Candidatura Alckmin fica vulnerável



 




Candidatura Alckmin fica vulnerável
A sensação de insegurança provocada pelo sequestro seguido do assassinato da dona-de-casa Rosana Melloti, em Campinas, e do prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), põe em risco a reeleição do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB).

Os dois episódios, somados ao assassinato do prefeito de Campinas Antônio da Costa Santos (PT), em setembro passado, reforçam a tese difundida pela oposição de que a política de segurança do governo paulista falhou. Nenhum dos crimes foi solucionado.

A disputa pelo governo de São Paulo sempre foi acirrada, definida ao final de campanhas tensas e polarizadas. A pouco mais de nove meses das eleições, ninguém tem garantias de vitória.

Mas Alckmin tem trunfos que faziam supor a diminuição dessa imprevisibilidade em 2002. Trunfos que o levaram, até mesmo, a descartar precocemente a hipótese de uma pré-candidatura à Presidência da República.
Principal herdeiro político do governador Mário Covas, morto em março de 2001, Alckmin recebeu o caixa do governo com um saldo de R$ 7 bilhões. Com as contas em ordem, o próprio governador anunciou no início do ano, ao reunir o secretariado, a possibilidade de contrair empréstimos de até R$ 1,5 bilhão.

Atualmente, há 2,6 mil obras em andamento no Estado, permitindo ao governador uma agenda repleta de inaugurações. A direção estadual do PSDB acredita que o governador estará presente em cerca de 300 delas até julho, quando se inicia o período em que os candidatos à reeleição que permanecerem no cargo são impedidos pela legislação eleitoral de participar de inaugurações.

Por lei, Alckmin não é obrigado a se licenciar para disputar a reeleição -nem pretende fazê-lo. Mas é inegável a capacidade de marqueteiros de associar a obra ao responsável, a despeito de sua presença física na inauguração.

Além do saldo de caixa gerado em sete anos de governo Covas e das obras iniciadas na gestão de seu antecessor, Alckmin tem a seu favor as denúncias contra Paulo Maluf (PPB), o líder das pesquisas de intenção de votos. O ex-prefeito de São Paulo passou metade do ano passado negando ser beneficiário de contas abertas na Suíça e na ilha de Jersey, notórios paraísos fiscais europeus.

As agruras de Maluf com promotores e procuradores ajudam a entender por que Alckmin conseguiu avançar nas pesquisas. Em dezembro, na última pesquisa Datafolha, o governador e o ex-prefeito apareceram tecnicamente empatados. A intenção de voto em Maluf variou entre 27% e 28%. A de Alckmin, entre 23% e 27%.

O candidato do PT, deputado José Genoino, obteve 7%. Em junho, na pesquisa anterior, Maluf chegou a ter 29% de intenção de votos. Alckmin tinha 19%.

Genoino, que em entrevista à Folha defendeu a volta da Rota às ruas, deve fazer da morte de Celso Daniel o emblema da insegurança que assombra a população de São Paulo. A Rota é um esquadrão de elite da Polícia Militar paulista que ficou célebre durante o regime militar sob diversas acusações de violação dos direitos humanos.

Além de estragos na imagem do governo tucano, a crise na segurança pública paulista provocou a queda do secretário Marco Vinicio Petrelluzzi. O secretário deixaria o cargo hoje, junto com outros seis integrantes do primeiro escalão que pretendem disputar as eleições de outubro. Oficialmente, Petrelluzzi vai concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados.


Presidente do PT acusa PFL de instigar "ódio" ao partido
José Dirceu diz que há publicitários agindo como "mercadores da morte"

O presidente nacional do PT, deputado José Dirceu (SP), estabeleceu ontem, pela primeira vez, uma relação direta entre a morte do prefeito Celso Daniel e o processo sucessório ao acusar opositores do partido de instigarem o "ódio e a violência" contra o PT.

"Tem gente fazendo programa de TV no horário partidário instigando o ódio e a violência contra o PT", disse Dirceu durante o velório do prefeito de Santo André, numa alusão velada ao PFL, que vem atacando o PT em suas campanhas de TV. "São mercadores da morte e da violência", disse Dirceu, que completou: "Há publicitários querendo alimentar o ódio no país contra o PT. O que o PT fez nestes 21 anos de existência que não fosse pela paz, pela justiça social e pela democracia?".

Embora oculto, o alvo do dirigente petista é o publicitário Nizan Guanaes, responsável pelos programas de TV da governadora Roseana Sarney (MA), pré-candidata à Presidência pelo PFL. Nizan, que está sendo disputado pelo candidato tucano à sucessão de FHC, o ministro José Serra, é hoje o grande responsável pelo marketing do Planalto e do presidente.

Taleban
Em entrevista à revista "República" deste mês, Nizan comparou o PT ao Taleban, milícia extremista que governou o Afeganistão de 1996 a 2001: "O PT é Taleban total. Nós temos que bombardear Cabul [capital daquele país". O PT é contra a alegria. Só falta turbante; barba já tem", disse Nizan. O mesmo Guanaes foi o criador da peça publicitária exibida na TV pelo PSDB, no ano passado, na qual o PT era comparado a um cunhado chato que vivia reclamando de tudo.

Na semana passada, durante as inserções do PFL em rede nacional de TV, Roseana Sarney, também dirigida em peça criada por Nizan, declarou que o próximo presidente não pode ser "presidente da república da CUT" ou "do MST", em uma referência a duas entidades que apóiam a pré-candidatura de Luiza Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência.

A crise da Argentina também foi utilizada por Roseana para criticar a oposição. Em uma inserção de 30 segundos, a pré-candidata do PFL explorou imagens de quebradeira e de enfrentamentos da população com a polícia: "O exemplo da Argentina está aí, e quem quiser que aprenda a lição. Um país dividido, desintegrado pelas promessas impossíveis e por políticos duvidosos. Mais cedo ou mais tarde, a instabilidade acaba batendo na porta de seu povo", disse Roseana.

No dia 3 de dezembro do ano passado, o PFL já havia tentado polarizar a eleição com Lula por meio de críticas à administração da prefeita de São Paulo, Marta Suplicy. O programa de TV do partido trazia os seguintes slogans: "O PT é bom para criticar, mas não sabe governar"; "Xô, petelho. Larga do meu bolso, larga do meu pé"; "Incompetência se escreve com PT".

Ontem, ao ser questionado se estava dirigindo suas críticas ao PFL, Dirceu foi evasivo: "Cada um interpreta como quer". "Eu não citei ninguém. Foram palavras fortes porque o momento é muito forte para nós", disse.
Segundo Dirceu, "o PT é uma garantia de que os problemas podem ser resolvidos do ponto de vista institucional e político. Eles querem instigar o ódio ao PT. Estão equivocados".

O senador Roberto Requião (PMDB-PR) divulgou ontem nota repudiando os "atentados políticos" contra o PT. Segundo Requião, a execução do prefeito foi mais um dos "arreganhos fascistas" que buscam inibir o crescimento da candidatura Lula.


FHC tenta isolar sucessão de morte em SP e blecaute
Tucano teme que assassinato de prefeito e "apagão" prejudiquem Serra

A prioridade do presidente Fernando Henrique Cardoso é tentar evitar que a morte do prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), combinada ao blecaute que atingiu o país ontem, dê combustível a mais uma crise emergencial a ser administrada por seu governo, como a da energia em 2001.

Um novo "ministério do apagão" é a última coisa que FHC e os partidos governistas desejam neste ano eleitoral. O presidente e caciques aliados avaliam ser preciso limitar a "crise de violência" ao Estado de São Paulo.

Leia-se: demonstrar todo o interesse em ajudar o Estado, que tem enfrentado graves casos de sequestro, mas deixando claro que a responsabilidade maior de combate ao crime caberá à polícia paulista e ao governador Geraldo Alckmin, tucano.

A intenção de FHC não é minimizar a morte de Daniel nem jogar Alckmin aos leões, até porque ele se disse chocado com o assassinato, não descarta crime político e sabe que as causas da violência paulista têm pano de fundo nacional. Mas quer impedir que o episódio gere uma crise no país.

Segundo a Folha apurou, é consenso entre os governistas que a segurança pública será tema de destaque em todas as campanhas presidenciais e programas de governo. Mas acham cedo para dizer que será o tema central.

Perdas e danos
Outra avaliação unânime: Alckmin, obviamente, é quem sofrerá maior prejuízo eleitoral. Em 1998, Mário Covas teve dificuldade para se reeleger devido aos altos índices de violência de São Paulo.

Como o eleitorado paulista é o maior do país, há preocupação na cúpula tucana em evitar dano à pré-campanha presidencial do ministro da Saúde, José Serra.

Em 1994 e 1998, a popularidade de FHC puxava para cima os postulantes aos governos estaduais. Na eleição deste ano, avalia-se que será o candidato ao Planalto que precisará do impulso de fortes candidatos a governador.

Serra está empenhado em costurar alianças regionais. Como é o que se identifica mais com o governo, um novo "apagão" pode abalar a popularidade presidencial e, por consequência, a sua.

O ministro teve 7% na última pesquisa Datafolha, contra 21% da governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL). Os dois disputam a primazia governista por uma das duas vagas no segundo turno. Para PSDB e PFL, o PT de Luiz Inácio Lula da Silva já garantiu vaga no segundo turno.

"Combate à violência se faz com ações de longo e médio prazo, mas a gravidade do caso [a morte de Celso Daniel" requer respostas no curto prazo", diz Jutahy Magalhães (BA), líder do PSDB na Câmara e escudeiro fiel de Serra.

O líder tucano afirma que Alckmin mostrou agilidade, "ao instituir a recompensa por informações". Jutahy, porém, não vê "correlação com a eleição presidencial". Acha que o tema violência já seria importante na campanha.

Para o líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA), "seria uma loucura politizar, em termos de impacto na eleição, a lamentável morte do prefeito". "A violência virou um problema de todo mundo, não só do governo ou da oposição", declara.


Guerra à violência marcará fim de gestão FHC, diz Serra
"A questão da violência mudou de qualidade", disse ministro

Ao discursar ontem como presidenciável, o ministro da Saúde, José Serra (PSDB), disse ontem que o final da gestão de Fernando Henrique Cardoso e o governo que vai sucedê-lo tratarão a violência como questão de guerra.

"A questão da violência mudou de qualidade e isso envolve a necessidade de o Brasil entrar numa verdadeira guerra, inclusive com mudanças na legislação, em caráter de emergência", disse Serra para uma platéia de cerca de 200 empresários reunidos na Associação Comercial do Rio de Janeiro.

Mais tarde, na inauguração de um hospital em Jacarepaguá, Serra disse que nenhuma medida de exceção é necessária: "As mudanças na legislação devem ser feitas dentro da normalidade".

Alegando não querer entrar em aspectos técnicos, Serra não deu detalhes sobre o que deve ser feito, mas declarou ser contra a pena de morte.

O ministro fez referência ao assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), dizendo que a morte foi "particularmente de uma brutalidade sem tamanho" e que mantinha com ele um relacionamento de amizade, independente de diferenças políticas . Serra disse que teria ido ao enterro do prefeito se não tivesse a inauguração do hospital no Rio praticamente no mesmo horário.

Segundo ele, por trás da violência há problemas sociais, que estariam sendo tratados pelo governo. "Só que vivemos uma situação de enfrentamento, que exige uma resposta de guerra. Do contrário veremos crescer toda uma insegurança econômica-social que já prejudicou outros países".

Serra foi muito aplaudido ao fazer essas declarações, o que se repetiu ao final de seu discurso, quando prometeu tratar o Rio como prioridade: "Se o povo brasileiro me escolher para presidente, vocês podem estar certos de uma coisa: o Rio de Janeiro vai continuar sendo prioritário e cada vez mais prioritário", declarou.
O encontro de Serra com os empresários ocorreu no almoço mensal da Associação Comercial do Rio, que anunciou a realização de encontros semelhantes com os demais candidatos. Falando por quase uma hora, sendo que metade sem microfone por causa do apagão, Serra fez uma avaliação da situação do país, considerando que existem condições favoráveis para um novo ciclo de crescimento. Em nenhum momento de seu discurso, o ministro tratou da epidemia de dengue, que tem no Rio o seu principal foco nacional.

Entre as condições favoráveis ao crescimento, que ele considerou "conquistas do período de Fernando Henrique que não podem ser perdidas pelos futuros governantes", Serra citou a estabilidade econômica, o fim da indexação, a adoção de políticas sociais, o equilíbrio fiscal, a projeção do Brasil no cenário internacional e a consolidação da democracia.

O novo ciclo de crescimento, disse Serra, só se dará com uma política agressiva de exportação. Para isso, ele lançou a idéia de substituir o Ministério do Desenvolvimento e Indústria por um Ministério de Comércio Exterior. Serra criticou a carga de impostos sobre os produtos exportáveis e pediu uma reforma tributária.


FHC tenta isolar sucessão
A prioridade do presidente Fernando Henrique Cardoso é tentar evitar que a morte do prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), combinada ao blecaute que atingiu o país ontem, dê combustível a mais uma crise emergencial a ser administrada por seu governo, como a da energia em 2001.

Um novo "ministério do apagão" é a última coisa que FHC e os governistas desejam em ano eleitoral. O presidente e a base aliada avaliam ser preciso limitar a "crise de violência" a São Paulo: demonstrar todo o interesse em ajudar o Estado, mas deixar claro que a responsabilidade maior de combate ao crime cabe à polícia paulista e ao governador Geraldo Alckmin, tucano. É consenso entre os governistas que a segurança pública será tema de destaque na campanha presidencial.

Outra avaliação unânime: Alckmin, obviamente, é quem sofrerá maior prejuízo eleitoral. Em 1998, Mário Covas teve dificuldade para se reeleger devido aos altos índices de violência de São Paulo.

Como o eleitorado paulista é o maior do país, há preocupação na cúpula tucana em evitar dano à pré-campanha presidencial do ministro da Saúde, José Serra.

Em 1994 e 1998, a popularidade de FHC puxava para cima os postulantes aos governos estaduais. Na eleição deste ano, avalia-se que será o candidato ao Planalto que precisará do impulso de fortes candidatos a governador.

Serra está empenhado em costurar alianças regionais. Como é o que se identifica mais com o governo, um novo "apagão" pode abalar a popularidade presidencial e, por consequência, a sua.

O ministro teve 7% na última pesquisa Datafolha, contra 21% da governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL). Os dois disputam a primazia governista por uma das duas vagas no segundo turno. Para PSDB e PFL, o PT de Luiz Inácio Lula da Silva já garantiu vaga no segundo turno.

"Combate à violência se faz com ações de longo e médio prazo, mas a gravidade do caso [a morte de Celso Daniel" requer respostas no curto prazo", diz Jutahy Magalhães (BA), líder do PSDB na Câmara e escudeiro fiel de Serra.

O líder tucano afirma que Alckmin mostrou agilidade, "ao instituir a recompensa por informações". Jutahy, porém, não vê "correlação com a eleição presidencial". A cha que o tema violência já seria importante na campanha.

Para o líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA), "seria uma loucura politizar, em termos de impacto na eleição, a lamentável morte do prefeito". "A violência virou um problema de todo mundo, não só do governo ou da oposição", declara.


Garotinho lança ex-goleiro para governador
O governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho (PSB), deu ontem prosseguimento à tentativa de montagem em Minas Gerais -que é o segundo maior colégio eleitoral do país- de um palanque forte de sustentação à sua pré-candidatura à Presidência da República.

Ele lançou em Belo Horizonte o nome do ex-goleiro do Atlético-MG João Leite (PSB) ao governo do Estado. Deputado estadual mais votado em Minas Gerais em 1998, Leite, 46, se candidatou à Prefeitura de Belo Horizonte em 2000 (quando estava no PSDB) e foi derrotado no segundo turno pelo hoje prefeito licenciado Célio de Castro (PT).

"Nosso objetivo é ter nesses três Estados (Minas, Rio e São Paulo" nomes próprios fortes ou alianças que sustentem a candidatura presidencial")", disse o governador.


Artigos

Inteligência na polícia
Vinicius Torres Freire

SÃO PAULO - É típico do escárnio, do grotesco dos nossos desgovernos a profusão de iniciativas salvadoras e idéias geniais de que são acometidos legisladores, governantes e outros pais da pátria quando a lambança está feita, quando a incúria e a irresponsabilidade de anos nos cai sobre a cabeça na forma de apagão, juros letais, dívida eterna ou da presente explosão de mortes e de outras violências criminosas.
Não é diferente desta vez, em que a morte estarrecedora de Celso Daniel já nos obriga a assistir a cenas e a discurseiras indecentes sobre pacotes anticrime, planos de segurança, reformas cosméticas da polícia, reformas do Código Penal ou do diabo que os carregue, os proponentes do salvacionismo oportunista e ineficaz.

Mas ninguém parece pensar em fazer da polícia uma burocracia com um corpo técnico e intelectual estável, capaz de reagir ela mesma com inteligência e planejamento consciencioso às crises, capaz de análise e de organização dos recursos a fim de evitar ou atenuar no limite das possibilidades momentos de horror como o que se abate sobre nós.

Faltam laboratórios às polícias, centros de investigação. Faltam técnicos respeitados, universidades em vez de academias militares, centros de estudos, tudo o que já é tão típico da maioria das profissões, pois um policial deveria ser apenas isso, um profissional capaz, treinado e respeitável como um dentista, um engenheiro, um eletricista, um sociólogo.

Não conhecemos nossos grandes especialistas na perícia policial, o centro mais importante de estudos de segurança urbana, o policial-doutor em crime organizado. Esses são minorias quase estranhas nas polícias, como os delegados especializados em crimes na informática, para ficar num dos poucos exemplos. Mal começamos a deixar a cultura do tiroteio, há tortura. Há pouco a polícia ainda se gabava de matar milhares por ano, essa polícia que de resto ainda perde tempo na mímica ridícula dos piores aspectos da caserna.
Está na hora de parar com a parolagem -tragam-nos profissionais.


Editorial

INSEGURANÇA CRESCENTE

"Este é um plano de ações". Assim se iniciava o texto pelo qual o governo federal apresentava, em julho de 2000, o Plano Nacional de Segurança Pública (PNSP). Trata-se de compêndio de 124 itens que o Executivo produziu como resposta à comoção nacional que sobreveio à morte de uma refém no Rio de Janeiro, provocada por incompetência policial. Seu compromisso número um é o combate ao narcotráfico e ao crime organizado.

Mais uma vez o tema da segurança pública volta a despertar interesse prioritário, motivado por uma série de atos ousados e brutais de bandos organizados. Essa sensação de insegurança, aliás, só faz alastrar-se na psicologia coletiva com a ocorrência de eventos como o apagão de ontem, fruto provavelmente de incompetência na gestão do sistema. Temendo uma onda de violência com a falta de eletricidade, bancos e lojas fecharam suas portas na cidade de São Paulo.

Esse contexto de insegurança generalizada é novamente propício para as mais disparatadas "propostas", que apenas preenchem uma demanda de ocasião na opinião pública, mas pouco ajudam no combate ao crime, quando não atrapalham.

Fala-se em adotar a prisão perpétua. Mas o sistema de penitenciárias está falido. O comando da criminalidade organizada está se desenvolvendo rápida e espantosamente dentro dos presídios. O 13º compromisso do PNSP era aperfeiçoar o sistema penitenciário. Os presídios caracterizam-se, cada vez mais, como as universidades do crime; as Febens, como as escolas técnicas.

Prega-se a unificação das polícias, transformando-as num só corpo civil. Parte do corpo civil da polícia atual está incrustada no crime organizado. Integração operacional das diversas polícias do país e propostas para dificultar a vida de policiais-bandidos constam do PNSP.

Praticamente tudo o que o bom senso e a experiência recomendam para o combate à criminalidade está elencado no plano elaborado pelo governo federal. O problema, como sempre, é a aplicação desses princípios, que deixa muitíssimo a desejar seja no âmbito do governo federal seja no dos estaduais e municipais.

Conveniências políticas impedem governadores de levar às últimas consequências o imperativo de extirpar a banda podre das polícias e de submeter a Polícia Militar e a Polícia Civil a um único comando de fato. A informatização, a produção exaustiva de estatísticas sobre criminalidade e a troca de informações entre instâncias da burocracia -essenciais para o combate ao banditismo organizado- ainda são promessas distantes. Registrem-se as falhas descobertas no Infoseg, sistema nacional de dados policiais, que buscava o guerrilheiro Carlos Lamarca, morto em 1971.

Tampouco está próximo de ser alcançado o objetivo de desarmar a população, que depende do controle das fronteiras porosas, da repressão ao porte ilegal de armas e da restrição da venda legal. Condições de trabalho minimamente dignas para policiais também estão por ser conquistadas. Supostamente protegido numa carreira típica de Estado, o policial é compelido a fazer dupla jornada, geralmente em firmas de segurança particular.
Não há projeto de desenvolvimento para as superpovoadas regiões metropolitanas do Brasil, onde o crime organizado recruta seus soldados, toma territórios, dita regras, corrompe e mata; onde as chacinas e os homicídios banais vicejam.

A segurança pública necessita sobretudo de investimento continuado em ações que já se conhecem, mas que exigem determinação de governantes para derrotar interesses incrustados na máquina do Estado. Exigem a manutenção do ritmo das mudanças e da firmeza dos propósitos. Não se pode agir apenas por espasmos em momentos de comoção.


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01/22/2002


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