Ciro e Serra se evitam, sem esconder clima de confronto









Ciro e Serra se evitam, sem esconder clima de confronto
Candidatos foram os únicos que não se cumprimentaram no evento; já Lula, em tom de cordialidade, conversou com todos presidenciáveis

BRASÍLIA - Apesar da tranqüilidade aparente e da convergência entre as idéias defendidas pelos candidatos, o debate organizado pela Confederação da Agricultura e da Pecuária do Brasil (CNA) serviu para deixar clara a animosidade crescente entre Ciro Gomes (PPS) e José Serra (PSDB).
Os dois foram os únicos oponentes que não se cumprimentaram e seus grupos de apoio - formados por assessores e políticos - ocuparam lados opostos do auditório, ficando bem longe um do outro.

Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por sua vez, exercitou a afabilidade: não se esquivou de cumprimentar todos os adversários e reservou um abraço caloroso para Ciro, com quem cochichou e trocou sorrisos durante o debate. "Eles estão preparando o ambiente para um segundo turno civilizado", comentou o presidente do PPS, o senador Roberto Freire (PE), que estava na platéia.

Simpatia - O candidato a vice na chapa de Lula, senador José Alencar (PL-MG), também caprichou na simpatia. Chegou num dos intervalos, quando o encontro já tinha passado da sua metade, falou com todos os candidatos a presidente e ainda fez questão de se confraternizar com a vice de Serra, deputada Rita Camata (PMDB-ES), e com o coordenador da campanha adversária, Pimenta da Veiga. Depois, tratou de apertar a mão de Freire.

Durante a exposição dos candidatos, transmitida ao vivo pelo Canal Rural, Anthony Garotinho (PSB) mais uma vez desempenhou o papel de animador eleitoral. Ao falar de protecionismo, ironizou a experiência acadêmica de Ciro, dizendo não que "é necessário ter estudado em Harvard" para saber que o Brasil também pratica uma política de subsídios.

Garotinho apresentou-se como alguém que conhece bem as coisas do campo e arrancou risos da platéia ao zombar da folclórica falta de intimidade de Serra com a vida rural. "Não conheci uma vaca aos 20 anos", brincou o candidato do PSB, sem citar o adversário. As câmeras não captaram, mas até o tucano riu.

A sintonia entre Lula e Ciro foi além do que previa a estratégia política.

Tão logo acabou o debate, os dois evitaram entrevistas com a alegação de tinham algo urgente para fazer. Acabaram se encontrando no banheiro.

Enquanto isso, ainda no auditório, Clarissa Matheus, filha de Garotinho, usava uma máquina amadora para tirar fotos do pai ao lado do presidente da CNA, Antônio Ernesto de Salvo.


'Há coisas que só a derrota ensina', diz Lula
Petista assume discurso cauteloso sobre chance de vitória e afirma que há muito trabalho pela frente

Considerando que o Tribunal Superior Eleitoral revogará - por absurda - a cassação da candidatura do governador Jorge Viana, determinada pela Justiça Eleitoral do Acre, a questão principal deixa de ser a decisão em si.

O importante mesmo são suas circunstâncias e conseqüências.

Nelas é que o Brasil precisa prestar atenção, dado que nesse episódio o que está em jogo não é meramente uma candidatura nem uma disputa política. A decisão do TRE do Acre pôs a violência, o crime e o narcotráfico no centro da cena eleitoral.

O motivo mais urgente para que se estreite a vigilância sobre aquele Estado é o evidente e iminente perigo de vida que corre o governador. Esta ameaça nunca o abandonou ao longo dos quatro anos do primeiro mandato, mas agora agrava-se porque o narcotráfico - que lá elege deputados e, pelo visto, sustenta juízes - não parece disposto a suportar mais quatro anos de Jorge Viana no poder.

A quadrilha - cujo nome de maior expressão nacional é o deputado cassado, e agora preso, Hildebrando Pascoal -, tentou tirá-lo do caminho com aquilo que o crime considera bons modos.

Pela via torta, mas, de qualquer forma, judicial.

Não deu certo, bem como não dará pelo voto, já que a preferência do eleitorado pelo governador beira os 60%. Evidencia-se, pois, que a tentativa seguinte será mesmo pela força bruta.

A bandidalha que, eleita, já foi flagrada em gravações prometendo liberdade a Hildebrando,
não se conformará facilmente em perder a oportunidade de voltar a dominar a política local e, desse modo, devolver ao Acre o ambiente de terra de ninguém que resultou no assassinato de Chico Mendes.

Eleito pelo PT em aliança com o PSDB, Jorge Viana desde o primeiro instante juntou esforços com o Ministério Público, buscou apoio em Brasília e, assim, conseguiu mandar para a prisão pelo menos 20 dos integrantes da turma de Hildebrando que, condenados pela Justiça, transitavam livres como cidadãos de bem e sob a proteção do Estado.

Toda a rede de ligações da organização criminosa que mata, rouba, tortura, trafica e seqüestra no Acre, obviamente, é inimiga de Jorge Viana. Alijada do centro de decisões do Estado com a eleição do petista, tenta agora voltar pelo caminho que resta: a política.

Para isso, é necessário tirar Jorge Viana do caminho. E só há duas maneiras:
fraudando as eleições para o governo ou matando o candidato. Ditas assim, essas duas possibilidades podem soar exageradas a ouvidos mais civilizados.

Mas não são. Desviem-se os olhares um minuto sequer de lá, e poderemos todos nos arrepender por ignorar que o embate de forças políticas não tem como cenário único a eleição nacional nem são o dólar, os economistas ou os publicitários os protagonistas do Brasil real.

Evidentemente que importa - e muito - esquadrinhar todos os aspectos das vidas, das carreiras, das condutas e dos planos daqueles que pretendem dirigir a Nação. Mas o episódio da cassação da candidatura de Jorge Viana nos mostra o quanto é perigoso desdenhar do que se passa nas províncias.

No dia 23 de julho, há mais de um mês, portanto, Jorge Viana esteve em Brasília e alertou diversas pessoas - entre elas o presidente Fernando Henrique Cardoso - para o golpe que preparavam Hildebrando e seus asseclas.

Tão improvável pareceu a hipótese de o tribunal regional atender a um pedido de impugnação por motivo banal que o aviso soou a excesso de zelo por parte do governador.

Não era. Jorge Viana sabia do que estava falando. Agora que ele manifesta o temor de que seus inimigos partam para sua eliminação física pura e simples, urge que se lhe dêem ouvidos.

Não apenas garantindo a proteção pessoal - o que há tempos já é feito -, mas aprofundando o exame das circunstâncias que levaram o narcotráfico a uma vitória judicial. Se não bastar uma devassa na Justiça local, que se faça ali uma intervenção federal.

Cumpre lembrar que o bando que ora atua está executando um plano há quatro anos em gestação. Dificilmente essa gente será pega desprevenida e com certeza absoluta não se sensibilizará nem se intimidará com atos de protesto e gestos de solidariedade.

Se queremos homenageá-lo, que tenhamos a capacidade social, moral, política e institucional de mantê-lo vivo e pressionar os poderes constituídos a exibir ao País os autores do crime de lesa-candidatura.

Os executores já sabemos quem são, pois desmoralizaram-se publicamente.

Faltam agora aparecer os mandantes. Cujos nomes talvez constem dos pedidos de registros de candidaturas aprovados pela Justiça Eleitoral do Acre.


Garotinho acusa mídia de boicotar sua candidatura
BRASÍLIA - O candidato do PSB à Presidência, Anthony Garotinho, afirmou ontem que não tem subido nas pesquisas porque a mídia bloqueia sua candidatura. Logo depois do debate na CNA, ele previu que terá melhor desempenho daqui para a frente, com o horário eleitoral.

Garotinho disse que pesquisas feitas pelo PSB mostram queda de Ciro Gomes (PPS) e estabilidade dele, de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de José Serra (PSDB). Ele criticou a troca de acusações nos programas dos rivais. "Se dizem que um é ladrão, outro mentiroso e outro despreparado, que votem em alguém que não é ladrão nem mentiroso nem despreparado. Estou aqui."

Na sua opinião, o debate na CNA mostrou que seus adversários estão despreparados. "Eles se perderam, mas é normal pois não conhecem o setor", disse.

No debate, ele defendeu a concessão de subsídios ao setor. Depois, disse que se referia a seu uso como defesa, enquanto não são resolvidas pendências do Brasil contra outros países na Organização Mundial do Comércio (OMC). Para ele, o governo deve dar subsídios, de forma pontual. "Não se pode falar de forma generalizada."


Freire 'se equivoca' sobre Scheinkman, diz Ciro
Para ele, senador não conhece o economista e 'acabou engolindo' críticas veiculadas pela imprensa

O candidato do PPS, Ciro Gomes, afirmou ontem que o presidente do seu partido, senador Roberto Freire (PE), se quivocou ao criticar a idéias defendidas pelo professor da Universidade de Princeton e economista, José Alexandre Scheinkman, que passou a integrar a sua assessoria econômica. Em entrevista ao jornal Bom dia Brasil da TV Globo, na qual teve de voltar a explicar as declarações ácidas que diz terem sido manipuladas num esforço para produzir "um mostro", Ciro disse que Freire não conhece economista e "acabou engolindo a pílula lançada pela imprensa, que logo se apressa".

De acordo com Ciro, as idéias de Scheinkman não se opõem às suas idéias, principalmente no tocante à relação comercial do Brasil com os demais países. "A questão básica que o professor Scheinkman defende, com a qual estou de acordo, é que o Brasil precisa aumentar brutalmente a sua presença no comércio exterior", disse o candidato do PPS. Ele negou que o convite ao economista faça parte de uma estratégia de marketing.

Mercado - Questionado sobre a frase "o mercado que se lixe", Ciro repetiu a explicação de que foi usada fora de contexto.

Antes, porém, disse aos jornalistas que citavam a imprensa escrita para fundamentar a pergunta que eles não deveriam acreditar nos jornais.

Em vários momentos, Ciro interveio e pediu para que o deixassem apresentar a sua versão para os fatos e concluir suas explicações. Depois de explicar a sua frase sobre o mercado, reafirmou que não será "domesticado".

"Não há força humana que me leve a ser domesticado para engolir os fundamentos de um programa que entregou o Brasil ao interesse financeiro internacional", disse. "Antes disso, serre o meu braço."

Programas - O candidato explicou que, quando fala em convocar plebiscito ou referendo em caso de grande impasse, refere-se à forma prevista na Constituição. "Esse tipo de consulta só pode ser feita por meio do Congresso, como está previsto na Constituição, em caso de impasse grave", explicou, lembrando ser uma prática média na Europa e nos Estados Unidos.

Em relação à promessa de construir 300 mil casas populares por ano, Ciro disse que os recursos poderão vir de várias áreas do governo federal. Na entrevista, ele apontou dois exemplos: a verba destinada para o custeio de passagens aéreas e diárias para autoridades e funcionários e os recursos reservados para propaganda oficial. "Há vários setores onde podemos obter os recursos necessários, mas citei apenas dois."


Serra perde tempo na TV por atacar Ciro
Tribunal recusou, entretanto, pedido de direito de resposta a candidato do PPS

BRASÍLIA - O ministro Caputo Bastos, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), decidiu ontem punir o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, pela veiculação no horário eleitoral gratuito de uma declaração de seu adversário Ciro Gomes (PPS) chamando de "burro" um ouvinte de uma rádio baiana.

Pela decisão, Serra perderá o dobro do tempo utilizado com a transmissão da declaração de Ciro no programa de hoje. O tempo deve ser calculado pela Rede Minas, emissora contratada para gerar os programas eleitorais gratuitos.

Advogado de Serra, o ex-ministro do TSE Eduardo Alckmin decidiu recorrer ontem mesmo contra a punição, pedindo para que a pena não seja aplicada até que o plenário do tribunal se manifeste.

Ele considera que a discussão é inédita no TSE e merece ser analisada pelo plenário.

Segundo Bastos, o problema ocorreu porque os programas de Serra não transmitiram a pergunta do ouvinte baiano, que provocou a resposta de Ciro.

Advogados do candidato do PPS alegam que a pergunta foi agressiva.

"Não se controverte que uma pergunta foi dirigida ao representante (Ciro) e que originou a resposta que foi veiculada", observou o ministro. "Os representados (Serra e sua coligação), ainda que não tenham agido com dolo, é convir não agiram com a cautela devida." A veiculação já estava suspensa desde a semana passada, quando Bastos concedeu uma liminar a pedido de Ciro.

Apesar da pena a Serra, o ministro negou pedido dos advogados de Ciro para que lhe fosse concedido direito de resposta no horário tucano. "Não vejo configurada a alegada injúria na utilização da imagem e voz do representante (Ciro)", acrescentou.

Injúria - Já outro ministro do TSE, José Gerardo Grossi, determinou ontem ao candidato do PPS à Presidência, Ciro Gomes, que não volte a veicular em sua propaganda eleitoral imagens apresentadas no programa de sábado e repetidas no domingo por considerá-las injuriosas ao adversário José Serra (PSDB).

No início do programa, enquanto era transmitida cena de uma luta livre, o locutor afirmava, logo após o fim do programa de SeRra: "Os golpes baixos acabam aqui. Daqui para A frente o nível da programação vai subir." O detalhe é que o horário eleitoral tinha acabado de veicular a propaganda de Serra. "As cenas constantes da fita anexada para exame por certo agridem a honorabilidade dos representantes (Serra e sua coligação)", entendeu Gerardo Grossi.

"Em princípio, são cenas injuriosas." Em outra decisão, Grossi negou pela segunda vez em menos de uma semana pedido de liminar feito pelos advogados de Ciro com o objetivo de impedir Serra de veicular em sua propaganda a imagem e a voz de seu cliente. Ciro reclamou da exibição de cenas em que ele afirmava ter estudado a vida toda em escolas públicas. O programa de Serra informava que Ciro estudou três anos em escola particular.


Solução gaúcha
O vice-governador do Rio Grande do Sul, Miguel Rosseto, pediu licença do cargo para se dedicar à campanha política. Ele concorrerá novamente a vice-governador, na chapa de Tarso Genro (PT).

Quando Olívio Dutra se ausentar, assumirá o Executivo o presidente do Tribunal de Justiça do Estado, José Eugênio Tedesco.


Artigos

Lula, a história e a Petrobrás
Jarbas Passarinho

A esquerda costuma reivindicar a paternidade do monopólio do petróleo pelo movimento popular que desencadeou nos anos 1950, conhecido como "o petróleo é nosso". O presidente Getúlio - revelou-me Gustavo Capanema, que fora seu líder na Câmara - enviou a mensagem admitindo a participação do capital estrangeiro. Confiava, porém, que a esquerda emendasse o projeto de lei tornando a Petrobrás a empresa do monopólio estatal. Ficaria com o Congresso, e não com ele, a responsabilidade pelo radicalismo. Luiz Carlos Prestes, senador e líder do Partido Comunista, não correspondeu à manobra de Getúlio. Mas os deputados Bilac Pinto, da UDN, e Euzébio Rocha, do PTB de São Paulo, fizeram aprovar a emenda monopolista, na lei que criou a Petrobrás. Getúlio lavou as mãos e sancionou a lei.

Presidente da Petrobrás, o general Juraci Magalhães contratou Walter Link, um dos cinco mais conceituad os geólogos do mundo, para dirigir o Departamento de Exploração, que incluia a pesquisa e a lavra. Os comunistas desencadearam tremenda campanha contra Link, acusando-o de sabotador a serviço da multinacional americana a que servira no passado. Não tendo tido êxito ao tentar encontrar petróleo, o honesto geólogo deu margem ao recrudescimento da difamação contra ele. Com Jango no poder, os comunistas dominaram a Petrobrás, presidida por "generais do povo", esquerdistas nacionalistas, mas não comunistas. Link deixara a empresa após preparar um relatório com as avaliações de todos os geólogos e geofísicos brasileiros e estrangeiros. A opinião dele foi menos pessimista até que a de muitos brasileiros, mas ficou o Relatório Link com a fama de negar existência de petróleo no Brasil. Para provar a suposta sabotagem de Link os novos dirigentes da Petrobrás fizeram vir os franceses. Nada obtendo, chamaram os soviéticos.

Reavaliaram o relatório, venderam sondas de perfuração potentes, locaram poços em novas áreas.

Todos secos, ao final. Até hoje, o relatório é citado como a prova da sabotagem de Link. Mentira, mas a esquerda conseguiu envenenar a opinião pública.

Lula, o grande representante da esquerda que se reagrupou no PT, somando variadas linhas ideológicas, desde o trotskismo à forte ala dos católicos da Teologia da Libertação (condenada pelo papa João Paulo II), repete esse papel que tem sido, na história, dominar os sindicatos dos petroleiros e atacar, quando conveniente, a direção da empresa. Missão deplorável, quando um líder do valor de Lula tem merecida credibilidade e denuncia a Petrobrás por "inexplicavelmente" favorecer empresas estrangeiras em detrimento das brasileiras, num empreendimento de US$ 1,5 bilhão, na construção de três plataformas marítimas. "Apesar de a gente ter estaleiros capazes de produzir essas plataformas aqui, no Brasil, a Petrobrás já contratou a construção da primeira em Cingapura, na Ásia, e está praticamente certo que o destino das duas outras será o mesmo", brada ele na mensagem transmitida no programa da propaganda eleitoral, destinado a gerar empregos no Brasil. Instilado o veneno, vem a acusação capaz de revoltar todos nós. "Mais uma coisa: se essas plataformas fossem construídas no Brasil, gerariam cerca de 25 mil novos empregos por um período de três anos. Além de mandar US$ 1,5 bilhão para fora, deixamos de criar milhares e milhares de empregos aqui dentro."

Imagino a revolta que causou ouvir isso como se verdade absoluta fosse. E também imagino a decepção que os brasileiros em geral tiveram com a Petrobrás, com seu corpo dirigente, por essa "inexplicável" conduta impatriótica e deplorável, que prejudicaria, sem razão nenhuma, os nosso estaleiros para beneficiar o capital estrangeiro. Os suspeitosos devem até concluir que "tem caroço nesse angu". Os mais letrados pensarão no "excremento do diabo", a que se referiu Almeida Garrett sobre o dinheiro.

Os estaleiros nacionais não têm, ainda, capacidade para construir as plataformas. Iguais só há cinco no mundo, e apenas duas empresas capacitadas existem. Não são brasileiras. Dispomos de tecnologia, diz o superintendente da Organização Nacional de Indústria do Petróleo, natural defensor de indústria brasileira. Mas acrescenta: "O que falta é espaço." Para isso, os estaleiros nacionais precisariam de um investimento de US$ 4 milhões para ampliar seus diques secos. Além disso, haveria o tempo a ser consumido, cujo custo seria também de US$ 4 milhões por dia. Mas Lula, cujo programa televisivo foi produzido no estaleiro da empresa que perdeu a licitação, prefere ignorar as razões da Petrobrás, que não foi procurada para explicar-se. A diretoria da Petrobrás, à testa um executivo altamente respeitável, intentou obter o direito de resposta no programa eleitoral, para mostrar a justeza de sua decisão e repelir a acusação de haver prejudicado o Brasil de maneira "inexplicável". Um meritíssimo ministro do TSE negou o pedido de resposta. O povo ficará com a mensagem indignada de Lula, que o honrado presidente Francisco Gros considera aleivosa, mas não terá, para defender a empresa, o mesmo público que Lula teve na denúncia para enxovalhá-la.

Os esquerdistas, do mais modesto funcionário ao mais qualificado técnico da Petrobrás, têm prestado excelentes serviços a ela e ao Brasil. Os políticos de esquerda, porém, preferem a injúria, como nos tempo de Link, o "sabotador n.º 1"...


Editorial

O DESAFIO MAIOR DA TRANSIÇÃO

Muita coisa, evidentemente, mudou para melhor no Brasil nestes últimos oito anos - até o sentido da expressão "fim de governo". Pela primeira vez na história política nacional, um presidente da República contraria a deplorável tradição de deixar que o próximo ocupante de sua cadeira se arranje como puder com a estrutura administrativa e as finanças públicas que tiver herdado. Antes de Fernando Henrique, nem mesmo Juscelino Kubitschek, o único chefe de Estado civil eleito pelo voto popular que conseguiu passar o cargo ao sucessor, Jânio Quadros, alçado ao poder em idênticas condições, tomou iniciativas comparáveis a fim de proporcionar ao novo mandatário um início de governo isento, o quanto possível, de turbulências no controle da máquina federal.

O processo de transição que já mobiliza pelo menos três ministros - Pedro Parente, da Casa Civil; Euclides Scalco, da Secretaria-Geral da Presidência; e Guilherme Dias, do Planejamento - é notável não apenas pelo ineditismo, mas também por ter sido iniciado numa fase da campanha sucessória em que dois candidatos da oposição lideram as pesquisas, com ampla vantagem sobre o preferido do presidente. Portanto, não pode pairar a menor dúvida de que a preocupação com os rumos do País de 2003 em diante e não com a sorte do candidato governista é o que, a partir de um senso incomum de responsabilidade, dita as prioridades do Planalto, no ocaso da era Fernando Henrique.

Se os brasileiros elegerem um daqueles mesmos candidatos que, com graus variados de virulência ou pura e simples má-fé, dedicaram longo tempo a execrar a figura do presidente - Ciro Gomes chegou a chamá-lo de "ser desprezível" -, o vitorioso terá, graças a ele, dois meses para inteirar-se de todas as informações, incluindo as de natureza confidencial, que o habilitem a assumir com conhecimento de causa o leme do Estado. A transição se fará de forma sistemática, impessoal, apartidária e transparente - numa palavra, institucionalizada. Cinqüenta membros da equipe do presidente eleito, designados por ele, serão contratados temporariamente, com salários de até R$ 8 mil, para serem os interlocutores da alta administração federal, em todos os ministérios.

Como explicou, em entrevista publicada domingo neste jornal, o ministro Pedro Parente - coordenador da operação -, será criado um "portal da transição", para dar aos representantes do sucessor acesso aos dados estratégicos sobre estrutura e projetos de governo, a agenda dos 100 primeiros dias e até um glossário de termos técnicos utilizados pelos escalões superiores da burocracia. É tudo o que um candidato pode desejar.

"A idéia básica é que o novo governo não precise enfrentar aquele período inicial de desconhecimento da máquina", resume o ministro. É mais do que isso, na realidade. Trata-se de dar ao sucessor a exata noção das dificuldades que o aguardam. Por isso, as questões mais relevantes desse diálogo dizem respeito às propostas legislativas em preparo, aos projetos do programa de investimentos Avança Brasil e, acima de tudo, às limitações orçamentárias.

Em plena temporada eleitoral, o governo trabalha para que o Congresso vote a emenda que permite regulamentar por partes o artigo 192 da Constituição, que trata do sistema financeiro (e, entre outras coisas, limita a 12% ao ano as taxas reais de juros no Pa


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