Apoio de FHC a Serra leva Roseana a faltar a reunião







Apoio de FHC a Serra leva Roseana a faltar a reunião
A justificativa é administrativa, mas a razão é política para Roseana Sarney (PFL-MA) e Tasso Jereissati (PSDB-CE) faltarem à reunião de governadores do Nordeste hoje com o presidente Fernando Henrique Cardoso. Estão descontentes com a forma como FHC apóia a candidatura ao Palácio do Planalto do ministro da Saúde, o tucano José Serra.

Roseana e Tasso se sentem prejudicados por articulações do presidente a favor de Serra. A última, contra a governadora, foi uma tentativa de FHC de tirar o publicitário Nizan Guanaes da campanha da pefelista e levá-lo para a do ministro da Saúde.
A governadora enviará o seu vice, José Reinaldo, para a reunião em que os nove representantes dos governos do Nordeste discutirão o racionamento de energia com FHC. Tasso também mandará o vice, Beni Veras.

Por meio da assessoria, Roseana afirma ter compromissos no Maranhão e querer dar visibilidade política ao pefelista Reinaldo, o candidato dela ao governo do Maranhão neste ano.
Procurado por intermédio da assessoria de imprensa, Tasso não respondeu. Mas políticos ligados ao governador dizem que ele está contrariado com o presidente e que deseja deixar isso claro faltando à reunião.

Afastamento
Assim como Tasso, Roseana quer enviar o recado de insatisfação com FHC e, ao mesmo tempo, descolar-se do governo federal. Na avaliação de estrategistas da campanha da governadora, pode acabar sendo benéfico para ela reforçar o carimbo de que não é a candidata do presidente.

Até o momento, Roseana tem subido nas pesquisas se apresentando como alternativa não hostil a FHC, mas que representará correção de rumos. Já Serra, que sempre foi mais crítico da gestão presidencial do que o PFL de Roseana, poderá estar condenado a assumir um discurso fernandista a fim de tentar se viabilizar.
Na pesquisa Datafolha divulgada anteontem, Roseana teve 21% de intenção de voto no primeiro turno. Serra ficou com 7%. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) continuou liderando, com 30%. Mais: pela primeira vez no Datafolha, ela apareceu derrotando o PT na simulação de segundo turno.

"Atraso"
Roseana e Tasso começaram a se incomodar com a atuação de FHC no final de novembro, quando a Folha trouxe reportagem informando que, em conversas reservadas, o presidente avaliava que nenhum dos dois tinha o preparo de Serra para sucedê-lo e que ele articulava intensamente a favor do ministro.
O presidente julga os dois representantes de oligarquias nordestinas atrasadas. Chega a ver maior dificuldade para Roseana do que para Serra quando o tema é denúncia de campanha.

Na época, por pressão de aliados de Tasso, FHC negou ter classificado o governador de "coronel moderno", mas não falou nada de Roseana. Ela registrou a omissão, e Tasso não acreditou na negativa via porta-voz.
O governadora do Ceará, que desistiu de disputar no PSDB contra Serra, tem defendido publicamente que os tucanos não podem descartar uma eventual aliança com Roseana, o que enfraquece o ministro da Saúde. Serra está empenhado em reunir apoio no seu próprio partido para tentar superar a presidenciável pefelista e fazer aliança com o PMDB.

O governador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) também faltará à reunião de hoje, data em que viajará para os Estados Unidos. A ausência de Jarbas, porém, não faz parte do boicote de Roseana e Tasso. Ele é defensor de Serra, de quem pode ser vice.


Simon usa crise em MG para buscar apoio
O senador Pedro Simon (RS), que é tratado pelo PMDB nacional como um coadjuvante na disputa interna pela candidatura à Presidência da República, tenta aproveitar-se da crise entre o governador de Minas Gerais, Itamar Franco, e seu vice, Newton Cardoso, para conquistar apoios para a prévia peemedebista que vai acontecer em março.

Aos vereadores do PMDB mineiro, Simon enviou em dezembro uma "saudação de fim de ano", na qual fala da prévia e pede votos para ter o direito de concorrer à Presidência da República.
Até a crise, o diretório mineiro era quase que na totalidade apoiador de Itamar na prévia. Agora, ninguém tem mais essa certeza, já que Newton afirma controlar o diretório regional.

A luta de Itamar até aqui foi contra a cúpula nacional do PMDB, aliada do presidente Fernando Henrique Cardoso, que tenta derrubá-lo para manter a aliança governista ou compor isoladamente com PSDB ou PFL.
A dúvida agora é se Newton vai se empenhar em favor de Itamar na prévia ou se cruzará os braços. Foi por não sentir empenho do grupo itamarista que Newton se viu ameaçado e procurou barrar os crescentes rumores de uma reeleição de Itamar.

Reunido com correligionários na véspera do Natal, o vice concluiu que o grupo de Itamar não estava se movendo para angariar votos, função atribuída ao itamarista Alexandre Dupeyrat.
Um newtista disse que essa suposta inoperância foi entendida pelo vice como uma tentativa de tomar dele a candidatura ao governo do Estado, para a qual vem trabalhando há três anos.

"Queijo"
Se fracassar na prévia, Itamar tentaria a reeleição, considerou o vice-governador, que, então, afirmou publicamente que as portas da reeleição estão fechadas no PMDB e que ele tem "a faca e o queijo nas mãos".
O contragolpe de Itamar foi rápido. Com palavras, disse que já tinha visto muita gente "engasgar com queijo". Com gestos, antecipou a reforma administrativa e demitiu os principais aliados de Newton no governo, especialmente nos departamentos de obras (Deop) e estradas (DER).

Newton depende de Itamar para ter mais chances na disputa estadual. Por isso a vitória do governador na prévia peemedebista seria bom também para o vice, que amarraria a campanha estadual à presidencial. Segundo pesquisa Datafolha, Newton tem o segundo lugar nas intenções de voto (16%), atrás do ex-governador tucano Eduardo Azeredo (34%).
O próprio Itamar afirmou várias vezes que não é candidato à reeleição. E lançou o nome do vice em 8 de novembro, durante ato no PMDB mineiro.


Assessor diz que aliados de vice são omissos
Alexandre Dupeyrat, assessor especial do governador Itamar Franco (MG), rebateu as acusações feitas pelo grupo de Newton Cardoso. Dupeyrat disse que "houve omissão dessa gente" na defesa de Itamar e "leniência com a cúpula" nacional do PMDB. O homem forte de Itamar -que idealizou em 1999 a moratória da dívida de Minas com a União- só poupou o deputado federal Saraiva Felipe, que é também do grupo de Newton e presidente do PMDB-MG.
Sobre a ação de Pedro Simon, Dupeyrat disse que tem "apreço e amizade" pelo senador, "mas o PMDB sabe que o candidato com maior viabilidade é Itamar".


PFL mostrará projetos sociais da governadora
A partir do dia 15, o PFL deve colocar no ar novas inserções de TV com a governadora do Maranhão, Roseana Sarney. O objetivo dos "spots" é mostrar programas sociais implantados por ela no Maranhão que podem ter servido de modelo para outros governos.
O PFL quer tentar mostrar algumas ações concretas realizadas nos sete anos de governo dela no Estado, para responder aos críticos da gestão de Roseana. O Maranhão tem o menor PIB per capita do país e o maior percentual de pobres em sua população, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

No dia 31 de janeiro, o partido vai exibir ainda um programa em rede nacional de 20 minutos, também destinado a fortalecer a pré-candidatura de Roseana ao Palácio do Planalto neste ano. A pefelista está em segundo lugar na corrida presidencial, segundo a última pesquisa Datafolha, com 21% das intenções de voto no cenário mais provável.
Segundo um integrante da equipe de criação da propaganda, as novas inserções vão tentar mostrar por que Roseana foi avaliada como a melhor governadora do país. Em pesquis a realizada pelo Datafolha em dezembro, Roseana liderava o ranking de dez governadores. Ela foi aprovada pela maioria dos maranhenses: 70% consideram o seu governo ótimo ou bom e 22%, regular. Apenas 7% reprovam sua gestão.

Na sexta-feira, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) divulgou o calendário dos programas partidários no rádio e na televisão no primeiro semestre deste ano. Das 30 legendas registradas na Justiça Eleitoral, 22 já têm data definida para a exibição da propaganda partidária, e três ainda aguardam o julgamento de seus requerimentos. Outras três não solicitaram tempo na TV, uma teve o pedido indeferido, e outra, cassado.
O PGT inaugura a série de programas, no dia 17 de janeiro, com um programa de dois minutos de duração, seguido do PSD, no dia 24. Dos grandes partidos, o primeiro a se apresentar será o PFL, no dia 31 de janeiro (20 minutos de duração), seguido do PSDB, no dia 6 de março.


Serra parte para a disputa pela candidatura governista
Após duas semanas de descanso na França, o ministro José Serra (Saúde) desembarcou ontem em Brasília disposto a disputar com a governadora Roseana Sarney (PFL) a condição de candidato governista à Presidência.
Segundo pesquisa Datafolha divulgada anteontem, a pefelista tem 21% das intenções de voto, contra apenas 7% do tucano. Ela é o nome mais bem avaliado entre os presidenciáveis dos partidos que integram a aliança que elegeu (1994) e depois reelegeu (1998) Fernando Henrique Cardoso.
"Estou animado, vamos à luta", disse Serra a tucanos que integram o núcleo de sua campanha no Congresso.

Ele deve assumir que é o candidato do PSDB nos próximos dias, mas só deixará o ministério no final do mês.
A intenção do PSDB é começar a mostrar Serra como o candidato mais bem preparado para dirigir o país. "Ele não precisa fazer curso intensivo de verão para falar sobre qualquer coisa", dizia ontem, após conversa com Serra, o líder do PSDB na Câmara, deputado Jutahy Magalhães (BA).
O discurso tucano tem um alvo certo: Roseana, cuja exposição tem se limitado aos programas de TV do PFL. Além de evitar discussões mais áridas, ela também tem tomado aulas com economistas.
Um núcleo mais duro dos aliados de Serra no PSDB defende até a separação definitiva do PFL. Isso ocorreria em abril, quando o PFL prometeu devolver os ministérios que detém no governo. Para esse grupo, FHC deveria aceitar os cargos, selando o divórcio.

No PSDB e no governo há divergências sobre o tratamento a ser dado a Roseana e ao PFL. O presidente da Câmara, Aécio Neves, por exemplo, teme que Roseana acabe saindo como vítima dos ataques tucanos. O efeito poderia ser o contrário do desejado.
Aécio, apontado como opção no caso de a candidatura Serra não vingar, deve se reunir com o ministro amanhã. Diz que não só vai declarar apoio a Serra, como também se colocar à disposição para trabalhar na campanha.
"Ele é o nome do PSDB e todos nós temos interesse no fortalecimento desse nome", diz Aécio.
Serra quer desencadear uma série de ações até a convenção do PSDB, em 24 de fevereiro. Primeiro, ele anuncia que é candidato. Até o final deste mês, inaugura um hospital da rede Sarah Kubitschek no Rio e lança uma campanha nacional contra o fumo.
No dia 4 de fevereiro, participa da reunião do "ministério mundial" eleito pela revista "World Link", ao lado de personalidades como o ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani.
O prazo para a inscrição da candidatura na convenção é 20 de fevereiro. Antes, Serra deve reassumir sua cadeira no Senado e, no dia 19, discursar como candidato.


PMDB quer que tucano prove viabilidade até abril
Para apoiar José Serra, o PMDB quer que o ministro da Saúde chegue à virada de março para abril mostrando chance concreta de superar a governadora Roseana Sarney (PFL-MA) e que Fernando Henrique Cardoso não alimente a chance de fincar um pé na canoa tucana e o outro na pefelista.
Do contrário, a tendência do PMDB será apoiar a pefelista. Na pesquisa Datafolha divulgada anteontem, Roseana teria 21% no primeiro turno e venceria o PT no segundo turno. Serra obteve 7%.
Citando a "teoria Giannotti", um dirigente do PMDB diz que a cúpula do partido quer ver qual o nível de comprometimento real de FHC com Serra. Em entrevista à Folha, o filósofo José Arthur Giannotti, amigo de FHC, disse que o presidente "não vai se suicidar em nome de lealdades que não sejam políticas". Se Serra não decolar, FHC pode abandoná-lo.

O PMDB avalia que em março saberá se FHC e setores tucanos que ainda resistem a Serra vão entrar para valer na campanha do ministro ou se vão ser ambíguos.
Se sentirem firmeza no apoio presidencial, uma aliança do PMDB com Serra estará condicionada a um melhor desempenho nas pesquisas. Os peemedebistas dizem que se sentem livres para fixar prazo e meta porque os próprios tucanos afirmam que Serra precisará chegar a 14% ou 15% até a virada de abril para maio. Caso Serra não decole, o presidente da Câmara, Aécio Neves, é lembrado como o "plano B" tucano.
A atual cúpula peemedebista tem mais afinidade com Serra do que com Roseana, mas o desempenho da governadora nas pesquisas e a corte do PFL ao PMDB têm começado a surtir efeito.

Um caso emblemático é o da Bahia, onde Geddel Vieira Lima, líder do PMDB na Câmara, é inimigo mortal do ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL). Emissários de Roseana, como o pai, José Sarney, e o presidente do PFL, Jorge Bornhausen, têm feito promessas de que desvantagens regionais poderão ser compensadas com espaço nacional.
Sarney e Bornhausen aproveitam a curva de ascensão de Roseana nas pesquisas para tentar costurar alianças. O próprio presidente do PMDB, o deputado Michel Temer (SP), visto como simpatizante de Serra e lembrado para vice de Roseana, reconhece o avanço da pefelista. "O crescimento dela é incontestável e constante", disse ele sobre a pesquisa Datafolha.


TJ mantém sigilo bancário da CBPO
O desembargador Gilson Leite confirmou a suspensão da quebra de sigilo bancário da empreiteira CBPO, determinada pelo Superior Tribunal de Justiça. A quebra pode ser novamente autorizada por uma câmara criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo.
A promotoria paulista suspeita da ligação da CBPO com o suposto esquema de lavagem de dinheiro que abasteceria contas da família de Paulo Maluf em Jersey. Na decisão, Leite nega o pedido de arquivamento sumário do inquérito.


Sem-terra invadem área em protesto contra a política agrária de Roseana
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) do Maranhão começou no final de semana sua campanha contra a política agrária implantada pelo governo da presidenciável Roseana Sarney (PFL). Anteontem, cerca de 300 sem-terra invadiram a fazenda Cantanhede, em Miranda do Norte (150 km de São Luís).
A coordenação do MST no Estado declarou que a invasão foi apenas a primeira de uma série. "Vamos, com certeza, retomar as ocupações em todo o Maranhão", declarou Jonas Borges, da coordenação estadual do movimento. Segundo as polícias Civil e Militar da cidade, os sem-terra estão armados com espingardas, foices e enxadas.

Os integrantes do MST estão isolados dentro da propriedade, e até a tarde de ontem não havia ocorrido nenhuma negociação.
A fazenda Cantanhede, de cerca de 2.000 hectares e localizada às margens da BR-135, foi vistoriada há 15 dias pelo Incra (Instituto de Colonização e Reforma Agrária). O laudo sobre sua produtividade deve ser finalizado até o final desta semana.

"Estávamos acampados na porta da fazenda desde maio passado. Não vamos aceitar que o Maranhão continue sendo o centro dos latifúndios do país. Enquanto o governo anuncia que no Estado não há problemas agrários, só o MST conta hoje com pelo menos mil famílias acampadas", disse Borges. Para Eurico Fernandes da Silva, do Instituto de Colonização de Terras do Maranhão, o governo não tem verba para comprar terras para os sem-terra.


Artigos

O trapézio e o chão
CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO - Uma das instituições mais antigas da humanidade, o circo já existia na era das cavernas, quando os trogloditas mais afoitos pulavam de grandes alturas, eram admirados e, mais tarde, recompensados pela façanha.
Nos circos modernos, a principal atração sempre foram os trapezistas, que dão saltos mortais sem rede, tão mortais que frequentes vezes um deles se esborracha.
Para aliviar a tensão provocada, tão logo acaba o número dos trapézios, entram em cena os palhaços, que procuram fazer no chão o que os trapezistas fizeram lá em cima. O espetáculo tem de continuar.

Pensei nisso quando vi aquele avião pendurado na parede de um edifício. Um monomotor pilotado por um jovem de 15 anos chocou-se propositadamente contra o prédio do Bank of America, em Tampa.
Como os palhaços que imitam os trapezistas, rolando na serragem do circo, ele repetiu, em escala reduzida, a façanha que outros fizeram com mais emoção e estrago.
Não provocou riso e talvez nem tenha provocado preocupação. Mas já disseram que, para o mundo se tornar um imenso circo, basta botar uma lona por cima.

O recado que ele deu, selado com sua morte, é claro. Os suicidas de 11 de setembro, embora não tivessem a intenção circense, inauguraram um novo tipo de espetáculo. O episódio do WTC, agora repetido em escala ínfima no Bank of America de Tampa, com ou sem motivações políticas, religiosas ou raciais, coloca na mão de qualquer um a pedra e a funda que podem derrubar um gigante.
O gesto do rapaz da Flórida, que era problemático e solitário, teve uma intenção definida: imitar, dentro de suas possibilidades, a tragédia do WTC. Tinha no bolso um bilhete, homenageando Osama bin Laden. Com variações de grau, mas não de gênero, o circo vai continuar.


Colunistas

PAINEL

Invasão no campo
Raul Jungmann (Desenvolvimento Agrário) irá inscrever-se nesta semana nas prévias do PMDB para a Presidência. O ministro terá todo o apoio do Planalto e da cúpula do PMDB para tentar derrotar as pré-candidaturas de Itamar Franco (MG) e de Pedro Simon (RS).

Ofensiva palaciana
Articulada há quatro meses, a candidatura de Raul Jungmann não passa de um lance para retirar Itamar, inimigo de FHC, do páreo. Já está tudo combinado: se vencer as prévias, Jungmann esperará alguns meses para não dar na cara e renunciará à sua candidatura para apoiar Serra.

Calendário sob pressão
Serra decidiu antecipar o lançamento de sua candidatura por temer que o PSDB acabe sozinho na disputa. Com o crescimento de Roseana, os partidos da base governista, incluindo setores do PMDB, passaram a aproximar-se do PFL.

Criar o fato
Serra deve reunir-se hoje com José Aníbal, presidente do PSDB, para definir como será feito o anúncio público de sua candidatura. Em 94, FHC assumiu que disputaria a eleição após ouvir um "apelo" de Tasso Jereissati, então presidente da sigla, em cerimônia na Fazenda.

Braço duro
Aliados de Roseana ironizam a estagnação de Serra na corrida presidencial: "Serra é como o Rubinho Barrichello. Tem a melhor máquina, a melhor equipe, mas não decola e vive atrás do alemão". Na Fórmula 1, o alemão é Schumacher. Na política, Bornhausen, presidente do PFL.

Fantasma baiano
A oposição baiana vai abrir amanhã uma ação contra o governo da Bahia no Tribunal Superior Eleitoral. A intenção é tirar do ar a publicidade oficial do governo. O ator principal das peças é ACM, que não tem mais mandato eletivo no Estado.

Compromisso de campanha
Afastado do primeiro escalão do governo de São Paulo desde 1996, o PFL ganhará pelo menos uma secretaria de Geraldo Alckmin (PSDB) na reforma prevista para o final do mês. Como retribuição à resolução do partido de apoiar a candidatura do tucano.

Justiça tucana
O PFL está fora do governo paulista desde que decidiu apoiar a candidatura de Celso Pitta à Prefeitura de São Paulo, em 96. O partido, que em 98 ficou ao lado de Paulo Maluf na disputa com Mário Covas, pode ganhar a Secretaria da Justiça.

O vôo do falcão
Jilmar Tatto (Abastecimento) deverá ser o novo secretário de Implementação das Subprefeituras de Marta (SP), no lugar de Arlindo Chinaglia. A nomeação expandirá ainda mais os braços de Rui Falcão (Governo) nos postos-chaves da gestão petista.

Cargos de desconfiança
Itamar Franco pediu um levantamento sobre os cerca de 11 mil cargos de confiança do governo mineiro. Quer saber quem são os padrinhos das indicações. Estima-se que Newton Cardoso, o vice que anda às turras com o peemedebista, domine quase a metade dos postos.

Levando a sério
Anthony Garotinho (PSB) fará hoje no Rio a primeira reunião do comando da campanha presidencial, quando serão definidos os nomes dos coordenadores. Alexandre Cardoso (RJ) cuidará da política de alianças e Miguel Arraes (PE) será o coordenador político oficial.

Agenda eleitoral
Garotinho estabeleceu duas agendas de campanha: uma para o período entre janeiro e 4 de abril, data em que deixará o cargo de governador, e outra para dali até outubro. Na primeira fase, Garotinho pretende visitar quatro Estados por mês e alguns países, como os EUA.

TIROTEIO

Do prefeito de Vitória, Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB), sobre a candidatura de Roseana Sarney:
- Como governadora, Roseana Sarney não conseguiu superar o padrão de política oligárquica reinante no Maranhão. Como candidata, ela perde para José Serra no debate sobre política internacional, economia e programas sociais.

CONTRAPONTO

Falha geográfica

Em meados dos anos 80, o então ministro da Fazenda, Dilson Funaro (85-87), morto em 89, deu uma entrevista coletiva à imprensa assim que desembarcou no aeroporto de Várzea Grande (MT), cidade vizinha de Cuiabá.
Funaro começou citando dados sobre pecuária e dizendo que Mato Grosso tinha um dos maiores rebanhos do país. Um repórter aproveitou uma pausa de Funaro para dizer que aqueles números nada tinham a ver com o Estado.
Funaro então perguntou:
- Um momento só. Eu estou em Cuiabá [MT] ou em Campo Grande [MS]?
As capitais ficam a 694 km de distância uma da outra.
- O senhor está em Várzea Grande, perto de Cuiabá - responderam os jornalistas.
O ministro deu um sorriso amarelo, ao dizer:
- Então errei de cidade...


Editorial

DISTRIBUIÇÃO DE PERDAS

Além dos assalariados, cujo poder de compra é imediatamente afetado pela desvalorização cambial, outros perdedores começam a ser definidos na Argentina. As empresas privatizadas e as petroleiras sofrem duro golpe com a pesificação das tarifas dos serviços públicos.
Mais que pesificar, trata-se rigorosamente de desdolarizar. Pois o dogmatismo ultraliberal chegou a tal extremo no país vizinho que concessionárias de serviços públicos tinham o privilégio de corrigir suas tarifas pela inflação dos EUA.

Essas empresas se endividaram em dólares e perdem agora a garantia estatal de corrigir suas receitas pela moeda americana. Surge portanto um desequilíbrio econômico-financeiro cujo resultado mais grave é o muito provável adiamento de investimentos por parte dessas empresas.
Por outro lado, há notícias de que várias dessas companhias privatizadas, especialmente no último ano da conversibilidade, adotaram estratégias de contratação de dívidas para comprar e especular com dólares. Um total de cerca de US$ 18 bilhões foi retirado da Argentina em 2001.

Já a pesificação de empréstimos bancários inferiores a US$ 100 mil favorece uma massa de cidadã os assalariados que sofreu arrocho nas sucessivas e catastróficas tentativas de salvar o "currency board". Um imposto sobre as exportações de derivados de petróleo foi criado a fim de compensar os desequilíbrios que a pesificação das dívidas acarretará às entidades financeiras. Mesmo assim, bancos devem seguir seriamente ameaçados caso não haja novo aporte do FMI à Argentina.
A distribuição de perdas e sacrifícios, no entanto, está apenas começando. O tamanho dos prejuízos ficará claro apenas na medida em que os mercados de câmbio sejam gradualmente liberados, processo previsto para iniciar-se amanhã com o fim do feriado bancário.

Como todo processo de arbitragem de perdas e ganhos pelo Estado, os interesses afetados vão usar todos os meios possíveis para defender-se. Pairando sobre essas duras negociações entre políticos e setores econômicos estará, sempre, o espectro de um outro interlocutor. Trata-se da multidão que, tomando Buenos Aires, batendo panelas, protestando, enfrentando a polícia, ocupando o Congresso, destituiu dois presidentes em menos de duas semanas.


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01/08/2002


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