Che Guevara: um símbolo que anda de mãos dadas com grandes causas
Nas homenagens a Che Guevara, aos cientistas políticos, jornalistas e historiadores, entre outros, resta o desafio de averiguar e esclarecer um aparente paradoxo: como um guerrilheiro - tido e havido como o inimigo número um do capitalismo internacional, particularmente, nos anos 60 -, quarenta anos após sua morte,tornou-se neste poderoso símbolo que suscita o desprendimento e a audácia que as grandes causas requerem, no coração dos homens e mulheres - e principalmente no seio da juventude.
Ressalte-se que o reconhecimento desse mito revolucionário, nas mais diferentes regiões do planeta, se dá justamente em um momento da História em que os chamados "vencedores" adotaram e defendem métodos e valores rigorosamente opostos àqueles pelos quais ele teria dado a vida. Enquanto para as correntes neoliberais a competição entre as nações e indivíduos produz o progresso econômico e a estabilidade social, Guevara atribuía à solidariedade e aos estímulos morais o poder maior na construção de uma sociedade apropriada para o desenvolvimento humano.
Transcorridas quatro décadas da morte do guerrilheiro, os pesquisadores já dispõem de elementos suficientes para esclarecer as reais circunstâncias em que Guevara foi morto, bem como, para indicar as causas políticas mais determinantes da tragédia que se consumou às 13h10 do dia 09 de outubro de 1967. Preso, ferido e indefeso, Guevara foi assassinado, conforme se sabe, a sangue frio, no pequeno povoado boliviano de Higueras, por um sargentochamado Mario Terán.
Se a participação da CIA naquele episódio é dada como certa por vários historiadores e por parte da opinião pública mundial - apesar das manobras que o governo de Washington colocou em marcha para livrar-se dessa responsabilidade -, já a suposta omissão do Partido Comunista da Bolívia - por presumida orientação direta de Moscou, que teria dado as costas a Guevara e a seu pequeno grupo de guerrilheiros, mesmo sabendo-os em situação desesperadora - é um episódio que permanece ainda pouco conhecido. Sobretudo para grande parte da juventude, que hojecarrega broches, boinas, pôsteres, livros e idéias deste mito.
O historiador norte-americano Jon Lee Anderson, in Che Guevara - Uma biografia, afirma em seu texto, que "havia muitos no Kremlin, principalmente depois da Crise dos Mísseis, que temiam que o apoio cada vez maior de Cuba às aventuras guerrilheiras, que todos sabiam estarem sendo impelidas por Che Guevara, pudesse arrastar a União Soviética par uma nova confrontação com os Estados Unidos". Na realidade - acrescenta o historiador - desde o final de 1962, o Kremlin havia colocado um agente do KDB junto de Che.
A "periculosidade" de Che teria aumentando consideravelmente na avaliação dos soviéticos, depois que, em comentário sobre a Crise dos Mísseis, ele afirmou que os soviéticos deviam ter usado os seus artefatos [certamente contra os Estados Unidos] - conforme Jon Anderson.
No entanto, o rosto sonhador do guerrilheiro, de barba e cabelos grandes, virou produto de consumo, por meio da célebre foto do cubano Alberto Korda, que hoje se encontra espalhada em incontáveis produtos, manufaturados pela indústria capitalista e vendidos nos cinco continentes do planeta. Surpreendente, porém, é que apesar da sua "vulgarização" comercial, o pôster famoso também ocupa cada vez mais espaços nas passeatas, mobilizações, greves e demais manifestações contestatórias a esse mesmo sistema em sua fase globalizada.
Anos atrás, por ocasião do lançamento de O Diário de uma campanha na Bolívia, o jornalista Aguinaldo Silva, na época redator do jornal Última Hora, observou que, "a despeito do que possamos pensar a seu respeito, Guevara é uma parte de todos nós. Por isso, ele sobrevive e sua voz não silencia: ela repercute dentro de nós e, muitas vezes sem que o saibamos, é através de nossas bocas que ele se pronuncia".
23/10/2007
Agência Senado
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