Brasil está ameaçado por uma 'crise anunciada', diz Requião




O senador Roberto Requião (PMDB-PR) reafirmou nesta sexta-feira (15) sua preocupação com a falta de medidas para evitar que o Brasil seja afetado pela crise econômica que já abala outros países. Para o senador, o Brasil vive situação semelhante à dos Estados Unidos no período anterior à crise de 2008: juros altos, salários congelados e substituição de ganho de produtividade por financiamento fácil.

- Estamos repetindo o que os Estados Unidos fizeram na pré-crise. Estamos como juros altíssimos, 6,8% de juros reais, e congelamento de salários. O mesmo congelamento que sonegou aos Estados Unidos o crescimento do mercado interno - disse.

Ele alertou para as consequências de valorização do Real em 40%, desde 2006, e do aumento de 100% das importações no mesmo período, frente a apenas 5% de crescimento das exportações. Conforme observou, a indústria brasileira está sendo comprometida e o que ainda mantém a estabilidade da economia é a grande valorização das commodities, grãos e minérios exportados "praticamente in natura".

- Até quando a valorização das commodities sustentará a economia brasileira? É o prenúncio de uma crise anunciada - alertou.

O parlamentar disse que o país vive hoje um processo de "primarização da economia" ou de volta ao regime de plantation, sistema adotado na colonização das Américas, no qual a economia se baseava na exportação de monoculturas.

- De repente, vejo uma euforia sobre o agronegócio, que é fantástico, é produção de alimentos para o Brasil e para o mundo, mas que não pode ser a base exclusiva de um país que quer ser soberano. Essa soberania tem que se sustentar no mercado interno, na capacidade de consumo de seu próprio povo - frisou.

Para Requião, o poder de compra dos brasileiros está ameaçado pelo grande endividamento da população. Ele citou matéria do jornal Financial Times, segundo a qual o endividamento no Brasil é mais alto que o da população norteamericana antes do "estouro da crise" de 2008.

- O endividamento da família brasileira já é de 40%. Para cada R$ 100 de ingresso, temos R$ 40 comprometidos em dívidas, e isso somados os salários e os benefícios do INSS.

O senador considera que o país está perdendo tempo para adotar medidas que podem ajudar na proteção da economia contra a crise, como reduzir os juros, investir em modernização industrial, em infraestrutura e no financiamento da produção. Para ele, o Banco Central esboça medidas de ajuste no sentido certo, mas em "intensidade modesta".



15/07/2011

Agência Senado


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