Roseana empata com Lula e Serra passa Ciro









Roseana empata com Lula e Serra passa Ciro
Pesquisa CNT/Sensus indica ainda que candidato tucano tem a menor rejeição, 3,1%

Pesquisa do Instituto Sensus divulgada ontem pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT) confirma o empate técnico entre os pré-candidatos à Presidência do PFL, Roseana Sarney, e do PT, Luiz Inácio Lula da Silva. Eles obtiveram 24,5% e 26,2% das intenções de voto - a diferença, de 1,7 ponto porcentual, está na margem de erro. O candidato do PSDB, José Serra, apresentou o maior crescimento em relação à pesquisa de janeiro, de 7% para 9,2%, e teve o menor índice de rejeição, 3,1%.

O índice de Roseana foi de 22,7% para 24,5% neste mês, enquanto a situação de Lula pouco mudou: de 26,1% para 26,2%. Foram avaliados cinco cenários, mas a diferença entre os dois sempre se manteve abaixo da margem de erro.

O melhor desempenho de Roseana foi na consulta que exlclui Serra - ela obteve 28,3%, contra 28,4% de Lula. A pré-candidata seria hoje, ainda, a única que superaria Lula no segundo turno: por 48,6% a 36%.

Na pesquisa, a avaliação do governo Fernando Henrique Cardoso teve uma pequena melhora. É positiva para 27,4% - aumento de 1,4 ponto porcentual - contra 28,8% de avaliação negativa (era de 30,5%). O governo é regular para 39,4%.

O desempenho pessoal do presidente é aprovado por 40,5% dos consultados, contra 46,1 de desaprovação. O instituto ouviu 2 mil pessoas, em 195 municípios de todo País.

Dengue - Em terceiro lugar na corrida eleitoral continua o governador do Rio, Anthony Garotinho (PSB), cujo índice foi de 15,1% para 12,3%. Serra, que estava empatado com o pré-candidato do PPS, Ciro Gomes, superou o adversário. Ciro oscilou de 7,4% para 7,1%.

A pesquisa aponta outro dado favorável a Serra. A maioria não vê o Ministério da Saúde como o responsável pelo surto de dengue - só 11% culpam o ministério pela epidemia.

O governador de Minas, Itamar Franco (PMDB), aparece em sexto lugar, com 4,5%, seguido pelo pré-candidato do Prona, Enéas Carneiro, com 1,8%. Enéas foi o candidato com maior índice de rejeição, 28,4%, seguido por: Lula (21,8%), Itamar (10,2%), Roseana (5,7%), Garotinho (4,9%), Ciro (3,6%) e Serra (3,1%).

Honestidade - Outro dado consultado pelo instituto revela que para a maioria os eleitores brasileiros (56,1%) a honestidade deve ser a principal qualidade do próximo presidente. Em segundo lugar ficou a opção competência, com 40,2%.

De acordo com os entrevistados pelo Sensus, na hora de escolher o candidato a presidente, os três principais fatores levados em conta pelo eleitor são:

combater a corrupção (29%), levar o País a se desenvolver (18,3%) e combater a criminalidade (17,5%).


Suplicy muda de posição e junta-se a radicais petistas
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) mudou ontem de posição e criticou o namoro de seu partido com o PL. Antes de chegar ao Rio para o lançamento do livro Renda de Cidadania – A Saída é pela Porta, Suplicy foi à reunião da Executiva Nacional do PT, em São Paulo, e se juntou aos radicais. Votou com eles a favor do plebiscito sobre a conveniência da aliança com o PL. Com isso, conquistou a simpatia de setores “à esquerda” do PT e espera obter votos na prévia que disputará com Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 17 de março.

“Há um longo caminho de diferenças a percorrer e, nas atuais circunstâncias, não sou favorável à aproximação com o PL”, afirmou Suplicy. Em entrevista ao Estado, publicada no dia 17, Suplicy havia dito que não rejeitaria o apoio do PL, caso fosse escolhido o candidato, apesar de ver dificuldades para o acordo. Também garantiu ter “maior grau de aceitação que Lula” nas bases do PL.

Os radicais vão fazer uma reunião, nos próximos dias, para decidir como pressionar a cúpula a não fechar aliança com os liberais da Igreja Universal do Reino de Deus. Nas entrelinhas, alguns insinuam até a possibilidade de apoiar Suplicy, caso Lula não volte atrás.

“Nós assinamos o manifesto de inscrição do Lula na prévia e nos sentimos desrespeitados”, afirmou ontem a senadora Heloísa Helena (PT-AL). “Ainda voto no Lula, mas quero debater a política de alianças e, se o partido não discutir isso, vamos ver...”

Suplicy atribuiu a queda de Lula nas pesquisas às tentativas do PT de firmar uma coligação com o PL. “Se ele imaginava que esta aproximação iria fazer crescer a preferência por sua candidatura e pelo PT, pode ser que não seja o melhor caminho”, disse o senador.

Duda – Para o publicitário Duda Mendonça, marqueteiro de Lula, a perda de pontos nas pesquisas tem relação com a falta de propaganda. “Ele está há cinco meses sem espaço na TV”, observou Duda. “Mas, de maio a junho, aparecerá bastante, o equivalente a quase duas horas.”

O programa nacional de TV do PT está marcado para maio. Antes disso, porém, todos os regionais cederão tempo para Lula. Mais: o petista também terá uma cota nos comerciais. “Com a propaganda, ele voltará a crescer e, chegando ao segundo turno, ganha a eleição”, afirmou Duda.


Debate sobre aliança racha cúpula do PT
Executiva adia discussão sobre apoio do PL e irrita radicais, que reivindicam plebiscito

O PT rachou. Uma reunião da Executiva Nacional petista, realizada ontem, em São Paulo, escancarou a divergência em torno da possibilidade de aliança com o PL para a eleição presidencial. Os radicais não conseguiram nem mesmo pôr em pauta a proposta de plebiscito para decidir a conveniência da coligação. Por 9 votos a 6, com duas abstenções, a cúpula do PT empurrou a discussão sobre alianças com o PL e setores do PMDB para outra reunião: a do diretório nacional, marcada para 23 e 24 de março.

"Impedir o debate agora é uma aberração!", protestou a senadora Heloísa Helena (PT-AL). "Calma, pessoal, vamos segurar os nossos demônios. Estou muito preocupado com essa divisão, porque o segredo da nossa vitória em 2000 foi a unidade", argumentou o deputado José Genoíno, candidato do PT ao governo paulista. A crise que se abateu sobre o quartel-general petista depois da queda nas pesquisas do provável candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, era evidente.

Irritada, Heloísa Helena saiu da sala de reuniões por 50 minutos, logo depois da votação, às 13 horas. "Não é possível que o PT, com 22 anos de idade, não saiba que esconder o lixo debaixo do tapete não dá certo", gritou. "Eu, como dona de casa, sei que lixo escondido cheira mal."

A senadora e outros companheiros da Democracia Socialista, Articulação de Esquerda e Tendência Marxista, facções radicais na seara ideológica petista, defenderam a realização de um plebiscito sobre a possibilidade de aliança com o PL em 17 de março - dia em que Lula e o senador Eduardo Suplicy (SP) disputarão a prévia para a escolha do candidato do PT à Presidência.

Derrotados, propuseram que o encontro do diretório nacional fosse antecipado. Também perderam.

"Como podemos fazer uma consulta se essa aliança com o PL não está nem aprovada?" perguntou o presidente do PT, deputado José Dirceu (SP). Para completar, as declarações do senador José Alencar (PL-MG) em defesa da permanência do presidente do Banco Central, Armínio Fraga, e contrárias aos homossexuais e ao Movimento dos Sem-Terra (MST) azedaram ainda mais o clima.

Alencar é, até agora, o nome cotado para vice de Lula. Ontem, porém, dirigentes petistas admitiam, em conversas reservadas, que a aliança é difícil de ser concretizada. Motivo: há resistências tanto por parte do PT como do PL.

"Quando o PT abre mão do conteúdo programático e se curva à medíocre matemática eleitoral - na qual, supostamente, a junção de alh os com bugalhos forma alguma coisa -, fica igual aos outros partidos", criticou Heloísa Helena. Para Dirceu, as estocadas da senadora não passam de "tremenda hipocrisia". "O PT já fez mais de 300 alianças com o PL nas eleições municipais de 2000", lembrou.

Lula não deu entrevistas, mas sua assessoria distribuiu um artigo escrito por ele. Intitulado Alianças Políticas, sim, o texto sustenta que as coligações em direção ao centro têm como base "recolocar o Brasil no rumo do crescimento econômico". "As negociações com o senador José Alencar e com o PL têm o sentido preciso de construir uma ampla aliança que permita concorrer com grande chance de ganhar e, depois, de governar bem", escreveu Lula.

O prefeito de Ribeirão Preto, Antônio Palocci Filho (PT), foi escolhido ontem o novo coordenador do programa de governo de Lula, conforme antecipou o Estado. Palocci substitui na tarefa o prefeito de Santo André, Celso Daniel, assassinado no mês passado. "Eu não poderia ser contra o PL, até porque os liberais estão no meu governo", concluiu Palocci.


FHC insiste em que é preciso manter aliança
Para presidente, além de Serra, outros poderiam dar continuidade ao atual governo

VARSÓVIA - O presidente Fernando Henrique Cardoso insistiu ontem na necessidade de manutenção da aliança na disputa de sua sucessão. À pergunta sobre se outros pré-candidatos à Presidência além de José Serra - Roseana Sarney, por exemplo - também não poderiam representar a continuidade do modelo por ele estabelecido, o presidente disse que acreditava que sim e que, por essa razão, deveria repetir-se a aliança partidária que o elegeu duas vezes.

"É uma questão em aberto", respondeu Fernando Henrique, durante entrevista coletiva ao lado do presidente polonês, Aleksander Kwasniewski. "Pode ser que haja mais de um candidato que queira seguir no mesmo caminho. Serei o último a dizer 'não, não siga'. Se o caminho é o mesmo - e aí o meu esforço -, por que não coincidir? Por que não manter a aliança?"

No início da tarde, num discurso, em inglês, de encerramento de um fórum empresarial, o presidente procurou demonstrar a correlação entre estabilidade econômica e ganhos sociais, comparando o Plano Cruzado, do governo José Sarney, com o Plano Real. Segundo ele, o controle momentâneo da inflação pelo Plano Cruzado reduziu de 40% para cerca de 30% a fatia da população abaixo da linha da pobreza - a que ganha US$ 2 per capita por dia.

Com a volta da inflação, no entanto, essa fatia voltou para o patamar anterior.

No Plano Real, disse o presidente, a proporção caiu também cerca de 10 pontos porcentuais no primeiro ano, e mais 10 no segundo, estabilizando-se na faixa de 20%, "ainda muito alta", segundo ele. "Precisamos agora de outras políticas para reduzir a pobreza."

Mais tarde, na Escola de Economia de Varsóvia, a cerca de 600 professores e alunos, Fernando Henrique comparou o Plano Real com o Plano de Conversibilidade argentino.

FMI - Respondendo à pergunta de um professor sobre o tratamento dispensado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) ao Brasil e à Argentina, o presidente explicou que a diferença básica entre os dois planos é que os argentinos acreditaram que atrelar o peso ao dólar fosse suficiente para garantir a estabilidade, enquanto o governo brasileiro atacou a causa da inflação: o déficit fiscal.

Fernando Henrique recordou que, quando o plano de estabilização foi lançado, em 1993, o FMI não o apoiou. Já no caso argentino, o Fundo apoiou a conversibilidade, e depois viu que era um erro. "Mas os argentinos insistiram", disse. Na sua opinião, não se pode "transformar um instrumento econômico em objeto sagrado", nem "ser fundamentalista em economia".

Outro professor quis saber o que ele acha do fato de, nos últimos 20 anos, a Polônia, "excessivamente regulada", ter ficado estacionada em seu Índice de Desenvolvimento Humano, enquanto o Brasil subiu 7 pontos.

Fernando Henrique encontrou uma saída elegante: "É que o ponto de partida de vocês era bem mais alto que o nosso, e é mais fácil mover-se de um nível mais baixo."

O presidente seguiu para um encontro com o primeiro-ministro Leszek Miller, e, depois, para um jantar no palácio presidencial. Hoje de manhã, ele visita o presidente do Senado, Longin Pastusiak, e parte, às 11h15 (7h15 em Brasília) para Cracóvia, a cidade onde o papa João Paulo II foi cardeal. Às 15h15 (11h15 em Brasília), segue para Bratislava, onde se reúne com o presidente da Eslováquia, Rudolf Schuster. Amanhã, ao meio-dia, (8h em Brasília), Fernando Henrique embarca de volta para Brasília.


Senado define na quinta quem vai cuidar do painel
Depois de escândalo, Prodasen promoveu licitação de âmbito nacional

BRASÍLIA - O nome da empresa que vai prestar assistência técnica e manutenção do painel eletrônico do Senado será conhecido na quinta-feira.

Com duração de 18 meses, o contrato será firmado por volta do dia 15 de março. Para a escolha da empresa, a diretoria do Prodasen promoveu licitação em todo o território nacional.

Ontem, foi renovado provisoriamente, por R$ 9,5 mil, sem licitação, o contrato com a Panavídeo Tecnologia Eletrônica, encerrado no dia 2 de janeiro. O diretor de administração do Senado, Max Vieira, explicou que a dispensa da licitação ocorreu por se tratar de uma situação de emergência, prevista em lei.

Os cuidados com a manutenção do painel passaram a chamar a atenção em maio do ano passado, ocasião em que os ex-senadores Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e José Roberto Arruda (PFL-DF) foram flagrados no episódio da violação da sessão secreta em que foi cassado o ex-senador Luiz Estevão (PMDB-DF).

ACM e Arruda teriam convencido a diretoria do Prodasen, Regina Borges, a "abrir" a lista dessa votação. ACM e Arruda tiveram de renunciar ao mandato para escapar da cassação. Regina renunciou ao cargo e foi suspensa por seis meses.

O Prodasen divulgou no Diário Oficial de ontem as multas que aplicou contra as empresas M.I. Montreal Informática, no valor de R$ 10.120, e Inforsil Comércio de Suprimentos para Informática, de R$ 50.290. O gestor dos contratos, Francisco Fiuza, disse que houve, no primeiro caso, deficiência na montagem do esquema de acesso digital ao órgão. Já a Inforsil, não teria cumprido o contrato de fornecimento de material para impressoras.


Excesso de MPs atrasa votação da CPMF
Agora é a medida que criou o seguro-safra para o Nordeste, mas há outras 19 no caminho

BRASÍLIA - Justamente no momento em que o governo mais tem pressa em ver aprovada a emenda constitucional que prorroga até 31 de dezembro de 2004 a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), mais uma medida provisória põe-se no caminho das votações e trava a pauta da Câmara. Desta vez, a pauta está sendo obstruída pela MP que criou o seguro-safra para a Região Nordeste, pela qual fica garantida uma remuneração mínima para os agricultores mesmo que a expectativa de colheita seja frustrada.

Enquanto essa MP não for aprovada ou rejeitada, a Câmara não poderá cumprir dois itens da pauta previstos para hoje: concluir a votação da CPMF e iniciar a apreciação da emenda constitucional que autoriza a entrada de 30% de capital estrangeiro nas empresas de comunicação. A medida provisória do seguro-safra deveria ter sido votada até sábado, quando completou 45 dias de edição.

As próximas semanas também serão apertadas. Até 1.º de abril a Câmara terá de submeter a votação outras 19 MPs, se não quiser continuar submetida à pressão das medidas provisórias que vão completando os 45 dias de tramitação. Numa solução emergencial, o presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), decidiu incluir mais duas MPs na pauta desta semana: a que ti rou da Secretaria de Comunicação do governo federal o status de ministério e a que cria o seguro contra o apagão, que resultará em aumento de até 3% nas contas de luz residenciais e comerciais de até 350 kWv.

Na semana passada, Aécio conseguiu do presidente Fernando Henrique Cardoso a promessa de que, a partir de agora, nenhuma MP será editada sem que antes o ministro-chefe da Casa Civil, Pedro Parente, consulte os líderes dos partidos governistas, para saber se a medida é relevante e urgente.

O presidente da Câmara ameaça votar rapidamente uma cláusula de admissibilidade das MPs, caso o governo continue a editá-las sem critério.

Ainda na semana passada a medida provisória que autorizava a contratação provisória de servidores para a substituição de grevistas teve sua admissibilidade recusada, com pleno apoio do presidente da Câmara.

Há exemplos de MPs com duvidosa relevância e urgência entre as 20 que têm de ser votadas até o 1.º de abril. Entre elas, uma que concede isenção de contribuição até maio para o desenvolvimento do cinema nacional nos casos de veiculação, produção, licenciamento e distribuição de obras cinematográficas e videofonográficas com fins comerciais. Um projeto de lei resolveria a questão e não trancaria a pauta da Câmara.

Outra de conteúdo pouco urgente é a MP que extingue a gratificação de produção suplementar devida aos servidores da Imprensa Nacional. Lembra o secretário-geral da Mesa da Câmara, Mozart Vianna de Paiva, que um projeto de lei com pedido de urgência urgentíssima por parte do Executivo seria votado muito antes de uma MP e não causaria tanta polêmica. Com a urgência urgentíssima (pleonasmo que se tornou expressão legislativa), a proposta vai direto ao plenário, sem passar por nenhuma comissão técnica: basta que os deputados aprovem um requerimento nesse sentido e o quórum mínimo é o mesmo, de 257 votos (metade mais um do total de deputados).

O governo tem enorme pressa para a aprovação da emenda constitucional que prorroga a CPMF. Se não conseguir terminar a sua apreciação na Câmara, em primeiro e segundo turnos e em mais dois turnos no Senado até 18 de março, perderá cerca de R$ 50 milhões por dia em arrecadação.

A legislação sobre contribuição - caso da CPMF - diz que o tributo só pode ser cobrado 90 dias depois da promulgação da emenda. E a vigência da CPMF acaba no dia 17 de junho. Portanto, terminar sua votação no dia 18 de março tornou-se fundamental.

Acontece que as emendas constitucionais exigem um prazo elástico, de cerca de quatro meses, para serem aprovadas na Câmara e no Senado. A única forma de acelerar sua apreciação é atropelar os prazos.

Existem precedentes e o governo poderá se beneficiar deles. Um foi o da votação em velocidade extraordinária, em dezembro, da emenda constitucional que limitou a imunidade parlamentar a voto, palavra e opinião.

Sem nenhuma polêmica, deverá ser aprovada ainda hoje - assim que a pauta for desobstruída -, em segundo turno, a emenda constitucional que autoriza a entrada de 30% de capital estrangeiro nas empresas de comunicação. O primeiro turno foi concluído no fim do ano passado.


Artigos

As duas faces da mesma moeda
Jarbas Passarinho

O Colégio Eleitoral elegeu, de Costa e Silva a João Figueiredo, os generais indicados para a Presidência da República pelo sui generis voto de qualidade dos integrantes dos Altos Comandos das Forças Armadas, para legitimação que o irônico senador Paulo Brossard chamava de "cerimônias de aclamação" pelo Congresso obediente. Essa face plúmbea da moeda do Colégio era execrada pela oposição. Passou, porém, a ter o seu reverso áureo quando os dissidentes do PDS, último partido de apoio aos governantes generais, garantiram a maioria que elegeu o doutor Tancredo Neves. O Colégio, antes imundície, transmudou-se, na outra face da moeda, em rico adubo usado pelas oposições, incapazes de aproveitar a imponente mobilização popular das Diretas-Já para aprovar a Proposta de Emenda Constitucional do então desconhecido deputado Dante de Oliveira.

Ao propor a anistia, em 1979, o presidente Figueiredo visava à reconciliação política brasileira. Não oferecia perdão, que pressupunha arrependimento e isso não se pedia. O que se pregava era o esquecimento recíproco, mas está mais que comprovado, pelos fatos, que os esquerdistas anistiados não esqueceram e a anistia tem duas faces. A dos vencidos - que chegaram ao poder graças aos votos dos vencedores - é a da vendeta. Agem como os judeus na faina justa de perseguir os nazistas responsáveis pelo holocausto. Na caça a supostos torturadores impedem nomeação e até demitem de funções públicas quem lhes excite a suspeição, nada obstante igualmente anistiados.

Ao revés, participantes esquerdistas de violências mutuamente praticadas pelas forças opostas, na "guerra suja" do período das guerrilhas, alçam vôos altos nos três poderes da República. A outra face, a dos vencedores, é a da lástima de ter vencido.

Os ativistas do ressentimento, à falta de base em sua imaginação acusatória, fantasiam. Os vencedores da luta armada seriam também atores de uma tenebrosa Operação Condor, destinada a matar Jango, Brizola, Lacerda e Juscelino. Mirabolantes teorias conspiratórias têm sido criadas na tentativa de encontrar indícios, empreitada em que não poupam a imagem de uma viúva.

Obra de cérebros doentios. Trocar informações é prática em que as organizações de esquerda mundiais são mestras. Seria natural que os serviços de informação que acompanhavam as ações dos guerrilheiros comunistas interagissem no interesse comum da segurança. Acusá-los de se terem transformado em frios assassinos de chefes de Estado depostos ou cassados, em íntima conivência de argentinos, chilenos e brasileiros servidores dos regimes autoritários de seus países, não passa de delírio acusatório inconseqüente. Já conseguiram levantar suspeitas sobre a dignidade de uma ex-primeira-dama brasileira. Já, seguindo a obstinada versão de um inefável auxiliar de Juscelino, conseguiram exumar desnecessariamente o cadáver do motorista do presidente morto em acidente. Quando, porém, revolucionários eram treinados em Cuba (ao tempo ainda de Jânio e Jango, inclusive), recebiam do camarada Fidel bem-vindos dólares e eram enviados para os focos guerrilheiros do Brasil, aí o reverso da moeda infame é o lado virtuoso. Do mesmo modo quando a China de Mao Tsé-tung adestrava militantes da AP para virem criar focos de guerrilha no Brasil.

Há poucos dias, estrangeiros seqüestraram em São Paulo o publicitário Olivetto. A prisão de parte dos seqüestradores revelou que são militantes de uma facção comunista chilena, a Frente Patriótica Manuel Rodrigues (FPMR), que não se dá por satisfeita com um Chile democrático, sob governo de um socialista, que foi ministro de Allende. A principal personagem presa é o número dois da FPMR, o "comandante Ramiro". Logo, um delegado de polícia paulista apressou-se a dizer que os seqüestradores não agiam por imperativo ideológico e sim como criminosos comuns motivados por extorsão mediante seqüestro. Não se passou muito e foi o delegado desmentido. Em seu site na Internet, a FPMR, em editorial ao justificar o crime contra o publicitário, alega que se trata de uma "conduta conseqüente com uma opção ideológica e de vida". Entrementes a polícia descobre, entre o material apreendido, a foto do líder maior da FPMR, o "comandante Salvador", que teria, ele mesmo, liderado o seqüestro, mantida a sua fama de nunca ter sido preso. Se faltasse mais para provar que não são criminosos comuns os seqüestradores, um deles revelou à polícia que, se bem-sucedida a operação com o pagamento do vultoso resgate exigido, seria ele dividido entre a FPRM e o MIR, outra facção comunista qu e combatia o marxista presidente Allende.

Resta aguardar a elucidação total do crime e o indício veemente de sua ligação com o seqüestro de Abílio Diniz, comprovação definitiva da trama revolucionária internacional. Essa é a realidade indubitável, mas nossa esquerda convenientemente continuará a ignorá-la e a perseguir inutilmente "provas que levem aos assassinos da Operação Condor", a ofender a honra de pessoas e a exumar cadáveres.


Colunistas

RACHEL DE QUEIROZ

Do Nordeste ao infinito
Afinal, aqui no Rio, já curtimos uma temperatura compatível com a vida humana. Pois que, até poucos dias atrás, a gente escaldava dentro de casa, torrava na rua, estacionava imóvel diante de qualquer fonte de ar refrigerado, bebendo o fresco como quem bebe champanhe.

O pessoal diz: "Você, do Ceará, estranhando o calor?" E eu respondo: "No Ceará temos calor, mas temos o vento e a brisa." O famoso vento aracati que sopra às tardes e traz até o sertão o seu cheiro de mar.

Aracati, em língua de índio, quer dizer vento bom, vento bonito: "Ara, vento, catu ou cati, bom, bonito ou agradável." Pelo menos foi o que nos ensinou na escola o professor Mozart Pinto, homem suave e sábio, nosso guru no curso Normal.

Aliás, o pessoal do Sul do Brasil é cheio de preconceitos contra o Nordeste, fonte de onde lhe chegam em massa cearenses, paraibanos, piauienses, etc. Imaginam que somos pouco melhor do que índios mansos; quando desembarcam em nossas cidades (que hoje já estão incomodamente crescidas e adiantadas) são tais as exclamações com que nos brindam, que nós, nativos, conscientes até demais das nossas deficiências, temos vontade de lhes oferecer furarem o beiço, enfiar nele um batoque, como rito de boas vindas...

Será exagero esse nosso ressentimento. Mas não é exagero muito grande. A idéia com que se fica ao primeiro contato com gárrulos turistas nacionais, é que eles nos festejam tanto, nos elogiam tanto, na surpresa de não terem encontrado algo muito pior. Não sei o que esperavam encontrar no Recife, em Fortaleza, Belém do Pará. Mas com certeza não era o que encontram.

E nós não lhes devolvemos o troco, porque não fazemos turismo na terra deles; quando pegamos uns trocados extras vamos passear na Europa ou visitar nosso filho que estuda nos Estados Unidos (Meu Deus, um perigo, agora, com todas essas ameaças terroristas!) Brincadeiras à parte, no Brasil, as diversas espécies de brasileiros deveriam se conhecer muito melhor. O turismo interno segue roteiros imutáveis: velhas igrejas de Minas, cavaleiros gaúchos do Sul, delírio urbano no Rio de Janeiro.

Do Nordeste, só se fala nas praias - ninguém se lembra de mostrar as nossas serras - Guaramiranga, por exemplo, onde as crianças têm faces rosadas e as frutas têm cheiro de flor.

Mesmo sertão adentro, tanta coisa para mostrar! Por exemplo, os serrotes do Quixadá, monolitos que guardam a cidade como se a guardassem bastiões em sólido granito; o sol quando bate neles esquenta a pedra até altos graus. A gente da terra já sabe disso e evita escaladas. Mas quantas vezes temos de acudir incautos turistas, que tiram os sapatos para facilitar a ascensão e ficam lá de cima pedindo ajuda, com as solas dos pés sangrando, deixando marcas na pedra quente. Então! Mas turista é uma raça de gente que imagina tudo "uma aventura", sem saber que toda aventura tem seus riscos.

Outra imagem difundida nas cidades é o sertão tradicional, só a caatinga, a galharia seca. Pois vão ver como está agora, neste começo de inverno de 2002. (É tão estranho, pensar que já estamos escrevendo com naturalidade este número, 2002, século 21).

Mas a gente se acostuma. Até as crianças dão ênfase ao escreverem a data nos cadernos: antes das férias ainda era o século 20, começam o novo ano letivo já no século 21. E acham injustiça não terem probabilidades de ver o século seguinte. E, quando tentamos consolá-las, dizendo que a ciência moderna está tão adiantada que, em breve, muitos deles conseguirão atingir o centenário, ele objetam: "Mas então já vai todo mundo estar gagá!" (O fato é que elas já nos consideram gagás, só não o dizem abertamente por delicadeza.) E, de certa forma, já estamos mesmo. Gente de mais de 60 anos recusa muita coisa do progresso, justamente as coisas que embriagam os jovens: altas velocidades, máquinas que são quase humanas, a possibilidade próxima de vôos interplanetários. A colonização de Marte, já que a Lua é sabidamente morta. Tudo isso eles discutem como ainda possibilidades da sua geração. Eu não duvido deles. A alma dos homens não se sacia nunca, é capaz de todas as ousadias.

O que dói é a sua falta de constância diante dos desafios. Mal se atinge uma marca difícil, eles já a abandonam, não querem mais. Nós todos que nos lembremos, entretanto, que aquilo que perdeu os homens foi a sua incapacidade de parar e curtir devidamente cada conquista. Assim como somos, não nos satisfazemos com nada. Lembram-se da corrida atômica? Era o grande desafio. Hoje já vai para trás e hoje eles deixam de lado o interesse pelo infinitamente pequeno e tratam de enfrentar o infinito, propriamente dito.


Editorial

O PESO EXCESSIVO DO JOGO ELEITORAL

Faltam ainda 222 dias para as eleições, mas, a julgar pelo espaço que o assunto ocupa nos meios de comunicação, é como se o País fosse escolher o próximo presidente da República daqui a 15 dias - e nada mais, na vida nacional, devesse despertar igual atenção. O debate sobre a evolução dos indicadores sociais no Maranhão da governadora Roseana Sarney, se no seu Estado se passa ou não se passa fome; as incertezas envolvendo a peculiar aliança entre o PT do ex-metalúrgico Lula e o PL do grande empresário José de Alencar; o vaivém das tratativas para o apoio do PDT e do PTB, tradicionalmente hostis um ao outro, à candidatura de Ciro Gomes, do PPS; a operação de desmanche da candidatura própria do PMDB, no caso, a de Itamar Franco; e, enfim, a festa de domingo, em Brasília, destinada a exibir a unidade do PSDB em torno do ex-ministro da Saúde José Serra - cada um desses acontecimentos ganha no noticiário a grandeza de questão de Estado.

A imprensa, os políticos, politólogos, marqueteiros e pesquisadores de opinião parecem estar despejando garganta abaixo dos brasileiros uma temática da qual eles estão quase absolutamente alheios e que só mobiliza efetivamente a ínfima minoria cujos projetos pessoais e partidários, deveres de ofício e interesses negociais gravitam ao redor do cíclico processo de escolha dos governantes. O abismo entre as preocupações que dominam o cotidiano da população e o desmedido destaque concedido à movimentação dos presidenciáveis pode ser avaliado pelo fato de que apenas uma reduzida parcela do eleitorado tem sido capaz de manifestar alguma preferência por um candidato, antes que os pesquisadores apresentem a cartela que relaciona os eventuais competidores. A expressiva desproporção entre os números do voto "espontâneo" e do "estimulado", nas sondagens eleitorais, não quer dizer, exclusivamente, que o grosso da população ignore a identidade daqueles que ambicionam ocupar o Planalto no próximo ano.

Tanto ou mais do que isso, a discrepância exprime o alto grau de autêntica e compreensível indecisão em amplos setores do público sobre quem deve suceder o presidente Fernando Henrique - pela singela razão de que o problema não está no seu horizonte imediato, como, por exemplo, a insegurança e a criminalidade. O índice de indecisos decerto seria ainda maior se, em vez de pedir aos entrevistados uma definição a partir da hipótese "se a eleição fosse hoje", os institutos lhes perguntassem em quem pretendem votar no dia 6 de outubro. Daí se infere, antes de mais nada, a precariedade dos prognósticos sobre a co nsistência da adesão dos brasileiros a esse ou a aquele nome. O que se viu nos programas de propaganda partidária, transformados, ao arrepio da lei, em propaganda de candidatos, adquirirá um significado ainda imprevisível quando começar, em agosto, o horário eleitoral no rádio e na TV.

Prova de que os humores do eleitorado estão mais sujeitos a mudanças do que gostaria a oposição é o encolhimento da tendência de voto no conjunto dos presidenciáveis mais ferozmente contrários ao governo: Lula, Ciro Gomes e Itamar Franco. Enquanto isso, aumentam as intenções de voto nos candidatos governistas Roseana Sarney e José Serra, e no governador fluminense Anthony Garotinho, um oposicionista de baixos teores. O que se tem é uma "despolarização" da disputa, característica da desimportância das ideologias nas decisões do eleitorado. Justiça se lhe faça, Lula está ciente dessa realidade. "Se tem uma coisa pragmática, é a sociedade brasileira", disse ele, com o seu fraseado habitual, em um debate sobre os entendimentos com o PL, no fim da semana passada. "Ela quer votar nas pessoas que digam com clareza quem vai solucionar os problemas dela."

Por isso mesmo, a ascensão de Roseana e Serra não pode ser dissociada da gradativa recuperação da popularidade do presidente da República, que as pesquisas encomendadas pelo Planalto já vinham registrando há algum tempo.

Esse saudável pragmatismo de que fala Lula explica, entre outras coisas, por que os brasileiros preferem premiar o governo, hoje, pela competência demonstrada no combate à crise de energia do que continuar a puni-lo por não ter conseguido preveni-la, ontem. À medida que esse estado de espírito soerguer a imagem do presidente Fernando Henrique, ele deverá exercer um papel predominante no processo eleitoral. Com isso, fará diferença a sua promessa de dias atrás: "Minha opinião vai ser sentida com força a favor do meu candidato."


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02/26/2002


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