque, amanhã, todos deverão estar juntos em favor do Rio Grande.

JC - Qual sua previsão para a eleição de deputados estaduais e federais pelo PPS?

Britto
- Quero que se elejam todos e considero uma absoluta falta de juízo querer adivinhar eleição de deputado num pleito em que não se consegue adivinhar nem a vitória de governador, presidente ou senador. É uma tarefa impossível. Acredito que teremos um bom resultado, porque o que nos falta em estrutura partidária, nos sobra em enraizamento na sociedade. Espero que o povo faça justiça ao grupo muito bom de candidatos das nossas coligações. E digo sempre coligações porque tem uma formal, PPS e PFL, e tem outra política, envolvendo o PDT e o PTB.

JC - Como analisa a situação atual da candidatura de Ciro Gomes (PPS) à presidência?

Britto
- Ciro teve um momento maravilhoso na eleição há mais ou menos um mês. Enfrentou dificuldades graves depois disso. Mas a situação é tão indefinida que eu continuo acreditando que o Ciro vai para o segundo turno. Há um empate técnico entre três: Serra, Garotinho e ele. Quem disser que já sabe qual dos três vai, devia viver de vender bola de cristal. Quem conhece o Ciro sabe que ele é um homem extremamente cordial, afetuoso, fraterno, mas ao mesmo tempo um homem extremamente verdadeiro, que diz o que pensa. Se ele tivesse vencido a guerra do marketing, ele passaria pelo sujeito que fala sempre a verdade, diz o que pensa e é autêntico. Só que ele perdeu essa guerra do marketing e o que é a autenticidade dele virou destempero. Penso que ele vai recuperando aos poucos a imagem e acho que o eleitor terá que se dar conta de que o Brasil está precisando de mudanças, e que essas mudanças precisam ser feitas por quem tenha competência para fazê-las.


Pesquisa apontará número de estudantes fumantes
Uma pesquisa que será realizada em 25 escolas de Porto Alegre pretende averiguar o perfil e o número de estudantes que fumam. O Sistema de Vigilância de Tabagismo em Escolares será implantado em todas as capitais, atingindo jovens na faixa etária dos 13 aos 15 anos (7ª série ao 1º ano do 2º grau). A coordenação do programa é feita pela Secretaria Estadual da Saúde, mas foi o Ministério da Saúde quem definiu as questões e os colégios que receberão a visita. A pesquisa será feita entre os dias 9 e 11 de outubro.

A intenção é que 3,5 mil alunos de instituições estaduais, municipais e privadas participem, respondendo as 70 perguntas do questionário. Entre as escolas, estão o Rosário e o Instituto Estadual de Educação General Flores da Cunha. Após a coleta de dados, as informações serão enviadas para o Ministério, que elaborará um perfil dos fumantes adolescentes brasileiros. A última pesquisa sobre o tema, feita em 1997, concluiu que 44% dos estudantes porto-alegrenses fumavam. "Vamos ver se todos os nossos programas de conscientização sobre o malefício do fumo estão dando resultado", afirma Araci Centeno, coordenadora do Programa de Controle do Tabagismo e Outros Fatores de Risco da SES.

A pesquisa também servirá como base para a escolha de novas ações de combate ao cigarro. Entre os projetos da Secretaria para controlar o tabagismo, está o Centro de Tratamento do Fumante, que hoje funciona no Hospital Conceição e que promove grupos e discussões de tratamento para os dependentes do cigarro.


Medidas tentam derrubar liminar
A abertura do comércio aos domingos em Porto Alegre entra em uma nova disputa esta semana. A Procuradoria-Geral do Município (PGM) e o Sindicato dos Empregados no Comércio (Sindec) ingressam, nos próximos dias, com ação cautelar junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo a cassação da liminar que institui a liberdade de funcionamento das lojas na Capital.

O Sindec também encaminhou denúncia ao Ministério Público pedindo a manutenção do acordo firmado entre os sindicatos. "Queremos o cumprimento da convenção coletiva, que prevê o pagamento de prêmio por domingo trabalhado", argumenta a presidente do Sindec, Esther Machado.

Os comerciários solicitam ainda aos vereadores que votem, ainda este ano, projeto de lei do vereador Nereu D'Ávila (PDT), que regula a abertura do comércio na Capital. Na sexta-feira, os trabalhadores participaram de audiência pública na Câmara Municipal.

O sindicato aguarda ainda o trâmite de mais de 100 processos individuais movidos contra empresas varejistas.

As empresas que foram acionadas junto à Justiça do Trabalho e ficaram impedidas de abrir em agosto conseguiram reverter a decisão. "O quadro hoje é favorável às organizações", destaca o advogado do
Sindicato dos Lojistas (Sindilojas), Flávio Obino Filho. Ele lembra que todas as liminares que impediram lojas de abrir - foram mais de dez - foram cassadas, permitindo o livre funcionamento.

O comércio da Capital está autorizado a abrir as portas todos os dias desde agosto. No dia 2 de agosto, o Sindicato do Comércio Varejista de Material Óptico, Fotográfico e Cinematrográfico do Estado do Rio Grande do Sul (Sindióptica), com apoio do Sindilojas e da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), moveu ação
direta de inconstitucionalidade e obteve liminar que suspendeu os efeitos da lei 7.109/92.

A legislação proibia a abertura das lojas aos domingos, exceto nos dias previstos na convenção coletiva firmada entre comerciários e lojistas, mediante o pagamento de prêmio. Com a liminar, fica permitido o funcionamento todos os dias com a utilização de funcionários e sem a obrigatoriedade de pagamento extra por domingo trabalhado.


Dólar pode alcançar R$ 4,00 em semana tensa
As previsões para a semana do mercado financeiro estão entre as piores possíveis. Se os investidores continuarem tensos como nos últimos dias, e há razões para isto, a moeda norte-americana pode romper a barreira dos R$ 4,00. "Caso o cenário permaneça igual, buscar os R$ 4,00 é pouco. Só há pessimismo", diz o diretor da Pioneer Corretora, João Medeiros.

Hoje, a moeda norte-americana é pressionada pelo vencimento do dólar futuro de primeiro de outubro na Bolsa de Mercadorias & Futuro (BM&F). O dia será marcado pela briga para a formação da Ptax (taxa média calculada pelo Banco Central). A tendência de alta é forçada pelas instituições financeiras também pela proximidade do vencimento de dívida pública atrelada ao câmbio amanhã. Os detentores dos papéis forçam a cotação para cima porque liquidação é feita em reais com base na Ptax, que quanto maior possibilita aumento dos ganhos.

Do total de US$ 1,25 bilhão, o BC conseguiu renegociar apenas 21% dos papéis com taxas de cerca de 30% ao ano. O mercado pediu taxas ainda mais elevadas e a autoridade monetária não conseguiu rolar os papéis. A expectativa agora é de quanto será rolado hoje. Preocupa ainda o vencimento no próximo dia 17 de outubro de US$ 3,62 bilhões.

A nova pesquisa de intenção de votos divulgada no final de semana pelo Datafolha vai contribuir para o aumento das tensões e aumento do movimento especulativo. "A volatilidade vai persistir até que se reduza a incerteza em relação aos rumos política econômica do próximo governo", diz o economista do HSBC, Alexandre Bassoli. O levantamento mostra que aumentaram as chances do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, ganhar as eleições no primeiro turno. Entre os votos válidos ele obteve 49% das preferências.

O diretor do Unibanco, Carlos Menezes, explica que 90% do comportamento do mercado está indexado à questão política. Estão previstos mais oito levantamentos ao longo da semana. "A dúvida continua no mercado, porém o preço não reflete a vitória de Lula. Depois de certo preço a moeda perde a liquidez. Este é um movimento puramente especulativo ao sabor das pesquisas", ressalta. Para Menezes, as intervenções do BC amortecem as oscilações, mas não há como segurar a cotação. "É só queimar reserva. Tudo depende dos turnos", afirma.

O avanço no ano já chega a 67,6%, depois de o real alcançar a pior cotação desde sua criação por três vezes na semana passada. Sexta-feira, o dólar fechou cotado a R$ 3,875, o novo recorde do Plano Real. A moeda chegou a ser vendida a R$ 3,902. O risco-Brasil operou acima de 2.400 pontos, patamar inédito.


Artigos

Corporativismo e interesse público
Roberto Calazans

É lamentável que num momento eleitoral e diante da grave crise fiscal que atravessa o nosso Rio Grande, surjam propostas nitidamente corporativas para problemas que exigem soluções de Estado. Nossas finanças estaduais estão comprometidas (rombo de R$ 1,6 bilhão no Caixa Único, passivo financeiro estimado de R$ 4,2 bilhões em 2002 e precatórios atrasados) e uma grave crise previdenciária no Ipergs, que exige de nós uma atitude construtiva. A sociedade gaúcha gostaria que ex-fiscais e ex-auditores, esquecendo suas antigas divergências, estivessem irmanados na busca de recursos financeiros para enfrentar a crise financeira em 2003. A governabilidade do Estado exige soluções acima dos interesses corporativos e partidários. Não há mais espaço para desperdiçarmos energias e sustentarmos posições paroquiais. Em recente artigo, a presidente do Sintaf/RS, entidade que reúne fiscais de tributos estaduais, sustentou que é possível elevar a receita estadual em 10%, criando a Secretaria da Receita e a Secretaria do Gasto Público, extingüindo o cargo de Agente Fiscal do Tesouro do Estado. A tese centra-se na bandeira da independência funcional, autonomia orçamentária e administrativa dos ex-fiscais como forma de sanear as contas públicas.

Gostaria de convidar a presidente do Sintaf/RS a fazer uma breve reflexão em nome da paz e da eficiência em nossa Secretaria. Primeiro, a governabilidade financeira do Estado exige um pacto entre os agentes fiscais, em nome do interesse público. Quem agrega, não pode pensar em dividir. A gravidade da crise é tal que somente com a união de esforços será possível encontrar soluções. Uma das alternativas passa por garantir o processo de coordenação fiscal do Tesouro e ampliar a eficiência da gestão fazendária. Coordenação fiscal pressupõe que as atividades inerentes à receita pública, à despesa pública e ao controle interno sejam articuladas dentro um mesmo processo. Segundo, nos últimos 12 anos, todos os governos implementaram ações que convergiram para o cargo único, hoje existente. Essas ações foram embasadas em trabalhos de consultorias renomadas (Fundação Getúlio Vargas e Relatório Sayad) e que não podem ser desprezadas neste momento em nome de uma vaga experiência no Rio Grande do Norte. O discurso do isolamento tem distanciado ex-fiscais e ex-auditores da sociedade gaúcha e desgastado a imagem da Fazenda estadual. Urge, neste momento, encontrar uma nova política fiscal para o Estado, e o caminho do entendimento, da integração funcional, da redução de custos e da eficiência da máquina fazendária é a melhor alternativa. O atendimento às demandas dos cidadãos deve ser o principal foco de preocupação dos servidores fazendários. A unidade da Fazenda estadual é a única saída.


Colunistas

ADÃO OLIVEIRA

Nada como foi será
Brasília, a capital da República, está agitadíssima com a possibilidade de Lula vencer as eleições presidenciais. A burocracia estável do Estado brasileiro vive um misto de incredulidade e pânico.

Se Lula for eleito, tanto no primeiro quanto no segundo turno, tudo vai mudar. Brasília será uma outra cidade.

Daqui sairá gente que para cá veio na época dos governos militares. Para cá virão pessoas que, antes de tudo, registram sério preconceito com a cidade.

A administração publica federal passará por uma revolução cultural. Nada como foi será!

O baixo clero do funcionalismo público federal torce para que Lula chegue aqui e faça o circo pegar fogo. Já os integrantes do quadro especial do funcionalismo, DAS - Divisão de Assessoramento Superior - querem manter tudo como está. Esse grupo votará em Serra pela continuidade da cultura administrativa implantada pelos governos da "Revolução".

A cobertura dos fatos ligados ao novo governo também sofrerá profundas alterações. Tudo terá de ser refeito. Uma grande agenda com os nomes, telefones e endereços dos detentores dos novos cargos, será a prioridade um. Prioridade dois, para a montagem de um perfil da nova administração.

Já imaginaram a infinidade de novas fontes que os jornalistas terão de perseguir para melhor informar? Só em Brasília, mais de mil. A competição entre os grandes jornais, que já é grande, vai ficar insuportável.

A publicidade também vai trazer muita gente para Brasília. Novas agências virão para cá com a esperança de abocanhar alguma conta do governo. O governo terá de anunciar e Duda Mendonça, em 2003, deve capitanear na Secon, uma verba de R$ 232 milhões, fora a grana de Furnas, Petrobrás, Banco do Brasil, Caixa Federal, ECT, Anatel e Aneel. O orçamento geral está por volta de R$ 600 milhões.

O governo Lula enfrentará dificuldades em relação à formação do quadro de autoridades de primeiro, segundo e terceiro escalões.

Milhares de cargos precisam ser preenchidos. Para estes faltará moradia e salário. Os apartamentos funcionais não existem mais e os salários são muito baixos. Sem moradia e sem salário, só mesmo o espírito desprendido e patriótico de um Armínio Fraga é capaz de encarar a vinda para Brasília.

Resolvido esse problema cabeludo, e passados os primeiros momentos de deslumbramento, Lula vai ver o que é bom pra tosse. Ele deve governar com minoria. Para aprovar, no Congresso, seus primeiros atos de impacto, vai ser um parto. A não ser, que seu governo apele para o velho conceito do "é dando que se recebe", prática até então inaceitável pelo PT.

Quem quiser acesso ao governo vai gramar. O clima de desconfiança vai ser grande. De ambas as partes.

Ninguém deve chegar a uma autoridade do governo sem saber qual a tendência do cara, o que ele faz, de
quem ele é aliado, de onde vem, do que gosta, como é seu humor, qual o dia de seu aniversário, sob pena de quebrar a cara.

As relações do novo governo - na hipótese de Lula vencer as eleições - vão ser, inicialmente, muito difíceis.

Portanto, quem tiver qualquer acesso ao governador Olívio Dutra que trate de incrementar isso. Ele pode ser o ministro das Relações Exteriores da República Petista. Chanceler Olívio Dutra, porque não? Afinal, ele é professor de inglês.


CARLOS BASTOS

Lula vem reforçar campanha de Tarso
Caso não haja alteração nos roteiros dos presidenciáveis até o dia da eleição - 6 de outubro - somente o candidato Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, virá ao Rio Grande do Sul. Lula estará hoje no Estado, quando participará de um grande comício, à noite, no Largo da Epatur, em Porto Alegre, com o candidato ao Palácio Piratini, Tarso Genro, e o governador Olívio Dutra. O PT gaúcho quer promover uma grande concentração para marcar a trajetória de seu candidato, nesta fase final da campanha eleitoral, e dar um impulso nos seus dois pretendentes ao Senado, Emília Fernandes e Paulo Paim. Lula chega ao Estado numa cômoda posição que pode, inclusive, caso se supere na multiplicação de votos nessa última semana de campanha, vencer a eleição, ainda no primeiro turno. Quanto a Serra, Garotinho e Ciro, que se digladiam para tentar chegar ao segundo turno, pelo menos por enquanto, não se confirmam algumas expectativas de que desembarcariam no Estado para impulsionar os candidatos locais ao governo. No caso de Ciro Gomes, há, inclusive, um forte ruído na comunicação dos partidos aliados que formam a frente de apoio ao ex-governador Antônio Britto.

Prova é o desencontro de informações sobre uma possível vinda de Ciro para participar de um comício em Canoas, que se realizou no último sábado às 18h. Ao que parece, nos bastidores, circula a informação de que lideranças do PDT articulavam a vinda de Ciro Gomes sem sintonia com a cúpula do PPS. Também o resultado das últimas pesquisas nacionais e para o governo do Rio Grande do Sul deve ter pesado na decisão de Ciro, que não veio e concentrou o final de sua campanha nos estados das regiões Sudeste e Nordeste.

Outro candidato à presidência que ensaiou e até agora não confirmou presença no Estado antes da votação no primeiro turno, é Anthony Garotinho (PSB). Desde a quinta-feira circulava a informação de que Garotinho desembarcaria no Rio Grande do Sul, cumprindo, aqui, roteiro amanhã e quarta-feira. Entretanto, as negociações entre as assessorias local e nacional não prosperaram e a sua vinda tornou-se uma incógnita. O que se sabe é que Garotinho deseja melhorar seus índices nas pesquisas em território gaúcho e nos demais estados sulinos, Santa Catarina e Paraná, seguindo em seu esforço para chegar ao segundo turno. Daí que ele pode, ainda, surpreender a todos e confirmar a sua boa relação com o presidente do PSB gaúcho, participando de roteiro em Passo Fundo, cidade natal de Beto Albuquerque, e em Caxias do Sul.

Quanto ao tucano José Serra, não está prevista nenhuma visita sua ao Estado até 6 de outubro. Ele concentra seus esforços no triângulo de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, onde não está obtendo um desempenho satisfatório, fugindo às previsões dos seus marqueteiros. Aqui, os índices de Serra estão satisfazendo os coordenadores, que elegeram a sua candidata a vice, a peemedebista Rita Camata, como a sua porta-voz para a reta final de campanha. Rita Camata caiu no gosto do eleitorado gaúcho, tornando-se a musa da campanha presidencial em suas vindas ao Estado.


FERNANDO ALBRECHT

Meninos de rua
Há quantas campanhas eleitorais o prezado leitor ouviu dos candidatos que iriam resolver o problema dos menores de rua? O fracasso destas promessas é uma realidade que se escancara na paisagem de todas as grandes cidades, Porto Alegre incluída como se vê na frente do próprio prédio da prefeitura. Não é realmente uma tarefa fácil, embora não seja tão grande assim o número deles. Uma das explicações - longe de ser a única - é que estes menores são maltratados em casa pelos pais, que não raro os exploram economicamente.

Deduz-se daí que a família, a velha e boa família e a velha e boa educação ainda seriam a maneira destas crianças serem realmente integradas à sociedade.

Lojas Wilson

Com 35 anos de mercado, as tradicionais Lojas Wilson estão transferindo parte das suas lojas para a DPaschoal. A matriz, na avenida Farrapos, e a da Assis Brasil foram vendidas. A empresa permanece com as duas lojas restantes. É mais uma das tradicionais empresas porto-alegrenses que encolhe ou desaparece tragada pela concorrência e pelos novos tempos.

Cola ou não cola?

A julgar pelas pesquisas o PMDB estará mesmo no segundo turno com Germano Rigotto, algo com que o comando estratégico do PT não contava. Pouquíssimos contavam, aliás, apesar de que agora vai aparecer aos magotes a turma do "eu não disse?". Um alto dirigente do PT disse que a estratégia será acertar jabs em Rigotto por sua ligação com a banda podre do PMDB. Perguntado sobre as relações do mesmo PMDB - José Sarney e Orestes Quércia - com o PT, ele disse: "Com nós não cola, com eles cola".

Tudo em família

O estafe de Germano Rigotto certamente já pensa na sua estratégia de enfrentamento na campanha e nos debates - agora sim, teremos debates de verdade - com Tarso Genro. Tem pelo menos dois trunfos já conhecidos de todos. Possui uma carta de Tarso desculpando-se por tê-lo ofendido no início da campanha. Ou seja, um atestado de bom moço. O segundo pode levar Rigotto a dizer que é assim-assim com o PT. Afinal, ele é primo do prefeito caxiense Pepe Vargas.

Por falar em Rigotto...

...pode se dizer tranqüilamente que a candidatura Germano Rigotto cresceu - sem tirar os méritos da sua campanha, que habilmente explorou a terceira via - basicamente devido aos dois ismos
correntes no Rio Grande do Sul: o anti-petismo e o anti-brittismo.

A longa lista

Quando esteve em Porto Alegre para um encontro petit comite de empresários gaúchos no Sheraton, Antony Garotinho disse que havia zero chance de ele apoiar Lula em um segundo turno se ele caísse fora da disputa.

Explicou que tinha motivos pessoais. "O que fizeram com minha esposa (Rosinha) não se faz para nimguém. Assim, Garotinho soma-se à longa lista de políticos que se julgam apunhalados pelo PT e sua implacável lógica.

Ofensiva

Uma frota de veículos com rapazes e moças está distribuindo pela cidade um panfleto chamado Micuim News
, alusão ao apelido que se dava à oposição petista durante o Governo Britto. Munição pesada. No texto, críticas pesadíssimas e dados pessoais de Britto e o ex-secretário Assis Roberto de Souza.

Reprises brizolistas

Depois de Mangabeira Unger propor a renúncia de Ciro Gomes, Leonel Brizola faz o mesmo. Previsível.

Sentindo que Lula está lá, Brizola tenta colar no poder para arrumar uma carona com o futuro, ainda mais que não deve se eleger senador pelo Rio de Janeiro. Se Lula e José Dirceu pedirem a renúncia de Ciro, disse, ele vai pensar. Frase inútil. Não só já pensou como já decidiu. O impressionante é que Brizola, um general sem vitórias e com um exército em frangalhos, ainda apita. Ou pensa que apita.

Problemas do Interior

O Estado caprichou na nova estrada que liga Montenegro a Pareci Novo, uma antiga reivindicação dos moradores daquela região, basicamente pequenas propriedades dedicadas à floricultura e à plantação de citros. São 12 km impecáveis. Só que esqueceram de fazer um pequeno detalhe, construir uma ponte um pouco antes de Pareci Novo.

Entupimento

A cada evento que acontece no Auditório Araújo Viana repete-se um espetáculo paralelo que prejudica quem quer entrar no espaço: a proliferação de bancas vendendo materiais alusivos ao evento em questão. Virou comércio puro e simples, com a desvantagem que tranca a trilha de acesso.

Suspense aéreo

O ex-prefeito Raul Pont promete uma surpresa aérea e luminosa no showmício de fim de campanha de Tarso Genro em Porto Alegre, hoje, que terá a presença de Lula. Qual será a surpresa? Foguetório puro e simples não deve ser.


Editorial

SUPERÁVIT PRIMÁRIO E A MINIRREFORMA TRIBUTÁRIA

Estamos a uma semana do pleito que definirá um novo quadro diretivo no País. É mudança profunda, até porque calcula-se em 50% a renovação nos Legislativos. A ansiedade pré-eleitoral elevou o dólar, estancou os negócios na Bovespa e impediu a queda da taxa de juros, ainda a maior do mundo, fator que frustra a retomada do crescimento. No entanto, há alguns sinais de que a situação torna-se menos nebulosa, seja qual for o ungido pelas urnas. Olhado com desconfiança pelos oposicionistas, o superávit primário, por exemplo, é a âncora macroeconômica sobre a qual está seguro o panorama nacional, visto tanto internamente como do exterior. Em 2003, a diferença entre as receitas e as despesas do setor público menos os juros deverá ser de 3,75% do PIB, compromisso assumido, ineditamente, pelos principais concorrentes ao Palácio do Planalto.

Havendo déficit primário, o Brasil não consegue sequer pagar os juros, fazendo com que a dívida, obviamente e sem precisar ser especialista, continue em trajetória ascendente e acabe forçando moratória, reestruturação ou a emissão de moeda e inflação. Este conceito básico soma-se a outros, como abertura do comércio exterior, mais exportações, enxugamento da máquina pública e privatizações como normas saudáveis para todos os países, trabalho apresentado por economista durante encontro em Washington. Daí até ser criado o "Consenso de Washington" como norma impositiva do FMI o pulo foi pequeno, mas quem pode ser contra tais medidas, genericamente, se aplicadas com bom senso?

Sendo o superávit primário igual aos juros que o governo tem de pagar, o valor nominal da dívida ficará
estável, especialmente se comparado com o PIB, indicador usado para aferir a saúde das contas de uma nação.

Dívida crescente mas igual ao aumento do PIB não dá problemas. O Tratado de Maastricht estipulou a dívida pública na União Européia em 60% do PIB e déficit de 3%, o que ainda não foi alcançado por alguns países.

Entretanto, muitos querem aumentar as despesas para fazer a economia crescer, "libertando-se do jugo do
FMI", conforme a teoria do inglês John Maynard Keynes. Seria uma "pequena inflação" para girar os negócios, como uma "pequena gravidez". Mas ele trabalhava com o cenário recessivo após a quebra de 1929.

É que, atemorizadas e para recompor a riqueza, as pessoas faziam poupança, não consumiam. Sem
compradores, as indústrias produziam menos e acabavam demitindo. Por isso Keynes propôs que o setor público - no caso dos EUA o PIB caiu um terço em três anos - pegasse a poupança emprestada e fizesse gastos, o que acabou dando certo. Aqui temos massa salarial em queda, pouquíssima poupança, juros altos, câmbio disparado e irreal e poucos investimentos. Sem superávit primário, aí sim seria o caos. Quanto à minirreforma da MP 66, ela foi bem feita, embora o polêmico artigo 14, que permite à Receita desconsiderar o planejamento tributário. A CSLL caiu 1%, empresas que exportam 80% da sua produção estão livres do IPI e o PIS saiu de 0,65% em cada elo e ficou em 1,65%, valor agregado no final da cadeia produtiva. Ajudou a indústria que, na cumulatividade, chegava a pagar de 5% a 10% de PIS, desonerou o agronegócio do 1,65% do PIS, porém pesará no setor de serviços, que quer mudanças. A minirreforma estimula a pesquisa tecnológica, que pode ser abatida do IR, aumenta a exportação, ao desafogar a produção, e abre caminho experimental para uma reforma tributária profunda em 2003. Finalmente, o bônus da adimplência beneficia o bom pagador, algo que só existe no Brasil. Por causa da sonegação, como na Previdência, em parte decorrente da forte contribuição, punia-se com alíquotas maiores quem pagava em dia, isso foi corrigido. Deve-se cobrar menos sobre maior base, a verdadeira justiça fiscal.


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09/30/2002


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