Ciro ataca petista









Ciro ataca petista
Lula é comparado ao ex-presidente argentino De la Rúa

BRASÍLIA - O candidato Ciro Gomes, do PPS, comparou ontem Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, ao ex-presidente da Argentina Fernando De La Rúa, que foi obrigado a deixar a Casa Rosada devido à grave crise do país. Segundo Ciro, supostamente constrangido com o preconceito de que é alvo, Lula aceitou a ''bobagem'' de se comprometer com o receituário do Fundo Monetário Internacional (FMI). A declaração de Ciro foi feita logo depois de sua visita à Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB).

- De La Rúa era um homem limpo, de grande história política. Caiu na armadilha. Foi chantageado e assumiu o compromisso com o modelo econômico do FMI - disse.

Depois de afirmar que José Serra, do PSDB, é o candidato do continuísmo, Ciro cobrou do tucano que ''tire a máscara'' e mostre que está prestando um serviço ao esforço de desagregação da América Latina. Ele se referia à afirmação de Serra, quarta-feira, de que o Mercosul tinha fracassado. Depois de atacar Lula e Serra, Ciro resolveu poupar Anthony Garotinho, do PSB.

- Não bato em crianças - ironizou, apesar de estar atrás do candidato do PSB nas pesquisas.

Ciro disse que a polêmica sobre uma suposta crise interna na Frente Trabalhista não passa de boato. Segundo ele, querem destruir a candidatura devido à ameaça que ela traz aos planos de continuidade do atual governo.
- Nunca imaginei que fosse tarefa fácil derrotar esse governo que não tem limites éticos, pudores e reservas na ambição de enriquecer quem já é rico e empobrecer quem já é pobre - afirmou.

Ciro não quis comentar a briga com o coordenador do programa econômico, Mangabeira Unger, a quem sempre se referia como ''guru''. Em visita ao Memorial Juscelino Kubitschek com a mulher, Patrícia Pillar, Ciro não quis falar a respeito e teve a ajuda de assessores para barrar as perguntas sobre o mal-estar em relação à saída de Mangabeira.

Ao lado de do secretário-geral da CNBB, dom Raymundo Damasceno, Ciro bateu três vezes na madeira quando foi perguntado sobre a possibilidade de não chegar ao segundo turno. E garantiu que estará lá.

Mas o entusiasmo de Ciro não está tendo eco no PFL. Ontem, a ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney, o atual governador, José Reinaldo, e o senador Edison Lobão (PFL-MA) declararam voto para Lula no primeiro turno.

O presidente do partido, senador Jorge Bornhausen, condenou a atitude dos três e, em nota, reafirmou o apoio a Ciro.

''Se verdadeira a anunciada decisão de voto de Roseana Sarney, a decisão carece de visão nacional. O PFL e o PT são partidos antagônicos em seus programas e não se misturam'', diz a nota.


Ataques nas telas da TV
Serra, Garotinho e Ciro lançam farpas contra Lula

BRASÍLIA - Os ataques diminuíram, mas não desapareceram do horário eleitoral. Ontem, enquanto os tucanos usavam a abertura do programa de José Serra para rebater as críticas de Anthony Garotinho, relacionadas ao salário-mínimo, o candidato do PSB lembrava episódio em que o presidente Fernando Henrique Cardoso chamou os aposentados de vagabundos.

Ciro Gomes também abriu o programa com críticas. Mantendo a linha de ataques dos últimos dias, os marqueteiros do candidato da Frente Trabalhista usaram o cantor de música brega Falcão, para falar mal do candidato governista e do líder nas pesquisas Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. O único que não fez ataques aos adversários foi, justamente, o petista.

Brigas à parte, os quatro candidatos abordaram temas diferentes nos programas de ontem. Lula falou de saúde, apresentou-se como estadista, com imagens de sua participação em reuniões com líderes de vários países do mundo, e lembrou a campanha de 1989, em que foi derrotado por Fernando Collor.

Garotinho dedicou o seu tempo à defesa os direitos dos aposentados. Prometeu não cortar benefícios e garantiu que não cometerá injustiças.

- Se a pessoa contribuía com dez salários-mínimos, ela receberá dez salários. Aqueles que dizem que isso não é possível, que vai quebrar a Previdência, são os mesmos que concordam com aquele que chamou vocês de vagabundo. Para mim, quem trabalha a vida inteira não é vagabundo - afirmou o ex-governador do Rio de Janeiro.

Quarto colocado nas pesquisas, Ciro Gomes falou da crise econômica e tentou mostrar-se como o único candidato de oposição com experiência administrativa suficiente para resolvê-la. Prometeu reduzir impostos e fazer o Brasil voltar a crescer. O programa terminou com imagens das campanhas dos candidatos a governador apoiados pela Frente Trabalhista.

Repetindo o tema da última terça-feira, José Serra falou de suas propostas para o Nordeste. Prometeu ainda aumentar o salário-mínimo para R$ 300 até o fim do quarto ano de governo, caso seja eleito.


Eleitores de nível superior com Lula
BRASÍLIA - O crescimento da intenção de voto dos formadores de opinião no candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, está sendo comemorado pelo comando da campanha. A mais recente pesquisa do Ibope mostra que, apesar de não ter diploma universitário, Lula é o preferido da maioria absoluta dos eleitores com grau de instrução superior.

Ele é o candidato de 52% dos eleitores com diploma universitário - seis pontos percentuais a mais do que tinha antes de a campanha do candidato do governo, José Serra (PSDB), fazer referência na propaganda eleitoral à falta de diploma do candidato do PT. No mesmo período, Serra perdeu três pontos entre os universitários.

Cresceu também a preferência por Lula no universo de eleitores com renda familiar entre cinco e dez salários-mínimos - de 42% para 44%. O petista conta ainda, com os votos de 47% dos eleitores que ganham mais de dez salários-mínimos e 42% dos que recebem de um a cinco mínimos.

O pior desempenho do candidato do PT é entre os eleitores cuja renda familiar mensal está abaixo de R$ 200. Na última semana, ele perdeu seis pontos percentuais nesse segmento, caindo para 35%.

A pesquisa Ibope mostra ainda que Lula melhorou seu desempenho entre os eleitores com mais de 50 anos - cresceu de 36% para 40%. Enquanto isso, Serra caiu de 21% para 16%. Mas o petista perdeu parte do eleitorado que tem entre 25 e 34 anos para Anthony Garotinho (PSB).

- Estamos crescendo entre os principais seguimentos formadores de opinião, o que confirma o acerto de nossa estratégia. Se consolidarmos a tendência de aumento do voto feminino, acabou a eleição - prevê o secretário de Organização do PT, Silvio Pereira.

Essa tendência, identificada em sondagens internas, não foi confirmada pela última pesquisa Ibope. Na última semana, Lula oscilou na margem de erro na preferência feminina de 35% para 36%.


No Rio, Lula melhora
Candidato do PT empata com Garotinho no Estado

Na dianteira desde o início da campanha eleitoral, o candidato do PSB a presidente da República, Anthony Garotinho, experimenta pela primeira vez, no Rio, o empate técnico com o adversário petista Luiz Inácio Lula da Silva. Pesquisa do Instituto Gerp - conforme adiantou ontem o colunista do Jornal do Brasil Ricardo Boechat -, aponta a ascensão de Lula. Com 33 pontos percentuais, ele divide o eleitorado fluminense com Garotinho, que reúne 34% das intenções induzidas de voto para a Presidência.

Ciro Gomes, candidato ao Palácio do Planalto pela Frente Trabalhista, aparece com 9% nesta pesquisa, em terceiro lugar. E o tucano José Serra, com 7%, ocupa a quarta posição. José Maria de Almeida, do PSTU, pontua no Rio de Janeiro com 1% dos votos. O total de indecisos é de 13% e o de votos nulos e brancos fica em 3% entre os 1640 eleitores pes quisados.

A corrida para o Senado, de acordo com a pesquisa do Gerp, já tem vencedores. Sérgio Cabral Filho (PMDB) permanece na dianteira com 41%, seguido pelo bispo da igreja Universal do Reino de Deus Marcelo Crivella (PL), com 32%. Artur da Távola (PSDB) e Leonel Brizola (PDT) reúnem, respectivamente, 19% e 17% na preferência dos entrevistados. Edson Santos (PT) conseguiu o quinto lugar, com 12% das intenções de voto. Ao todo, 15% dos eleitores contactados ainda estão indecisos na eleição para o Senado.

O estudo realizado pelo Gerp divide o universo de entrevistados entre 1% de jovens de 16 e 17 anos; 17% entre 18 e 24 anos; 22% na faixa de 25 a 34 anos; 21% de 35 a 44 anos; 23% com 45 a 59 anos e 16% com 60 anos ou mais.

Entre os 1.640 entrevistados, a faixa salarial dominante, com 31%, é de 2 a 5 salários mínimos e apenas 3% responderam ganhar acima de 30 salários mínimos. A maioria, 40%, tem o 1º grau incompleto e apenas 12% declararam-se com o curso superior completo.

A proporção de eleitores evangélicos está em 29%, ainda segundo a pesquisa, enquanto que a de católicos chega a 55% do total. Apenas 1% dos entrevistados se declarou integrante da Igreja Universal, mesmo percentual de pessoas que se professaram judeus, crentes e adeptos da umbanda e do candomblé.


Garotinho: ascensão constante
Diretor do Datafolha diz que candidato cresce mais do que Lula em alguns segmentos

SÃO PAULO - O diretor do Instituto Datafolha, Mauro Paulino, disse ontem que existe uma tendência de aproximação entre os candidatos José Serra (PSDB) e Anthony Garotinho (PSB) na disputa pelo segundo lugar na corrida presidencial.

-Tanto o Ciro quanto o Garotinho têm condições de ultrapassar o Serra. Vejo tendência de aproximação entre Serra e Garotinho. O Ciro tem tendência de queda. O Serra deve olhar também a ameaça que vem de baixo - afirmou Paulino, em entrevista ao UOLNews.

- O Garotinho tem apresentado subida constante no Datafolha. Ele tinha 11% das intenções de voto em julho. Ganha um ponto a cada pesquisa e chega a 15% na última. Ele e Lula apresentam crescimento constante -, disse Paulino.

Segundo o diretor do Datafolha, o desempenho de Garotinho é melhor no Sudeste, inclusive pelo peso do Rio de Janeiro.

De acordo com ele, o candidato do PSB ainda cresce entre segmentos específicos da sociedade.

-Entre as mulheres, ele tinha 13% há um mês e agora tem 17%. Entre as pessoas com até segundo grau, ele foi de 8% para 15%. Em cidades de porte médio, foi de 8% para 16%. Serra tem 17%. Nas cidades grandes, ele foi de 14% para 18%. Serra tem 17%. Ele apresenta em alguns segmentos crescimento constante e maior do que o Lula. Na próxima pesquisa, no domingo, devemos ter um panorama mais claro dessa tendência - disse.
O presidenciável do PSB, Anthony Garotinho, criticou ontem o comportamento de seus adversários Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e José Serra (PSDB), e acusou indiretamente os dois de fazerem uso eleitoral da religião.

Evangélico, Garotinho alfinetou a visita de Serra a templos da religião no Rio de Janeiro.

-Certo candidato [Serra]foi ao Rio de Janeiro e apareceu nos jornais ajoelhado com as mãos dos pastores sobre sua cabeça. Mas ele não acredita em nada daquilo - afirmou.

Em seguida, criticou a ida de Lula a terreiros de candomblé na Bahia.

- Pior do que se declarar evangélico é político que só vai em igreja em época de eleição. Vi outro dia jogarem pipoca no Lula em um terreiro na Bahia. Ele vai fora da época de eleição para jogarem pipoca? - afirmou.
Garotinho disse também que encara com ''naturalidade'' sua opção e que há ''um preconceito enorme'' no Brasil em relação aos evangélicos. ''Minha mãe é católica, mas você acha que vou deixar de amá-la?'', afirmou.


Irritado, FH se afasta de Serra
Frase do candidato sobre Mercosul trouxe problema

BRASÍLIA - Na reta final da campanha, o presidente Fernando Henrique Cardoso e o candidato tucano à Presidência, José Serra, estão se distanciando. Fernando Henrique está ameaçando até cancelar uma nova participação no programa eleitoral do PSDB no horário gratuito no rádio e na televisão. Ontem, ele ficou irritado com a possibilidade de Serra ter criado uma crise diplomática entre Brasil e Argentina durante a visita do presidente Eduardo Duhalde.

Serra tinha afirmado que o Mercosul fracassara. Duhalde ficou constrangido. No Itamaraty, os diplomatas reclamaram que tiveram suas opiniões desprezadas pelo candidato tucano. Fernando Henrique desculpou-se informalmente com Duhalde. E, depois, defendeu o Mercosul.

- Poucos acreditavam no Mercosul. Sempre criaram dificuldades para a sua concretização. Mas eu tenho uma crença firme no Mercosul. Antes do fim do meu mandato, vamos antecipar o livre-comércio - anunciou Fernando Henrique.

O estremecimento entre o presidente e Serra é negado pela assessoria do Palácio do Planalto. Interlocutores não negam, no entanto, a existência de uma ciumeira por conta dos telefonemas trocados, quase diariamente, entre Fernando Henrique e o presidente nacional do PT, José Dirceu.

Fernando Henrique desaconselhou ainda ataques a Lula na propaganda eleitoral de Serra e mais pulso e integração entre a coordenação política e os candidatos nos Estados, principalmente os do PMDB.

Apesar de manter o apoio oficial a Serra, o PMDB acabou rachando em 13 Estados: Amazonas, Tocantins, Goiás, São Paulo, Paraná, Maranhão, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraíba, Piauí, Bahia e Rondônia. Há, ainda, a possibilidade de o PT conquistar o apoio de peemedebistas no Ceará e no Alagoas. Ontem, o presidente do PMDB de Rondônia, senador Amir Lando, anunciou seu voto no candidato do PT.
- Vou votar no Lula. É um voto pessoal, por convicção - disse Lando

Na Bahia, o deputado Benito Gama (PMDB), candidato à reeleição na Câmara, reconhece que Lula tem ''o apoio natural'' do partido.

- Está difícil segurar a turma - reconheceu Benito.

Ontem, Fernando Henrique não escondeu dos convidados no Itamaraty a preocupação de que turno seja entre Lula e o candidato do PSB, Anthony Garotinho. Mas Serra não se abalou. No programa eleitoral de ontem, tentou tomar a bandeira do salário-mínimo de Garotinho ao prometer um valor de R$ 300, acrescido da correção da inflação nos próximos 4 anos. E ainda pôs no site de sua campanha uma nota desmentindo a afirmação de Garotinho de que a proposta original do PSDB para o salário-mínimo fosse de R$ 211. Por fim, Serra prometeu também fazer uma revisão no Orçamento da União para conseguir recursos e antecipar a data de reajuste do mínimo de maio para janeiro.


Alckmin e Maluf empatados
SÃO PAULO - A pesquisa Ibope divulgada ontem à noite mostra empate técnico entre o governador Geraldo Alckmin (PSDB), que concorre à reeleição em São Paulo, e o ex-prefeito Paulo Maluf (PPB). De acordo com a sondagem, Alckmin tem 28% - caiu um ponto percentual - e Maluf aparece com 26%, com queda de dois pontos em relação à pesquisa divulgada no dia 16. José Genoino (PT) subiu de 19% para 20%. Treze por cento não souberam opinar.

Em simulação para o segundo turno, Alckmin venceria Maluf por 48% a 40%, e Genoino por 51% a 31%. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais, para mais ou para menos. A sondagem foi realizada entre os dias 22 e 24 deste mês, com 2 mil eleitores, em 94 cidades do Estado.


Urnas com problemas
Auditoria constatou falhas em aparelhos de Santos

SANTOS - As urnas eletrônicas de Santos, no litoral paulista, apresentaram problemas durante a checagem do programa de auditoria do sistema de votação. Durante o teste, nomes de candidatos a deputado federal e estadual não apareceram no monitor. Constatada a falha, o diretór io municipal do Partido Socialista Brasileiro (PSB) apresentou recurso de impugnação das urnas eletrônicas que serão utilizadas na eleição do dia 6 de outubro no município.

Os problemas ocorreram durante o início do processo da carga, lacre e teste de 608 urnas eletrônicas de duas zonas eleitorais da cidade. Na Zona 272, a auditoria foi feita na manhã de ontem, com a participação de funcionários e do promotor eleitoral Rubens Lisboa, além de representantes do PSB e do PT.

De acordo com o PSB, a medida tem caráter preventivo. Ou seja, se o partido verificar, no dia da votação, algum fato que levante dúvidas sobre a legitimidade do processo eleitoral, poderá pedir a anulação do resultado, alegando não confiabilidade das urnas. Em uma das zonas eleitorais, a tela não mostrava os dados dos candidatos da deputado federal.

Para hoje, está programada auditoria na 273ª Zona Eleitoral, que possui 250 urnas.


Artigos

Forças Armadas e candidatos
Newton Rodrigues

Nas últimas semanas tem chamado a atenção o fato de as Forças Armadas, que recentemente andavam ausentes do noticiário, terem voltado às manchetes dos principais meios de comunicação.

Primeiro, foi o boato, desmentido em boa hora, de que tropas do Exército, à paisana, caçariam nas ruas, no próprio dia da eleição, os militantes partidários que estivessem fazendo propaganda boca de urna. Seria uma heresia jurídica tão estapafúrdia como a de colocá-las no papel de polícia, patrulhando morros e avenidas na luta contra o tráfico de drogas, como volta e meia é apregoado.

Também repercutiu desfavoravelmente o pedido, ainda oficioso, da embaixada americana, solicitando carta branca a militares ianques que porventura realizassem violações da Convenção de Genebra em território nacional - isentando-os a priori de possíveis julgamentos por tribunais internacionais de que o Brasil é membro. Isso vem junto com a nova doutrina Bush de segurança, que abandona o louvável princípio de só atacar quando atacado para o nebuloso conceito de guerra preventiva. Parece nada ter a ver com as nossas Forças Armadas, mas tem, e muito.

Finalmente, houve o encontro dos quatro principais presidenciáveis com grupos de militares. É sintomático que nenhum deles tenha se detido no problema principal: além da falta de verbas, a sua distribuição é burocrática e injusta. Com enorme litoral, nossa Marinha é incipiente; assim como a Aeronáutica precisa ser implementada para atender ao projeto Sivam. Nem tudo é Exército nas Forças Armadas, e o Ministério da Defesa foi criado para bem administrar as divergências entre as corporações, pelo bem do Brasil.

Tudo isso torna oportuno rememorar a função constitucional das nossas Forças Armadas, e os momentos em que, rompendo-a, elas intervieram na vida política da nação, privilégio dos civis, com graves conseqüências. A intervenção está sempre em pauta, na teoria ou na prática, como se aos militares fosse dado o privilégio de organizadores e fiscais da vida política, que têm exercido ilegalmente. A Presidência duplicada de FHC, apesar de normalizar a vida política, amorteceu-a por excessiva cordialidade, o que confere ao atual pleito um aspecto sujeito a tensões. Como, felizmente, o Exército não exibe no momento lideranças com força político-eleitoral, um duelo de carismas fora de moda pode ser evitado, ''para bem de todos e felicidade geral da nação'', como se deu no Fico.

Depois de quase uma década de fernandismo, a política está amortecida e o único fato novo é a vantagem de Lula no pleito e, portanto, a possibilidade de uma vitória fora do figurino tradicional. É de notar que a vitoria petista em termos lulistas traria duas característica importantes : o reforço do populismo de esquerda e, ao mesmo tempo, a sagração de um candidato minoritário no Congresso, o que implicaria dificuldades quase inarredáveis. O resultado disso poderia ser um grande conflito Executivo versus Congresso, paralisando ou tumultuando o fluxo normal da democracia.

É aí que ressurge o perigo das vivandeiras de porta de quartel, envelhecidas, porém vivíssimas. Seja quem for o eleito, deverá ser empossado, e para isso não é preciso percorrer os quartéis antes da eleição. Basta apenas que se cumpra a lei.


Colunistas

COISAS DA POLÍTICA – Dora Kramer

A arte da simplificação
Entre outras evidências, as pesquisas nos confirmam o sucesso da tese, junto à percepção popular, de que governar é simplificar.

É fato que, assim como a conclusão do ensino superior não necessariamente credencia o governante, a abordagem mais elaborada das questões não garante por si só a boa qualidade da pessoa pública.

Mas é verdade também que nem a ausência do diploma nem a carência de alguma profundidade de pensamento podem ser considerados fatores de qualificação de quem quer que seja.

No entanto, os elogios à superficialidade têm sido excepcionalmente bem recebidos junto ao público nesta campanha eleitoral. O desempenho de Anthony Garotinho nas pesquisas, comprova isso.

E a atenção especial aqui dedicada ao candidato do PSB não significa que ele esteja sozinho nesse exercício da arte da simplificação, mas sim do reconhecimento de que trata-se de um especialista na área.

Setor, aliás, em que o compromisso com a realidade é um mero detalhe.

Em duas horas de questionamentos sobre os mais variados temas nacionais e internacionais, o candidato aborda com a mesma desenvoltura generalista desde o problema da distribuição de renda e do crescimento da economia, até a definição do que seja a política externa ideal para o país.

Fica-se sabendo, por exemplo, que a justiça social se faz via aumento de salários. No caso da grande massa, da elevação do salário mínimo. O que se consegue como? Ora, baixando os juros. E isso, segundo ele, se consegue sem problemas, com zero risco para a política monetária.

''Espanha e Portugal tiveram de baixar os juros para se integrar à União Européia, e o resultado foi deflação''.
Conclusão do candidato? ''Então, aqui isso também vai acontecer''. Lógico, para realidades iguais, resultados idênticos.

Já o crescimento da economia requer providências mais abrangentes. Aumenta-se o crédito e negocia-se com o Fundo Monetário Internacional ''mecanismos'' para a retomada do crescimento. Simples, rotineiro e automático.

Neste quesito, justiça se faça também a José Serra cuja proposta de criação de oito milhões de empregos será uma resultante do crescimento da economia e do aumento das exportações. O leitor sabe como é, uma coisa puxa a outra e vamos assim vivendo de amor.

Mas, voltando à política externa de Garotinho, deve ser ''ampla, de respeito à soberania dos povos e pregação da paz''. Antes assim, e não restritiva, intervencionista e de defesa da guerra.

No item generalidades, Luís Inácio Lula da Silva, cumpre reconhecer, tem uma produção respeitável. Faz quatro dias, falando sobre a relação entre crescimento e inflação, deu-se conta de que ''a economia não é uma ciência exata''.

Não sem antes se atrapalhar com o elaborado conceito e afirmar que a economia não é uma ''matemática'' exata.

Na mesma ocasião, questionado a respeito de punições a maus funcionários públicos, o candidato do PT disse ser contra julgamentos sumários e descobriu a pólvora: ''O ônus da prova cabe ao acusador''.

Nada, porém, que faça sombra ao brilho de Garotinho. Eleito presidente, nomeará para o Banco Central e ministério da Fazenda, ''pessoas técnicas''. Entre as quais não se inclui Armínio Fraga, cuja presença na presidência do BC, na concepção do candidato, é a razão da hegemonia do setor financeiro na eco nomia brasileira.

E se Armínio é causa, Pedro Malan é a prova viva. Ante à lembrança de que Malan é professor universitário, funcionário público de carreira e não banqueiro, Garotinho não se aperta: ''Ah, é ? E onde ele trabalhava antes de ser ministro?''. No Banco Mundial. Banqueiro, portanto.

Mas é possível que cobranças relativas à observância de a uma certa reverência à lógica sejam mesmo excesso de preciosismo. Afinal, que mal há em considerar a construção de presídios federais fundamental no combate ao narcotráfico e ao contrabando de armas e, no minuto seguinte, afirmar que os Estados Unidos têm ''o maior sistema prisional do mundo'' e isso não ''adianta nada'' no enfrentamento ao crime?

Mal algum. Mesmo porque, em seguida viria a invenção do ''ar brasileiro'' como integrante das substâncias a serem preservadas da destruição nas propostas de governo para o trato adequado do meio-ambiente.

Finalmente, chegamos à questão crucial que, segundo o candidato, é uma das mais exploradas pelo preconceito da ''mídia governista'' contra sua candidatura, sempre pautada pela ''franqueza''.
Uso político da religião? De jeito algum, até porque ''Deus é imune a qualquer coisa''.


Editorial

O DESAFIO URBANO

O desabamento do Hotel Rosário, na Rua 1º de Março, é o caso típico de uma seqüência de erros que não deveriam acontecer se a Prefeitura estivesse atenta e vigilante em relação a um bairro - o Centro - caracterizado pela existência de prédios antigos.

O prefeito César Maia alega que o proprietário do prédio, de cinco andares, deveria ter acionado a Defesa Civil com antecedência, já que no pavimento térreo, onde funcionava um restaurante, realizava-se obra que sem dúvida está no cerne do desabamento. A Secretaria Municipal de Urbanismo emitiu laudo anterior ao acidente indicando que ''houve imperícia técnica nas obras de modificação interna''. Mais do que isso, a reforma no restaurante não tinha autorização do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea-RJ), muito menos engenheiro responsável.

Enfim, não faltavam indícios de que alguma coisa ia acontecer naquele prédio, cuja fachada era tombada pelo município. No entanto, hóspedes do hotel, clientes do restaurante, habitantes dos prédios vizinhos e pedestres de uma das ruas mais movimentadas do bairro ficaram à mercê do destino. Só não ocorreu tragédia maior porque as rachaduras produzidas antes do desabamento alertaram as pessoas para a iminência da queda.

Por muito menos, em outros países, responsáveis por tamanho descaso amargam prisão ou multa altíssima. Diz o prefeito que há no Rio 1,5 milhão de imóveis, o que dificulta a tarefa de fiscalização. Mas o Hotel Rosário era um daqueles prédios que mereciam atenção especial.

A propósito dos desabamentos que nos últimos anos abalaram o Centro, as autoridades precisam se conscientizar da necessidade de cuidar do patrimônio urbanístico. Prédios característicos deram lugar a arranha-céus muitas vezes sem estilo. Chuvas fortes e ventanias costumam danificar ou levar consigo edificações que atestam a história da cidade.

Há necessidade, no entanto, de preservar não apenas símbolos do exercício do poder (palácios, fortificações, templos) mas também aquilo que é fundamental para a memória da coletividade e a identidade da população, cujo acervo sentimental e cultural sempre foi colocado em segundo plano.

E tudo sem falar ainda dos riscos que a população enfrenta por habitar ou passar por perto de prédios em perigo.


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09/27/2002


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