Brizola e Ciro discutem aliança no Rio









Brizola e Ciro discutem aliança no Rio
O pré-candidato do PPS à Presidência, Ciro Gomes, encontrou-se ontem no Rio com o ex-governador Leonel Brizola, o presidente do PTB, José Carlos Martinez, e o líder petebista na Câmara, Roberto Jefferson, para discutir uma possível aliança. Até as 23h30m de ontem a reunião não havia terminado.

Na sexta-feira, Brizola elogiou Ciro numa entrevista à Rádio Gaúcha, dizendo que ele é o candidato mais bem preparado para administrar o país e enfrentar seus problemas. Na mesma entrevista, Brizola disse que seu partido estava buscando “uma aliança trabalhista” com o PPS e o PTB. No mesmo dia, já no Rio, ele disse que não havia previsão de quando o acordo seria feito, porque, embora as conversas estivessem adiantadas, dependiam de composições regionais.

O apoio do PDT de Brizola é bom para a candidatura de Ciro, que vem caindo nas pesquisas de intenção de voto. O acordo interessa também ao PDT, que está rompido com o PT e afastado do PSB por causa da candidatura do governador Anthony Garotinho.



Lula subirá no palanque de Jospin na França; em troca, PS francês apoiará PT
PORTO ALEGRE. Luiz Inácio Lula da Silva, pré-candidato do PT à Presidência, viaja em abril para a França, onde subirá no palanque do primeiro-ministro Lionel Jospin, que está em campanha para a presidência do país. Em troca, Jospin e parte do PS (Partido Socialista) francês darão todo o apoio à campanha petista no Brasil. O acordo entre os dois partidos foi fechado pela cúpula petista durante o II Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, com o secretário-geral do PS, Français Hollande, e os ministros Jean-Luc Melenchon (da Educação Profissional) e Christian Paul (de Ultramar), além do senador Henri Weber.

O presidente nacional do PT, deputado José Dirceu, comentou que a amizade do PT com o PL francês já é histórica — sem se referir aos aplausos que o presidente Fernando Henrique Cardoso recebeu na França desses mesmos aliados. Segundo a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, o PT é o partido mais privilegiado nas relações com a França. Ela lembrou que no ano passado esteve nos palanques do PS para apoiar a campanha pela prefeitura de Paris.

— Eles fizeram um convite formal ao Lula, que já está acertando sua agenda para abril. Ainda não determinamos qual será a ajuda deles em nossa campanha — afirmou.

A preocupação das estrelas petistas com as eleições se acentuou durante o fórum. Segundo Lula, o fato de o programa de governo do partido estar sendo discutido nos seminários do evento não configura uso político do espaço, como criticou o candidato do PPS, Ciro Gomes.

— Na verdade, o Ciro nunca foi de esquerda. Nós é que forçamos a barra e dizemos que ele é — alfinetou Lula. Ele também respondeu à afirmação do ministro da Saúde, José Serra, de que o país corre o risco de ter um populismo de esquerda:

— Ele deve ter dito isso porque leu o discurso que Fernando Henrique fez em Paris.



Polícia tenta encontrar Santana de caso Daniel
SÃO PAULO. A Polícia de São Paulo está tentando localizar o Santana escuro usado no seqüestro do prefeito de Santo André, Celso Daniel. O veículo foi descrito pelo empresário Sérgio Gomes da Silva, única testemunha que presenciou o seqüestro, no dia 18 de janeiro.

Um veículo parecido foi localizado em Embu, mas exames do Instituto de Criminalística descartaram o seu uso no crime. Novos depoimentos e as datas de divulgação dos laudos de uma metralhadora Uru e uma pistola calibre 9 mm, apreendidas com os suspeitos do crime que estão detidos não foram divulgados. Eles foram presos na Favela Pantanal 2, em Cidade Júlia. No local, a polícia encontrou um recibo de pagamento do plano de saúde do prefeito Celso Daniel. Os policiais acreditam que o lugar, um bar abandonado, possa ter servido de cativeiro para o prefeito.

Amanhã deverá ser montado, em frente ao Paço Municipal de Santo André, o painel de contagem de dias em que a execução de Celso Daniel permanece sem solução.



Caso Rainha: prefeito pode ser punido
BRASÍLIA. O governo vai apresentar hoje ao Ministério Público Federal uma representação criminal contra o prefeito da cidade paulista de Presidente Prudente, Agripino de Oliveira Lima (PTB). O prefeito teria cometido crime contra a paz pública ao elogiar o fazendeiro Roberto Junqueira, preso pelo atentado ao líder do Movimento dos Sem-Terra (MST) José Rainha, dia 19 de janeiro no Pontal do Paranapanema. Caso o Ministério Público entre com uma ação na Justiça contra Agripino, ele poderá perder o cargo.

A iniciativa foi tomada pelo ouvidor agrário nacional, desembargador Gercino da Silva Filho. De acordo com o desembargador, o prefeito praticou, em tese, apologia ao crime — que consiste em elogiar um ato criminoso praticado por outra pessoa.

— O ato do prefeito incentiva a violência na zona rural — argumentou o desembargador, responsável oficial pela manutenção da paz no campo.

Agripino teria cometido crime de violência arbitrária
De acordo com o documento formulado pela Ouvidoria Agrária Nacional, Agripino também teria incorrido no crime de violência arbitrária. Na condição de servidor público, teria utilizado bens do governo para promover a prática de violência.

Agripino fez uso de caminhões e tratores da prefeitura para interditar a passagem de um grupo de sem-terra pela Rodovia Assis Chateaubriand. Teria cometido, ainda, improbidade administrativa por ter bloqueado a via.

Além do risco de perder o cago, Agripino Lima pode ser condenado a ressarcir os cofres públicos de prejuízos por uso inadequado de recursos da prefeitura. Ele corre ainda o risco de ficar sem os direitos políticos.

As acusações serão repassadas hoje ao procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, ao Ministério Público em São Paulo, ao ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, e ao secretário de Estado de Direitos Humanos, Paulo Sérgio Pinheiro.

Entrevista em rádio é base da acusação
No dia 1 , em entrevista a uma rádio, o prefeito, embora sem citar o nome de Rainha, disse que lamentava que o fazendeiro Junqueira, que comandou a emboscada em que o líder do MST foi baleado, tivesse deixado “a raposa escapar”. Rainha foi atingido por dois tiros nas costas.



Publicitário tinha apólice contra seqüestro
SÃO PAULO. A possibilidade de ser vítima de um seqüestro preocupava o publicitário Washington Olivetto. Ele usava um Omega preto blindado para ir e voltar do trabalho, no centro de São Paulo, e também fez uma apólice de seguro de vida e contra seqüestros junto ao Lloyds Bank. Por ser considerado de alto risco, este tipo de cobertura ainda não é oferecido pelos bancos brasileiros. Foi por determinação do Lloyds que a Control Risks, uma empresa especializada em gerenciamento de crises, foi contratada para intermediar a negociação com os seqüestradores. A informação é que a polícia foi afastada das negociações na semana seguinte ao seqüestro, que aconteceu em 11 de dezembro do ano passado.

Nestes casos, é comum que um funcionário da Control Risks participe diretamente das negociações ou oriente um amigo ou parente para atuar junto aos seqüestradores. A primeira avaliação feita pela empresa, segundo relato de policiais, é que o seqüestro de Olivetto teria sido organizado por uma quadrilha experiente e bem equipada, daí o longo período de negociações.

Bilhete dos seqüestradores chegou com flores
O primeiro contato dos seqüestradores teria acontecido uma semana depois do seqüestro. Sem saber do que se tratava, um entregador de flores levou até o apartamento do publicitário, nos Jardins, bairro nobre da capital paulista, um buquê de flores com uma caixa e um bilhete. A caixa guardava o relógio usado pelo publicitário. O bilhete, escrito em computador, dizia que o tempo que Olivetto permaneceria no cativeiro iria depender da rapidez ou não nas negociações. Uma informação extra-oficial dá conta de que o primeiro pedido de resgate teria chegado a US$ 10 milhões. Com a descoberta de um cativeiro usado pela quadrilha, numa chácara em Serra Negra (a 160 quilômetros de São Paulo), e a prisão de seis dos seqüestradores, o resgate acabou não sendo pago.

Washington Olivetto não foi o primeiro publicitário de prestígio a ser seqüestrado. Antes dele, pelo menos outros três profissionais passaram por isso: Luiz Sales, em 1989, Roberto Medina, seqüestrado no ano seguinte, e Geraldo Alonso Filho, que em 1992 ficou 36 dias num cativeiro.


Sofrimento em 53 dias
O publicitário Washington Olivetto foi libertado no sábado à noite, após 53 dias de cativeiro, graças ao silêncio provocado por um apagão e à perspicácia de uma estudante de medicina. A estudante de medicina Aline Dotta, de 22 anos, estava deitada em sua casa, vizinha ao cativeiro de Olivetto, na Rua Kansas, por volta das 22h de sábado, quando ouviu batidas na parede e pedidos de socorro. Imediatamente, Aline pegou seu estetoscópio e o pôs na parede para escutar melhor. Foi então que ficou sabendo que a pessoa que pedia ajuda na casa ao lado era o publicitário.

— Como não tinha luz, todas as televisões estavam desligadas e só por isso pude ouvir as batidas e gritos. Então peguei o estetoscópio, perguntei quem estava falando e ele disse que era o Washington Olivetto — contou Aline.

Ao perceber a seriedade da situação, ela avisou sua mãe, Nara Dotta, que chamou a polícia. Em menos de dez minutos uma carro da Polícia Militar já estava na porta do cativeiro.

— Vocês acabam de me salvar. Obrigado — disse Olivetto, logo que os primeiros soldados do 12 Batalhão da PM arrombaram a porta da casa.

Na excitação, alternava momentos de choro compulsivo e risadas. Estava pálido, magro, com a barba por fazer. Depois de ligar para sua casa e avisar a mulher, Patrícia Viotti, que tudo havia terminado bem, disse ao soldado da PM Sidnei Gimenes, que teve medo de morrer.

— Ele estava muito abatido. Deve ter sofrido muito — disse o soldado, um dos primeiros a se encontrar com o publicitário.

Quando chegou em casa, aos 30 minutos de ontem, Olivetto foi recebido pelo amigo e jornalista Juca Kfouri. Contou que apanhou dos seqüestradores.

— Ele foi submetido a condições subumanas — disse o jornalista, que acompanhou as negociações com os seqüestradores.

Kfouri disse que Olivetto ficou sem fumar os 53 dias do cativeiro.

— Agora que ele está solto, tomou a decisão de parar de fumar.

Cativeiro era um cubículo
A casa da Rua Kansas, número 40, no Brooklin, bairro de classe média de São Paulo, era ampla. O local onde Olivetto ficou preso, porém, apresentava as condições subumanas relatadas por Kfouri. Forrado com isolante térmico e sonoro, o cômodo não tinha janelas e foi totalmente vedado. O oxigênio entrava por um buraco encoberto por treliças, ligado a um tubo de plástico. A porta, reforçada com madeira, só era aberta na hora da entrega da comida. O corredor que antecedia o cativeiro também foi vedado com um pano azul escuro, para que o seqüestrado não visse a luz quando a porta era aberta. O objetivo era fazê-lo perder a noção do tempo. Olivetto não tinha permissão de ir ao banheiro e usava um balde de lixo como privada. A mobília se resumia a um colchonete fino, um banco de plástico e uma luminária. Na parede, havia um visor falso, provavelmente instalado para confundir o seqüestrado.

Olivetto foi submetido a uma rotina neurotizante. Segundo relato dos PMs, ele era obrigado a escutar música em volume alto 24 horas por dia. Isto atrapalhava seu sono e o impedia de ouvir a conversa dos seqüestradores. As refeições, duas por dia, eram servidas em horários diferentes. Assim, era impossível identificar quando era dia ou noite. O publicitário tinha de seguir várias regras, como não olhar ou falar diretamente com os seqüestradores. Os contatos eram feitos por meio de bilhetes. Quando a lâmpada piscava duas vezes seguidas, era o sinal para que ele se virasse de costas para que um dos seqüestradores deixasse sua refeição. Ele também não podia se encostar nas paredes, nem espiar pelo olho-mágico da porta. Uma câmera de vídeo monitorava seus movimentos.

Apesar disso, Olivetto criou mecanismos para tentar manter a lucidez. Nas paredes, revestidas com um isolante plástico acolchoado, escrevia em relevo palavras como hoje, janta e seqüências de traços para tentar contar os dias. Além disso, escreveu: “Patrícia, meu amor, te adoro”. Segundo vizinhos, dois homens e duas mulheres sempre estavam na casa. No sábado à noite, quando supostamente decidiram fugir do local, saíram em disparada num Passat importado, possivelmente de cor bege.

— Eles tinham um cachorro e como o muro era baixo nós sempre brincávamos com ele. Quando perceberam, deram sumiço no cachorro. Então começamos a dizer, de brincadeira, que o bichinho havia sido seqüestrado e chamávamos a casa de cativeiro — diz Aline.

Ontem cedo, o advogado Fernando Whitaker, representante do proprietário da casa, disse que o imóvel fora alugado em agosto passado por um homem que se dizia argentino. Ele teria desembolsado R$ 8.000 adiantados, em pagamento por seis meses de aluguel. Durante a negociação, ele teria explicado ainda que estava à procura de uma casa ampla para prestar serviços de informática a entidades ambientalistas.

Dono da casa vai depor hoje
O proprietário do sobrado, cujo nome não foi divulgado, deverá ser ouvido hoje pela polícia. Na casa, foram encontrados rádios-comunicadores, que utilizam a mesma freqüência da polícia. Uma câmera externa também monitorava quem se aproximava do portão de entrada. Peritos do Instituto de Criminalística recolheram durante a madrugada e a manhã de ontem documentos, objetos e impressões digitais que possam levar à captura das quatro pessoas que se revezavam na administração do cativeiro. A polícia está otimista, já que, como os seqüestradores fugiram às pressas, deixando até a comida que preparavam no fogão, não tiveram tempo de retirar todos os indícios que podem levar à captura.


Artigos

Queres servir-me?
O homem é um ser disputador. Lembro-me de ter lido essa frase no Alcorão.O sujeito se define pelas escolhas que vai fazendo ao longo de sua vida. Para seguir os caminhos que vai escolhendo, é obrigado a enfrentar as resistências que sempre aparecem. Nenhum objetivo importante é alcançado sem alguma luta, sem algum conflito, consigo mesmo ou com os outros .

Pascal já dizia que a condição humana é intrinsecamente contraditória, porque dentro de cada indivíduo surgem choques entre a sensibilidade e a razão. Se uma delas prevalece sobre a outra, é grande o prejuízo. Se ambas se equilibram, é grande a tensão.

A dimensão do conflito é ineliminável da nossa existência. Mesmo que o atual sistema da sociedade organizada em torno do mercado (o capitalismo) venha a ser superado, e as pessoas se tornem menos exasperadamente competitivas, uma certa emulação, com certeza, persistirá em nós.

O profeta tinha razão. Pascal estava certo. Somos contraditórios, não conseguimos viver sem disputas.

Mas temos, ao menos, a possibilidade de decidir, nos limites da situação em que nos encontramos, quais as batalhas que vamos travar, quando e como as travaremos.

Há brigas que nos dignificam e outras que nos amesquinham. A dona de casa que vive em razão do conflito com a empregada doméstica e o velho capataz que se dedica obsessivamente a atazanar o jovem aprendiz são cr iaturas que tendem a se empobrecer espiritualmente nas disputas, mesmo quando as vencem.

Já o militante político que debate com seus contendores (ou mesmo com seus líderes) a respeito da cidadania e o estudante que diverge cientificamente de seus colegas (ou mesmo de seus mestres) são indivíduos que crescem e amadurecem.

Os problemas nos são impostos. As opções são nossas.

Às vezes, os conflitos aparecem com tanta força que dão a impressão de que não nos deixam espaço para qualquer escolha. Se observarmos atentamente esses casos, verificaremos que o sujeito sempre pode fazer alguma coisa, seu poder de tomar iniciativas nunca é totalmente anulado.

Isso fica claro quando observamos, em situações de desigualdade extrema, de opressão aparentemente inabalável, a habilidade que os “de- baixo” (Gramsci) conseguem ter no combate aos “de cima” (às vezes parecendo até resignados).

A esse respeito, existe uma historinha muito divertida escrita pelo grande poeta alemão Bertolt Brecht. Vale a pena recordá-la, em linhas gerais.

A modesta residência do Sr. Keuner foi invadida por um gigante, que descalçou as botas, instalou-se no sofá da sala e interpelou o dono da casa:

— Queres servir-me ?

Em silêncio, o Sr. Keuner foi para a cozinha e começou a preparar acepipes e guloseimas para o poderoso invasor: assados, frituras, doces cremosos, bolos variados. Essa ocupação se estendeu ao longo de semanas, meses, anos. Até que um dia o gigante, gordíssimo, teve uma embolia e morreu.

O Sr. Keuner limpou a casa, enrolou o cadáver num tapete velho, arrastou-o para fora, jogou-o no lixo e então respondeu:

— Não!


Colunistas

PANORAMA POLÍTICO – Tereza Cruvinel

Serra e a segurança
Tendo a questão de segurança arrombado a agenda da sucessão, José Serra, pré-candidato do PSDB, é talvez o único que continua devendo propostas para o setor. Esta semana, ele convidará para um encontro em Brasília a juíza aposentada Denise Frossard, que ganhou projeção nacional ao mandar prender os chefões do jogo do bicho no Rio.

Deve convidá-la para coordenar seu programa setorial. Filiada ao PSDB, professora e membro da Transparência Brasil, ela mantém-se ativa no debate e na reflexão sobre a violência e a criminalidade no Brasil.

Serra nada acrescentou ao festival de propostas lançadas à discussão logo depois do assassinato do prefeito petista Celso Daniel, algumas já surradas, outras inviáveis e outras mais inócuas, como o banimento do celular pré-pago. Pediu tempo para apresentar suas contribuições. Desde então vem procurando conhecer melhor o assunto, discutindo-o com auxiliares e aliados. Aliás, agora que virou candidato ele fala sobre tudo, como se tem visto.

Denise Frossard chamou sua atenção com um artigo publicado no sábado na “Folha de S. Paulo”, que ela encerra citando Disraelli: “O momento exige que os homens de bem tenham a audácia dos canalhas”. Para ela, há equívoco em quase tudo que foi proposto até agora. Só com a audácia, a inteligência e a frieza dos criminosos, diz ela em resumo, será possível impor derrotas ao crime, para que deixe de ser um bom negócio graças à impunidade. Pergunta ela se os prefeitos do PT ou o procurador mineiro estariam a salvo se as polícias já estivessem unificadas, o efetivo policial fosse maior, a venda de armas estivesse proibida, o Exército na rua e a prisão perpétua ou a pena de morte em vigor. Assevera que não. No caso Daniela Perez não houve falha policial e, no entanto, a legislação permitiu que os culpados fossem libertados. Assim como foi relaxada a prisão dos bicheiros que ela mandou prender. A impunidade alcança também as polícias, onde raramente ocorrem investigações sobre tráfico de influência ou corrupção. Descrente, a população deixa de registrar mais de 20% das ocorrências. O crime neste ambiente é um bom negócio. Entende ela que só deixará de sê-lo com radical reforma legislativa, jogando para a ponta das investigações a Polícia Civil, os juízes e os promotores. Foi assim que a Itália enfrentou a Máfia.

Que venham as propostas de Serra, o plano completo do PT prometido para este mês, mas principalmente as de quem está fora da campanha. Os candidatos devem tratar do problema mas ele não pode esperar a posse dos novos governantes para ser enfrentado.

Começo do fim de governo
O Planalto pediu a todos os ministros que enviassem antes da reunião ministerial de quarta-feira um resumo dos planos e dos projetos que ainda podem ser executados em 2002. Para consumo geral, FH dirá que pretende governar até o dia 31 de dezembro e que a campanha eleitoral não deve atrapalhar o funcionamento do governo. Mas tratará também da substituição dos ministros-candidatos, que não ocorrerá antes da data limite: 4 de abril. O único a sair antes será José Serra, no dia 20 próximo, por razões óbvias. Agora é candidato, deliberadamente ou não usa a máquina quando faz uma viagem administrativa com recursos oficiais e depois reúne-se com aliados.

Preservando o Ministério enquanto for possível, FH mantém o PFL na base aliada por mais tempo, à espera de uma recomposição eleitoral que parece cada vez mais remota, pois baseada na renúncia do PFL à candidatura de Roseana Sarney.

Para encerrar seu longo mandato, FH comporá um Ministério basicamente técnico, de pálido matiz partidário. Que nem por isso deve ser pior que os outros. Muito pelo contrário. As barganhas com os partidos foram mediocrizando o Ministério a cada reforma.

Reiteração
Alguns tucanos quiseram cancelar a pré-convenção do dia 24 para oficializar a candidatura Serra, mas ele próprio preferiu mantê-la. Temiam os outros uma superexposição do candidato, depois de seu retorno ao Senado, com discurso e tudo, no dia 20. Mas Serra acha que o evento tem a utilidade de reafirmar a unidade do partido, embora a convenção oficial seja a de junho. Para dar sorte, a preliminar acontecerá em Minas, onde foi lançada a candidatura de FH em 1994.

A executiva oficializa a data em reunião com os presidentes regionais do partido amanhã.

Desalento
Eleições presidenciais já ofuscam as sucessões, mas o quadro do Rio é melancólico também por razões locais. O governador, candidato a presidente, lançou a própria mulher para sucedê-lo. Alguma coisa estranha o eleitor há de ver nisso, no mínimo gula de poder de família tão apegada ao Evangelho, que prega moderação. O nome do PSDB, Zito, dificilmente resistirá à divulgação de suas pendências judiciais. Benedita da Silva, do PT, disputará no cargo que herdará. Agora o prefeito Cesar Maia admite uma inusitada aliança com o PDT de Leonel Brizola em torno de Jorge Roberto Silveira.

ALMOÇO com mais de 200 empresários do Rio, organizado por Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, homenageia hoje na Firjan o ministro Francisco Dornelles. Pela aprovação das reformas trabalhistas que já pareceram impossíveis.

O PRESIDENTE do PFL, Jorge Bornhausen, assegura: o governador do Paraná, Jaime Lerner, foi almoçar com ele há dez dias em Florianópolis. Está firme com Roseana Sarney. Veio de tucanos a informação de que ele poderia apoiar José Serra.


Editorial

CAMINHO DO MEIO

Periodicamente, a Amazônia ganha espaço nos jornais internacionais, e o noticiário é quase sempre negativo: o desmatamento, as queimadas e a devastação prosseguem incontroláveis. Daí ser uma bem-vinda surpresa o balanço positivo feito recentemente pela revista “Science”. Os esforços do governo brasileiro, diz a revista, deverão baixar a taxa de desflorestamento. Esses esforços tomaram a forma de uma nova regulamentação do uso da terra — com vistas a conciliar a conservação ambiental com o desenvolvime nto —, de programas de combate às queimadas e de reintegração de terras griladas.

É, sem dúvida, a estratégia correta — descobrir e aproveitar as diferentes vocações da região. Imaginar uma Amazônia intocada, como que posta sob uma redoma, é uma visão duplamente equivocada. Primeiro, pelo irrealismo de acreditar que é possível ao poder público manter-se fora da região e, ao mesmo tempo, impedir que a sua ausência seja aproveitada por outros. Segundo, porque os extraordinários recursos que a Amazônia oferece de nada valerão se não puderem ser explorados — naturalmente, tomadas as necessárias precauções em termos de preservação, reciclagem e reflorestamento.


Não se trata simplesmente de reforçar as estatísticas do Produto Bruto e do superávit comercial: é também uma questão social da maior importância. Como diz a “Science”, é vital desenvolver uma região onde 17 milhões de pessoas vivem com muito menos de US$ 100 mensais. Imaginar uma Amazônia intocada é adiar indefinidamente a ascensão econômica desse imenso contingente de brasileiros.


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02/04/2002


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