Brizola e Ciro retomam negociação



Brizola e Ciro retomam negociação BRASÍLIA - O presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, e o candidato à Presidência pelo PPS, o ex-ministro da Fazenda Ciro Gomes, reuniram-se ontem em Brasília na tentativa de reerguer a aliança para 2002 depois da recusa do governador de Minas, Itamar Franco, de trocar o PMDB para o partido de Brizola. Ontem, a maioria da bancada do PDT no Congresso deu sinais, durante um almoço com Brizola, de que deverá apoiar Ciro na sucessão do presidente Fernando Henrique Cardoso. O apoio da bancada do PDT à candidatura de Ciro seria formalizado ontem, mas os parlamentares do partido preferiram adiar a decisão, já que há resistências internas ao nome do ex-ministro da Fazenda. O deputado Vivaldo Barbosa (PDT-RJ) chegou a manifestar o interesse de lançar-se à corrida presidencial por entender que Ciro não vai batalhar pela "causa trabalhista". Barbosa tem, no entanto, poucas chances de convencer o PDT a abandonar o PPS rumo a uma candidatura própria à Presidência. Brizola e Ciro deverão participar de novas conversas nos próximos dias e não descartam a possibilidade de Itamar, depois de consolidado o quadro eleitoral, unir-se, numa aliança informal, às "forças de centro-esquerda". O ex-ministro da Fazenda afirmou também que sua candidatura é irreversível, descartando, com isso, a retirada de seu nome a favor do governador do Ceará, Tasso Jereissati (PSDB). Jader sai, mas PMDB ainda busca substituto Veto do PFL e da oposição a Renan Calheiros devolve favoritismo a Sarney BRASÍLIA - O senador Jader Barbalho (PMDB-PA) fez a sua parte e renunciou à presidência do Senado. Mas o seu partido, que tem a garantia de todas as legendas - aliadas e de oposição ao governo - de que poderá indicar o novo titular do cargo, não conseguiu vencer a divisão interna e fechar a bancada da Casa em torno de um candidato de consenso. De volta ao jogo sucessório por um apelo da cúpula do PMDB, diante do veto de setores do PFL e do bloco de oposição ao nome do líder Renan Calheiros (AL), o senador José Sarney (AP) voltou a ser cotado como favorito para suceder Jader. Mas, em meio à confusão do dia, a possibilidade de Renan assumir a presidência também voltou a ser cogitada entre os peemedebistas. O PMDB queria escolher ontem à noite o nome a ser indicado para presidir o Senado, mas adiou a decisão para hoje cedo, por causa das divisões internas. Diante das reações contrárias à sua candidatura, Renan passou o dia articulando a volta de Sarney à disputa. Trabalhou para convencer o PT a aceitar o candidato natural do partido, e conseguiu. O líder do bloco de oposição, José Eduardo Dutra (PT-SE), negou que houvesse veto petista ou de qualquer outro partido ao ex-presidente da República. Não houve, porém, quem convencesse o senador Pedro Simon (RS) de que Sarney é a melhor opção, num momento em que a preocupação geral é fortalecer o Senado. Mais que a resistência do senador José de Alencar (MG), que teimava em levar seu nome ao exame da bancada, o que impediu o PMDB de fechar posição em torno de Sarney foi o protesto ruidoso de Simon. "O cargo de presidente do Senado tem de ser do PMDB para viabilizar a candidatura própria a presidente da República na eleição do ano que vem e não para fortalecer a Roseana (governadora do Maranhão e filha de Sarney)", esbravejavou Simon aos colegas de partido, enquanto Jader fazia o seu discurso de renúncia. "Escolher Sarney é uma deselegância para com ele, porque o máximo que se pode exigir de um pai em relação à filha é o silêncio." Para Sarney, a reação de Simon tem efeito quase paralisante. O ex-presidente insiste na unidade e na unanimidade para poder, então, assumir o cargo. O fato atrapalhou os planos da cúpula do partido, que, naquele momento, pretendia reunir sua bancada no Senado para sacramentar o nome do senador que iria suceder Jader na presidência da Casa. Recuo - O problema é que Simon insistia em que, além de não aceitar, iria votar contra Sarney e de forma aberta, durante a reunião da bancada. Assim, provaria que Sarney não é unanimidade. Com isso, o senador José Fogaça (RS), que havia admitido que não disputaria com Sarney, acabou recuando. Ele decidiu manter seu nome na disputa interna para saber quem é que vai comandar o Senado no período de um ano e cinco meses. "O PMDB não está em discussão. Os outros partidos é que fizeram restrição a Sarney", disse Fogaça, ao manter a sua candidatura. "Serei um problema até a hora da decisão da bancada." Ao contrário de Alencar, que na avaliação da cúpula do PMDB movimentou-se de forma vaidosa e desastrada, Fogaça teve um comportamento apontado como partidário e leal, até mesmo para com Jader, que ontem teve o seu pior dia no Senado. Jader trabalhou nos bastidores para fazer Sarney seu substituto, porque acha que esse é o melhor nome para conduzir com serenidade o seu processo no Conselho de Ética. Também para resistir às pressões para que abrevie o seu julgamento, com atropelo das regras. Fogaça, no entanto, procurou mostrar que não vai fazer nada fora do que determina o regimento no caso, se vier a se eleger presidente da Casa. "Não admito que ninguém use o cargo contra uma pessoa e defendo a garantia plena do direito de defesa de Jader." Sarney quer ‘rede de proteção’ para aceitar o posto BRASÍLIA – O senador José Sarney (PMDB-AP) foi atingido pela síndrome do denuncismo que atormentou Jader Barbalho (PMDB-PA) até a renúncia da presidência do Senado. É o que avaliam setores do PFL e da cúpula do PMDB, impressionados com as novas dificuldades postas ontem pelo próprio Sarney a cada instante, ao longo das negociações para levá-lo à presidência do Senado. Depois de um penoso trabalho para fechar o bloco de oposição em torno de seu nome, com a negativa formal de veto, dada pelo líder do PT, senador José Eduardo Dutra (SE), Sarney impôs uma nova condição para sair candidato. Em reunião realizada em seu gabinete, ontem à noite, ele exigiu que os líderes do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), e na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA), se associassem aos líderes do PPS, Paulo Hartung (ES) e ao próprio Dutra, em uma nova operação para forçar o senador José Alencar (PMDB-MG) a retirar sua candidatura. “Vocês hão de compreender que, sem o apoio de todos nesta Casa, qualquer um se inviabiliza”, ponderou Sarney. Nas conversas de bastidor ao longo do dia foram usados argumentos do tipo “é preciso criar uma rede de proteção em torno da presidência, porque o momento é difícil”. Segundo um interlocutor do ex-presidente da República, a família Sarney está dividida quanto à conveniência política de ele assumir o comando do Senado agora. Diz o parlamentar que Sarney se recusa a expor sua família a esta onda de denúncias de corrupção que também acabou assombrando o líder Renan Calheiros. O senador Pedro Simon (PMDB-RS), um dos pré-candidatos do PMDB à corrida presidencial, protestou contra a opção Sarney para presidente do Senado, temendo o fortalecimento da candidatura presidencial da governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL). Ao mesmo tempo, porém, amigos de Sarney atestavam que sua filha Roseana resistia à idéia de ver o pai na presidência do Senado. Motivo: O temor de denúncias contra seu marido, Jorge Murad. Senado vive crise sem precedentes Em pouco mais de 1 ano foram 3 renúncias, incluindo a de Jader, e uma cassação BRASÍLIA - Ao comunicar que renunciava à presidência do Senado para "preservá-lo e servi-lo", o peemedebista Jader Barbalho insistiu na tese de que a instituição não pode ser contaminada pelo clima de acusações, investigações e a permamente ameaça de cassação que vigorou nos últimos meses. Talvez seja tarde demais. A Casa dos Sensatos e o Céu na Terra já foram algumas expressões usadas para designar o Senado. A confraria de políticos experientes, que divergiam sem trocar ataques e funcionavam como contraponto às turbulências da Câmara, está, porém, em crise. Em pouco mais de um ano, um senador, Luiz Estevão, teve o mandato cassado, outros dois, José Roberto Arruda e Antonio Carlos Magalhães, renunciaram para escapar do mesmo destino. Ontem, mais um, Jader Barbalho, abriu mão do terceiro cargo na linha sucessória do presidente da República, para salvar o mandato. "O Senado ainda é uma Casa de poucos conflitos. Mas agora, quando estes acontecem, viram uma hecatombe", brinca o senador do PMDB gaúcho José Fogaça, um dos candidatos à sucessão de Jader. "Mas não é um pacote ético ou coisa desse tipo que vai tirar o Senado desta enorme crise. É uma disposição geral para a mudança", continua o peemedebista Fogaça. O presidente do PFL, Jorge Bornhausen (SC), lembra o mandato anterior, entre 1983 e 1991, quando o Senado "era quase um clube de amigos". "Foi um período intenso, de muito peso, respeito mútuo, uma Casa educada. Não tinha tanta gente querendo aparecer tanto sem ter nada a dizer", diz Bornhausen, atribuindo o fenômeno à existência da TV Senado. O senador catarinense viu seu próprio partido sofrer com o desgaste da renúncia de um dos mais influentes e poderosos políticos dos últimos 30 anos, Antonio Carlos Magalhães, antecessor de Jader Barbalho na presidência do Senado e maior inimigo do senador paraense. Para recuperar a normalidade, Bornhausen apontava, no início da tarde de ontem, um primeiro passo: "convencer José Sarney a ser presidente do Senado." Cassação, renúncias, mortes, eleições e conveniências regionais levaram o Senado a ter um quarto de seus integrantes afastados. Hoje, 19 suplentes ocupam os cargos dos titulares. Alguns são desconhecidos dos próprios colegas, que trocam seus nomes e não conseguem lembrar quem estão substituindo. Mãos Limpas - Pergunte-se ao senador pernambucano Roberto Freire, do PPS, os motivos de tamanha crise no Senado e ele dirá, imediatamente: "Isso é a nossa Operação Mãos Limpas". Freire não tem uma visão negativa do processo de denúncias e renúncias que marcou este ano legislativo. "Arrisco dizer que o Brasil é capaz de estar vivendo o momento de maior punição da corrupção. E, para isso, a lama tem de aparecer. E não é porque no Legislativo algumas pessoas têm folha corrida e não currículo que a imagem será afetada. Ano que vem mesmo haverá renovação de dois terços do Senado. É uma boa oportunidade para a população, que é soberana na escolha, perceber que não é tudo farinha do mesmo saco", defende Freire, reconhecendo que "para alguém da oposição", seu discurso é bem otimista Defesa de Maluf tenta impedir devassa bancária Mandado de segurança com pedido de liminar foi entregue ontem ao Tribunal Regional Federal Os criminalistas Arnaldo Malheiros Filho e Ricardo Camargo Lima, que integram a brigada de defesa do ex-prefeito Paulo Maluf (PPB), apresentaram mandado de segurança com pedido de liminar ao Tribunal Regional Federal para que seja suspensa, imediatamente, a quebra de sigilo bancário do pepebista e de seus familiares. A devassa foi decretada na sexta-feira pelo juiz Fernando Moreira Gonçalves, da 8.ª Vara Criminal Federal, que acolheu pedido do Ministério Público Federal. Os advogados sustentam que não foram notificados para se manifestar sobre o pedido. Além disso, argumentam que a mulher de Maluf, Sylvia, os filhos do casal (Flávio, Otávio, Lina e Ligia) e a nora Jacquelline - todos com o sigilo quebrado - não são réus na ação penal aberta pela 8.ª Vara para apurar a emissão supostamente fraudulenta de Letras Financeiras do Tesouro Municipal para pagamento de precatórios judiciais. Os réus no processo são Maluf, o ex-prefeito Celso Pitta (PTN) e o ex-coordenador da Dívida Pública do Município. Gonçalves autorizou o acesso aos dados bancários da família Maluf com base em documento do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão do Ministério da Fazenda. Segundo o ofício, a polícia de inteligência financeira da Suíça informou que, durante 12 anos, empresas de Maluf e seus familiares mantiveram contas no Citibank de Genebra. Em janeiro de 1997, o ex-prefeito teria transferido "todos os ativos" para a Ilha de Jersey. Nas últimas três semanas, o pepebista tentou suspender outras duas decisões - tomadas pelo juiz-corregedor Maurício Lemos Porto Alves, a pedido do Ministério Público Estadual e da CPI da Dívida Pública do Município - que decretaram a quebra do sigilo bancário e telefônico de seus familiares. Por mandado de segurança e habeas-corpus, a defesa do ex-prefeito atacou a devassa. Nos dois casos, o desembargador Gentil Leite, 2.º vice-presidente do Tribunal de Justiça, indeferiu o pedido de concessão de liminares. Moralidade - Para protestar contra promotores e procuradores que investigam a existência de aplicações financeiras em Jersey, Maluf foi ontem à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em São Paulo, entidade que zela pelos direitos fundamentais da cidadania e prega a moralidade na política. Durante uma hora, ele e dois advogados - o civilista Ricardo Tosto e o criminalista José Roberto Leal de Carvalho - conversaram com o presidente do órgão, Carlos Miguel Aidar. Eles relataram supostos abusos e vazamento de informações. Após o depoimento, o vice-presidente da OAB, Orlando Maluf Haddad, solicitou documentos e uma representação por escrito para submeter o caso à Comissão de Prerrogativas da OAB. Segundo Haddad, Maluf "é uma figura notória, que foi recebido como qualquer um". O vice-presidente contou que os advogados reclamaram que estão encontrando dificuldade para examinar os processos contra o ex-prefeito. A Comissão de Prerrogativas poderá instaurar um processo, inclusive para ouvir promotores e procuradores. Segundo Haddad, se for constatada alguma irregularidade, a OAB deverá promover ato de desagravo, "ato público que visa a deplorar o cerceamento a trabalho dos advogados". O presidente da Ordem preferiu não se manifestar sobre o encontro. Carvalho disse que a defesa do ex-prefeito regularmente não têm possibilidade de consultar autos, "de examinar manifestações da parte contrária". Segundo o criminalista, "instaurou-se um processo digno dos processos mais terríveis da Idade Média, da época da Inquisição, em que só vale a palavra do Ministério Público". Ele disse que alguns procuradores e promotores "não têm o menor respeito com o direito de defesa, com as prerrogativas dos advogados". Sobre as denúncias de que Maluf manteria ativos no paraíso fiscal, o advogado afirmou: "Maluf nunca foi processado em poder próprio; é falso, absolutamente falso, que haja algum valor do doutor Paulo que possa ter sido desviado." Segundo Carvalho, "os promotores mentem". Ele os desafiou a mostrar um único processo em que Maluf seja acusado de desvio de dinheiro público. Pela primeira vez, desde que teve início a investigação sobre as contas em Jersey, no Canal da Mancha, Maluf não se manifestou. Ouviu calado seu advogado conceder entrevistas aos jornalistas e se limitou a dizer, ao sair da presidência da OAB: "Como engenheiro, respeito as palavras dos advogados". Dirceu quer 'abrir' PT e fazer alianças de centro Praticamente reeleito presidente, ele diz que linha 'fechada' levou à saída de 400 mil filiados O deputado José Dirceu (SP), provável presidente do PT por mais três anos, disse ontem ter conquistado "mandato expresso" para abrir o partido, fazer alianças de centro e comandar um programa de governo sem pitada marxista-leninista. Mais: admitiu que, nos últimos 21 anos, o PT perdeu cerca de 400 mil filiados, quase a metade do total de 924.597. Uma das causas, na sua opinião, seria a linha partidária. "Não querem abrir o PT", disse, já falando como presidente reeleito para o quarto mandato. Para Dirceu, o Brasil não acha nada light a legenda que tem Luiz Inácio Lula da Silva como pré-candidato à Presidência. Ele também disse que até hoje não se encaixou no figurino do discurso rosa-choque. "Moderado? Pelo contrário, sou bastante radical para a situação do Brasil e a sociedade pede para o PT mais moderação", argumentou. A eleição direta que no domingo renovou as direções do partido, em todo o País, contou com votos de filiados desde 1980. Dos 924.597 cadastrados, estavam aptos a votar 861.953, que preencheram a ficha até setembro de 2000. Ninguém sabe ao certo quantos foram às urnas porque houve pane no sistema de transmissão dos boletins de urna (leia matéria ao lado). Mas, segundo estimativas extra-oficiais, o número ficou na casa dos 240 mil. "O comparecimento foi altíssimo para os padrões da vida política brasileira", avaliou. Ele vai propor ao PT prazo de seis meses para o recadastramento dos filiados. "Se fizermos isso, o número será reduzido no máximo para 500 mil. Tem gente que morreu, que se desfiliou, que não tem mais relação com o partido", constatou. Dirceu disse ainda que apresentou a proposta antes da eleição direta, mas foi vencido. "Se tivéssemos feito isso, o quórum obtido seria de 50%, como no Rio". Convidado para um almoço com 70 empresários da Câmara de Comércio França-Brasil, em São Paulo, Dirceu afirmou que, se o PT chegar ao governo, vai fazer "reformas democráticas" e não dará calote na dívida externa. Além disso, insistiu em que o Brasil não tem mais um projeto de desenvolvimento. "Até os governos militares tiveram", reiterou. Dirceu também disse confiar na possibilidade de alianças com "setores" do PMDB. "A conjuntura vai provar que tínhamos razão: o Itamar Franco (governador de Minas) vai ficar no PMDB, mas é improvável que seja candidato. Isso abre espaço para termos apoio extraordinário de deputados, vereadores e prefeitos peemedebistas", opinou. Ele pregou, ainda, a retomada do diálogo com o PPS de Ciro Gomes e o PSB de Anthony Garotinho. Em Mato Grosso do Sul, o secretário do Meio Ambiente, Egon Krakhecke, e mais 100 servidores deixaram ontem o governo. O radical Egon, que concorreu à presidência do PT no Estado, acusou outro secretário, Vander Loubet, sobrinho do governador Zeca do PT, de usar a máquina para chegar ao comando do partido. Zeca trouxe empresários mato-grossenses para conversar ontem com Lula, em São Paulo. Artigos Pela paz mundial DOM CLÁUDIO HUMMES A humanidade inteira está perplexa e horrorizada diante do hediondo atentado terrorista que atingiu, dia 11 de setembro, os Estados Unidos, em especial Nova York e Washington. Sem dúvida, ao atingir e destruir o World Trade Center e em parte o Pentágono, símbolos maiores da nação que lidera política, militar e economicamente o planeta, o terrorismo internacional surpreendeu e revoltou o mundo inteiro por sua ousadia, capacidade e, sob todos os aspectos, execranda crueldade, que não recua em vitimar milhares de civis inocentes, entre os quais crianças, mulheres e idosos. Em que pesem causas justas ou injustas que os terroristas quiçá defendam, é inadmissível que usem tais meios para conseguir seus fins. O atentado é fruto perverso da preocupante crise mundial de valores. Quando os principais líderes políticos da humanidade se reúnem, por exemplo, nas reuniões do G-8, o que se discute é somente mercado, finanças, economia, competição internacional comercial, enfim, sempre e apenas valores materiais e comerciais. Com isso se enchem as páginas dos jornais em todo o mundo, os noticiários de toda a mídia, ao lado da progressiva violência por toda parte. Assim, a opinião pública da sociedade é levada a centrar-se nesses objetivos e a fazer deles o sentido da vida. Urge, ao contrário, que os líderes mundiais assumam como tema de suas reuniões também os valores éticos, espirituais e religiosos que visam a construir um mundo justo, fraterno, menos desigual, em que as riquezas são mais bem distribuídas. Para construir um tal mundo, ao mesmo tempo justo e próspero, são necessários valores como a solidariedade, a justiça social, os direitos humanos, a honestidade na administração pública, o reconhecimento e a promoção da liberdade e da dignidade das pessoas, a fraternidade, o diálogo, o perdão e a paz. Só a conjugação desses valores com os objetivos do progresso material será capaz de gerar e preservar a civilização, a democracia, a prosperidade econômica para todos e um sentido integral para a vida humana em sociedade. Com seu prestígio, os líderes poderão colaborar para que esses valores maiores voltem a ser referência no mundo. Diante da imensidade dos sofrimentos infligidos a tantas vítimas inocentes, muitos chegaram a perguntar sobre Deus, que permitiu tal atrocidade. Na verdade, trata-se de uma pergunta que Santo Agostinho já se fazia ao defrontar-se, de um lado, com a providência divina e, de outro, com o livre-arbítrio do homem. Sem dúvida, Deus é o Senhor. Seu senhorio abraça todas as criaturas. Se não fosse assim, Ele não seria Deus. Por outro lado, experimentamo-nos como livres. Somos livres em nossas decisões. A modernidade repôs a questão e perdeu-se num sofisma, afirmando que, se nós somos livres, então Deus não pode existir; ora, de fato, nós nos experimentamos como livres, portanto, concluiu a modernidade, Deus não existe. Essa tese parecia sair ainda mais reforçada diante do problema do mal, que é justamente o caso do atentado terrorista. Homens decidem fazer o mal e Deus, que só pode querer o bem, não os impede. Por que não os impede? Deus não nos impede de exercer plenamente a liberdade em nossas decisões boas ou más, exatamente porque nos respeita e ama. Ele nos criou livres e inteligentes. É o que nos faz ser pessoas e, por isso, somos imagem e semelhança de Deus. Esta é nossa maior dignidade: sermos livres e inteligentes. A grandeza de Deus e seu senhorio absoluto estão justamente nesta admirável decisão de criar no horizonte de seu senhorio criaturas livres e inteligentes e, conseqüentemente, respeitar sempre a liberdade delas, seja para o bem, seja para o mal. Deus respeita nossa liberdade porque nos ama, como um pai ama seus filhos. Essa liberdade, contudo, nos torna responsáveis de nossos atos. Devemos responder pelo que decidimos e fazemos. É humanamente compreensível que as vítimas das maldades humanas pensem num primeiro momento que Deus devia ter impedido o mal feito. Mas, se Deus o impedisse, estaria negando e destruindo justamente a nossa grandeza de sermos inteligentes e livres. Deus inspira, sim, os homens para que sempre façam o bem, mas nem sempre acolhemos essa inspiração. Por outro lado, Deus procura sarar amorosamente as feridas das vítimas de nossas violências e maldades. E, para sará-las em profundidade, inspira-lhes que perdoem de coração a quem lhes fez o mal. Mas com isso Deus não defende a impunidade do malfeitor, pois este deve responder por seu ato. Contudo, se ele se converter de sua maldade, o próprio Deus o acolhe no seu perdão. Se Deus age assim, isso não diminui seu senhorio absoluto. Ao contrário, dignifica-o e lhe dá um caráter não de domínio frio e distante, mas o domínio de um Senhor que é pai e, por essa razão, exerce seu senhorio como paternidade que ama e respeita seus filhos, os quais educa na liberdade responsável. É isso que nos ensina a Bíblia, especialmente o Evangelho de Jesus Cristo. Basta ler e meditar a parábola do filho pródigo. Voltando ao atentado terrorista nos Estados Unidos, todos sentimos como o mundo está apreensivo diante da possibilidade de novas violências, seja do próprio terrorismo internacional, seja das nações atingidas, que buscarão reagir. Não se pode defender a impunidade, mas também é preciso evitar todo espírito de vingança indiscriminada, que corre o risco de massacrar inocentes. É preciso preservar a paz mundial, a todo custo. A guerra nunca trouxe boas soluções, apenas destruição, dor, sofrimento e retrocesso. Por essa razão, a Arquidiocese de São Paulo está organizando um grande momento de oração ecumênica Pela Paz Mundial e Contra toda Violência, juntamente com líderes religiosos de outras religiões e com a colaboração da Prefeitura Municipal. O ato se realizará no domingo, dia 23, na Praça da Paz, no Parque Ibirapuera, às 10 horas da manhã. Convidamos a população para participar desse momento em favor da paz, em solidariedade às vítimas do atentado nos Estados Unidos e contra toda violência. Colunistas DORA KRAMER Ao sucessor o problemas Jader Barbalho renunciou à presidência do Senado como quem faz o que deveria ser feito: sem estardalhaço, dramalhões, manifestações de histrionismo ou acusações à deriva. Não fosse o inusitado do gesto, dir-se-ia que foi uma renúncia quase burocrática. É possível que tenha frustrado expectativas, mas Jader saiu-se melhor que outros personagens da história recente das despedidas no Senado, evitando o exercício da mesquinharia e do auto-elogio. Não se pode imputar grandeza ao ato, porque resultou de um processo de acusações pesadas e de investigações que, embora não tenham sido ainda concluídas, puseram o presidente do Senado em vários cenários de ilícitos. E isso, o próprio Jader foi levado a reconhecer, a Nação não aceitaria. Como, de resto, não aceitará que o desdobramento do episódio encerre arranjos ilegítimos. Seja do ponto de vista do desenrolar das investigações propriamente ditas, seja sob o aspecto da sucessão do presidente que ontem renunciou. O Senado está, pois, desde as 17 horas de ontem com dois problemas para resolver: o destino do mandato de Jader Barbalho e o futuro da instituição. Ambos estão na dependência do nome que vier a ser escolhido pelo PMDB e aceito pelos outros partidos. Depois de 45 minutos de discurso em que basicamente repetiu os argumentos que vem usando em sua defesa, Jader Barbalho transferiu a questão aos cuidados do sucessor. Está agora livre para tratar de si. E aí reside a delicadeza dos fatos daqui em diante. Jader atribuiu seus males à própria ousadia política de ter enfrentado "o homem mais poderoso na República", mas ampliou as dimensões da briga dizendo que o verdadeiro motivo dela foi a sucessão presidencial. Para ele, tudo teve origem no bom posicionamento que o PMDB conquistou no jogo do poder desde que o partido adquiriu unidade de comando, reunindo, assim, mais condições para conquistar um papel preponderante na composição das forças que disputarão os postos nacionais de destaque em 2002. Não precisou pronunciar a sigla PFL, mas para razoável entendedor deixou entrever a legenda do PSDB e o nome de Fernando Henrique. Ao partidarizar o problema, partidarizou também a solução no que diz respeito a ele próprio. Ou seja, se o ataque foi feito ao PMDB, que se engrandecia no jogo do poder, cabe agora ao partido não se deixar acuar. E não é preciso dar muitos tratos ao raciocínio para concluir que Jader espera do próximo presidente do Senado, um peemedebista, a inclusão da defesa de seu mandato na batalha conjunta contra aqueles que, segundo ele, sentiram-se ameaçados pelo avanço do PMDB. Não é por outro motivo que o comando do partido faz tanta questão de que o sucessor seja o líder do PMDB no Senado. O plano sofreu um revés ontem por causa da reação contrária do PFL e do PSDB, o que obrigou as lideranças peemedebistas - principalmente o candidato delas - a fingir um recuo e providenciar, rápido, uma articulação de aparente defesa da candidatura de José Sarney. Cruz e caldeirinha Caso o recuo definitivo seja inevitável - o que se verá hoje - e José Sarney aceite, estará o ex-presidente da República entre duas forças contrárias: o PMDB a pressionar pela salvação de Jader e, no bastidor, Antonio Carlos Magalhães a usar de sua influência sobre Sarney para exigir a condenação. Se aceitar, Sarney saberá desde logo da impossibilidade de assumir a posição que mais lhe agrada: a de magistrado com unanimidade da platéia. Sairá de seu retiro literário e entrará num lance de risco para quem já tinha conseguido recuperar a biografia, bem menos festejada na época em que deixou a Presidência da República. Excesso de esperteza Não obstante o efeito externo arrasador que teria a escolha do nome do atual líder do PMDB, nada pode ser descartado até que todos os martelos tenham sido batidos. Até porque as articulações dos peemedebistas têm mostrado total oposição entre intenções e gestos. Na quinta-feira passada, quando o presidente Fernando Henrique Cardoso acertou com lideranças partidárias que o substituto de Jader seria do PMDB, foi aprovada a seguinte lista: José Sarney, José Fogaça, Ramez Tebet e Gerson Camata, nesta ordem. O nome do líder do PMDB sequer foi citado. Mas foi ele próprio quem, naquela noite, telefonou para Sarney a fim de "informar" que FHC preferia o nome de Ramez Tebet. A intenção era passar a Sarney a idéia de que o Planalto o vetava. E assim foi interpretado. O líder do PMDB ganhava ali um correligionário. No dia seguinte, a senadora Heloísa Helena, aliada do peemedebista, comunicou a Edison Lobão que o PT não queria Sarney. O PT depois negou o veto, mas Lobão, ciente de que Sarney queria a unanimidade, deixou-se impressionar. E assim, com meias-verdades, o PMDB foi construindo uma candidatura à margem do combinado no Planalto. Esperto, é verdade, o movimento. Mas talvez um tanto excessivo e indiferente à norma segundo a qual a esperteza quando é muita vira bicho e come o dono. Editorial A nova guerra fria Parece haver - felizmente - um claro descompasso entre a rombuda retórica do presidente George W. Bush e a direção efetiva da política americana de combate ao terrorismo. O texano Bush fala em capturar "vivo ou morto" o provável comandante do ataque aos Estados Unidos, Osama bin Laden, alheio, talvez, ao fato de que o mundo não é exatamente o Velho Oeste. Enquanto isso, porém, aumentam os indícios de que Washington tende a abandonar a tentação de uma resposta militar nos moldes clássicos pelos atos de barbárie da semana passada, como seria o bombardeio ou a invasão e ocupação do Afeganistão sob controle do sanguinário regime do Taleban. As ações militares são necessárias, não como mera represália, mas como meio de debilitar o poder de ataque do inimigo, inclusive para devolver um pouco da tranqüilidade perdida ao povo americano, que, neste momento, sente mais medo do que ódio do inimigo. Mas, em vez de uma ofensiva convencional contra o reduto de Bin Laden, os EUA poderão preferir uma ação fulminante de comandos, caso os fanáticos afegãos se recusem a entregar o seu "hóspede" - e caso os americanos tenham motivos para acreditar que a sua investida atingirá o alvo. O possível descarte da opção pela retaliação solitária sugere que a tragédia de 11 de setembro está produzindo uma conseqüência positiva - se é possível usar esse adjetivo no contexto do que foi um crime contra o gênero humano e uma selvagem profanação dos valores humanitários da própria fé maometana. O efeito benéfico é o de demonstrar que mesmo a mais rica, poderosa e influente nação do globo precisa de outros países para chegar à vitória na guerra contra o terrorismo. A crescente percepção dessa necessidade, por setores de um governo que em poucos meses levou ao paroxismo o gosto por decisões unilaterais em matéria de política externa, deverá acarretar "uma revisão fundamental da estratégia americana de segurança nacional", como propôs o comentarista Serge Schmemann, do New York Times. A súbita recuperação do poder do secretário de Estado, o diplomático general Colin Powell, posto em segundo plano em um governo dominado, até há pouco, pela linha dura unilateralista, indica que Washington começa a admitir a idéia amplamente propagada de que a contenção da nova "besta imunda" que ameaça a civilização exigirá uma estratégia infinitamente mais complexa do que a simples consumação de ações bélicas espetaculosas. Essa estratégia não poderá ignorar as causas profundas do mal que se deseja neutralizar - o contraste entre a fabulosa prosperidade dos Estados Unidos e a miséria abissal da grande maioria do 1,2 bilhão de muçulmanos do planeta. O egoísmo do mundo rico serve de incubadeira para a infantaria do terror, nutrida pelo fanatismo religioso. Os EUA tampouco poderão desconsiderar a realidade de que o exército das trevas está presente, em graus variados, numa vintena de países, do Norte da África ao Sul da Ásia, dos Bálcãs à Arábia. Osama bin Laden é somente o mais famoso e bem-sucedido de seus capitães. Por isso mesmo, o destino da contra-ofensiva americana dependerá da legitimidade que os Estados Unidos conquistarem para a sua causa no mundo islâmico, onde, a rigor, só contam com o apoio irrestrito e provado de uma nação forte, a Turquia. O próprio Egito, beneficiário de bilhões de dólares em ajuda americana, vacila na hora H. O seu presidente, Hosni Mubarak, acaba de dizer que "é muito cedo para se falar numa aliança internacional contra o terrorismo". Portanto, construir uma aliança pan-muçulmana contra o fundamentalismo, por meio da ONU e de outras instâncias políticas multilaterais, é um colossal desafio até para o maior dos estadistas. Mas é condição de êxito nesta que vem sendo chamada a primeira guerra do século 21 e, na realidade, é a repetição da guerra fria da segunda metade do século 20, com um novo contendor: não mais um império como o antigo bloco soviético e sim uma força transnacional, arregimentada pelo ódio comum aos EUA, sua liderança mundial e tudo o que o seu sistema de vida representa. Os Estados Unidos venceram a guerra fria original, entre diversos outros motivos, porque eram um exemplo para boa parte do mundo - a começar dos milhões de súditos de Moscou que acalentavam o sonho americano de prosperidade e liberdade. A nova guerra fria, que poderá não durar meio século, como a anterior, mas decerto levará muitos anos, só terá igual desfecho se os EUA se dispuserem a sair do esplêndido isolamento que lhes proporciona a sua hegemonia econômica, tecnológica e militar e a se abrirem para as vicissitudes do vasto mundo muçulmano - e de dois terços da humanidade. Topo da página

09/19/2001


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