Britto sai e diz que PMDB virou ‘clube da esperteza’



Britto sai e diz que PMDB virou ‘clube da esperteza’ Ficha do ex-governador no PPS será abonada, já na próxima semana, por Ciro Gomes PORTO ALEGRE – O ex-governador Antônio Britto anunciou ontem, oficialmente, a sua filiação ao PPS e disse que a cúpula nacional do PMDB, seu antigo partido, se transformou em um “clube da esperteza”. Sua ficha na nova legenda será abonada na próxima semana pelo presidenciável Ciro Gomes. De imediato, o ex-governador leva para o PPS mais cinco deputados estaduais (metade da bancada da legenda na Assembléia Legislativa), um federal e uma vereadora. Ao despedir-se do PMDB, Britto disse que tem saudade dos líderes históricos, como Ulysses Guimarães e Tancredo Neves. Dos atuais integrantes do PMDB, Britto só fez referências positivas ao governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, e ao deputado catarinense Luiz Henrique. Ele aproveitou para responder aos ataques do senador Pedro Simon (PMDB-RS), que o chamou de traidor: “Quem está aí não é o Simon, mas um clone.” Coerência – A cúpula do PMDB convidará o governador de Minas, Itamar Franco, a participar do programa do partido que será exibido em horário nobre no rádio e na televisão. A iniciativa é do presidente da legenda, deputado Michel Temer (SP), que desde a derrota imposta ao grupo itamarista, na convenção nacional, tenta construir a unidade partidária. “Mas Itamar não poderá entrar no programa ofendendo o presidente Fernando Henrique”, adverte um dirigente. Os técnicos encarregados da produção do filme e da gravação para rádio já foram instruídos a “alertar” o governador de que o programa terá unidade e um roteiro lógico a ser seguido. Temer diz que o programa será dará o novo tom de “coerência” do PMDB. “Não podemos aparecer na televisão como um partido dúbio, depois dessa guerra toda”, pondera o líder peemedebista na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA). Será relatado, também, o que feito pelos governadores da legenda Derrotado, Jader fica a um passo da renúncia Recurso por direito de defesa antes de votação de relatório foi rejeitado quase por unanimidade BRASÍLIA - Depois de renunciar à presidência do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA) sofreu ontem uma derrota que o deixou a um passo de outra renúncia e o que está em jogo agora é o próprio mandato de senador. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) decidiu que Jader não tem direito a "ampla defesa" antes da votação, pelo Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado, do parecer que pede a abertura de processo de cassação contra ele. Houve 18 votos contra Jader e 1 abstenção. Ninguém votou a favor do senador. "Estou meditando sobre tudo o que está ocorrendo", disse Jader, que de qualquer forma será ouvido pelo Conselho hoje, antes da votação do parecer. Ele recorreu a sua comparação preferida para falar da possibilidade de ter quebrado o decoro parlamentar ao negar que tenha se beneficiado de recursos do Banpará: "É uma palhaçada muito grande." Quando lhe perguntaram se mantém a disposição de enfrentar o processo até o fim, Jader respondeu: "Vai depender do depoimento que farei. Espero ser ouvido pela sociedade, para demonstrar que tudo o que está acontecendo é uma palhaçada". É a segunda vez que Jader admite a hipótese de renúncia, gesto que evitaria a abertura de processo por quebra de decoro. Se o processo for aberto e o senador for cassado, perderá os direitos políticos por oito anos a partir de 2003, ficando impedido de disputar eleições. Se renunciar agora, Jader estará pronto para concorrer, no ano que vem, ao governo do Pará ou até mesmo ao Senado. Depois de iniciado o processo, ele não poderá renunciar. Maioria - Prevista para hoje, a votação, no Conselho de Ética, do parecer que pede a abertura de processo só dependia do Supremo Tribunal Federal (STF), que julgaria na noite de ontem um pedido de Jader para suspender os trabalhos. A tendência do Conselho é pela aprovação, por ampla maioria, do relatório assinado pelos senadores Romeu Tuma (PFL-SP) e Jefferson Péres (PDT-AM). Se for mesmo aprovado, o parecer será enviado à Mesa Diretora do Senado, à qual cabe determinar a abertura de processo. Jader contará, então, com 15 dias para preparar sua defesa. Mas, se quiser renunciar, precisará fazê-lo nesse período, ao longo do qual o processo não é considerado tecnicamente iniciado. O objetivo de Jader, ao recorrer à Comissão de Constituição e Justiça para garantir "ampla defesa", era protelar a votação do Conselho de Ética, ganhando o direito de pedir novas perícias, convocação de testemunhas e busca de novas provas documentais. Logo que o senador Osmar Dias (PDT-PR) terminou a leitura de seu parecer - no qual rejeitava a manobra de Jader -, o ex-presidente do Senado pediu a palavra para dizer que estava sendo "cerceado em seu direito de defesa". Jader, que na segunda-feira fora indicado para integrar a CCJ, disse que era vítima de uma farsa e, por isso mesmo, iria se retirar da sessão, para não constranger seus colegas: "Não ficarei aqui, porque o processo político inevitavelmente tem muito de farsa. Não quero que minha presença seja entendida como constrangimento." Na terça-feira, o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), desculpava-se pelos corredores do Senado, por ter atendido a um pedido de Jader. E dizia que, se a indicação resultasse num golpe para adiar a abertura do processo, recuaria. Jader respondeu a Renan: "Quero desculpar-me com Renan Calheiros, se lhe criei algum constrangimento. Não pedi para vir para cá para me defender, porque, como senador, tenho esse direito", disse Jader, em tom agressivo. Renan ficou quieto, com o rosto vermelho. O presidente da CCJ, Bernardo Cabral (PFL-AM), reagiu aos ataques de ex-presidente do Senado: "Jamais participei de uma farsa nem tampouco esta comissão." Jader respondeu: "Refiro-me ao processo como um todo, ao não permitir que eu me defenda perante os meus colegas e perante o Brasil", insistiu Jader. "Besta" - A sessão foi tumultuada. A senadora Heloísa Helena (PT-AL) acusou o ex-presidente de patrocinar a farsa foi o ex-presidente, ao alegar que não teve como se defender. Ele lembrou que Jader, num primeiro momento, decidiu prestar depoimento em seu gabinete, longe da imprensa. "O mais besta aqui não anda, voa", disse Heloísa. "Todo mundo sabe aqui como é que funciona o mecanismo protelatório." Os relatores do parecer que recomenda a abertura de processo também contra-atacaram. Jefferson Péres disse que não aceitava a acusação, porque o trabalho da comissão tinha sido "incensurável". Romeu Tuma completou: "Foi Jader que, valendo-se de suas prerrogativas, ditou o dia, a hora, o local e as condições em que queria se defender. Não permitiu nem a entrada da televisão, nem a gravação de fitas para a taquigrafia, previamente acertada." Procuradoria busca ligação com fraudes na Sudam BRASÍLIA - Mais uma vez o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) será alvo de investigação por parte do Ministério Público Federal. A 5.ª Câmara de Defesa do Patrimônio Público da Procuradoria Geral da República começa hoje a detalhar o sigilo bancário do empresário José Osmar Borges, acusado de fraudes na extinta Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). A procuradoria quer saber se houve depósitos para o ex-presidente do Senado. O trabalho contará com técnicos do Banco Central e Tribunal de Contas da União (TCU). Borges recebeu financiamento da Sudam para seis projetos em Mato Grosso, entre 1996 e 2000. Segundo investigação da Procuradoria da República no Estado, foram constatadas fraudes que hoje podem chegar a mais de R$ 200 milhões. Ao quebrar o sigilo telefônico do empresário, o Ministério Público Federal identificou pelo menos 240 ligações supostamente feitas por Borges para Jader, que foram sócios em uma fazenda, no interior do Pará. Hoje, os integrantes da 5.ª Câmara de Defesa do Patrimônio Público - a mesma que rastreou todo o desvio do Banpará, do qual Jader é suspeito de ter envolvimento - recebem documentos de Mato Grosso, que serão transformados em uma nova nota técnica, explicando detalhes sobre os dados do sigilo bancário de Borges. Os procuradores ainda não definiram o prazo de encerramento dos trabalhos, que pode levar até mais de um mês, como ocorreu com o rastreamento dos cheques do Banpará. A quebra de sigilo bancário de Borges, que também está sendo feita no Pará, pode ajudar a provar o envolvimento de Jader nas fraudes na Sudam nos últimos anos. Há duas semanas, a Polícia Federal entregou ao Senado nove depoimentos de empresários financiados com recursos da autarquia, sendo em que, em pelo menos quatro, o senador é citado como um dos beneficiários com os recursos, junto com seu primo, o deputado federal José Priante (PMDB-PA). O delegado Hélbio Dias Leite, que preside todos os inquéritos envolvendo desvios de dinheiro da Sudam em Tocantins e Pará, também pediu ao Supremo a quebra de sigilo bancário de Jader, já que um dos empresários ouvidos na PF afirmou que havia depositado dinheiro para o senador. CPI aprova convocação de Malan e Fraga Deputados chamarão ex-dirigentes do Banco Central e hoje tomam depoimento de Loyola BRASÍLIA – A CPI do Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro (Proer) aprovou ontem a convocação de várias autoridades para que prestem depoimento. Entre os convocados estão o ministro da Fazenda, Pedro Malan, o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, e ex-dirigentes da instituição, como Gustavo Franco e Pérsio Arida. Hoje, a CPI vai ouvir o ex-presidente do BC Gustavo Loyola, que será questionado pelos parlamentares sobre o plano de socorro aos bancos. Criada na Câmara por sugestão da oposição, a CPI também vai tomar os depoimentos dos ex-banqueiros Ângelo Calmon de Sá (Econômico), Marcos Magalhães Pinto (Nacional) e José Eduardo Andrade Vieira (Bamerindus). O objetivo da oposição é apurar, principalmente, a suposta prática de irregularidades na ajuda aos Bancos Econômico, Bamerindus e Nacional, comprados, respectivamente, pelo BBV, pelo HSBC e pelo Unibanco. Mas a base do governo tentará restringir o trabalho da CPI na discussão sobre a necessidade do programa de socorro aos bancos. Segundo o relator, deputado Alberto Goldman (PSDB-SP), os integrantes da comissão não podem ficar tratando apenas do “problema penal”, ou seja, sobre as acusações de prática de irregularidades na gestão dos bancos e na execução do Proer. “Essa comissão poderá cumprir um papel importante: mostrar que o programa não existe para salvar banqueiro, mas para proteger, por exemplo, o correntista do banco”, disse o relator. Ofensa a Tebet abre crise entre Câmara e Senado Acusados de quebrar decoro, deputados de oposição ameaçam pedir processo contra senador BRASÍLIA - Um grupo de senadores anunciou ontem que pedirá a abertura de processo por quebra de decoro parlamentar contra os deputados que ofenderam o presidente do Senado, Ramez Tebet (PMDB-MS), na sessão do Congresso de anteontem. Os deputados - entre eles Sérgio Miranda (PC do B-MG), João Paulo (PT-SP), Luís Sérgio (PT-RJ), Inácio Arruda (PC do B-CE) e Regis Cavalcanti (PPS-AL) - já revidaram, dizendo que vão ao Conselho de Ética do Senado pedir outro processo, contra Tebet. A confusão surgiu porque na sessão, que alterou a destinação de verbas do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust), Tebet não remeteu a redação final da emenda à Comissão de Orçamento. Pelo regimento interno, toda mudança na legislação que envolve esse tema deve, necessariamente, retornar à comissão. Trata-se de um dispositivo de segurança criado depois da CPI do Orçamento, para evitar alterações em plenário. Tebet foi tão atacado por parlamentares de oposição, sob vaias de "Bin Laden, ladrão, larápio, rábula do Pantanal e fujão", logo depois de tomar a decisão de manter a redação final a cargo do próprio plenário. Com os protestos, porém, teve de suspender a sessão - a primeira que ele presidia. Ao reabri-la, não houve condição de levar os trabalhos adiante, porque a gritaria não parava. Houve até quem gritasse: "Tragam o Jader Barbalho de volta." Tebet encerrou a sessão, desceu da Mesa da Câmara e foi para o seu gabinete, no Senado, sob proteção de senadores amigos e de seguranças. Ontem, os parlamentares de oposição disseram que vão encaminhar mandado de segurança ao Supremo Tribunal Federal (STF) para anular a sessão. Além disso, o líder do PT na Câmara, Walter Pinheiro (BA), pediu a demissão do secretário-geral da Mesa do Senado, Raimundo Carreiro, por erros sucessivos na interpretação do regimento. Passado o incidente, Tebet elogiou a solidariedade de alguns senadores aliados, de pessoas de seu Estado e do presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG). "Estava com o coração aberto, com o espírito leve, solto, de quem iria cumprir mais uma missão", desabafou o presidente do Senado. "Não poderia imaginar que tivesse um fim de noite como aquele. Estava ali para votar, para dialogar com todos os políticos. Foi um espetáculo que eu não esperava." Para o presidente do Senado, que enfrentou resistências do PFL e só agora começa a ter sinais de que não será atacado pela legenda, o que ocorreu na noite de terça-feira ultrapassou todos os limites. "Não poderia imaginar que usariam aquele linguajar, incompatível com o decoro parlamentar. Não é esse o Congresso Nacional que o brasileiro deseja." Código - De acordo com o Código de Ética que está sendo apreciado pela Câmara, casos como o da sessão do Congresso de anteontem realmente poderão ser considerados como quebra de decoro parlamentar. Mas o projeto ainda não foi votado em segundo turno. Por enquanto, a Câmara não tem nem Conselho nem Código de Ética. Cresce chance de TSE declarar Alckmin inelegível Decisão de ministros contrária ao governador daria segunda opção de candidatura a Serra BRASÍLIA - A sucessão presidencial começou de fato nos bastidores do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Uma decisão aguardada desde abril, quando o então ministro e hoje presidente do TSE, Nelson Jobim, pediu vista do processo, poderá tornar o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, impedido de tentar a reeleição. Fora da disputa estadual, Alckmin abre caminho para o ministro da Saúde, José Serra. A pré-candidatura de Serra à Presidência ainda não se viabilizou – ele é lanterninha nas pesquisas de intenção de voto – e o governo de São Paulo poderá ser sua segunda alternativa em 2002. Caso fique impedido, a Alckmin restará a ainda distante candidatura à Presidência pelo PSDB, ou a disputa de uma vaga no Senado por São Paulo. Para isso, Alckmin teria de deixar o governo em abril, criando um novo problema político: como não tem vice, deve assumir o governo o presidente da Assembléia, Wanderley Macris (PSDB). Se Macris for candidato à reeleição, a cadeira seria do presidente do Tribunal de Justiça, Marcio Martins Bonilha. Fora, portanto, dos domínios do PSDB. Além disso, Bonilha deve deixar o cargo em dezembro. As chances de Alckmin perder no TSE são reais. Jobim, que paralisou o processo desde abril, é publicamente contra a pretensão do governador. Com ele devem votar os dois juízes gaúchos, Ellen Northfleet e o advogado Luiz Carlos Lopes Madeira, que toma posse hoje. Madeira foi consultor jurídico do diretório nacional do PMDB, de 1994 a 1998, e é muito ligado a Jobim. Não se sabe qual a tendência de voto do corregedor Jacy Garcia Vieira e dos ministros Sepúlveda Pertence e Salvio de Figueiredo. Voto - O advogado Luiz Carlos Madeira deve votar contra a reeleição de Alckmin. Ele substitui o colega Walter Costa Porto, favorável ao governador de São Paulo. Segundo fontes do Judiciário, Costa Porto não fez reparos ao voto do ministro Fernando Neves, que autoriza o governador a disputar a reeleição. Além de Costa Porto, de abril até hoje deixaram o tribunal os ministros Néri da Silveira e Maurício Corrêa. Nos bastidores, comenta-se que os dois votariam favoravelmente à candidatura dos vices. Pela composição atual do TSE e graças ao empenho de Jobim em rejeitar o voto de Neves, a previsão é que o resultado final será contrário ao governador. Embora apertadíssimo, com placar de 4 a 3. Caso perca, ainda restará a Alckmin a possibilidade de recorrer. O TSE não encerra o assunto. O próprio tribunal pode ser provocado posteriormente. Depois do TSE, ainda há possibilidade de recurso ao Supremo Tribunal Federal (STF). Insatisfação - Autor da consulta, o deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR) entrou recentemente no TSE com pedido de desistência. Está desgostoso com os companheiros. “Fui tratado com arrogância pela direção do partido. Eles dissolveram o diretório regional do PSDB para que outro grupo político tomasse conta”, queixou-se. Mas a expectativa dos interessados – de um lado e de outro – é que os ministros decidam votar a consulta, apesar do pedido de desistência. Jobim não admite nenhuma ligação entre a posse do advogado gaúcho e a demora na conclusão do julgamento sobre a possibilidade de os vices reeleitos que assumiram o cargo de titular serem candidatos nas próximas eleições aos governos estaduais. Não tem o menor sentido, disse o ministro. E quando pretende reapresentar a consulta ao plenário? “Talvez na próxima semana”, esquivou-se Jobim. Lula volta a criticar idéia de independência do BC Petista diz que proposta é 'orientação' neoliberal do FMI e debate deve ficar para o próximo governo BRASÍLIA - O presidenciável do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, voltou ontem a criticar a proposta de independência do Banco Central. Segundo ele, essa discussão deve ser deixada para o próximo governo. Lula afirmou que a idéia da independência do BC "talvez seja uma orientação do FMI (Fundo Monetário Internacional", o qual, segundo o petista, quer manter o BC nas mãos dos defensores da política neoliberal. "Se fosse tão bom, Fernando Henrique deveria ter feito isso logo no primeiro ano, ou, antes, quando foi ministro da Fazenda", disse Lula. Ele acusou o presidente Fernando Henrique Cardoso de tentar continuar governando mesmo que a oposição vença a eleição em 2002. O presidente de honra do PT disse ainda que, faltando pouco mais de um ano para a eleição, o atual governo não deveria discutir a indendência do BC nem apressar privatizações. Lula deu entrevista depois de participar de encontro promovido pelo Instituto Cidadania, ligado ao PT, com o Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal. Lula criticou a reestruturação administrativa das instituições financeiras federais durante o governo Fernando Henrique. "Ela foi feita pensando-se na privatização", afirmou. Lula disse que a Caixa deveria ser a grande financiadora da habitação e do saneamento básico, e o BB fonte para o microcrédito. "Há três anos, a Caixa não libera dinheiro para saneamento", criticou. Viagens - Lula embarca para a França no sábado, acompanhado do deputado Aloízio Mercadante (SP). Na terça-feira, tem encontro marcado com o primeiro-ministro francês, Lionel Jospin, e com o ministro do Interior, Daniel Vaillant. Na pauta, a aliança comercial entre a União Européia e o Mercosul, o modelo francês de segurança pública e os desdobramentos da crise mundial. Depois, o petista irá para a Itália, onde reúne-se com o ministro de Relações Internacionais, Renato Ruggiero. Em Portugal, no dia 8, Lula conversa com o primeiro-ministro Antonio Guterres. Procuradoria quer dados do Citibank de NY sobre Maluf Juiz federal envia pedido ao Ministério da Justiça, que centraliza contatos com outros governos A Procuradoria da República requereu ontem à Justiça Federal que solicite ao Citibank de Nova York informações sobre movimentações financeiras realizadas pelo ex-prefeito Paulo Maluf (PPB) e seus familiares. Para os procuradores que investigam envolvimento do pepebista em suposto esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas, o banco americano pode ter sido usado como ponte para transferência de recursos para a Suíça e para a Ilha de Jersey. Ontem mesmo, o juiz Fernando Moreira Gonçalves, da 8.ª Vara Criminal Federal em São Paulo, decidiu encaminhar a solicitação ao Ministério da Justiça, que atua como "autoridade central" no contato com outros governos em investigações desse tipo. No requerimento, os procuradores Pedro Barbosa Pereira Neto e Denise Neves Abade argumentam que "as informações provenientes de autoridades suíças apontam indícios de movimentações financeiras em nome das empresas Blue Diamond e Red Ruby, com beneficiários Paulo Maluf e seus familiares, em contas correntes abertas junto à instituição Citibank, cuja sede fica nos Estados Unidos". Segundo eles, os dados sobre operações financeiras processadas junto ao Citibank em todo o mundo são centralizados na sede da instituição. Documento enviado pelo Bundesamt Für Polizeiwsen - a polícia de inteligência financeira da Suíça - ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), do Ministério da Fazenda, revela que Maluf abriu contas no Citibank de Genebra em julho de 1985. Doze anos depois, em janeiro de 1997, o ex-prefeito transferiu os ativos para o Citibank de Jersey. Os procuradores querem que o Citibank de Nova York informe sobre movimentações, valores, aplicações e investimentos das contas titularizadas pelas empresas Blue Diamond e Red Ruby e seus beneficiários. Eles também solicitam a relação de pessoas físicas e jurídicas que funcionaram como intermediários financeiros nos investimentos. Vazamento - Ainda ontem, o juiz Fernando Gonçalves determinou ao Citibank de São Paulo que informe se Maluf e seus familiares contrataram serviços do Citibank/Cititrust ou se adquiriram produtos da instituição visando a aplicação de recursos no exterior, através de empresas offshore. O rastreamento deverá ser feito a partir de junho de 1985. A Procuradoria da República vai investigar ainda suposto vazamento de informações privilegiadas para a família do ex-prefeito dentro das investigações sobre o caso Jersey. A apuração será feita pelo Ministério público Federal, em Brasília. Em 22 de novembro de 1999, o Coaf solicitou à Polícia Federal levantamento "com urgência" sobre processos e inquéritos no Brasil, envolvendo o ex-prefeito. Naquele mesmo dia, o empresário Flávio Maluf - filho do pepebista - fez três ligações telefônicas para o escritório Schellemberg Wittmer, estabelecido em Genebra. Os contatos foram feitos a partir de linhas telefônicas que estão em nome de Flávio, segundo rastreamento encaminhado pelo Ministério Público Estadual ao juiz-corregedor Maurício Lemos Porto Alves. A procuradoria quer saber se Flávio Maluf foi alertado sobre a investigação solicitada pelo Coaf à PF. Empreiteira - Ainda ontem, a Promotoria de Justiça da Cidadania anunciou que vai intimar o empresário Roberto Amaral para explicar o anúncio que publicou na terça-feira em alguns jornais, fazendo citação ao nome de Maluf e da empreiteira Andrade Gutierrez. Para o promotor Silvio Antonio Marques, o informe pode caracterizar "uma ameaça". No anúncio, Amaral afirma que os donos da empreiteira - Gabriel de Andrde e Sérgio Andrade - "lideraram, com fervor, o entoar de um salmo em louvor de solidariedade a Maluf e seu filho Flávio, para que terminem as persecutórias agruras que estão enfrentando". Amaral foi, durante muitos anos, um dos principais diretores da empreiteira. Afastou-se da Andrade Gutierrez em maio de 1998. A empreiteira não se manifesta sobre o teor do anúncio. Maluf, por meio de sua assessoria, afirmou que não tem ligações com a Andrade Gutierrez. Artigos Notícia boa ROBERTO MACEDO No meio de tantas notícias ruins - terrorismo, menor crescimento da economia, real em baixa, juros altos, etc., além da criminalidade e das bandalheiras de sempre -, encontrei uma boa, escondida no meio dos jornais. Estes, por natureza, têm notória preferência por fatos insólitos - como os pouquíssimos aviões que caem, e não os muitíssimos que voam normalmente -, além de, por conta própria, alguns carregarem ainda mais nas tintas negativas, o que, felizmente, não é o caso deste jornal. Apesar de informações correntes sobre a desaceleração da economia, a notícia diz que, no mês de agosto, continuou a expansão do chamado emprego formal, que vem ocorrendo desde o início do ano passado. São dados usualmente divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), a partir de formulários preenchidos mensalmente pelas empresas sobre a movimentação de sua mão-de-obra com contrato formal de trabalho. Segundo esses dados, o emprego cresceu 0,21% no mês, com um saldo positivo de 47.327 empregos, descontadas as demissões. O menor crescimento foi na indústria de transformação, com uma variação praticamente insignificante, de 0,02%, ou 1.014 empregos, sempre nesse conceito de saldo. Dados do setor industrial predominam no noticiário, pois há outras fontes que também fazem levantamentos, e é mais fácil coletar dados das fábricas, já que pequeno número de empresas responde pela maior parte do setor, em particular o formalizado. Internacionalmente, o emprego industrial não vem mostrando dinamismo, a razão sendo que nele há mais espaço para a mecanização, a informatização e outros procedimentos poupadores de mão-de-obra. Com essa característica e a maior profusão de dados que oferece, o fraco ou negativo desempenho do emprego industrial acaba predominando nas notícias, viesando-as nessa direção. Uma expansão bem mais forte ocorreu no comércio, de 0,42%, ou 18.434 empregos. Mas, em matéria de crescimento, o destaque foi para o setor de serviços, que teve um aumento de 0,45%, ou 39.866 empregos. Internacionalmente, é também em setores como esses que o emprego se vem expandindo mais, e o Brasil não foge à regra. Só que são setores mais pulverizados que a indústria, sendo mais difícil a coleta de informações. Por isso mesmo, as notícias boas que vêm deles, seja de produção ou de emprego, ocupam menos espaço no noticiário. Dentro da notícia boa, uma ótima. Nos serviços, a maior expansão do emprego foi no ensino, com robustos 7,73% só nesse mês, a maior taxa entre todos os subsetores do levantamento, gerando mais 14.592 empregos. E não foi só nesse mês que se destacou. Contando os últimos 12 meses, teve um crescimento de 5,4% relativamente a idêntico período anterior, e uma das maiores taxas observadas também sob esse critério. A notícia é ótima porque o aumento do emprego veio da expansão do ensino, ou seja, de mais gente estudando. Esses dados do ensino não chegam a ser surpreendentes. Além de outros existentes sobre seu crescimento, basta andar na rua para perceber a profusão de faculdades novas, cursos de línguas, de pós-graduação, especialização e tudo o mais, oferecidos até em outdoors. É um setor onde não aumenta muito a produtividade, porque, felizmente, ainda não surgiram máquinas eficazes na substituição de professores. Ademais, a forte expansão registrada em agosto deve vir do fato de que muitas escolas estão oferecendo a oportunidade de iniciar cursos no segundo semestre. Para não ficar só nas flores, uns poucos espinhos. Queda mesmo ocorreu só na agricultura (- 0,78%, ou mens 10.147 empregos), que está na entressafra, e na construção civil (- 0,35%, ou menos 4.433 empregos), que continua fragilizada pela falta de uma solução para o problema do financiamento habitacional. São também setores em que a participação do emprego informal é muito alta. Em termos regionais, o crescimento é menor na Região Sudeste (apenas 0,04%), onde se concentra a indústria, e também a mídia que produz a maior parte do noticiário do País, o que acaba dando maior ressonância ao fraco desempenho do setor e dessa região, no vácuo de mais informações sobre os demais. A maior taxa de expansão do emprego em agosto verificou-se no Centro-Oeste (0,50%). Mesmo na entressafra, mas com o maná da já colhida e do câmbio, o setor agrícola fertiliza o emprego de outros em regiões como essa, impulsionado pelo fato de que é também uma região de fronteira ainda em fase de ocupação. Conhecer a economia brasileira exige mais do que ficar na superfície das taxas de crescimento do PIB, de inflação, de câmbio e de juros. Para tomar seu pulso com precisão é necessário saber detalhes de sua vasta dimensão e grande complexidade, além de muito cuidado ao avaliá-lo pelo desempenho isolado de setores e regiões, como a indústria e o Sudeste, que já não são os mais dinâmicos, embora ainda o sejam na produção de informações. Em particular, no caso da produção e do emprego, é comum tomar o Brasil como um todo, ou por médias, segundo algum critério. Ora, a média esconde a variância e, mesmo com desempenho insatisfatório da primeira, há muito o que olhar no segundo, particularmente para mostrar que, ao contrário do que transparece no noticiário, não estamos no pior dos mundos. As incertezas da retorsão anunciada ANTONIO AMARAL DE SAMPAIO Recentes fatos indicam que se tornou imperativo para a superpotência vencedora da pretérita guerra fria, neste momento confrontada com outra sorte de ameaças, reformular sua doutrina de segurança nacional. O adversário atual dos Estados Unidos da América de há muito deixou de ser a União Soviética e o Pacto de Varsóvia, o qual englobava os antigos satélites de Moscou. Aquela e este já desapareceram. A globalização agora atingiu também o terrorismo. O governo de Moscou apressou-se em respaldar a campanha que Washington se encontra em vias de montar contra os organizadores dos atentados contra o World Trade Center e o Pentágono. Os antigos membros do aludido pacto pretendem ingressar na Otan, alguns já o fizeram. Desta feita o inimigo é difuso e carente de rosto. Não é ele Estado soberano, contra cuja infra-estrutura incursões aéreas podem ser desencadeadas, bloqueios econômicos podem ser postos em prática e invasões terrestres são encetadas. Mesmo que o Afeganistão, a esta altura, ainda abrigue e proteja o megaterrorista, o referido país encontra-se em tal depauperada situação, de calamidade pública, que em seu arrasado território quase nada resta a destruir, tirante a famélica população e o transviado arremedo de governo. Nesse contexto, despontam agora indícios de que duas correntes de opinião se chocam em Washington com referência ao que fazer depois dos atentados de 11 de setembro. Claro que algo deve ser feito, pois a opinião pública, a popularidade presidencial e a categoria de superpotência o exigem. O secretário de Estado, Colin Powell, é partidário de iniciativa bélica rápida e localizada, a fim de capturar Osama e seus principais sequazes, destruir a organização terrorista Al-Qaeda, desmantelar os centros de treinamento de seus militares e deixar o Afeganistão entregue às lutas tribais de sempre e à tirania fundamentalista do imã Mohamed Omar e do governo Taleban. Este necessariamente emergirá enfraquecido do episódio, se a tal lograr sobreviver, pois seus opositores se aproveitarão dos acontecimentos para se aproximar de Cabul e do assalto ao poder. Já o subsecretário da Defesa, Paul Wolfowitz, defende tese mais ampla, a qual prega a extensão das iniciativas militares ao largo do Afeganistão, incluindo aí países cujos precedentes recentes de ação política indicariam conivência com o terrorismo. O Iraque, a Líbia, a Síria e o Líbano caberiam nessa lista. Sabe-se, porém, que Saddam Hussein é maníaco, jamais, porém, a ponto de provocar a destruição do poder seu, de sua família e dos celerados que o cercam; é certo que, em Damasco, impera um novo regime, que, se hospedou no passado, durante o governo de outro Assad, terroristas, estes não tiveram por alvo os Estados Unidos da América, mas, sim, Israel; não se ignora que Kadhafi, escarmentado pelos reveses sofridos e contido por seus chefes militares, se moderou; é público que os xiitas do Vale de Bekaa usam o terrorismo contra Israel, que, de resto, lhes retribuiu na mesma moeda; dizem os apaniguados do xeque Fadhallah agir em legítima defesa; claro, mas o governo de Beirute, incapaz de coibir aquelas atividades, nunca será suspeito de patrociná-las. Em passado recente, os norte-americanos tentaram, no mundo islâmico, duas iniciativas do tipo "comando": a primeira, liderada pelo coronel Beckwit, dos "green berets", a fim de resgatar os reféns aprisionados em sua embaixada em Teerã; a segunda para capturar, na Somália, o facínora Mohamed Aidid. Ambas as operações fracassaram devido a imprevistos. Uma e outra foram ações politicamente legítimas. A busca e captura de Osama bin Laden se afigura ainda mais temerária do que aquelas operações, pois o saudita se revelou profissional da delinqüência, os talebans são guerreiros fanáticos e o Afeganistão é um país bizarro, onde o culto da violência e do segredo se tornaram fenômenos naturais. De resto, as cavernas no sopé do Hindu Kush constituem labirintos onde nenhum ocidental encontrará seu caminho. Cumpre ainda preservar os civis afegãos, também vítimas do Taleban. Em outra esfera, de ordem doméstica, o combate ao terrorismo, se for levado às conseqüências extremas, exigirá medidas que colidem com a sociedade democrática, requerendo o estabelecimento de um Estado totalitário, infenso às tradições e leis norte-americanas, cujo povo muito as preza. Tal pediria o reforço da vigilância das fronteiras, o controle dos alienígenas provenientes de áreas de conflito, buscas policiais em residências, a fiscalização de transferências financeiras, a detenção e o interrogatório de suspeitos, a suspensão do "habeas-corpus" e das garantias constitucionais de proteção individual, a adoção de política ainda mais estrita de concessão de vistos consulares, além da criação de bancos de antídotos contra armas bacteriológicas e químicas, a infiltração policial em mesquitas e organizações de imigrantes árabes e muçulmanos, a fiscalização de missões diplomáticas acreditadas em Washington e nas Nações Unidas. E ainda muito mais a diminuir os direitos humanos, dos quais o governo norte-americano se tem revelado defensor. Não seria isso intolerável? Os Estados Unidos são a superpotência deste início de milênio. Não é crível, nem desejável, que alterem sua política em função do terrorismo. No combate às causas dos atentados - meros sintomas daquelas causas -, porém, talvez fosse conveniente uma reflexão a respeito de políticas que ofendem a quem já abrigaria hostilidade aos Estados Unidos. Refiro-me a casos recentes como ao distanciamento do nacionalismo palestino, à posição referente ao Protocolo de Kyoto, à postura adotada na conferência de Durban e ao projetado escudo estratosférico, inócuo em se tratando da ameaça agora presente. Ameaça esta a multiplicar-se se os terroristas de amanhã empregarem o arsenal atômico, químico e bacteriológico que já devem possuir. Colunistas RAQUEL DE QUEIROZ Terror O islã é a religião mundial que mais praticantes tem. Desde a sua revelação, pelo profeta Maomé, lá pelo sétimo século, na Península Arábica, expandiu-se para a África e atingiu os confins do Oriente. Em seu início, unificou tribos de pastores nômades arábicos, mas ao correr de sua expansão ocidental, ao longo do norte africano, tomou contato com o saber grego, esquecido pelos bárbaros europeus e que havia sobrevivido nas escolas de Alexandria. Ocuparam a Península Ibérica durante 700 anos e lá construíram uma das sociedades mais florescentes e tolerantes de que se tem notícia. Seus filósofos e tradutores foram responsáveis pela transmissão da herança grega perdida para a Europa bárbara. Conviveram harmonicamente com os judeus ibéricos; desenvolveram em conjunto com eles a cartografia, a medicina e a astronomia. No ano da descoberta da América, foram finalmente expulsos da Andaluzia e, desde então, nunca mais suplantaram os ocidentais em desenvolvimento técnico. O islã, já não mais uma exclusividade árabe, mas uma religião que abarcava muitos outros povos, tornou-se o refúgio de sociedades tradicionalistas, excluídas do processo de industrialização e modernização que viveu o Ocidente. Apesar disso, a religião não perdeu sua força. Como última das religiões monoteístas reveladas é a mais aberta à conversão. Basta a quem quer se converter dizer palavras de submissão a Alá e será considerado um converso. Islã quer dizer submissão e essa é a chave da religião, a submissão à vontade de Alá. A mistura do púlpito e do palanque tem sido uma marca das sociedades islâmicas. Religião e política têm andado juntas, culminando com a criação da República Islâmica do Irã, seguida pelo Paquistão. A fé conjunta de todos os povos islâmicos lhe dá um sentido de identidade e de unidade que sustenta a moral de populações excluídas do progresso material contemporâneo. Sabem que são pobres e atrasados materialmente, mas sentem-se grandes e superiores espiritualmente. Essa força espiritual é manipulada em jovens sem esperanças materiais, esquecidos do mundo nos guetos e acampamentos palestinos, por líderes religiosos, que lhes acenam com a promessa do paraíso islâmico, que reserva ao mártir da guerra santa uma vida eterna acompanhada de um harém de 72 virgens. Esses rapazes são os homens-bomba, terroristas suicidas que não tem paralelo no Ocidente. A nossa cultura não tem o poder de convencimento à auto-imolação, como tem o Islã. As poderosas nações ocidentais ficam desnorteadas diante de suas ameaças e ações, como ficaram os combatentes americanos, na 2.ª Guerra, ao ver seus navios afundados por camicases. A associação de líderes religiosos e políticos cruéis que não vêem limites para a sua guerra santa, com a disponibilidade de meios técnicos sofisticados e vidas que são descartáveis formam um cenário sinistro. Atentados de grande escala, bacteriológicos ou nucleares, não são uma ficção científica, estão no cenário de qualquer analista político. Não adianta chamá-los de covardes, pois são atos de quem está jogando fora a própria vida, e não coloca na balança as demais vidas que se perdem, mesmo inocentes. Está claro que os americanos, com seu isolacionismo político e geográfico, não sabem como lidar com o terrorismo. Nisso, os europeus têm muito a lhes ensinar, pois é preciso um trabalho de convencimento de longo prazo, de ação militar localizada e inteligente, de trabalho mútuo e compreensivo com as lideranças islâmicas esclarecidas, para que afastem os jovens dessa promessa de compensação pelo martírio. A luta contra o terrorismo, se for travada pelos próprios meios do terror, será malsucedida. Foi com o terror que os nazistas combateram as resistências ao seu domínio. Fuzilaram todos os habitantes da cidade checa de Lídice, queimaram-na até os escombros, como vingança pela atentado contra Heydrich, o capo da SS. Espero que os americanos não sigam o mesmo caminho. Editorial Uma guerra nova Reunido com os líderes republicanos e democratas no Congresso, o presidente George W. Bush deixou claro que encampou a tese - cujo principal patrono tem sido o secretário de Estado Colin Powell - de que a estratégia americana de combate ao terrorismo islâmico exclui a hipótese de ações militares convencionais em larga escala contra o Afeganistão. Esse miserável e devastado país, como se sabe, está sob o domínio das fanáticas milícias do Taleban que protegem e colaboram com o Al-Qaeda, a organização de Osama bin Laden apontada como responsável pelas atrocidades de 11 de setembro nos Estados Unidos. A alternativa afinal rejeitada inevitavelmente causaria um grande número de vítimas entre a população civil afegã, não garantiria a erradicação das bases do terror e teria o efeito bumerangue de dissociar os países muçulmanos moderados da campanha comum contra o fundamentalismo homicida. Além disso, haveria o risco de um novo Vietnã. A idéia de uma ofensiva maciça, com invasão e ocupação do território inimigo, vinha sendo defendida pelos setores mais duros da administração, encabeçados pelo secretário de Defesa Donald Rumsfeld e pelo seu vice Paul Wolfowitz. O próprio secretário de Defesa passou a adotar uma posição menos rígida. Ao mesmo tempo que afirma que os EUA devem primeiro agir como acharem melhor e buscar apoio internacional depois - o que o colocou em rota de colisão com o general reformado Powell -, Rumsfeld declara que "a operação proposta não pode ser feita com um ataque maciço ou uma invasão e não terá um desenlace rápido". Em outras palavras, os Estados Unidos, como diz o secretário de Estado, Colin Powell, "não vão partir para cima do povo afegão... vão partir para cima de terroristas". A guerra a ser travada pelos EUA, com o respaldo de seus aliados tradicionais, mais a Rússia, não será uma nova guerra, mas "uma guerra nova", segundo um general do Estado-Maior americano, citado na reveladora reportagem do semanário inglês Sunday Times, reproduzida ontem pelo Estado, sobre a guerra "como nunca se viu". A essência da novidade consistirá no entrelaçamento sem precedentes de ações militares, a cargo de forças especiais, em operações de comandos - lançados de pára-quedas sobre alvos cuidadosamente plotados, sendo retirados em helicópteros uma vez cumprida a missão - com lutas em campos de batalha absolutamente atípicos. "As linhas de frente serão, com freqüência, folhas de dados de computadores sobre operações bancárias", diz a matéria, "e as tropas de choque serão provavelmente contabilistas e diplomatas atuando como boinas-verdes." Esse conflito, que não terá um "Dia D", adverte o secretário Rumsfeld para explicar que o público talvez nem venha a saber o momento exato em que foi iniciado, já registra, porém, algumas vitórias. Para começar, a decisão da Arábia Saudita de romper relações com o Taleban, por "dar abrigo a criminosos e terroristas", marca o divórcio entre o mais estrito país muçulmano, sede dos santuários de Meca e Medina, e o mais brutal movimento fundamentalista islâmico. O ato representa uma inconfundível mensagem que não poderá ser ignorada por nenhum governo ou população do mundo árabe e maometano: a luta antiterror, ao contrário do que alardeiam os extremistas, não se dá entre servos de Alá e infiéis, mas entre civilização e barbárie. Em segundo lugar, além da sucessão de apoios diplomáticos à operação denominada "Liberdade Duradoura", incluindo o do Japão - que ficou alheio à "Tempestade no Deserto" contra o ditador iraquiano Saddam Hussein, para expulsar as suas tropas do Kuwait -, a União Européia anunciou um programa de cooperação econômica e comercial com Paquistão, até agora repudiado por seu regime militar, sua intransigência no conflito com a Índia e por ter feito explodir uma bomba atômica. Ao abrir essa porta, "que talvez tenha ficado fechada tempo demais", como admite o comissário de Relações Exteriores da UE, Chris Patten, o Ocidente demonstra estar ciente da importância de reduzir tanto quanto possível as causas do fanatismo antiamericano, sem o que o combate ao terrorismo irá menos longe do que o necessário. Foi também uma vitória dos Estados Unidos - embora não se deva superestimar o seu alcance - o encontro de ontem entre o chanceler israelense Shimon Peres e o líder palestino Yasser Arafat, seguidas vezes adiado pelo primeiro-ministro Ariel Sharon. O Oriente Médio é outro teatro de operações da guerra nova ao terror. Topo da página

09/27/2001


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