Brizola e PT negociam aliança em segredo









Brizola e PT negociam aliança em segredo
Resistências nos Estados são obstáculo para apoio já no primeiro turno

Embora reitere a disposição de consultar a Frente Trabalhista antes de tomar qualquer decisão, o presidente do PDT, Leonel Brizola, já conversa com o comando da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desde a semana passada, quando telefonou para o presidente nacional do PT, José Dirceu.

Segundo pedetistas e petistas, os dois têm negociado a aproximação e trabalham para desatar alguns nós nos Estados, como o do Paraná.

Na sexta-feira, o candidato do PDT ao governo do Estado, senador Álvaro Dias, condicionou seu apoio a uma declaração de neutralidade de Lula no segundo turno das eleições, que disputará com o peemedebista Roberto Requião, apoiado pela oposição.

– Aqui, no Paraná, Lula tem de assumir um compromisso de ficar neutro no segundo turno. Brizola disse que conversaria com Dirceu – contou o senador Osmar Dias, irmão de Álvaro.

Serão necessárias ainda costuras no Amapá e no Maranhão, onde o PDT tem chance de eleger o governador. Segundo integrantes do comando do PT, o partido delegou a Dirceu a tarefa de conversar com Brizola sobre a aliança já no primeiro turno.

– Zé Dirceu é quem está encarregado. Ele já estava conversando com Brizola – disse o secretário de mobilização do PT, Francisco Campos.

Defensor da aliança desde já, o deputado Vivaldo Barbosa (PDT-RJ) diz que há no partido um forte movimento pela adesão à candidatura Lula:
– Se vamos apoiar Lula no dia 7, por que não garantirmos a vitória da oposição no primeiro turno?
Até no PT, no entanto, há quem tema o esvaziamento da candidatura de Ciro Gomes (PPS), apoiado pelo PDT. Entre alguns petistas, há o receio de que os votos de Ciro migrem para José Serra (PSDB). Em visita ontem à governadora Benedita da Silva, no Rio, Dirceu afirmou que, por respeito à candidatura de Ciro, não vai procurar Brizola para pedir apoio.

- Temos de respeitar a legitimidade da candidatura de Ciro Gomes. Evidentemente o apoio de uma figura histórica como a do governador Leonel Brizola é bem-vindo. Mas o PDT está numa coligação com Ciro Gomes. Então vamos esperar o segundo turno para vermos como tratar esta questão. Qualquer outra decisão é decisão do PDT – disse.


Britto investe na Região Metropolitana
Candidato do PPS distribuiu folhetos e pediu votos a eleitores nos centros comerciais de Alvorada e Cachoeirinha

A tarde do candidato Antônio Britto (PPS) foi de intenso corpo-a-corpo na Região Metropolitana. Nas duas caminhadas, em Alvorada e em Cachoeirinha, Britto seguiu a estratégia anunciada de concentrar esforços na Grande Porto Alegre e manter contato direto com o eleitorado.

– Vamos ficar até o último dia permitido nas ruas, fazendo isto que é a coisa mais gostosa da política – afirmou.

Em Alvorada, o candidato andou pela Avenida Presidente Vargas com o candidato a deputado federal e coordenador de sua campanha, Nelson Proença. Sempre com uma pilha de jornais de campanha na mão, cumprimentava tantos pedestres quanto podia e ouvia reivindicações. Com freqüência, entrava em lojas, padarias e farmácias para falar com balconistas e atendentes.

Transeuntes curiosos em conhecer o ex-governador eram trazidos pela equipe de campanha. Em uma loja de discos, examinou por alguns minutos os saldos – velhos LPs, vendidos a R$ 5.

A caminhada em Cachoeirinha, na Avenida Flores da Cunha, foi mais curta – durou cerca de uma hora. Britto procurou manter o mesmo ritmo de Alvorada, entrando em barbearias e estabelecimentos comerciais. O candidato frisava, a quem entregava seu jornal, compromissos com a área de segurança pública e com a geração de empregos. Cerca de 800 exemplares foram distribuídos pelo candidato durante a tarde.

– Aqui está um jornalzinho com minhas propostas e meu pedido de apoio – dizia.

Após 20 minutos, o companheiro de partido e candidato à Câmara dos Deputados Paulo Odone aderiu ao corpo-a-corpo. Odone disse que as pesquisas não refletem a receptividade encontrada nas atividades de rua, principalmente no final de semana. Além da programação de rua, Britto apontou o último debate entre os candidatos, quarta-feira, na RBS TV, como a chave para o segundo turno.

– É a grande arma da democracia. No debate, é olho no olho – avalia.

Segundo o coordenador de campanha, na semana final a mobilização é total. Proença diz que a equipe está convencida de que Britto chegará ao segundo turno.

- O ânimo é grande – resumiu.


“O jogo será disputado até o último segundo”
Entrevista Rádio Gaúcha/Zero Hora: Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT à presidência

Na segunda entrevista da série Rádio Gaúcha/Zero Hora com os candidatos a presidente da República, o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, falou ontem no programa Atualidade. O candidato disse que buscará o máximo de votos no primeiro turno, mas que trabalha com a hipótese de segundo turno para não desmobilizar os militantes do partido.

Comprometeu-se a dar apoio do governo federal a projetos de desenvolvimento para o Estado, manifestou confiança na recuperação do Brasil e disse que é prematuro supor que haverá queda na arrecadação no próximo ano, como anunciam os técnicos do governo.

Lula, que se preparava para entrevista coletiva aos correspondentes estrangeiros, concedida logo depois, em São Paulo, falou por telefone aos jornalistas Armindo Antônio Ranzolin, Ana Amélia Lemos e Rosane de Oliveira.

A seguir, a síntese da entrevista.

Armindo Antônio Ranzolin – Esta é a sua quarta candidatura à Presidência da República e, segundo as pesquisas, faltam entre 1% e 2% para que o senhor atinja o percentual (50% dos votos válidos mais um voto) para obter uma vitória no primeiro turno. Como é que Luiz Inácio Lula da Silva vive essa expectativa?
Luiz Inácio Lula da Silva – Imagine como é que eu estou trabalhando para ver se consigo esses 1% ou 2% de votos que faltam... Tivemos uma estratégia de campanha que deu certo, feita da forma mais madura e mais conseqüente possível. Mesmo sabendo que as eleições seriam em dois turnos, trabalhamos para obter o maior número de votos possível no dia 6 de outubro. O jogo está sendo jogado, e os meus adversários estão nas ruas tentando ir para o segundo turno, o que eu acho louvável para o fortalecimento da democracia. A minha cabeça trabalha com a hipótese de segundo turno para não permitir que a militância do partido fique de salto alto. O jogo ainda está sendo jogado, e vamos disputá-lo até o último segundo.

Ana Amélia Lemos – Na reta final para o primeiro turno, o mercado financeiro continua agitado. O dólar pode chegar aos R$ 4, e Wall Street prevê um calote brasileiro. O que o primeiro colocado nas pesquisas para a Presidência tem a dizer ao mercado?
Lula – Eu tinha até ponderado à direção do PT que conversasse com o governo para que ele explicasse à opinião pública o que está acontecendo. Depois, vi uma entrevista do presidente FH e eu concordo com ela: não é possível que os especuladores desconsiderem o potencial e a grandeza do Brasil e fiquem tratando o Brasil como se fosse uma coisa insignificante. Estou convencido de que essa crise é passageira, de que vamos dar a volta por cima e de que o Brasil voltará a crescer, gerar empregos e riquezas.

Ana Amélia – Se a eleição for decidida no primeiro turno, o senhor teria condições de anunciar na semana seguinte o nome do presidente do Banco Central e do ministro da Fazenda?
Lula – Primeiro eu quero ganhar para então reunir os companheiros que participaram da campanha e discutir a estrutura para montar o gover no. Certamente temos interesse em indicar esses nomes, mas não faremos isso a toque de caixa. Vamos conversar com as forças que nos apoiaram, ouvir gente importante na sociedade brasileira, a direção do partido, os aliados e então indicaremos não apenas os nomes para a Economia e o Banco Central, mas um grupo de pessoas que, junto conosco, vai salvar este país.

Rosane de Oliveira – Se for eleito, em 2003 o senhor terá limitações para governar por conta do Orçamento, do acordo com o FMI e da perda de arrecadação. Como será administrada a enorme expectativa dos eleitores de que haverá mudanças já no primeiro ano de governo?
Lula – Só estou concorrendo porque acredito no Brasil e na sua recuperação. Todos os governos novos têm dado demonstrações de que, agindo com seriedade, acabam arrecadando muito mais do que o governo anterior. Se eu ganhar as eleições, tentaremos influenciar no Orçamento que será votado entre o dia 11 e 15 de dezembro para fazer um remanejamento de verba no próprio Orçamento. Temos de pensar de forma positiva e acreditar que o Brasil vai melhorar. Teremos um superávit de quase US$ 9 bilhões e isso pode aumentar no próximo ano. Temos um potencial industrial e agrícola capaz de desfazer todo o pessimismo que está na cabeça de muita gente. As pessoas sabem que pegaremos o país numa situação delicada, mas vamos trabalhar 24 horas por dia para recuperar a auto-estima do povo brasileiro, incentivar os empresários e a agricultura. Hoje não existe diálogo entre Estado e sociedade, entre governo e empresários. Quero restabelecer a forma mais democrática de convencer as pessoas a participarem do processo de recuperação do nosso país.

Rosane – Logo nos primeiros meses de governo, o senhor vai ter de mandar ao Congresso um projeto definindo o novo valor do salário mínimo. O que dá para acenar para o país nesse momento?
Lula – Essa é uma das coisas que teremos de discutir. O Orçamento prevê um aumento de apenas 5% no salário mínimo, mas todos concordam que não é possível que a parte mais pobre da população seja sacrificada mais uma vez. Tenho uma proposta, feita a Tancredo Neves em 28 de fevereiro de 1985, e quero colocá-la em prática: dobrar o poder aquisitivo do salário mínimo em quatro anos de governo. Não estou prometendo muito, estou prometendo apenas o razoável. O Brasil é um país de economia capitalista e precisa ter dinheiro circulando nesse mercado. Transformaremos o crescimento da economia e a geração de empregos numa obsessão a ser perseguida pelo nosso governo.

Ranzolin – O senador José Alencar, candidato a vice-presidente na sua chapa, afirmou que o governo FH não devia ter fechado a Sudene e a Sudam, onde é sabido que a corrupção imperou ao longo desses anos. Ele garantiu que, no governo Lula, essas instituições serão reativadas. O senhor confirma isso? E que papel José Alencar terá como vice-presidente?
Lula – Se houvesse uma denúncia de corrupção na Rádio Gaúcha, você acha que deveria prender o corrupto ou fechar a Rádio Gaúcha?

Ranzolin – Evidentemente nós iamos prender o corrupto.
Lula – Com a Sudene e a Sudam é mesma coisa. Essas instituições de aporte para o desenvolvimento do norte e nordeste brasileiro tiveram um papel importante. Sessenta por cento do ICMS arrecadado no Nordeste são de projetos advindos e produzidos pela Sudene. Se houve um processo de corrupção, é preciso afastar a diretoria, investigar e mandar prender e deixar a instituição funcionar e cumprir sua função. Nós vamos reabrir a Sudene e criar fontes de agências de fomento para as regiões mais pobres do país. Quanto ao José Alencar, possivelmente tenha sido a melhor coisa que aconteceu na minha campanha. É um homem extraordinário, uma figura humana fantástica, um empresário bem-sucedido, que tem uma visão de desenvolvimento nacional, que acredita na indústria e na agricultura. Ainda não definimos sua tarefa, mas ela será importante.

Rosane – A metade sul do Rio Grande do Sul seria incluída nessa lista de regiões empobrecidas que poderiam ter um incentivo especial?
Ana Amélia – O que o Rio Grande do Sul pode esperar de um eventual governo Lula?
Lula – O que o Rio Grande do Sul pode esperar é que nós vamos, dentro do projeto de desenvolvimento nacional que criamos, levar em conta os projetos regionais. O Tarso (Tarso Genro, candidato do PT a governador) está sendo candidato com um projeto de desenvolvimento do Estado que terá ajuda do governo federal. Sou fanático pelo desenvolvimento regional, levando em conta as particularidades e o potencial de cada região. Vamos tentar alavancar a parte mais empobrecida sem esquecer aquela que hoje é responsável por 70% do que é produzido no país.

Rosane – Em poucas palavras, qual sua opinião sobre dois temas polêmicos: a legalização do aborto e a descriminação das drogas?
Lula – Isso não pode ser dito em poucas palavras, teria de ser uma tese. O PT tem uma posição sobre a questão do aborto. Eu, como pai, como marido, sou contra o aborto. Mas o Estado tem de saber que há meninas de 14 ou 15 anos perfurando o útero com agulhas de tricô para tentar abortar. O que defendemos, desde 1982, é que o Estado cumpra aquilo que está no Código Penal e dê assistência, transformando o problema numa questão de saúde pública. Sobre as drogas, eu faço uma diferenciação entre o traficante e o usuário. O usuário é um dependente, precisa de tratamento, e o Estado precisa se preparar para recuperar essas pessoas. O traficante merece cadeia.

Ana Amélia – As invasões de terra levaram muita apreensão ao campo no Rio Grande do Sul, e os produtores rurais têm muitos questionamentos a respeito disso. O senhor declarou, num debate com os candidatos promovido pelo Canal Rural em parceria com a CNA, que é o único dos candidatos com reais condições de fazer uma reforma agrária pacífica. O que o leva a afirmar isso e como o senhor vai tratar as invasões de terras?
Lula – Vou repetir o que falei naquele debate: eu sou a única possibilidade de o Brasil ter uma reforma agrária pacífica, sem nenhuma ocupação de terras e sem violência. Digo isso porque o Brasil tem terra disponível ociosa, quase 90 milhões de hectares. Eu dialogo com todos os setores da sociedade organizada, passando pelo MST, a Contag, a CUT, a Força Sindical, e essas pessoas serão convidadas a sentar numa mesa de negociação, mapear corretamente o Brasil e ver onde há terra disponível e quantas pessoas precisam ser assentadas. O movimento precisa saber é que vai ter um governo no qual não faltará disposição para negociar até as últimas conseqüências, não apenas a reforma agrária, mas a política agrícola.

Ranzolin – Qual será o envolvimento do governo federal com a segurança dos brasileiros com Lula na Presidência. O Exército será envolvido em ações contra o crime organizado e o narcotráfico? Que controle terá o uso de armas de fogo?
Lula – Vamos fazer um acordo com os 27 governadores, tentaremos criar um sistema único de polícia e modernizá-la para que as informações circulem o mais rápido possível entre delegacias, cidades e Estados. Ao mesmo tempo, teremos uma política de contenção para que meninos e meninas não entrem na criminalidade em função das condições sociais, da falta de oportunidade. É por isso que vamos investir na geração do primeiro emprego, em cultura, educação, lazer e esporte. É pela fronteira que vai do Uruguai à Guiana Francesa, a chamada fronteira seca, e mais de 8,5 mil quilômetros de costa marítima totalmente desprovidos de fiscalização, que entra o contrabando de armas, o tráfico de drogas. Precisamos discutir com as Forças Armadas a possibilidade de ajudarem a tomar conta da nossa fronteira para diminuir ou quem sabe coibir definitivamente o contrabando de armas e o tráfico.

Ana Amélia – Com a Constituição de 1988, o Congresso retomou grandes prerrogativas e equilibrou o exercício do poder. O senhor precisará muito dele para governar, mas seu partido não terá maioria para lhe dar essa tranqüilidade. Como é que o senhor vai negociar com o Congresso, um lugar onde, certa vez, o senhor disse que havia uns 300 picaretas?
Lula – Você está sendo pessimista. Estamos a seis dias das eleições e acreditamos que é possível ter maioria no Congresso.

Ana Amélia – Mesmo com maioria, FH não conseguiu concluir o processo de reformas...
Lula – Não precisa ter uma maioria apenas partidária. É preciso pactuar com o Congresso os acordos das votações mais importantes. Vamos preparar as principais reformas no primeiro semestre com a sociedade brasileira e, no segundo semestre, mandaremos essas propostas ao Congresso. Estamos constituindo grupos de trabalho para discutir as questões importantes do país. Tudo isso será debatido com os setores organizados da sociedade para que, quando mandarmos essas propostas ao Congresso, não sejam uma proposta do presidente ou do Executivo, mas sim da sociedade para o Congresso Nacional.

Ana Amélia – Então as reformas num governo eventual de Lula começam no segundo semestre de 2003?
Lula – É preciso votar as reformas. Se for enviado para o Congresso um projeto de forma atabalhoada, ele será um projeto natimorto.

Rosane – O senhor já admitiu a possibilidade de renegociar as dívidas dos Estados. Aqui, o candidato Tarso Genro cita a renegociação como essencial para o Estado. O senhor mantém a disposição de renegociar as dívidas?
Lula – Vamos sentar com cada governador e analisar de forma muito meticulosa a situação de cada Estado para saber que decisão tomar. O papel da União não é sufocar os Estados, mas dar condições para que possam gerir as políticas públicas de sua responsabilidade. Sou um homem criado numa mesa de negociação e acredito nisso cegamente.


FH desconfia de mudança de Lula
Presidente disse em discurso em Minas que “mudar é ter outra concepção na cabeça”

Num discurso inflamado, o presidente Fernando Henrique Cardoso fez uma defesa irrestrita da candidatura de José Serra (PSDB) à Presidência e lançou uma bateria de ataques contra os adversários.

FH condenou o que seria a mudança apenas aparente do candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder nas pesquisas de intenção de voto, e mandou um recado aos brasileiros para que votem nos candidatos tucanos, o que seria uma forma de garantir os “avanços” obtidos nos seus oito anos de mandato.

– Infelizmente, estamos cheios de ptolomaicos na política, de pessoas que não entenderam o que mudou no Brasil, o que mudou no mundo, e propõem como futuro o passado – declarou FH, referindo-se aos seguidores de Ptolomeu, astrônomo grego que acreditava que o Sol girava em torno da Terra.

– “Eu mudei”. Mas mudou para que direção? – questionou FH, arrancando uma salva de palmas das centenas de pessoas que lotavam o auditório de um hotel em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte.

– Mudar é outra coisa. É ter outra concepção na cabeça. Não é ser mais sorridente, não é trajar melhor ou pior. Não é simplesmente ter uma maneira mais agradável – acrescentou o presidente, numa clara alusão a Lula, que tem adotado posturas mais moderadas na sua quarta campanha.

FH elencou as qualidades de Serra, que aparece em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto. O presidente lembrou que se elegeu duas vezes, vencendo em São Paulo e em Minas Gerais, o primeiro e o segundo maiores colégios eleitorais do país:
– Eu não quero que o Brasil recue. Eu quero que a partir de Minas mandemos um recado firme: não vamos perder os avanços obtidos, vamos continuar avançando, com o Serra, com a Rita, com o Aécio, com o Eduardo Azeredo.

Em seu discurso, Serra voltou a atacar Lula, afirmando que governar o país não é o mesmo que governar uma ONG:
– Presidência da República não é presidência de ONG. Governar o Brasil não é governar ONG.
A referência se deve ao fato de Lula presidir o Instituto da Cidadania, ONG ligada ao PT, e vem na esteira de um dos argumentos mais usados por Serra nos último dias, de que Lula relegaria a tarefa de tomar decisões aos assessores:
– Em todos os cargos que tive na minha vida, desde a época de estudo até agora, sempre assumi responsabilidades. É muito importante ouvir, mas é importante tomar decisões e enfrentar interesses ou conflitos.

O candidato foi o último a discursar antes de Fernando Henrique, a quem fez vários elogios, se dizendo estimulado e orgulhoso com o apoio que recebe do presidente.

– Todo o meu trabalho na saúde, todos os conflitos que nós enfrentamos (...) eu só pude fazer graças à total e irrestrita cobertura do presidente Fernando Henrique Cardoso – afirmou.


Presidente libera crédito para governo de Minas
Num gesto de reconciliação com o governador de Minas Gerais, Itamar Franco (sem partido), o presidente Fernando Henrique Cardoso assinou ontem decreto que cria um grupo de trabalho para examinar créditos de R$ 2,6 bilhões reclamados por Itamar junto à União.

– O ato que acabei de assinar, senhor governador, é um ato que busca um mecanismo que permita que a gestão de Vossa Excelência seja coroada como deve ser, com a compreensão do governo federal – afirmou.

Os créditos pendentes se referem a convênios antigos para recuperação de rodovias federais, mas que foram honrados pelo governo estadual. A expectativa do secretário da Fazenda, Trópia Reis, é que sejam liberados nos próximos 20 dias entre R$ 800 milhões e R$ 1,2 bilhão. Parte dos créditos será ressarcida em títulos públicos.

FH anunciou ainda que irá liberar verbas para a finalização de uma ponte em Porto Alencastro, na fronteira com Mato Grosso do Sul. O valor ainda não foi anunciado. O presidente prometeu adicionalmente recursos para a construção de aeroportos na estância turística de Poços de Caldas e em Goianá.

Com o ressarcimento dos créditos, o governo de Minas poderá pagar o 13º salário do funcionalismo, de R$ 480 milhões.

Itamar não chegou a agradecer ao presidente. Ele discursou antes de FH e restringiu-se a comentar o papel de Minas na democracia:
– Somos um povo a quem nunca faltou o espírito da conciliação e da concórdia.

FH e Itamar estiveram rompidos durante boa parte dos dois mandatos do tucano. Em julho, na comemoração dos oito anos do real, eles se reconciliaram em um evento no Rio.


Apelo emotivo no horário eleitoral
Candidatos ao governo do Estado deixam os ataques de lado e tentam cativar os eleitores

Os candidatos ao governo do Estado aproveitaram o espaço do horário eleitoral gratuito de ontem para tentar tocar o eleitor gaúcho. No penúltimo dia de programa, os ataques partidários deram lugar ao apelo emotivo, com direito a homenagens e comoção nos pronunciamentos.

O candidato do PT, Tarso Genro, destacou a dedicação de quem que faz campanha espontaneamente. Após exibir depoimentos de quatro militantes, Tarso reiterou a importância de gaúchos que saem às ruas carregando bandeiras e que acreditam no que defendem. Falou ainda de manifestações pequenas que também o comovem, como “o brilho nos olhos do senhor Edgar, de Ivoti”.

– Esta é a força de que precisamos para vencer – completou.

O apelo à emoção também fez parte do espaço de Germano Rigotto (PMDB). Depois de falar do crescimento nas pesquisas e do desempenho do candidato no debate da TVE, no domingo, o espaço da coligação fez de uma homenagem às mulheres o grande momento do programa. Imagens de mães, filhas, mulheres e avós foram usadas para ilustrar lugar especial que a mulher terá no governo de Rigotto se for eleito.

Também tendo a mulher como tema principal, o PPB levou ao ar o depoiment o de Maria Aparecida Moreira, uma empregada doméstica que, grávida do sétimo filho, sustenta sozinha a família.
– Maria é o exemplo da mulher que abre mão de seus sonhos para criar os filhos – dizia.

O programa deu espaço a um pronunciamento da candidata a vice, Denise Kempf, que da casa da doméstica declarou querer levar o sentimento feminino para o governo.

A estratégia do PPS para cativar o eleitor foi mostrar o apoio nas ruas e a receptividade dos eleitores à candidatura de Antônio Britto nas cidades por onde passa. O programa destacou frases de solidariedade direcionadas ao candidato como “sou do PT, mas acredito no senhor” ou “rumo à vitória, governador!”. O programa mostrou ainda passagens de discursos de Antônio Britto em comícios na Região Metropolitana.


Justiça Eleitoral libera formulários para justificativa do voto
Os eleitores que estiverem fora de seus domicílios eleitorais no domingo já podem retirar os formulários para justificar o voto. Desde ontem, a Justiça Eleitoral está fornecendo o documento nos cartórios eleitorais.

Neste ano, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) coloca à disposição dos gaúchos 660 postos específicos para a justificativa de voto no Estado, além das 23.672 seções eleitorais. Só na Capital, serão 127 postos locais para realizar o serviço.

Segundo o coordenador de eleições do TRE, Paulo Simões, os postos de justificativa foram criados para desafogar as filas de 23,6 mil seções eleitorais do Estado e facilitar o acesso dos gaúchos ao serviço. No entanto, todas as urnas eletrônicas em funcionamento no domingo também estarão aptas a receber as justificativas.

– O eleitor só tem de escolher o local mais fácil. Desde que ele esteja fora do seu domicílio eleitoral e tenha o número do título, poderá justificar o voto em qualquer parte do país – explica Simões.
O votante que não conseguir ou estiver impossibilitado de justificar o voto no domingo poderá fazê-lo no prazo de 60 dias, em seu domicílio eleitoral. No Rio Grande do Sul, todos os municípios terão pelo menos uma urna disponível exclusivamente para para a justificativa.

Os eleitores que estiverem no Exterior terão 30 dias para justificar, a partir de seu retorno ao Brasil, munidos de bilhete da passagem, passaporte ou comprovante de que estavam fora do país.


Comício do PT empolga Largo da Epatur
Discursos ressaltaram possibilidade de Lula vencer a eleição à Presidência no primeiro turno e atacaram o candidato do PMDB ao governo do Estado, Germano Rigotto

Uma profissão de fé na capacidade do PT de mobilizar trabalhadores e empresários por mudanças e um alerta aos militantes contra a soberba na fase final da campanha foram os eixos do discurso do candidato presidencial do partido, Luiz Inácio Lula da Silva, no último comício da Frente Popular no Estado, na noite de ontem, no Largo da Epatur, em Porto Alegre.

Lula chegou ao local às 21h30min, escoltado por quatro veículos da Polícia Federal. Desembarcou sob aplausos e se dirigiu a uma sala improvisada no palanque.

O candidato do PT ao governo do Estado, Tarso Genro, pediu que cada um dos milhares de presentes visitasse pelo menos 200 eleitores para convencê-los a votar no PT. Tarso atacou os adversários Antônio Britto (PPS) e Germano Rigotto (PMDB), dizendo que ambos foram do mesmo governo e chamavam a oposição de “micuim”.

Em discurso iniciado às 23h17min, depois de Tarso, Lula advertiu os presentes para não trabalhar com a idéia de vitória no primeiro turno:
– Se temos 50% dos votos, temos de trabalhar para ter 60%.

O candidato leu uma carta recebida de um estudante de Lajeado, que lhe pede para começar “fazendo o que for necessário, depois o possível e de repente fazer o impossível”. A carta continha um desenho de Lula com a faixa presidencial.

No final do comício, Lula subiu ao palco onde estava a dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano, contratada para animar as manifestações. Por volta de 0h30min, Lula pediu que eles cantassem Meu País, seu tema de campanha:
– Manda quem pode, obedece quem precisa – brincou Zezé di Camargo.

Família unida
A paixão pelo PT corre nas veias da família Dias. Pai, mãe e filhos foram dos primeiros a marcar espaço em frente ao palanque de Lula e Tarso. No comando do pai, João Paulo, Júlia Helena, 13 anos, e Daniel, 12, tinham bandeiras e cantavam jingles.

– Eles cresceram nos comícios – disse Dias.

Para o enfermeiro de 50 anos, o candidato do PT tem um pouco de Felipão, técnico pentacampeão:
– Felipão nos mostrou como o sentimento de família leva a resultados.

Vizinhança unida
Eles viajaram sete horas para comemorar com Lula a perspectiva de vitória ainda no primeiro turno das eleições. Empunhando bandeiras da Frente Popular, a caravana de Sananduva, no norte do Estado, era só disposição.

– Nós passamos a viagem cantando e fazendo trovas – contou Elvio Ranzolin.

Os 34 militantes pagaram cerca de R$ 20 cada para acompanhar Lula na Capital.

– Nós fizemos almoços e jantares para arrecadar dinheiro. Filiados (ao PT) e simpatizantes se uniram e parte da cidade está aqui – disse Ranzolin.

Por amor a Lula
Ver Lula de perto era um desafio para Arlete Santos, 36 anos. Com a bandeira do Brasil no peito e a do PT nas mãos, a militante contava as horas para ver o ídolo político.

– No último comício, não consegui esperar o Lula. Desta vez, não vou embora sem vê-lo – disse.
Enquanto crescia o movimento no palco onde Zezé di Camargo e Luciano fariam seu espetáculo, Arlete se preocupava em fazer campanha pelo PT.

– Não precisamos de show. Viemos aqui para fazer política – defendeu.

Por amor aos artistas
Nada de Tarso ou de Lula. Para Cleusa da Silva, 23 anos, o comício tinha outra dupla como atração: os sertanejos Zezé di Camargo e Luciano. Enquanto os olhares se voltavam ao palanque onde Lula falaria, a porto-alegrense não tirava os olhos do palco onde os ídolos cantariam seus hits:

– Eu sou louca por eles. Já fiquei 41 horas no Gigantinho esperando para poder vê-los.
O espetáculo seria no final do comício.

– Enquanto eles não chegam, ouço o que o Lula tem a oferecer. Mas já vou avisando que não tem show nenhum que compre meu voto – comentou.


“Nós somos profissionais”
Entrevista: Luciano, parceiro de Zezé di Camargo

A dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano esteve ontem em Porto Alegre, dividindo o palanque e as atenções dos petistas com os candidatos a governador, Tarso Genro, e à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva. Em entrevista à Agência RBS, Luciano disse que participam dos comícios por convicção. Confira trechos da conversa:

Agência RBS – Vocês apóiam Lula por convicção ou por dinheiro?
Luciano – Acreditamos nele. Fizemos outros shows políticos sem ter amizade com os candidatos e, nesses casos, nos apresentamos apenas como profissionais. Meu único voto para presidente foi para ele, em 1989. De lá para cá, só justifiquei.

Agência RBS – Mas vocês fazem showmícios para outros candidatos.
Luciano – Fazemos. Somos profissionais. Ganhamos para cantar.

Agência RBS – Não é perigoso misturar política e música?
Luciano – Nem um pouco. Quando não apoiamos o candidato, nos limitamos a cantar nossas músicas. No caso do Lula, o chamamos para o palco e cantamos juntos.


Pleno acolhe intervenção em Bagé
O Pleno do Tribunal de Justiça do Estado (TJE) acolheu ontem à tarde um novo pedido de intervenção na prefeitura de Bagé, na região da Campanha. A decisão é atribuída ao não-pagamento de salário de professores e funcionários de escolas municipais. A dívida é referente aos meses de outubro e novembro de 1996. A ação foi impetrada pelo Sindicato dos Professores e Funcionários de Estabelecimentos de Ensino do município. Os valores deveriam ter sido pagos em 2001.

Há duas semanas, o Pleno já havia determinado a intervenção no município devido ao não-pagamento de precatórios referentes a dívidas legadas de administrações anteriores. A nova decisão deve ser encaminhada pelo tribunal ao governo estadual.


Bernardi fala a empresários em Caxias
A retomada do desenvolvimento no Estado passa pela eleição de um governador de “pulso firme”, que administre com “criatividade, ousadia e capacidade de gerenciamento”.

A receita é do candidato do PPB ao Palácio Piratini, Celso Bernardi, e foi repassada ontem durante almoço com cerca de 120 empresários na Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul.

Ao lado de sua vice, a caxiense Denise Kempf, o candidato do PPB apresentou os principais pontos do seu plano de governo e respondeu a perguntas dos empresários, a maioria voltada a questões ligadas à segurança pública, matriz tributária e investimentos em infra-estrutura de transportes, incluindo o futuro da Rota do Sol. Ele garantiu que a rodovia será concluída ainda em 2003.

O próximo governo, afirmou Bernardi, terá de baixar o déficit público, hoje superior a R$ 4 bilhões:
– É necessário diminuir o tamanho do Estado, que gasta 63% do orçamento com pessoal, 18% com a máquina e 13,6% com os serviços da dívida. Vamos reduzir de 21 para 14 o número de secretarias, o que gerará uma economia de R$ 500 milhões.

Para aumentar a receita tributária, Bernardi aposta na “equalização” do ICMS e na adoção do Refis estadual e do Simples:
– Vamos observar os índices aplicados em outros Estados e colocar o ICMS dos produtos gaúchos sempre abaixo. Quanto aos grandes devedores, em quatro anos pretendemos cobrar deles somente 10%. O atual governo não conseguiu cobrar nem 1% por ano.

Ele defendeu também a implantação do Banco de Projetos e do Plano Diretor de Obras Públicas, o qual prioriza a Rota do Sol, o Banco da Terra e a autonomia e valorização das polícias.

Considerando o emprego conseqüência de uma política de incentivo a novos investimentos, Bernardi declarou que dará benefícios fiscais às empresas que desejarem se instalar no Estado, continuará com o projeto Primeiro Emprego, criará o programa Primeiro Negócio e investirá na na agricultura.


Jobim promete rapidez na apuração
O sistema de informática do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tem condições de apurar 90% dos votos para a Presidência da República até as 21h de domingo e divulgar o resultado final das eleições estaduais até a meia-noite do mesmo dia.

Foi o que anunciou ontem em Salvador o presidente do TSE, ministro Nelson Jobim, durante palestra para empresários na Associação Comercial da Bahia. Ele voltou a defender o sistema de votação eletrônica do Brasil, garantindo que acabou com as fraudes que ocorriam em eleições passadas, quando se utilizavam cédulas eleitorais. E afirmou que o TSE baixou uma norma recentemente garantindo a manifestação individual do eleitor no dia da votação, mas sem que ele possa fazer a chamada boca-de-urna, considerada um “aliciamento do eleitor mediante coerção de sua vontade”.

Quem for flagrado fazendo boca-de-urna, segundo a legislação, pode ser preso e condenado a seis meses a um ano de prisão. Se ficar comprovado que o candidato foi o responsável pela coerção, ele pode ser cassado, caso já tenha mandato ou impedido de tomar posse, na hipótese de ser eleito.


OAB e CNBB intensificam campanha
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) intensificam na fase final do período eleitoral uma campanha cujo objetivo é evitar a compra de votos. Um ato público na Praça da Sé, no centro da capital paulista, reuniu ontem cerca de 200 pessoas e chamou a atenção da população para a Lei nº 9.840, que permite a cassação do registro da candidatura ou do mandato daqueles que comprarem votos ou utilizarem a máquina administrativa. A campanha tem o apoio do movimento Transparência Brasil, da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e da Associação Brasileira das Organizações Não-governamentais (Abong). São mais de 120 comitês 9.840 em todo o país, sendo cerca de 30 em São Paulo.


Rigotto promove comício em Rio Grande
Carreata acompanhou candidato do PMDB do pórtico de entrada do município até largo que abrigou a manifestação

Centenas de pessoas saíram ontem à noite às ruas de Rio Grande, no sul do Estado, para receber Germano Rigotto, candidato do PMDB a governador.

A euforia, segundo o candidato, é resultado das pesquisas mais recentes, que o colocam na disputa por uma vaga no segundo turno da eleição.

Do pórtico de entrada do município, às 19h, onde foi recebido pelo prefeito Fábio Branco (PMDB) e candidatos da coligação, uma carreata levou Rigotto ao Largo Dr. Pio, no Centro, onde participou de um comício. Também estiveram presentes militantes de outros municípios da região, como Pelotas, Santa Vitória do Palmar e São José do Norte.

Afirmando que pretende visitar o maior número possível de localidades ainda esta semana, o deputado do PMDB acredita que o crescimento de sua candidatura decorre do fato de ser, segundo ele, uma alternativa à polarização que se impôs à disputa política no Estado.
– Já viajei 80 mil quilômetros nos últimos seis meses, analisando as diferenças das regiões. Queremos um projeto que valorize suas potencialidades – disse.

Para Rigotto, não é mais possível que o Estado cresça de forma desordenada.

– O desenvolvimento econômico da Zona Sul passa por investimentos no porto gaúcho, que é um grande gerador de empregos – avaliou.

Sobre uma possível aglutinação de forças em torno de sua candidatura no segundo turno, Rigotto afirmou que prefere aguardar o resultado da eleição no domingo antes de tecer comentários ou montar uma nova estratégia. Depois do comício, seguiu para Pelotas, onde pernoitou. Hoje, o candidato participa da agenda do candidato à Presidência José Serra (PSDB) no Estado. No final da tarde, segue para Santa Maria.

Ontem pela manhã, o candidato esteve reunido com empresários do setor lojista em Porto Alegre, quando reafirmou sua intenção de ampliar a base produtiva do Estado e reduzir a informalidade como uma das tantas medidas necessárias para obter sucesso com seu plano de desenvolvimento regional.


Portal vai favorecer a transição
Terminou à meia-noite de ontem o prazo para os 450 técnicos dos ministérios e empresas públicas ligadas ao governo federal encaminharem todos os dados ao Palácio do Planalto para que seja montado o Portal da Transição. Esse portal será uma espécie de “mapa da mina” para o novo presidente e a equipe de 50 assessores diretos que irão trabalhar no escritório montado no Centro Cultural do Banco do Brasil.

No portal constará tudo o que o presidente Fernando Henrique e sua equipe fizeram, estão fazendo ou pensaram um dia em fazer e as razões pelas quais não foi possível colocar em funcionamento determinados projetos.

Ele está dividido em pelo menos quatro partes. A primeira, um glossário, onde estarão detalhados todo o linguajar usado pelo governo, as siglas de órgãos públicos e as terminologias.

A segunda, que está sendo considerada a mais importante, é a chamada Agenda 100. Nela, constarão todas as medidas que precisam ser tomadas nos primeiros cem dias de governo, para que não haja interrupção na burocracia. Entre as medidas, por exemplo, estão a informação da necessidade de indicação do governador e governador alterno – os representantes do Brasil junto ao Banco Mundial. Es ses nomes precisam ser indicados por meio de um decreto presidencial para evitar que o governo perca prazos e votações de projetos no banco.

A Agenda 100 fala ainda na necessidade de preparação da LDO, cujo prazo de elaboração e encaminhamento ao Congresso se encerra em abril. Ainda constam dela, vencimentos de contratos nacionais e internacionais, assim como a nomeação de outros tipos de representantes junto a organismos internacionais.

Um terceiro item do portal será o relatório dos oito anos de governo. O documento – um compacto da mensagem enviada ao Congresso por ocasião dos sete anos de governo, acrescido das realizações de 2002 – conterá um relato dos principais feitos neste período, sem uma discriminação lógica de ministério, a partir do PPA.

O quarto e último item do portal contém dados sobre os projetos que não foram implementados ou que foram interrompidos. Neste caso, haverá ainda uma explicação adicional de os motivos pelos quais os projetos não puderam ir adiante, seja por falta de recursos, dificuldade de entendimento com os Estados, por questões ambientais ou coisas afins.

A transição nos moldes em que está sendo feita é uma experiência inédita. O esforço está sendo comandado pelo ministro-chefe da Casa Civil, Pedro Parente, que coordenou o levantamento sobre todas as informações importantes do governo, que serão condensados em um programa de computador.


Candidatos a vice-governador debatem na TVCOM
Oito candidatos a vice-governador do Estado participaram a partir das 21h33min de ontem do debate promovido pela TVCOM. Gerson Rolim (PV), Antônio Hohlfeldt (PSDB), Denise Kempf (PPB), Miguel Rossetto (PT), Germano Bonow (PFL), Luiz Fernando Dallé (PL), Aquilino Dalla Santa (PSC) e Luiz Carlos Mattozo (PSB) compareceram aos estúdios da emissora, na Capital. Foram convidados a participar do encontro todos os partidos com representação no Congresso.
– Conseguimos quebrar a perspectiva maniqueísta de que ou éramos a favor de uma coisa ou a favor de outra – comemorou Hohlfeldt, que concorre na chapa de Germano Rigotto (PMDB).

Segundo as mais recentes pesquisas de intenção de voto, Rigotto está empatado com Antônio Britto (PPS) na disputa pelo cargo majoritário, revertendo uma polarização entre o ex-governador e o candidato do PT, Tarso Genro, apontada pelos levantamentos desde o início da campanha. Por sorteio, Hohlfeldt foi o segundo a ter direito à palavra no debate, no primeiro bloco do programa, quando foram feitas as apresentações. A abertura das intervenções coube ao vice na chapa do PV, Gerson Rolim.

– Se você quiser pegar um papel e fazer comparações, nós vamos mostrar o que é crescimento com desenvolvimento sustentável – prometeu.


Movimento do PDT frustra campanha de Ciro
A possibilidade de o presidente do PDT, Leonel Brizola, apoiar o candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, já no primeiro turno, frustrou a campanha de Ciro Gomes (PPS). Ontem, o candidato da Frente Trabalhista à Presidência passou a maior parte do dia na produtora de seus programas do horário eleitoral, em São Paulo (na foto, com a equipe que produziu os programas). Apesar de oficialmente dizer que não vai renunciar, seus assessores já não escondem o desânimo.
Assessores de Ciro não admitem publicamente, mas já consideram que Lula pode vencer no primeiro turno e que a declaração de Brizola deixou o candidato desanimado. No sábado, Brizola havia dito que a aliança reflete sobre a renúncia de Ciro.

– Esse tipo de declaração poderia ter sido feito por qualquer pessoa da Frente Trabalhista, menos por Brizola – disse um assessor do candidato.


Lula tem 43% no Vox Populi
O candidato petista estaria a dois pontos de conquistar a vitória ainda no primeiro turno

A cinco dias da eleição, a mais recente pesquisa do Vox Populi indica o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a dois pontos percentuais da vitória no primeiro turno.

Lula aparece com 43% das intenções dos votos, contra a soma de 45 pontos percentuais dos demais candidatos.

A pesquisa aponta Lula e Garotinho como os únicos com tendência de crescimento. Com relação à amostra anterior, realizada nos dias 23 e 24 de setembro pelo instituto, Lula subiu dois pontos, e Garotinho cresceu de 14 para 15%, indicando uma disputa com Serra para eventual vaga no segundo turno. O candidato do PSDB baixou de 19% para 18% e se coloca três pontos percentuais acima de Garotinho.

Na espontânea, Lula obtém os mesmos 40 pontos dos outros três candidatos. Serra é o terceiro, com 16%, Garotinho, com 13%, e Ciro, com 11%. O Vox Populi ouviu 2.469 pessoas entre 28 e 29 de setembro, em 154 municípios. A margem de erro é de dois pontos percentuais.


Sensus aponta segundo turno
Com crescimento de 2,9 pontos percentuais em relação à última pesquisa do instituto Sensus, feita entre os dias 5 e 6 de setembro, o petista Luiz Inácio Lula da Silva aparece agora com 40,6%, mas estaria a seis pontos para empatar com a soma dos outros três candidatos à Presidência.

Apenas Ciro Gomes (PPS) segue descendo na amostragem de intenções de voto. José Serra (PSDB) cresce ainda à frente de Anthony Garotinho (PSB). O coordenador da pesquisa, Ricardo Guedes, calcula em 10% a chance de a eleição ser decidida no primeiro turno.

Duas mil pessoas foram ouvidas entre os dias 27 e 29. A margem de erro é de dois pontos percentuais para a faixa de 10 a 30% das intenções de voto e de três pontos o limite entre 30 e 70%.


Artigos

Câmbio, eleição e inflação
Marcelo S. Portugal

Os livros de macroeconomia nos ensinam que a determinação da taxa de câmbio sofre dois tipos de influência: dos fundamentos econômicos, do país e do mundo, e das expectativas em relação ao futuro. Acredito que, ao contrário do que ocorreu em 2001, quando a desvalorização do real era comandada pelos fundamentos (o déficit em transações correntes e a redução dos investimentos diretos estrangeiros), em 2002, são as expectativas sobre a política econômica no próximo ano que estão no centro da explicação da flutuação cambial.

Os dados objetivos da economia brasileira em 2002 são, em geral, positivos. A arrecadação federal de impostos, que é importante para a solvência do setor público, já cresceu quase 10% em termos reais. A balança comercial, que é importante para a geração de dólares, apresenta superávits cada vez maiores e, em agosto, pela primeira vez em todo o governo FH, a conta corrente do balanço de pagamentos apresentou um superávit mensal. A despeito desta boa trajetória dos fundamentos econômicos, a taxa de câmbio saiu de um patamar estável de cerca de 2,40 reais/dólar, no final do primeiro trimestre, para quase 4 reais/dólar.

O que precisamos é reverter as expectativas. Neste aspecto reside
a grande incógnita sobre o futuro

São as expectativas que geraram esta maxidesvalorização do real. Existe uma tentativa de proteção, interna e externa, quanto a possíveis ações de política econômica do próximo governo.

Neste quadro há pouco que o Banco Central possa fazer. Dificilmente uma alta moderada de juros ou a venda de reservas conseguiriam conter a escalada do câmbio. O que precisamos é reverter as expectativas. Neste aspecto reside a grande incógnita sobre o futuro. Se o novo governo conseguir apresentar à sociedade brasileira um plano econômico consistente e sem “pirotecnia” econômica, que mantenha o controle da inflação dentro de certos limites e respeite os contratos e regras estabelecidos, a taxa de câmbio deverá inevitavelmente voltar para o seu nível de equilíbrio com os fundamentos. É importante destacar que o plano a ser apresentado tem de ser crível, isto é, tem de ser compatível com as ações concretas que o novo governo vai tomar na gestão da economia. Por outro lado, caso o novo governo opte pela “pirotecnia” econômica, tão comum no passado brasileiro, ou não tome medidas concretas que emprestem credibilidade ao seu plano econômico, vamos sentir saudade da taxa de câmbio de 3 reais/dólar.

Para qualquer brasileiro que vá ao Exterior, a comparação dos preços lá fora e aqui no Brasil deixa claro que a “taxa de câmbio real” está demasiadamente desvalorizada, implicando que os preços dos produtos estrangeiros estão “muito caros” em reais e que os preço dos produtos brasileiros estão “muito baratos” em dólar. A volta a uma taxa de câmbio real de equilíbrio compatível com os fundamentos econômicos pode ser feita de duas formas: através de valorização do câmbio nominal ou de um aumento nos preços dos produtos aqui no Brasil através da inflação. Em ambos os casos esta sensação de que os preços lá fora estão mais altos que aqui no Brasil pode ser eliminada. Na prática, caso o novo governo consiga reverter as expectativas desfavoráveis, o ajuste vai vir pela valorização do câmbio nominal. Caso contrário, teremos de volta a inflação de dois dígitos em 2003.


Colunistas

ANA AMÉLIA LEMOS

Calendário das reformas
O candidato que aparece nas pesquisas como franco favorito para vencer as eleições presidenciais, Luiz Inácio Lula da Silva, apresentou ontem na entrevista para Rádio Gaúcha/Zero Hora o calendário das reformas que deverão ser encaminhadas ao Congresso Nacional no segundo semestre de 2003. É evidente que toda eleição é sempre uma caixinha de surpresas, mesmo que da urna aberta saia exatamente aquilo que os institutos de pesquisas estejam constatando. Embora já tenha definido quando fará as mudanças, o candidato da aliança PT/PL mantém suspense sobre seu conteúdo.

Neste momento, como admitiu o candidato na entrevista de ontem, grupos de trabalho de seu partido estão trabalhando em áreas essenciais ao desenvolvimento econômico e social do país.
O próprio Luiz Inácio Lula da Silva tratou de elencar essas áreas: política industrial, mercado de capitais, sistema financeiro, política agrícola, reforma agrária.

Certamente não referiu as questões habitacional e previdenciária por puro esquecimento, porque esses dois setores irão exigir do novo governo mais do que apenas boa vontade para resolver dois déficits crônicos (habitacional e desequilíbrio entre receita e despesa). É um bom sinal que o candidato tenha em mente deslanchar o processo de reformas (ou simples mudanças) no primeiro ano do mandato. Mesmo que ontem tenha revelado otimismo na obtenção de maioria no Congresso Nacional, o que será fundamental para assegurar a governabilidade, é sempre bom lembrar que Fernando Henrique Cardoso, com maioria folgada, não conseguiu concluir a agenda de modernização do país.

O pragmatismo de Luiz Inácio Lula da Silva continua surpreendendo. Depois de responsabilizar o governo pela disparada do dólar, ontem admitiu que FH tem razão quando diz que não há nenhum motivo para esse ataque especulativo. O “Lula paz e amor” mostrou ontem que, para ganhar, vale tudo.


JOSÉ BARRIONUEVO

A um passo do Planalto
O comício de Lula ontem à noite em Porto Alegre foi histórico, maior do que o próprio PT no Estado. Vale lembrar que no Rio Grande do Sul o partido tem sua principal base eleitoral, um Estado que é visto hoje, depois do Fórum Social, como pólo e referência da esquerda internacional.

Há um sentimento que se avoluma e dá ao candidato uma densidade eleitoral que até quem não vai votar nele torce para que a eleição se esgote no primeiro turno, dando mais tempo para que, confirmado na Presidência, construa um governo de entendimento nacional já a partir da próxima segunda-feira.

Tarso tira proveito do prestígio de Lula
O candidato do PT a governador decidiu assumir um discurso terno, copiando o estilo Lulinha paz e amor, num claro esforço de superar a imagem de intolerância do partido no Estado, conceito que encontra sustentação em movimentos totalitários visíveis ao longo do governo Olívio. É certo que o prestígio e os altos índices de popularidade de Lula ajudam Tarso. A recíproca pode não ser verdadeira. Se o ex-prefeito lincar menos seu nome ao de Lula, talvez o RS ofereça os votos necessários para que a sucessão presidencial seja decidida no domingo.

Há uma questão que vem sendo discutida por analistas políticos: a vitória de Tarso reforçaria a linha revolucionária do partido junto ao novo governo? A consagração no RS de uma proposta claramente socialista ajudaria Lula no seu propósito de se posicionar mais ao centro, dentro de um projeto social-democrata, indispensável para preservar a governabilidade do país?

Rigotto já pensa no segundo turno
Embalado pelos resultados das pesquisas, Germano Rigotto busca alianças para o segundo turno. Em Santa Cruz do Sul, recebeu o apoio do prefeito Sérgio Moraes (PTB), ex-deputado, que já abandonou o barco de Antônio Britto. O capitão Medina, quinto colocado nas pesquisas entre os 12 candidatos a governador, bateu continência antes do debate na TVE. Mesmo integrando o PL, que indicou o vice de Lula, Medina não acompanha Tarso no segundo turno.

Filho de Brizola com Luciana
Pesquisa do Ibope sobre deputados (com grande margem de erro) revela o crescimento do PT na Assembléia e na Câmara. Para a Câmara, duas mulheres ponteiam a lista (dentro da bancada): Maria do Rosário, Luciana Genro e, em terceiro, Paulo Pimenta. Estão eleitos com sobra de votos.
Brizola – Luciana Genro faz uma das campanhas mais bem estruturadas no Estado, ajudada pelo desempenho do pai no primeiro turno. Entre os cabos eleitorais, a deputada conta com o filho de Brizola, José Vicente, que está rompido com o pai.

Afirmação partidária
Tem dois partidos que fazem campanha de fidelidade partidária: o PT, pela esquerda, e o PPB, à direita. Mesmo amargando uma quarta posição para o governo, em decorrência da polarização pela segunda vaga, o PPB faz uma bela campanha em torno de Celso Bernardi, Denise Kempf e Hugo Mardini. Vai ampliar a bancada na Assembléia e na Câmara: será a segunda, abaixo apenas do PT.

Mais: o PPB apresenta o discurso mais objetivo na defesa do servidor público.

Britto investe nos debates
Em queda nas pesquisas, Britto acredita que as próximas avaliações vão mostrar que já superou a fase de desgaste, conseguindo estancar a transferência de votos para Rigotto. A última avaliação do Ibope, concluída quinta-feira, mostrava um empate com o peemedebista em 21%.

Mirante
• Serra desembarca hoje no Estado que lhe dá o maior apoio para sua última visita antes da eleição. Com uma média em torno de 18% em nível nacional, o candidato tucano aparece nas últimas pesquisas com 27% e 28% no RS.

• Apoiado por PSDB, PMDB e PPB, Serra vai a Pelotas e Rio Grande, uma forte base dos partidos que o apóiam, e a Santa Maria, onde vai pedir votos para Cezar Schirmer, presidente do PMDB.

• Interessante acompanhar a eleição em Caxias. O prefeito Pepe decidiu jogar seu prestígio na eleição de Ana Corso (PT), sua mulher, que concorre a federal, em dobradinha com Déo Gomes, do PC do B. Estão querendo rifar o moderado padre Roque, do PT?

• O governo do Estado não se deixa tocar pelos ventos da conciliação que bafejam a candidatura de Lula. Foi antecipado de janeiro para novembro o encerramento de dois cursos de aperfeiçoamento de oficiais, para colocar alguns integrantes nas promoções de 18 de novembro. Dá a impressão de que Olívio não acredita na vitória de Tarso. Caso contrário deixaria para o próximo governador.


ROSANE DE OLIVEIRA

Bombeiros em ação
No mesmo dia em que o dólar chegou per to de R$ 4, o jornal britânico Financial Times pediu, em editorial, uma chance para o Brasil e para Luiz Inácio Lula da Silva. Não significa que o mais respeitado jornal de economia da Europa tenha “lulado”, como vêm fazendo nos últimos dias políticos e empresários brasileiros diante da perspectiva de vitória. O jornal britânico simplesmente está fazendo um alerta para os riscos da profecia que se auto-realiza. Se os especuladores quebrarem o Brasil por medo da vitória de Lula, haverá um exército de perdedores no mundo todo.
Ao reconhecer que Lula está muito próximo de ser eleito presidente, o Financial Times se rende aos resultados das pesquisas de intenção de voto. E aconselha o mercado a não reagir exageradamente, apesar de considerar legítimo o ceticismo em relação à “conversão de Lula à política social-democrata do estilo europeu e seu comprometimento com a estabilidade econômica”.

Vindo de onde vem, o registro de que “Lula poderá se mostrar muito mais eficiente do que se espera” pode acalmar os ânimos de quem tem dinheiro aplicado em investimentos produtivos no Brasil. A este diagnóstico somam-se outros produzidos com a clara intenção de evitar o colapso.
O presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Enrique Iglesias, por exemplo, se diz convencido de que o mercado vai negociar com Lula. Iglesias atesta que conhece Lula e as pessoas que o cercam e acredita que ele vai desenvolver uma política séria. Até a primeira-dama Ruth Cardoso, eleitora de José Serra, opinou que um eventual governo Lula “não será nenhum desastre”.

Também eleitor declarado de Serra, o presidente do Banco Itaú, Roberto Setúbal, surpreendeu seus interlocutores em Washington – a maioria executivos de Wall Street – ao dizer que não tem dúvida de que Lula será o próximo presidente do Brasil. Setúbal justificou que Lula será eleito porque “está fazendo uma boa campanha, é honesto e fala ao coração do povo”. E completou com uma frase que chegou a ser interpretada como declaração de voto:
– A eleição de Lula não é uma revolução, é uma transição democrática. Eu diria que, neste momento, a comunidade empresarial brasileira está preparada para apoiar o Lula.


Editorial

UMA CHANCE AO BRASIL

Na última e decisiva semana da campanha eleitoral, o panorama brasileiro abriu ontem com duas mensagens contraditórias. De um lado, dirigentes de organismos multilaterais, representantes de países, autoridades do governo e editoriais da imprensa internacional especializada. Para eles, o Brasil tem uma economia sólida, uma condução segura, não está ameaçado em seus fundamentos e, apesar de todas as dificuldades, não corre o risco de promover calote de sua dívida. De outro, um mercado financeiro confuso e arisco, no qual predomina a especulação predatória e aquilo que Alan Greenspan qualificou de “ganância irracional”. Nele, a desvalorização do real é manipulada em favor de interesses sem ética e sem responsabilidade.

É inevitável que o Brasil, pela importância econômica e pelo nível dos problemas que enfrenta, ocupe as atenções predominantes dos principais meios financeiros mundiais. Em Washington, foi o destaque nos debates paralelos da reunião anual conjunta do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional. E ainda ontem mereceu destaque do mais influente diário econômico da União Européia, o Financial Times, para o qual os mercados deveriam dar uma chance ao Brasil. Nem todas as avaliações são positivas e algumas delas retratam excessos inadmissíveis, como o apelo do megainvestidor George Soros de que o Brasil precisa ser socorrido para não correr o risco de quebrar. O próprio jornal londrino insiste em que há razões para os investidores internacionais se preocuparem com o destino de um país que recebeu mais de US$ 150 bilhões de recursos internacionais somente na última década. Tanto as instituições multilaterais como os investidores privados, porém, acreditam que tão logo o próximo governo esteja eleito, e assim que for confirmada a sua equipe econômica e reafirmadas as pretensões em relação aos fundamentos da estabilidade brasileira, as tensões atuais tenderão a se dissipar. O país, que ao longo dos últimos anos deu mostras sucessivas de seriedade e responsabilidade em relação aos compromissos do setor público, precisa contar com a colaboração internacional particularmente neste momento.

A ação predatória é patrocinada por setores que têm interesses, mas desprezam compromissos

Até mesmo o secretário do Tesouro dos EUA, Paul O’Neill, reconhece que a história recente da economia brasileira é uma garantia a governos estrangeiros e a investidores. Um país que há oito anos estava assolado por uma hiperinflação conseguiu resultados importantes à base de disciplina fiscal, da consolidação do setor financeiro e de reformas em várias áreas vitais. Mais: o Brasil assumiu compromisso com políticas sólidas e colocou a autoridade do governo para atingi-lo.

Diante de vozes tão responsáveis e da reafirmação de que a condução da economia brasileira se faz de maneira técnica e profissional, é evidente que o país vai superar as turbulências a que está sendo jogado pelos sempre presentes pescadores de águas turvas. A especulação criminosa que se faz contra o país comprova, pela enésima vez, a necessidade de que os poderes públicos montem, em âmbito internacional, controles que impeçam essas ações predatórias normalmente patrocinadas por setores que têm interesses, mas desprezam compromissos.


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10/01/2002


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