Ciro ataca o desemprego









Ciro ataca o desemprego
Candidato do PPS critica "agiotagem" e diz que países não ditarão regras ao Brasil

SOBRAL, CEARÀ - Promessas de mudanças no primeiro dia de mandato e a apresentação das metas de combate à crise econômica e desemprego marcaram o primeiro comício oficial do candidato da Frente Trabalhista à Presidência, Ciro Gomes (PPS), no fim da noite de sábado em Sobral, a 230km de Fortaleza.

A estimativa de público variou entre 60 mil, segundo os organizadores, e 7 mil, segundo a Polícia Militar. No palanque no Arco do Triunfo, enfeitado com bandeiras e faixas - entre elas várias para o governador Tasso Jereissati, do PSDB - Ciro parecia à vontade. ''Escolhi Sobral porque vocês me conhecem'', disse.

O presidenciável adiantou suas estratégias de governo. As prioridades são a diminuição do desemprego, a distribuição de renda e a retomada do crescimento. Não disse como faria e se comprometeu também a melhorar as políticas sociais, além de assumir o desafio de melhorar a previdência para 13 milhões de aposentados. Ciro Gomes fez um discurso duro em relação à crise econômica. ''Não aceito que o trabalhador seja sacrificado em nome da agiotagem. Não vai mais acontecer que nações estrangeiras venham ao Brasil dizer quanto o país vai gastar com educação, saúde e muito menos a fórmula para controlarmos a inflação'', afirmou. Justificou também a aliança com Fernando Henrique Cardoso na primeira eleição por acreditar em mudanças. ''Há hoje 11 milhões de brasileiros sadios para trabalhar batendo inutilmente de porta em porta'', criticou.

O presidenciável do PPS que esta semana, segundo pesquisa do Instituto Vox Populi assumiu o segundo lugar na corrida da sucessão - não citou os concorrentes, mas lembrou da volta de doenças ''medievais'' como a dengue e a malária - alusão ao ex-ministro da Saúde, José Serra, do PSDB _ e criticou ''quem não tem responsabilidade com as propostas que defende'', referência a Luiz Inácio Lula da Silva, do PT.

Promessas também foram feitas pelo vice de Ciro, Paulo Pereira da Silva (PTB). Detalhando os números do desemprego nacional - segundo ele cerca de 11,7 milhões de pessoas - o ex-presidente da Força Sindical adiantou que a estratégia para a redução inclui a concessão de incentivos fiscais para as indústrias que empregarem jovens. Paulinho criticou o avanço tecnológico que contribui para a extinção de postos de trabalho e defendeu a diminuição da jornada semanal em quatro horas, sem corte de salários. ''Isso permitiria que 1,7 milhão de pessoas voltasse ao mercado de trabalho'', calculou.

O presidenciável da Frente Trabalhista estava acompanhado, no palanque, pela namorada, a atriz Patrícia Pillar. A ex-mulher de Ciro, Patrícia Gomes, também esteve no comício e ouviu de Ciro um pedido de votos para ela e para o governador, ambos disputando cadeiras no Senado, mas em outra coligação. Para ele, Tasso é ''o grande cearense que todo o Brasil respeita''.

Antes de ir embora, Ciro Gomes acompanhou o show de um grupo de música baiana. Hoje, estará no Rio para ser entrevistado pelo Jornal Nacional, da TV Globo. Durante a semana, deverá fazer comícios em Minas Gerais, Brasília, São Paulo, Rio Grande do Norte, Espírito Santo e Pernambuco.


Garotinho fala em comício esvaziado
RECIFE - O candidato à Presidência pela Frente Brasil Esperança (PSB-PTC-PGT), Anthony Garotinho, teve ontem sua primeira decepção na campanha presidencial. Em pleno reduto eleitoral do presidente nacional do PSB, Miguel Arraes, o socialista discursou para cerca de 200 pessoas num comício em que eram esperados milhares de eleitores. O evento foi pela manhã, em Jaboatão dos Guararapes, região metropolitana de Recife. ''Não houve fracasso, está tudo bem, o importante é caminhar'', minimizou o candidato.

Em Pernambuco, o socialista deverá se esforçar em dobro para conquistar votos. O PSB lançou candidato próprio ao governo estadual, contra a coalizão PMDB-PPS-PFL-PSDB-PPB, encabeçada por Jarbas Vasconcelos. O PT e o PL firmaram aliança, seguindo a coligação nacional.

Após uma carreata, que contou com um carro de som anunciando a presença do presidenciável, Garotinho chegou ao bairro Cajueiro Seco, em Jaboatão, e discursou para os poucos presentes. ''Vou fazer a campanha do um real contra o milhão'', disse, numa sutil crítica aos concorrentes com mais verba de campanha. No sábado à noite, no município Lauro de Freitas, na Bahia, o alvo principal foi Ciro Gomes, candidato pela Frente Trabalhista (PPS-PDT-PPB). ''Ciro é o plano B do governo federal'', ironizou.

Garotinho lança hoje à tarde, no Rio, o bônus de R$ 1, com o objetivo de angariar fundos para a campanha. ''Não vou aceitar dinheiro de banqueiros'', afirmou.


Collor e Lessa não se aliam
MACEIÓ - O ex-presidente Fernando Collor de Mello, da Frente de Oposição (PRTB, PTB, PPS, PFL e PPB), e o governador de Alagoas, Ronaldo Lessa, que formalizou uma aliança branca com o PSDB e PMDB, registraram, sexta-feira, suas candidaturas ao governo de Alagoas. Os dois acabaram por não firmar a aliança proposta por Collor: a de que Sampaio, presidente do Diretório Estadual do PDT, abdicasse da candidatura para disputar uma das vagas ao Senado pela Frente de Oposição.

Na aliança do PSB, PSDB e PMDB, as divergências para a indicação do candidato a vice-governador foram muitas. Uma lista tríplice com nomes foi apresentara ao governador Ronaldo Lessa (PSB) pelos senadores Teotônio Vilela (PSDB) e Renan Calheiros. Mas o rol não foi respeitado. Mesmo assim, Calheiros e Teotônio decidiram manter a aliança.

Enquanto Collor e Lessa definem suas candidaturas, o Diretório Estadual e a Executiva Nacional do PT tentam encontrar uma solução para superar a crise interna no partido, surgida com a renúncia da candidatura da senadora Heloísa Helena ao governo, além de mais 12 candidatos petistas. Como já tinha registrado a ata da convenção estadual, o PT tem 10 dias para substituir os candidatos que renunciaram em solidariedade a senadora Heloísa Helena. O vereador Judson Cabral, da ala moderada do PT, deve ser indicado para substitui-la.

O vice- governador Geraldo Sampaio (PDT), o advogado Elias Barros, (PTN, PSDC , PRONA e PAN) e o sindicalista Ricardo Barbosa (PSTU), também fizeram os registros, sexta-feira, de suas candidaturas ao governo de Alagoas no TRE.


Serra critica lentidão da economia
Tucano promete que crescimento trará empregos

BRASÍLIA - Empatado nas pesquisas de opinião com Ciro Gomes, candidato da Frente Trabalhista, o tucano José Serra, usou novas armas para tentar melhorar seus índices. Adotou um discurso em tom populista e passou a faturar o pentacampeonato da seleção brasileira de futebol para minimizar o crescimento do adversário do PPS.

''Vamos fazer igual como a seleção. Manter a estratégia. Deixar as pessoas reclamarem, insultarem, e xingarem. Vamos manter a mesma linha e chegar à vitória em outubro'', disse Serra, em entrevista, após o segundo comício de sua campanha eleitoral, realizado ontem na cidade satélite de Ceilândia, a 30 km do Plano Piloto.

Em seu discurso, Serra anunciou que sua principal meta será acelerar o ritmo do crescimento da economia para criar mais empregos. Em crítica velada à atual política econômica, Serra afirmou que o país vem crescendo a 60 km por hora. ''O Brasil tem que acelerar para 120 km por hora'', destacou. Ele tentou assustar a população quanto à possibilidade de erro nas mudanças de rumo na economia anunciadas por Ciro. ''Se o Brasil sair do rumo pode descarrilar e virar uma Argentina'', disse.

Serra prometeu muito. Disse que pretende realizar a Copa do Mundo de 2010 no Brasil e as Olimpíadas em 2012 na capital federal. E anunciou qu e vai concluir o metrô e aprovar o Fundo Constitucional para o DF. Tudo o que o brasiliense queria ouvir. Ao seu lado, o governador Joaquim Roriz, sorria e pedia palmas ao candidato tucano.

O tucano tentou sambar ao som do seu novo jingle, em ritmo de pagode, em que ele é apresentado como um político que ''trabalhou para implantar'' o Plano Real, que elegeu em 1994 o presidente Fernando Henrique Cardoso. ''O seguro-desemprego foi Serra quem criou / Economista internacional, foi ministro duas vezes, e trabalhou pelo Real'', diz a letra do jingle.

De acordo com a Polícia Militar, o número dos presentes no comício ficou abaixo das previsões de Roriz, responsável pelo comício, que estimava ter reunido 50 mil. Segundo a PM, compareceram 10 mil pessoas. Ao final do comício, o público dobrou para ver o show da dupla sertaneja Rio Negro e Solimões.

Para homenagear Serra como o pai dos genéricos, a vice Rita Camata perguntou à população: ''Reduziu ou não o preço dos remédios?'' Todos gritavam, sim. Mas ao final do discurso, Rita se confundiu e chamou o Recanto das Emas (um assentamento de pessoas carentes) de República das Emas. No final, ela brincou: ''Vamos ganhar a eleição fazendo barba e bigode''. Serra que é careca, riu.


Críticas serão rebatidas, diz Nizan
BRASÍLIA - O candidato tucano José Serra decidiu ontem partir para o confronto direto com o adversário Ciro Gomes, do PPS. Resolveu rebater todos os ataques do candidato rival. O comando da campanha tucana não deixará mais nenhum ataque sem resposta, embora o próprio Serra diga que Ciro não é seu alvo. Os tucanos acreditam que Ciro está se aproveitando do ''alto nível'' em que Serra leva a campanha para atacá-lo.

A ofensiva preparada pelo marqueteiro Nizan Guanaes tem como estratégia não atacar o candidato da Frente Trabalhista, mas rebater ''sem dó'' todas as críticas e acusações, inclusive a de que Serra usa de arapongagem contra os adversários. ''Ciro não continuará dizendo tudo o que quer sem ser cobrado ou interpela do judicialmente'', afirmou Milton Seligmann, um dos coordenadores de campanha.

As gestões de Ciro como ex-prefeito de Fortaleza e ex-governador do Ceará, e até sua atuação como ministro da Fazenda, no governo Itamar Franco, serão vasculhadas. ''Ele recebeu prêmio internacional, mas cometeu muitos erros'', confidenciou um dos articuladores do comando tucano. ''Serra não vai atacar Ciro, mas reforçará a defesa'', disse Nizan. O PSDB prepara respostas aos ataques de Ciro durante os debates e entrevistas.


Amazonas: desfalque no PMDB
MANAUS - O processo eleitoral no Amazonas começou com um desfalque de peso. Um dos favoritos para conquistar uma vaga ao Senado, o vice-governador do Amazonas, Samuel Hanan, não conseguiu registrar sua candidatura e saiu do PMDB. Segundo Hanan, ele tinha um acordo firmado com o senador Gilberto Mestrinho, presidente regional do PMDB, para ser candidato ao Senado caso abrisse mão de sua candidatura ao governo estadual em favor do ex-governador e cacique político amazonense.

O PMDB, entretanto, não formalizou a candidatura de Samuel Hanan como candidato ao Senado, escolhendo como seus candidatos dois advogados: Alberto Aleixo e Aníbal Lobo. Para Samuel Hanan, a não oficialização de sua candidatura teve como objetivo beneficiar a reeleição do senador Bernardo Cabral, candidato oficial do governador Amazonino Mendes, e a candidatura do líder do governo no Congresso, Artur Virgílio Neto, que à última hora decidiu concorrer ao Senado.


Artigos

O assassinato do crítico
Luís Edgar de Andrade

Imagine alguém que seja ao mesmo tempo o mais importante crítico literário do país e o apresentador de um programa de entrevistas com escritores. Seria englobar, por exemplo, numa só pessoa, o Wilson Martins e o Pedro Bial. Mas, como a história se passa na Alemanha, o personagem tem nome alemão: André Ehrl-König.
Quando ele é assassinado, num coquetel na principal editora de Frankfurt, as suspeitas da polícia convergem para o escritor Hans Lach, cujo último romance foi espinafrado pelo crítico nestes termos: ''Por que Hans Lach se daria ao trabalho de escrever um bom livro, se encontra editores capazes de publicar seus textos horríveis?''

Em dois parágrafos está resumida a trama do romance Tod eines Kritkers (em português, Morte de um crítico) que Martin Walser lançou, na semana passada, em Frankfurt, com o selo da editora Suhrcamp. Trata-se de um roman à clef, em que o protagonista é identificado como sendo Marcel Reich-Ranicki, o mais famoso crítico alemão.

No livro, um modesto colega de Hans Lach decide provar sua inocência e desenvolve uma investigação paralela, entrevistando os escritores que foram à recepção. É ele o narrador da história. Mas, antes de Hans Lach ser preso, descobre-se que André Ehrl-König não morreu, apenas forjou o assassinato para fugir com a amante.

O livro termina com um comentário de sua mulher: ''Meu marido não tem cara de ser vítima de um crime''. Como o crítico Marcel Reich-Ranicki é um judeu que sobreviveu ao Gueto de Varsóvia, Martin Walser está sendo acusado de anti-semitismo.

O livro só deveria sair em setembro, quando começa na Europa a saison literária, mas há dois meses já circulava na internet, de computador em computador, via e-mail. A polêmica nos jornais, provocada pelas cartas dos primeiros leitores, obrigou a editora a antecipar o lançamento.

Um amigo me contou, em Frankfurt, que a mulher dele, jornalista, recebeu o texto em pdf de outro amigo, que o tinha recebido da Suhrcamp. Ela imprimiu as 240 páginas para ler em casa, mas o marido não conseguiu ir até o fim, achou o romance fraco demais: ''O autor tem dificuldade de contar a história e se perde o tempo todo em reflexões um tanto quanto estranhas''.

Martin Walser não é, porém, um escritor qualquer. Tem, aliás, o hábito de causar polêmica. Quando ganhou, em 1998, o Prêmio das Livrarias, na Feira de Frankfurt, denunciou o que chama a ''instrumentalização de Auschwitz'' ou seja o uso do holocausto, como forma de pressão, 50 anos após a queda do nazismo.

No contexto alemão entende-se que o jornal Frankfurter Algemeine Zeitung denuncie que ''o personagem André Ehrl-König, no romance de Walser, não é um homem, mas um monstro de corrupção, de vulgaridade, de vaidade, de lubricidade; ele personifica o judeu puro, objeto de ódio''. No campo oposto, o Die Zeit defende Martin Walser, dizendo que ele ataca Marcel Reich-Ranicki ''não por ser judeu, mas apesar de ser judeu.'' O Süddeutsch Zeitung é da mesma opinião: ''Não se trata de num romance anti-semita, mas de um mau romance''.

Polêmica à parte, a vida de Marcel Reich-Ranicki já é por si só um romance. Filho de um judeu polonês e uma judia alemã, tinha 12 anos quando Hitler chegou ao poder. Aos 18 anos, foi deportado para a Polônia. Foragido do Gueto de Varsóvia, voltou à Alemanha, 20 anos depois da guerra. Poderia ter ido para Israel, mas preferiu voltar à pátria porque só sabe fazer uma coisa: escrever sobre a literatura alemã.

Por trás dessa discussão que divide os leitores alemães, há outro problema: o da relação entre o escritor e o crítico. Ela envolve o exercício do poder. A ética profissional pressupõe a aceitação da crítica, o que não é, porém, suficiente. Marcel Reich-Ranicki goza de um prestígio extraordinário, é doutor honoris causa das principais universidades alemãs, mas sente falta de carinho: ''Serei eu amado? Como qualquer pessoa, os críticos gostariam de ser amados''.


Colunistas

COISAS DA POLÍTICA – Dora Kramer

Vale-tudo inverte ônus da culpa
Políticos e partidos resolvem perder de vez qualquer cerimônia em suas relações eleitorais e fica combinado que a c ulpa é da lei, que os obriga a respeitar um mínimo de lógica na execução das coligações entre legendas. É assim que está, pois, convencionado nas análises de profissionais de alta especialização.

Para vários dos que já se manifestaram a respeito do vale-tudo que une alhos a bugalhos, sem um esgar de constrangimento, a verticalização desrespeitou a federação, feriu as tradições brasileiras da política tipicamente regional. Que graça.

Agora, a falta total de compostura, não só pela indiferença flagrante à regra, como até o incentivo à infração, todos consideram de uma normalidade ímpar. Tratam o fenômeno até mesmo como se fosse originalíssimo, nascido, de fato, na mesma data em que o Tribunal Superior Eleitoral interpretou que as leis vigentes mandavam as coligações partidárias seguir os acertos feitos em torno das candidaturas presidenciais.
Inverte-se o ônus da culpa com uma desfaçatez de fazer corar Paulo Maluf em palanque de Luiz Inácio. Como se Maluf declarasse voto no PT por causa da verticalização. Realmente, estabelecer qualquer relação de causa e efeito entre as alianças esdrúxulas feitas Brasil afora e a norma das coligações, é responsabilizar a regra pelo procedimento. Sendo que este é bem anterior àquela.

E acontecem por questões de conveniências circunstanciais e, não, por necessidade de adaptação à lei. Ora, por favor, está ocorrendo exatamente o oposto. A verticalização só poderia ser responsabilizada pelo que quer que fosse, se os personagens supostamente atingidos por ela estivessem em franco exercício de obediência à lei.

Mas, se estão fazendo justamente o contrário, onde a base para a afirmação, solene e peremptória, de que o tiro saiu pela culatra? Conclusão, aliás, que não faz jus à inteligência e tirocínio político do autor, o senador Roberto Freire, cuja lógica sempre tão precisa sofreu aí um baque de natureza não esclarecida.

Justo ele. O partido que preside, o PPS, seria o último a impor qualquer restrição, pois, muito antes de o tribunal se manifestar, as legendas que sustentam a candidatura Ciro Gomes (PPS, PTB e PDT) já haviam decidido que ali, na Frente Trabalhista, a aliança regional tinha de respeitar o acordo nacional.

Desnecessário informar ao atento leitor que, assim como as outras agremiações, a Frente também anda topando tudo por uma aliança. Qualquer que seja ela. José Serra é ''fascista'', no dizer de Ciro Gomes? Não tem problema, em Roraima não será por esse detalhe que o PPS não marchará junto ao PSDB.

E este é só um exemplo. Um dos casos onde, a menos que os doutos analistas nos apontem dados concretos, nem a poder de potente lupa é possível detectar a relação direta entre a verticalização e a liberalização geral.
A menos que se diga que o desenvolvimento da nova tese é excelente desculpa para justificar procedimentos resultantes daquilo que de pior existe na brasilidade - o cinismo malandro -, não há como sustentá-la vis-à-vis os fatos.

O PFL não ficará oficialmente com o PSDB porque entre as duas legendas houve rachas definitivos, assim como resistências irredutíveis ao candidato escolhido pelos tucanos. A família Sarney balança entre Ciro e Lula porque se recusa a votar em José Serra.

E assim, sucessivamente, iremos encontrando todas as explicações políticas e eleitorais para cada uma das circunstâncias que se apresentam. O PT recorreu ao PL? Sim, mas a verticalização não tem nada a ver com isso. Os outros partidos de esquerda não quiseram, desta vez, aliança com Lula que, então, foi buscar quem apoio lhe desse.

E, se esse acerto nacional não for completamente seguido nos Estados, francamente, a falsura não é da lei, mas das condutas infratoras. Pautadas pelas circunstâncias? Perfeitamente, mas não é porque a realidade é distorcida que se deve condenar a tentativa de corrigi-la.

Tal como se alegou quando da aprovação da reeleição. Era uma regra imoral, pois resultaria numa derrama de uso de máquinas administrativas em favor dos candidatos concorrentes a um segundo mandato.

Além de o argumento ter-se revelado fraco ante a realidade, viu-se que a questão não está no instrumento da reeleição, mas naquele que usa indevidamente o poder, este, sim, o alvo correto da reprovação.

A determinação do Tribunal Superior Eleitoral teve, e tem, o objetivo de ajudar a organização do sistema. Coisa que não se faz do dia para a noite, e que se torna cada vez mais difícil conseguir, quanto mais se condena a boa regra em defesa e exaltação do mau procedimento.


Editorial

VOTO CENSURADO

Está aberta a temporada de conquista dos votos dos cidadãos. Mais uma vez, em nome da igualdade, os candidatos vão exibir exatamente o que têm de desigual. A liberdade continua negada aos veículos e aos que pedem votos para representar a sociedade e governá-la.

Na sucessão presidencial, fica mais evidente a impropriedade do igualitarismo sem sentido político. Além dos candidatos que marcam presença nas pesquisas, a falsa igualdade no jornal, rádio e televisão apenas cria aberrações. Pretendentes sem votos, dos quais os eleitores não tomam conhecimento, apenas atravessam o processo eleitoral. Não representam minoria mas apenas eles próprios.

A legislação restritiva tem raiz num episódio regional e, por equívoco, o Congresso fez do país refém de uma falsa igualdade. Essa coerção da liberdade de palavra dos candidatos é censura sem qualquer disfarce. A campanha que devia ser um processo seletivo nivela-se por baixo.

Com base nela, qualquer juiz, mediante multas, pode levar à falência jornal e emissoras de rádio e de televisão por entender que há desigualdade quando o que existe são diferenças de qualidade evidentes entre candidatos e candidaturas. O engano legal pode ser irreparável. Chega de censura.


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07/08/2002


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