Ciro ataca Serra e elogia cearense







Ciro ataca Serra e elogia cearense
O pré-candidato do PPS à Presidência da República, Ciro Gomes, atacou ontem, em São Paulo, o ministro José Serra (Saúde) e elogiou Tasso Jereissati, classificando-o como o ""melhor candidato" da situação à sucessão de Fernando Henrique Cardoso.
As declarações ocorreram no momento em que Tasso, tradicional aliado de Ciro no Ceará, era homenageado pela família do governador Mário Covas, no Instituto de Engenharia de São Paulo.
O governador e Serra disputam espaço na tentativa de viabilizar no PSDB suas respectivas pré-candidaturas à Presidência.

Ciro afirmou ""tender a acreditar" que Serra seria o responsável pela divulgação de denúncias envolvendo o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, com desvios de recursos do FAT.
O sindicalista é filiado ao PTB -hoje coligado ao PPS- e frequentemente aparece como um dos possíveis candidatos a vice na chapa encabeçada por Ciro.
""Tudo isso compõe coerência com o estilo de fazer as coisas do Serra. Conheço ele há muito tempo. Ele é dado a essas coisas de futrica de imprensa, de intriguinha, de notinha. Ele é muito usual nesse comportamento", declarou, pouco antes de participar de um debate entre presidenciáveis na Fundação Getúlio Vargas.

Apesar dos elogios a Tasso, Ciro declarou que não pretende mais retirar sua candidatura ainda que o governador seja seu adversário na disputa pelo Planalto. ""Pena. Somos amigos", afirmou.
Mesmo dizendo-se avesso a salvadores da pátria, o presidenciável abusou de frases de efeito durante seu discurso a uma platéia de cerca de 350 pessoas, em sua maioria alunos, ex-alunos e professores da escola. ""Prefiro perder a eleição a semear ilusões."

Acompanhado da namorada, a atriz Patricia Pillar, Ciro também se empenhou na troca de elogios com o senador Eduardo Suplicy (PT), presidenciável petista com quem participou do debate.
O senador retribuiu as gentilezas, referindo-se com frequência a Patricia Pillar enquanto falava e agradecendo a presença da atriz.
Suplicy evitou fazer críticas a Luiz Inácio Lula da Silva, seu adversário na disputa pela indicação do PT para concorrer ao Planalto. Apenas insistiu na necessidade de debates entre os dois. A cúpula do PT resiste a esse tipo de encontro.


Maluf escapa de ovo, é levado à força e indiciado pela PF
Suspeito de omitir doações feitas por empresas à campanha para o governo do Estado, em 1998, e de beneficiar partidos políticos com o uso da máquina pública, o ex-prefeito Paulo Maluf foi indiciado ontem por crime eleitoral pelo delegado federal Almir Otero. Depois de três intimações não atendidas, Maluf foi conduzido coercitivamente até a Casa de Custódia da Polícia Federal, onde depôs pela segunda vez num dia marcado por constrangimentos.
Maluf soube que seria escoltado até a PF ao final das 30 perguntas formuladas pelo promotor Silvio Marques, do Ministério Público de São Paulo, no primeiro depoimento do dia. Respondeu a todas com um "nada a declarar". Marques apura a relação entre atos de improbidade atribuídos a Maluf, prefeito de São Paulo entre 1993 e 1996, e as contas de que sua família é beneficiária na ilha de Jersey, paraíso fiscal europeu.

Ovo
Sorrindo e acenando para as câmeras de TV na entrada do prédio, Maluf escapou por pouco de ser atingido por um ovo, atirado pelo pesquisador Juarez dos Santos ao chegar ao Ministério Público, por volta das 13h30. O ovo acertou a calçada e respingou no sapato de Eduardo Anastasi, assessor político do ex-prefeito.
Ao contrário de sua mulher, Sylvia, sua nora, Jacqueline, e seus filhos Lina, Lígia e Otávio, que depuseram na semana passada, Maluf e seu filho Flávio, que prestaram depoimento ontem, foram proibidos de entrar pela garagem do Ministério Público. Oficialmente, foi alegado que as vagas estariam à disposição da Escola Superior do Ministério Público e não poderiam ser usadas por terceiros. Era apenas um pretexto.

A restrição, segundo a Folha apurou, foi uma retaliação da direção do prédio às notas divulgadas por Maluf nos últimos dias. O ex-prefeito fez críticas à atuação dos promotores, cuja atitude "se assemelha ao terrorismo nazista dos tempos de Adolf Hitler". A proibição de acesso à garagem foi revista a seguir, a pedido do criminalista José Roberto Leal, chamado às pressas para acompanhar seu cliente à PF. No depoimento ao Ministério Público, Maluf estava acompanhado pelo advogado Ricardo Tosto.

"Armação tucana"
O ex-prefeito deixou a garagem em seu próprio carro, entre dois veículos da PF. Os policiais foram aplaudidos por funcionários do Ministério Público que assistiam à cena das janelas do prédio de 16 andares. Maluf negou as acusações que levaram ao seu indiciamento e atribuiu a ação da PF a uma "armação tucana".
"Estive em todas as CPIs e no Ministério Público, o que prova que essa é mais uma violência e arbitrariedade dos tucanos", disse Maluf, bastante exaltado. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), disse que a "PF, como o próprio nome diz, é federal, não tendo nada a ver com o Estado". Alckmin atribuiu o "destempero" de Maluf ao "desespero de quem é alvo de acusações cada vez mais graves contra si".
Flávio Maluf, que depôs pela manhã no Ministério Público, seguiu a estratégia de defesa já adotada por seus familiares e recusou-se a responder às perguntas do promotor Marques. O direito de calar é constitucional.

Nenhum cidadão é obrigado a produzir provas contra si, tendo de se pronunciar somente na Justiça.
A família Maluf nega a posse ou a condição de beneficiária de contas no exterior. Maluf, que também nega envolvimento em atos de improbidade administrativa, atribuiu as acusações a "petistas suíços". Obras viárias de sua gestão, o PAS (Plano de Atendimento à Saúde), que em 1995 substituiu o sistema de saúde municipal, e a emissão de títulos para pagamento de precatórios estão sob investigação do Ministério Público paulista e da Justiça Federal.


Inquérito na PF partiu de acusação de empreiteiro
O inquérito que levou ao indiciamento do ex-prefeito Paulo Maluf foi aberto em 1999, depois de denúncias feitas pelo empreiteiro Arnaldo Rodrigues dos Santos, ex-vice-presidente da Transbraçal. Em depoimento ao promotor José Carlos Blat, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), do Ministério Público de São Paulo, Santos acusou Maluf de não declarar doações recebidas em campanha e de favorecer empresas durante a sua gestão na prefeitura (1993-96).

Maluf foi indiciado por omissão de informação (pena prevista de um a cinco anos de prisão), benefício a partidos por uso da máquina pública (pena prevista de um a seis meses de detenção) e desobediência por não atender a convocações anteriores.
Até ser levado por policiais federais à presença do delegado Almir Otero, Maluf teria sido intimado a depor três vezes. A primeira intimação, de agosto de 2000, teria chegado à casa de Maluf depois da data marcada para o depoimento, segundo o advogado José Roberto Leal.

A última foi enviada para a rua Santo Amaro, 720. No endereço funcionava a sede do PPB. Maluf disse estranhar não ter sido encontrado. "Moro na rua Costa Rica, 146, há 35 anos. O endereço do meu escritório na avenida Europa, 437, também é conhecido", disse.
Para Maluf, a operação policial montada ontem foi articulada pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), provável adversário do ex-prefeito na disputa pelo governo de São Paulo em 2002. "Ele [Alckmin", que ainda acha que é vice e é um mestre do desemprego, do apagão, do rodízio de água e dos pedágios, vai ter mais medo de mim a partir de agora."

Leal considerou "absurdo" o indiciamento de seu cliente. "O delegado perguntou se Paulo Maluf conhecia algumas empre sas, se elas prestaram serviço à prefeitura e já foi indiciando-o", disse. O ex-prefeito, segundo o advogado, não se lembrou de tê-las contratado.


Policial aliciou claque malufista
Os quatro jovens que agrediram o pesquisador Juarez dos Santos, 42, que atirou um ovo contra o ex-prefeito Paulo Maluf foram recrutados pelo policial civil Marcelo Andrade, pré-candidato a deputado estadual pelo PPB, e por Chiquinho Faria, sócio da empresa Milênio Eventos e Produções.
A informação partiu de nove pessoas detidas a pedido da promotoria logo após o depoimento prestado por Maluf. Ouvidas de forma individual, elas afirmaram ter sido levadas ao prédio do Ministério Público às 12h, em uma Kombi da Milênio, para participar de manifestação favorável ao ex-prefeito, investigado por ser beneficiário de conta na ilha de Jersey.

Eles apontaram Chiquinho Faria e Marcelo Andrade como responsáveis pelo aliciamento. Em depoimento, disseram desconhecer o PPB, partido do ex-prefeito, ou as acusações que pesam contra Maluf e seus familiares.
Chiquinho Faria foi ouvido pelos promotores e afirmou ter sido acionado pelo policial para ajudar Paulo Maluf. O empresário de eventos disse que votou em Marta Suplicy (PT) na última eleição municipal, mas estaria decepcionado com a atual administração municipal. Disse ainda que o trabalho foi prestado de forma gratuita e que desconhece se o ex-prefeito tinha conhecimento da manifestação.

O policial, que trabalha no 80º Distrito Policial de São Paulo, não foi localizado pela reportagem. Dos nove ouvidos, pelo menos três são menores. Todos foram encaminhados ao 4º distrito, onde foi aberto inquérito para apurar as agressões.
Depois de tentar alvejar Maluf "por viver numa democracia", Juarez dos Santos também foi levado para o 4º DP. A polícia foi acionada por Eduardo Anastasi, assessor do ex-prefeito atingido pelo ovo.


Governo tenta desbloquear Orçamento
O Governo do Estado de São Paulo entrou ontem com uma reclamação no Supremo Tribunal Federal (STF) para contestar a decisão do desembargador do Tribunal de Justiça Álvaro Lazzarini que paralisou judicialmente o Orçamento estadual para 2002.
Segundo o recurso apresentado pelo governo estadual, houve uma usurpação de competência já que Lazzarini concedeu uma liminar de autoria de outro desembargador do Tribunal de Justiça, Luiz Pantaleão.

Na última terça-feira, Lazzarini determinou a paralisação do Orçamento porque entendeu que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) desrespeitou a autonomia financeira entre os Poderes ao determinar um corte de R$ 624,28 milhões do Orçamento do Tribunal de Justiça para 2002.

Legitimidade
A procuradora-geral do Estado, Rosali de Paula Lima, autora do recurso apresentado pelo governo, contestou ainda a legitimidade de o desembargador Pantaleão apresentar um processo em nome do TJ, o que poderia ser feito unicamente por meio do presidente do órgão, Márcio Bonilha.
A procuradora-geral solicitou a suspensão do mandado de segurança que pede a paralisação do Orçamento e a revogação da liminar. O caso será analisado pelo ministro Márcio Moreira Alves.


Índios invadem 40 fazendas em cinco dias
Vestidos com palha e pintados de vermelho, índios pataxós hã-hã-hãe ocuparam ontem mais sete fazendas na aldeia de Pau Brasil, no interior da Bahia.
Desde a última quinta-feira, quando começaram as primeiras invasões, os índios já controlaram totalmente 40 das 400 fazendas localizadas nos 54 mil hectares da reserva Catarina-Paraguassu, em Pau Brasil (528 km ao sul de Salvador). Eles consideram que a área é deles, mas hoje ocupam apenas 2.000 hectares ou 3,89% do total.

"Não vamos deixar as fazendas antes que os técnicos da Funai façam os cálculos das indenizações", disse o líder indígena Gérson Melo.
O representante da Funai (Fundação Nacional do Índio) no sul da Bahia, Alberto Evangelista, disse que representantes dos fazendeiros e do Ministério Público deverão se reunir nas próximas 48 horas para definir os planos de indenização para que os fazendeiros deixem a área. "O acordo está próximo", acrescentou.

O conflito entre fazendeiros e pataxós começou há 19 anos, quando os índios encaminharam à Justiça um documento solicitando a posse definitiva da reserva. Depois das ocupações das fazendas, os pataxós interditaram com pedras e pneus o principal acesso à reserva, impedindo a entrada dos fazendeiros


Candidato, Tasso pede Estado na economia
O governador do Ceará, Tasso Jereissati, 52, assumiu ontem sua pré-candidatura à Presidência da República pelo PSDB, durante discurso em que procurou se descolar da política econômica do governo e colocar-se como herdeiro natural de Mário Covas.
Em evento no Instituto de Engenharia de São Paulo, organizado em sua homenagem pela família de Covas, Tasso pediu maior intervenção do Estado na economia, cobrou a redução das desigualdades sociais e da criminalidade e decretou o fim do Consenso de Washington, doutrina liberal que norteou a política econômica nos anos 90. Tasso defendeu que as mudanças respeitem a estabilidade e as metas fiscais.

Slogan neotucano
O discurso, escrito, foi feito sob medida para atender à demanda crescente de setores do empresariado nacional. A fala de Tasso encaixou-se no slogan "continuidade sem continuísmo", lançado pelo ministro José Serra (Saúde), principal adversário de Tasso pela indicação tucana à sucessão.
O evento reuniu cerca de 1.500 pessoas, de acordo com estimativa dos organizadores. O custo total foi de R$ 4.000, rateados pela família e amigos de Covas. Seguidores de Serra sugeriram que a estrutura do Palácio dos Bandeirantes foi usada indevidamente para promover o tucano.

Dos empresários que apareceram, poucos declararam apoio explícito. "Tasso não é o único, não sei se Serra será candidato. Certamente, Serra tem um grau de conhecimento e de simpatia muito grandes aqui", disse o presidente da Fiesp, Horácio Lafer Piva. Antônio Ermírio de Moraes, que era esperado e elogiou Tasso, recentemente, não compareceu.
O clima de campanha dominou o evento. Na entrada, faixas diziam "Tasso 2002, o candidato da família Covas". Gritos de guerra em referência ao governador eram entoados por militantes.

Homenagem
O evento começou com a exibição de um vídeo de cinco minutos em homenagem a Covas, mostrando-o ao lado do presidente Fernando Henrique, do governador Geraldo Alckmin e de Tasso. No final, Covas apareceu dizendo que o governador cearense é um "excelente candidato".
Tasso gastou 15 dos 27 minutos de seu discurso na memória de Covas. "Minha referência de homem público, de caráter, de personalidade, foi Mário Covas. E, pouco antes de sua morte, sua lembrança a meu nome foi a maior honraria que eu recebi."

Tasso agradeceu o apoio da família do governador e, reconhecendo que o desafio de ser candidato é grande, sugeriu que não o temia: "Não sou frouxo."
"Como tentativa de continuação de uma posição colocada pelo nosso líder Mario Covas, eu não poderia nesse momento fugir a essa responsabilidade que está sendo me dada", declarou.
O governador disse que vai procurar diretórios regionais do partido -como Pernambuco e Minas- nas próximas semanas, dando prosseguimento a seu trabalho para viabilizar-se.

Durante todo o discurso, Tasso fez uma única referência, indireta, ao ministro Serra. "Não estamos aqui contra ninguém. Não estamos obcecados por coisa nenhuma", declarou. Serra, que recebeu um telefonema de Renata Covas para ir ao evento, não apareceu.
Atrás de Serra nas pesquisas, Tasso tem utilizado o apoio da família Covas como arma para neutralizar seu adversário. Também tem se aproveitado de sua boa relação com o PFL, que não tem restrições a seu nome -ao contrário do que ocorre com Serra.

Outro pré-candidato tucano, Paulo Renato ( Educação), esteve no evento, mas deixou o local no início da fala de Tasso.
Alckmin, que chegou com Tasso, declarou que aprova o lançamento de candidaturas. "Mas é um processo que está só começando. É preciso um debate de idéias." Com os dois, também estava o senador Pedro Piva, suplente de Serra. Após o evento, Tasso, a família Covas, Alckmin e mais 30 convidados foram jantar na área reservada da churrascaria Barbacoa, no Itaim Bibi.
Grande parte dos presentes ao evento era formada por prefeitos, deputados e vereadores tucanos. O vereador Ricardo Montoro, serrista declarado, pediu para ser fotografado com o cearense. Tasso brincou: "O Serra vai te ligar de madrugada."


Para Serra, Ciro é o "candidato do insulto"
Ao saber das declarações do pré-candidato à Presidência Ciro Gomes, o ministro da Saúde, José Serra, disse que o presidenciável do PPS é "o candidato do insulto". "Isso que ele [Ciro" disse não é novidade, porque insultar é de fato a única coisa que ele sabe fazer. Não tenho nada mais a dizer sobre os destemperos [de Ciro"", disse em Brasília, depois de voltar do Paraná, onde participou do lançamento do Bolsa-Alimentação no Estado.

No evento, o ministro criticou a "onda de negativismo" no Brasil e, a exemplo do que já fez o presidente Fernando Henrique Cardoso, usou a seleção brasileira como metáfora de coisas que não vão bem no país.
"O Brasil de vez em quando sofre ondas de negativismo, de baixa auto-estima e baixo amor-próprio", disse. "Às vezes, fica parecendo a seleção brasileira, que tem Rivaldo, Roberto Carlos, Denílson e não joga bem, quando tem tudo para jogar bem. Nosso país também tem tudo para jogar bem."
Na solenidade no Paraná, Serra entregou 46 carteirinhas do Bolsa-Alimentação.


Secretário indica álibi para jantar com lobista
Um álibi internacional apresentado ontem ao Ministério Público Federal indica que o secretário nacional de Assistência à Saúde, Renílson Rehen, não jantou com o presidente do laboratório Novartis no Brasil, Andreas Strakos, em 14 de agosto.
O suposto jantar está registrado na agenda do lobista Alexandre Paes dos Santos, que foi apreendida pela Polícia Federal no curso das investigações que apuram uma acusação de extorsão segundo a qual funcionários do Ministério da Saúde teriam cobrado propina de representantes de laboratórios farmacêuticos.

O italiano Renato Tasca, consultor da Opas (Organização Pan-Americana da Saúde), encaminhou ao Ministério Público Federal uma declaração na qual diz ter jantado com Rehen em 14 de agosto. Seria uma despedida, pois Tasca retornaria a Roma, onde mora, no dia seguinte.
De passagem pelo Brasil, em compromissos de trabalho, Tasca redigiu o documento ontem, pois seu retorno à Itália estava previsto para hoje. Segundo Tasca, o jantar se deu entre as 21h e as 23h30, na casa de Marcelo de Oliveira, que é gerente de projetos da Secretaria de Assistência à Saúde e baiano como Rehen.

Strakos, da Novartis, confirma ter jantado no restaurante Trastevere, em Brasília, na data e horário indicados na agenda do lobista. Mas não confirma as anotações de que se encontrara com Rehen na ocasião. Strakos diz que jantou com um amigo, cujo nome manterá em sigilo.

Secretária afastada
Ontem, a funcionária da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) Debora Alves depôs na Polícia Federal. Negou conhecer o lobista Santos e disse não saber explicar por que o número de sua conta bancária e de seus telefones pessoais estão registrados na agenda dele.

O nome de Debora aparece várias vezes nas anotações, com registros de almoços nos melhores restaurantes de Brasília. Debora é secretária de Gonzalo Vecina, presidente da Anvisa, o responsável por definir as regras da comercialização de medicamentos.

No depoimento, contou que tem acesso, da mesma forma que outros funcionários da Anvisa, a documentos confidenciais -sem detalhar de que tipo- e à agenda do ministro José Serra e de seus assessores do primeiro escalão.
Ela disse ainda se recordar de dois depósitos com valores significativos em sua conta: um de R$ 15 mil e outro de R$ 2.000. A origem do dinheiro, segundo Debora, foi a venda de uma barraca e de produtos para caça, pesca e camping, que lhe pertenciam, na feira de importados de Brasília.

A venda foi feita em abril. Mas os depósitos só teriam acontecido no final de setembro (R$ 15 mil) e início de outubro (R$ 2.000).
A corregedoria da Anvisa afastou Debora e abriu uma sindicância interna na agência, cujo resultado deve ser encaminhado ao Ministério Público Federal em até dez dias.


Serra repete FHC e ataca negativismo
O ministro da Saúde, José Serra, criticou ontem a "onda de negativismo" no Brasil e, a exemplo do que já fez o presidente Fernando Henrique Cardoso, usou a seleção brasileira como metáfora de coisas que não vão bem no país.
A declaração foi feita durante discurso em Quatro Barras (PR), onde esteve para lançar o programa Bolsa-Alimentação no Paraná. Na solenidade, Serra entregou 46 carteirinhas do programa.

"O Brasil de vez em quando sofre ondas de negativismo, de baixa auto-estima e baixo amor-próprio; não é capaz de reconhecer coisas boas que a gente faz", disse Serra. "Às vezes, fica parecendo a seleção brasileira, que tem Rivaldo, Roberto Carlos, Denílson e não joga bem, quando tem tudo para jogar bem; nosso país também tem tudo para jogar bem."

No início do mês, Fernando Henrique havia criticado a seleção, dizendo que se o Brasil ficasse fora da Copa de 2002 seria "o pior de tudo". A declaração revoltou os jogadores, que consideraram a vitória de 2 a 0 sobre o Chile, em partida pelas eliminatórias, uma "resposta" ao presidente.
Ao criticar o desempenho da seleção ontem, Serra também atingiu um antigo desafeto -o técnico da seleção, Luiz Felipe Scolari. Ao ver o Palmeiras, seu time do coração, ser eliminado do Brasileiro de 1998 em seu próprio estádio, o ministro declarou que Scolari -então técnico palmeirense- pensava "pequeno" e que não era "o treinador apropriado para o clube". Scolari então ironizou a situação da saúde no país.

Ontem Serra queixou-se de que o país não tem o costume de elogiar iniciativas públicas que dão certo. Ao citar um exemplo, ele perguntou às demais autoridades no palanque o nome "daquele músico que sofreu um acidente e machucou a cabeça [Herbert Viana"". "Ele foi tratado num hospital público", disse, referindo-se ao Sarah Kubitscheck, de Brasília.

Estratégia
No Paraná, o presidenciável tucano seguiu à risca sua estratégia de, no momento, não falar sobre política. "A população não está preocupada agora com eleição. O que ela quer do ministro da Saúde é que ele trabalhe pela saúde; isso eu estou fazendo", afirmou.

A Folha apurou que o ministro não pretendia comparecer ao evento organizado pela família Covas para Tasso Jereissati, em São Paulo. Ontem o ministro também cogitava cancelar seu discurso na abertura de seminário sobre integração econômica e Alca (Aliança de Livre Comércio das Américas), marcado para hoje, na Câmara Federal, em Brasília. Serra temia que sua participação no evento pudesse ganhar conotação eleitoral.


Benedita entra com ação contra Garotinho
A vice-governadora do Rio, Benedita da Silva (PT), entrou ontem na Justiça com uma ação contra o governador Anthony Garotinho (PSB), que na semana passada a acusou de ter participado de uma operação de desvio de R$ 500 mil de um projeto social. Benedita quer ser indenizada por danos morais.
O governador do Rio, ao saber da ação da vice, reagiu dizendo considerar o caso superado.

Novas acusações
Ontem, o deputado estadual Carlos Minc (PT) pediu ao Ministério Público que investigue acordos que deram prejuízo de R$ 14 milhões à Cedae (companhia de águas e esgoto). A es tatal concedeu descontos de 45% sobre valores depositados por hotéis na Justiça, enquanto recorriam da cobrança das contas de água.
Os hotéis queriam ser taxados como unidades residenciais e não como comerciais. Mesmo tendo seus recursos negados até no STJ (Superior Tribunal de Justiça), os hotéis ganharam o desconto.
O governador do Rio disse que ficou perplexo ao saber da existência dos acordos e que determinou uma "investigação severa e profunda".


Ala moderada rebate críticas de que Lula estaria domesticando o PT
Lideranças da ala moderada do PT repudiaram ontem as críticas feitas pelo prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues (PT-PA), ao principal líder do partido, Luiz Inácio Lula da Silva.
Em entrevista à Folha, Rodrigues, que deve ser o pré-candidato dos radicais petistas à Presidência da República, acusou Lula de "procurar domesticar o partido" e "torná-lo palatável ao empresariado".
"Não tenho de responder à criticas de quem quer que seja. No dia em que ele [Edmilson Rodrigues" fizer as críticas para mim, eu comento", disse Lula.

"É um equívoco dizer que a maioria está domesticando o partido. O PT é de esquerda e quer fazer um governo de esquerda", afirmou o deputado federal José Genoino (SP).
Em referência à crítica de Rodrigues à possível aliança do PT com o PL, Genoino acusou o prefeito de Belém de "esquecer-se de que alguns deputados do PL lhe deram apoio em sua campanha para reeleger-se prefeito [no ano passado"".

Outro deputado da ala moderada, João Paulo Cunha (SP), disse que as declarações de Rodrigues foram "impróprias". "É esse tipo de declaração que serve aos adversários do PT. O Edmilson precisa olhar para a situação dele em Belém, já que o PFL e o PMDB são de sua base de apoio", afirmou.
O presidente nacional do PT, José Dirceu (SP), disse que a cúpula petista tem legitimidade para falar em nome do partido. "Esse debate já aconteceu. O partido, ao nos eleger, escolheu uma tese, que estamos viabilizando", afirmou.

Já o senador Eduardo Suplicy (SP), também pré-candidato à Presidência da República, disse que a entrevista de Rodrigues mostra que o debate interno será "bastante positivo".
Ontem, o PT prorrogou o prazo final para a inscrição nas prévias presidenciais de 3 para 16 de dezembro. A justificativa foi o adiamento do encontro nacional do partido a ser realizado em 14 e 15 de dezembro, no Recife.


Artigos

O terror com sinal trocado
CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Como qualificar a morte de crianças afegãs retratada ontem nas capas da Folha e de seu caderno Mundo? Há outra qualificação que não a de terrorismo?
A menos, é claro, que estejamos todos tão embrutecidos que aceitamos "danos colaterais", a linguagem dos militares, para designar a morte de crianças atingidas pelos bombardeios norte-americanos.
Seria o inaceitável uso de uma dupla linguagem. Quando os mortos inocentes surgem de um ataque aos Estados Unidos é terrorismo. Quando os mortos inocentes são afegãos é "dano colateral".
É claro que sempre haverá aqueles que aplaudirão as mortes, porque acham que, com elas, corta-se o mal pelo raiz e se impede que cresçam futuros "talebans".

Também haverá os cretinos unidimensionais que enxergam em qualquer crítica a qualquer ação norte-americana um apoio ao terrorismo.
Com esses dois tipos de gente, é inútil tentar raciocinar. São órfãos da Guerra Fria e dividem um mundo imensamente complexo em apenas duas cores, preto e branco, incapazes de tentar ver todos os incontáveis matizes intermediários.

Para os que ainda não desistiram de pensar, passar batido pelas mortes das crianças no Afeganistão (ou pelo bombardeio de um hospital, a ser ainda confirmado) é conceder licença indiscriminada para matar aos militares norte-americanos.
Talvez algumas consciências se calem porque, afinal, um regime como o do Taleban é, efetivamente, odioso. Se desaparecer, não há por que chorar uma única lágrima. Mas as crianças mortas tinham alguma coisa a ver com isso?

De novo: nem todos os erros que os Estados Unidos cometeram em sua política externa desde a independência justificam os atentados de 11 de setembro. Mas tampouco os atentados justificam a morte de crianças afegãs.


Colunistas

PAINEL

Ganhar tempo
Presidente do PMDB, Michel Temer discutirá hoje com Itamar Franco em Brasília o adiamento das prévias do partido para a eleição presidencial, previstas para janeiro. A proposta é fazer as primárias em março.

Questão de princípio
O governador mineiro é simpático à idéia de adiar as prévias para março. Mas pode bater o pé apenas porque ela tem sido defendida por Jarbas Vasconcelos, o principal adversário de sua candidatura no partido.

Simples turismo
De Michel Temer, sobre Itamar e Pedro Simon dizerem que ele não deve aceitar o convite de FHC para acompanhá-lo à Europa: "É intolerável que alguém me diga com quem devo falar. Não aceito ser patrulhado".

Impunidade parlamentar
O senador Luiz Otávio (PPB-PA), que admitiu ter assinado notas frias para receber um financiamento público, não deverá sofrer processo de cassação. Para muitos membros da Comissão de Ética do Senado, como o senador não mentiu, não quebrou o decoro parlamentar.

Censura prévia
Advogados de Maluf pressionam o procurador Jean-Louis Crochet, de Genebra, a não dar informações ao Brasil sobre as contas que o ex-prefeito manteve na Suíça entre 85 e 97. Dizem que as informações prestadas pela Suíça ao Brasil acabam publicadas pela imprensa.

O dono do mar
Sarney volta hoje ao Brasil, após receber homenagens na Europa por sua obra literária. O senador já não está tão convencido de que Itamar seja um nome forte para 2002. E está bem menos cauteloso quando fala das chances de Roseana.

Nova investida
A oposição a José Ignácio na Assembléia do ES apresentará nos próximos dias novo pedido de impeachment do governador

Cara a cara
Depois de responsabilizar o PSTU pela radicalização da greve dos professores universitários, o ministro Paulo Renato recebe hoje o líder sindical dos funcionários das universidades, Aguinaldo Fernandes. O líder jamais aparece no ministério sem o broche do PSTU.

Desculpa esfarrapada
O evento do Paraná usado por José Serra para justificar sua ausência no ato pró-Tasso Jereissati em SP foi marcado na última hora. Apenas na sexta-feira a Prefeitura de Quatro Barras foi informada de que o ministro estaria ontem na cidade para lançar o Bolsa-Alimentação.

Madrugada adentro
O fax enviado pela equipe de Serra deixou o prefeito de Quatro Barras (PR), Roberto Adamoski, em polvorosa. Seus assessores passaram o final de semana arrumando para o evento o salão paroquial da cidade.

Força de expressão
Lula (PT) esteve na última sexta-feira com executivos do BankBoston. O petista disse a eles que foi um exagero de retórica a declaração de que o Brasil não poderia exportar enquanto houvesse pessoas com fome.

Serviço privado
Ex-assessora do gabinete de José de Abreu (PTN), Aldrin Buttner entrou na Justiça contra o deputado. Ela recebia pela Câmara, mas prestava serviços à Rádio Atual, ao Centro de Tradições Nordestinas e à indústria Lani, controlados por Abreu.

Visita à Folha
Ciro Mortella, presidente-executivo da Abifarma (Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica), visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Omilton Visconde Júnior, presidente do Sindusfarma (Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos do Estado de São Paulo), e de Luiz Roberto Serrano, da Serrano & Associados.

TIROTEIO

Do deputado Ricarte de Freitas (PSDB-MT), que promoverá amanhã um jantar em Brasília de apoio à candida tura Serra:
- Não vejo empolgação na base parlamentar com a candidatura Tasso. Ainda está muito forte no partido a lembrança de que o nome foi citado primeiramente por ACM. O nome dele atende aos interesses do PFL.

CONTRAPONTO

Técnicas de ensaboar
Na semana passada, José Aníbal, presidente do PSDB, pediu à sua secretária que ligasse para o gabinete do ministro Pimenta da Veiga (Comunicações).
Minutos depois, a secretária o avisou de que Pimenta estava no "palácio" e que não poderia atendê-lo naquela hora. Mais tarde, Aníbal pediu que a secretária insistisse na ligação. Como da primeira vez, Pimenta não estava em seu gabinete:
- Está no palácio...
No fim do dia, Pimenta ligou de volta. Bem-humorado, o presidente do PSDB não perdoou:
- Você me faz lembrar o Humberto Lucena [senador do PMDB, morto em 98].
Certa vez, contou Aníbal, um correligionário disse a Lucena:
- O senhor deve ser o homem mais limpo do mundo...
Lucena sorriu amarelo. O correligionário então explicou:
- Toda vez que eu ligo, o senhor está no banho...


Editorial

INFORMAÇÃO E PODER

Está em curso um processo que muito provavelmente resultará num novo modelo de negócios para os grupos de comunicação do Brasil. Dificuldades de financiamento, aumento de custos e restrição de receitas se combinam com -e dão ensejo a- pressões oligopolistas no setor. Não está ameaçado apenas o ambiente de concorrência na mídia. Está em jogo um dos instrumentos privilegiados de exercício da democracia numa sociedade de massas.

O reduzido espaço para obtenção de financiamento e parcerias torna o ambiente propício à diminuição dos atores nos meios de comunicação. Uma maneira correta e não-paternalista de combater o problema seria permitir a participação minoritária de capital estrangeiro na mídia, como prevê a legislação de países como os Estados Unidos.

Dispositivo semelhante está contido numa proposta de emenda constitucional que aguarda votação na Câmara há um ano. O mais recente impasse teria se dado por uma recusa da oposição em endossar o projeto sem que nele fosse prevista uma agência específica para fusões e aquisições no setor.
De fato, sem melhora substancial na regulação dos negócios de mídia, o financiamento externo poderá converter-se, ele próprio, num vetor de concentração de mercado, privilegiando quem já detenha supremacia econômica. Mas parece inútil criar outra agência reguladora apenas para fusões e aquisições no mercado midiático. O melhor seria que instituições já existentes, como o Cade -que julga duas ações envolvendo práticas de oferta exclusiva de conteúdo pelas Organizações Globo- e a Anatel, fossem mais bem aparelhadas para atuar nesse terreno.

A emenda constitucional do capital estrangeiro não é o fator que mais ameaça a competição na mídia brasileira. O anteprojeto de lei de radiodifusão proposto pelo Ministério das Comunicações preocupa muito mais. Entre outros graves defeitos, ele acaba com os limites que proíbem que uma mesma pessoa acumule um dado número de concessões de TV e não regula o domínio simultâneo de meios de comunicação numa mesma localidade.

O que se espera do ministro Pimenta da Veiga é que altere a linha de sua proposta. É preciso retomar o que foi esboçado no primeiro governo Fernando Henrique Cardoso: conceber uma legislação para todos os meios de comunicação de massa que limite as ações do poder econômico e que transfira o poder regulatório do Executivo para agências públicas, passíveis de maior controle democrático.


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10/23/2001


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