Serra evita confronto e contém PSDB









Serra evita confronto e contém PSDB
Candidato tucano teme ataques do PFL e mantém diálogo com o PMDB, parceiro preferencial na chapa eleitoral

BRASÍLIA - O senador tucano José Serra é o segundo colocado nas pesquisas de opinião para a Presidência. A notícia contagiou o PSDB, mas há intensa preocupação para não externar a euforia do partido. A determinação para conter os ânimos partiu de Serra e do presidente Fernando Henrique Cardoso. O objetivo é evitar confronto com o PFL que, imaginam, ainda pode se tornar - pelo menos em parte - aliado nas eleições de outubro. No Planalto e no PSDB não há mais apostas na recuperação da governadora Roseana Sarney. A análise das pesquisas, interpretam partidários de Serra, mostra que a nova ameaça eleitoral chama-se Ciro Gomes, do PPS.

O presidente e Serra, contam tucanos, entendem que o ex-ministro da Fazenda e antigo companheiro de partido será o beneficiário imediato dos votos de formadores de opinião que desembarcam da candidatura do PFL. O rápido crescimento de Serra, entre 17% e 19% das intenções de voto, dariam a Serra, acredita-se no PSDB, fôlego para escapar das manobras do partido de Roseana.

Serra evita atribuir a ascensão à crise vivida por Roseana. ''Isso não me favoreceu'', afirmou ontem, no Senado. O candidato tem pavor da idéia de o partido cantar vitória antes do tempo. Teme ainda possíveis ataques do adversário, com a guerra de dossiês que se anuncia para os próximos meses de campanha.

Serra continua a cultivar o PMDB, seu parceiro preferencial. Ele esteve ontem com o presidente do partido, Michel Temer, por 20 minutos. Ouviu dele que o PMDB não se contenta com a vaga de vice na chapa. Quer influir na política econômica ''Estamos em boas condições para negociar'', disse Temer.

Fernando Henrique passou o dia ao telefone com dirigentes do PFL. Conversou com o presidente do partido, Jorge Bornhausen, o líder na Câmara, Inocêncio Oliveira, e com o vice-presidente Marco Maciel. Os tucanos trabalham para livrar Serra o quanto antes das acusações de patrocinar a atuação de arapongas no Maranhão. O líder do PSDB no Senado, Geraldo Melo (RN), recebeu orientação de apoiar as investigações pedidas pelo PFL. A intenção é afastar essas suspeitas antes de abril, sob pena de reverterem em prejuízos eleitorais.


PFL pára Congresso e afeta governo
Fernando Henrique tenta atrair partido e coloca ministros em campo para convencer parlamentares a aprovar CPMF

BRASÍLIA - Mais do que a ruptura com o PFL, o que preocupa o presidente Fernando Henrique é a paralisia do Congresso graças à crise política. Sob o comando presidencial, os ministros estão envolvidos numa maratona de contatos com parlamentares, especialmente do PFL. O motivo oficial da atração é a emenda que prorroga a CPMF, o imposto do cheque. O projeto está parado e o governo contabiliza prejuízos superiores a R$ 1 bilhão. Cada dia de atraso representa perda de R$ 57 milhões para os cofres da União.

Além da perda bilionária, o Planalto quer retomar o ambiente de normalidade na administração. Fernando Henrique acredita que só assim será possível superar a crise política acirrada com a declaração de independência do PFL e as denúncias envolvendo a candidata do partido, Roseana Sarney, com empresas investigadas por irregularidades na extinta Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). O presidente aposta no restabelecimento do diálogo com a legenda presidida pelo catarinense Jorge Bornhausen.
Não é apenas um desejo de FH. As conversas começaram a evoluir ontem. O ministro da Fazenda, Pedro Malan, foi escalado para acalmar os ânimos do líder do PFL na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE), dono de uma das oratórias mais inflamadas contra o governo nos últimos dias. Conversaram várias vezes terça-feira e ontem. Deu certo. Mais calmo, Inocêncio concordou em parar de bloquear a votação da CPMF. Promete convencer a bancada rapidamente.

Varejo - Em outra ponta, o presidente da Câmara, Aécio Neves, e os ministros das Comunicações, Pimenta da Veiga, e da Secretaria Geral da Presidência, Arthur Virgílio, trabalham no varejo. No assédio a parlamentares liberais, contam com a ajuda do ministro do Trabalho, Francisco Dornelles e a discreta ajuda do governador do Paraná, Jaime Lerner, e do vice-presidente Marco Maciel - ambos defensores da pacificação entre os ex-aliados.

A paralisia do Congresso preocupa o Planalto desde fevereiro, quando terminou o recesso parlamentar. Com a volta dos trabalhos no Legislativo, o governo viu-se envolvido por inúmeros focos de insatisfação e o presidente tem investido um bom tempo em administrar os vários interesses políticos em jogo. FH sabia que não contava com uma base parlamentar tão sólida quanto a dos anos sete anos anteriores de mandato.

Paralisia - O quadro agravou-se depois da operação de busca e apreensão da Polícia Federal na Lunus, empresa da governadora Roseana Sarney e do marido, Jorge Murad. Há quinze dias, nem Câmara nem Senado votam questões relevantes. Os deputados deveriam definir a prorrogação da CPMF até 2004. O tributo deveria ser aprovado até a próxima segunda-feira para continuar em vigor. Tornou-se, contudo, a moeda de pressão do PFL.

A promessa do partido de votar a contribuição na terça-feira pode esbarrar na ação dos senadores da legenda. Como os deputados, estão dispostos a travar a pauta do Senado e adiar a decisão. Se tudo continuar como está, nem vão precisar se esforçar para tanto. As votações estão bloqueadas por duas medidas provisórias que têm prioridade antes da CPMF. ''Não votaremos a toque de caixa'', avisa o líder do PFL no Senado, José Agripino (RN). O presidente do PSDB, José Anibal, exprime a contrariedade do governo e contra-ataca: ''Precisamos parar de fazer jogo de cena e trabalhar.''


PF cerca empresas suspeitas
Rede ligada ao projeto Usimar será investigada, com pedido de quebra de sigilo

PALMAS - A Polícia Federal no Tocantins vai intimar o ex-gerente de Planejamento do Maranhão Jorge Murad, marido da governadora Roseana Sarney, para depor até o fim do mês. Segundo um delegado que acompanha as investigações sobre as fraudes com recursos da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), na próxima semana será instaurado novo inquérito para apurar os desvios de R$ 44 milhões da Usimar Componentes Automotivos. O projeto foi aprovado pelo Conselho de Desenvolvimento da Sudam em 1999. A reunião foi presidida pela governadora. Segundo a Polícia Federal, Roseana também poderá ser ouvida, caso deixe o cargo em abril, para disputar a eleição.

Além de tomar depoimentos, a PF quer quebrar sigilos das pessoas e empresas que tiveram alguma participação na aprovação do projeto Usimar. Entram na lista também os suspeitos de envolvimento nas irregularidades com as verbas da extinta autarquia.

Há mais de um ano, um inquérito na Polícia Federal no Maranhão apura as ilegalidades no empreendimento. O Ministério Público e a PF, contudo, entendem que é necessário aprofundar as investigações, especialmente das relações entre a Usimar e os desvios de dinheiro no Tocantins e no Pará. As informações do inquérito do Maranhão serão anexadas ao que corre no Tocantins.

Dez empresas serão esquadrinhadas. Merecerão atenção especial as construtoras Engeblon, STO, Deltaconsult, Conclusão, Construtec e Planor. Dessas, somente a Planor teria realizado obras no canteiro da Usimar - mas o projeto não foi concluído. Segundo dados da empresa, o contrato com a Usimar teve valor estimado em R$ 4,3 milhões. Foram pagos cerca de R$ 1,4 milhão pelo serviço executado. Construtec e Planor doaram recursos para campanhas de Roseana ao governo maranhense.

A apuração também se conce ntrará na família Hubner, do Paraná. Nos relatórios da Receita Federal sobre o caso, figuram no capital social da Usimar os nomes de Teodoro Hubner Filho, Marilza Hubner, Léo César Hubner, Adriano Hubner e Magaly Hubner. A controladora do projeto Usimar, a ML Administração e Participações Ltda, tem como sócios Teodoro Hubner Filho, Léo César Hubner e Magaly Hubner.

A PF solicitará ainda a quebra de sigilo das empresas ligadas à Nova Holanda Agropecuária, a Agrototal e a Hayashi. Segundo o Ministério Público, pode haver crime fiscal nas transferências de recursos entre elas - os números de muitas notas fiscais verificadas não conferem com as datas de emissão. A polícia vai investigar documentação falsa e subfaturamento nos pagamentos feitos pela Nova Holanda, empresa que recebeu recursos da Sudam e contribuiu com dinheiro para as campanhas políticas de Roseana.


Roseana resiste
“Não caiu a ficha”, diz amigo

SÃO LUÍS - Mesmo isolada, a governadora do Maranhão, Roseana Sarney, resiste a desistir de concorrer à Presidência da República. Ontem, muitos acreditavam que o pronunciamento noturno em rede estadual de rádio e televisão, seria para anunciar a retirada da candidatura. Nada disso. Roseana articulou um discurso para posar como vítima. Voltou a acusar setores do governo federal de arquitetar, de maneira ''maquiavélica'', ''calúnias e difamações'' para impedir sua ascensão ao Palácio do Planalto. ''Nunca cometi nenhum ato ilícito, nunca desonrei a confiança que recebi de cada um de vocês'', declarou.

Roseana agradeceu as manifestações de solidariedade dos maranhenses. E classificou de vazias as denúncias contra ela e o marido Jorge Murad relacionadas a irregularidades na extinta Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). Ela evitou, contudo, citar nomes e tratar diretamente do caso. O sigla Sudam foi completamente suprimida do discurso. Nem o nome do desafeto José Serra (PSDB), eleito seu inimigo número um, foi tocado.

O roteiro programado não permitia arroubos nem ataques a rivais. Apenas o papel de mulher-nordestina-vítima. ''Por trás dessa violência, estão interesses eleitorais daqueles que não conseguem disputar de forma limpa e transparente o apoio do povo'', disse. Era o discurso perfeito para tratar o caso como ''interesse eleitoreiro''. Tudo para tentar mostrar que existe ''um preconceito contra o Nordeste e a discriminação contra as mulheres brasileiras''.

''Vítima'' - O pronunciamento teve três minutos e foi gravado à tarde, no Palácio dos Leões, residência oficial da governadora. Roseana não explicou a origem do R$ 1,34 milhão encontrado na sede da Lunus, empresa de sua propriedade com o marido, o ex-gerente de Planejamento Jorge Murad.

Ele se afastou anteontem do governo maranhense. Disse que as pilhas de dinheiro vivo, apreendidas numa batida da Polícia Federal na sede da Lunus, em 1° de março, era para ser gasto no início da campanha da mulher. Murad jura ter agido só, sem o conhecimento dela. No pronunciamento de ontem, a governadora sequer fez referência ao afastamento do marido da administração estadual. Murad era seu braço direito no governo maranhense e controlava um orçamento anual de R$ 150 milhões.

O tom do discurso de Roseana foi o mesmo daquele adotado oficialmente pelo PFL. ''Quero, e sei que esse também é o desejo de todos, que as denúncias sejam esclarecidas, e os responsáveis sejam apontados.'' disse. ''O que não vou permitir é a calúnia e a difamação contra mim e contra o Maranhão e, por isso, comandei o meu partido no afastamento do governo federal como forma de expressar a nossa repulsa pelo envolvimento de setores desse governo em manobras tão sórdidas''.

O que está sendo descrito por rivais e aliados como o golpe fatal na candidatura não foi assimilado pela governadora. ''Ainda não caiu a ficha'', comentou um amigo. ''Só o tempo dirá se ela resiste''. Roseana mostrou-se abatida pela sistemática cobertura da mídia nacional, mas não quer dar o braço a torcer.

O capital eleitoral que ainda detém, justificam correligionários, ainda é suficiente para mantê-la na disputa. As mais recentes pesquisas eleitorais a deixaram baqueada. Caiu para algo em torno de 15%. Amigos e aliados lembram que ainda lhe resta uma alternativa: concorrer ao Senado. Justamente por isso, foi feito o pronunciamento em cadeia estadual.


Um projeto que vai render R$ 700 milhões
Se Tesouro bancar campanhas, PFL terá R$ 137 milhões

BRASÍLIA - Se o projeto que prevê o financiamento público de campanhas já estivesse valendo, o gerente de Planejamento do Maranhão, Jorge Murad, não precisaria guardar R$ 1,34 milhão para a eleição da mulher, a governadora Roseana Sarney. Na verdade, nem Roseana nem nenhum outro candidato teria de se preocupar com o caixa. Caso o Congresso aprove o financiamento público, os candidatos à Presidência poderão gastar bem mais dinheiro do que costumam declarar.

O relatório final do senador Sérgio Machado (PMDB-CE) diz que os partidos com representação na Câmara vão dividir uma bolada superior a R$ 700 milhões. São R$ 7 por eleitor registrado até o dia 31 de dezembro do ano anterior à eleição. Os recursos serão divididos com base na representatividade de cada partido na Câmara (leia quadro nesta página).

Tomando como base os 106 milhões de eleitores que votaram em 1998, o valor do financiamento público, se a lei estivesse valendo, seria de R$ 742 milhões. Os diretórios nacionais de cada partido, responsáveis pela campanha presidencial, ficam com 30%. Os outros 70% vão para os diretórios regionais.

Um partido como o PFL levaria para seu comitê central R$ 137,5 milhões. Não em dinheiro vivo, como a bolada do cofre da empresa Lunus, mas em quatro parcelas mensais depositadas em conta no Banco do Brasil. Trinta por cento desse valor, R$ 41,25 milhões, iriam para o diretório nacional. Ou seja, para embalar a campanha de Roseana.

É muito mais do que a maioria dos partidos diz gastar. Exceção feita ao PSDB do presidente Fernando Henrique Cardoso - que apresentou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) uma prestação de contas de R$ 45 milhões, em 1998 -, os demais candidatos são bastante econômicos. Na chamada ''Demonstração de Aplicação de Recursos'', entregue ao TSE, nenhum deles desembolsou mais de R$ 5 milhões.

Levantamento feito pelo Jornal do Brasil, publicado na edição de ontem, mostra que a campanha presidencial de um grande partido consome, no mínimo, R$ 65 milhões. Os coordenadores não confirmam o valor, até porque a prestação de conta deles não chega nem perto disso.

Foi exatamente a discussão sobre os gastos reais dos candidatos que deu força à tese do financiamento público. ''Isso torna a campanha mais equilibrada. Será bem melhor'', defende o senador José Eduardo Dutra (PT-SE). No caso do PT, será bem melhor mesmo. Quando enviou ao TSE a prestação de contas de 1998, o petista Luiz Inácio Lula da Silva disse ter gasto R$ 2,9 milhões. Se o financiamento público estivesse valendo, caberiam ao partido R$ 85 milhões, R$ 25,62 milhões dos quais para a campanha nacional.

A aprovação da reforma político-partidária deve acirrar a briga por alianças. Unir-se a um partido político representará mais dinheiro em caixa. O bloco que hoje tenta eleger o ex-governador do Ceará Ciro Gomes, por exemplo, somaria as verbas destinadas ao PPS, PDT e PTB. Levando em conta a atual composição da Câmara, os valores chegariam a R$ 94 milhões (R$ 28,2 milhões para a campanha de Ciro). É bem mais do que Ciro declarou em 1998. Seu demonstrativo de despesas no TSE foi de R$ 1 milhão.


Martus sai e ganha cargo no BID
BRASÍLIA - Martus Tavares é um técnico que virou ministro, filiou-se ao PSDB e sempre sonhou em ser governador ou senador pelo Ceará. Não vingou. O técnico d eixa o governo em 4 de abril para assumir a diretoria de Brasil e Suriname no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), junto com os ministros que pretendem disputar as eleições de outubro. Em seu lugar, assume o secretário-executivo, Guilherme Dias.
Martus foi eleito ontem, no encerramento da 43ª reunião anual do BID para mandato de três anos, a contar da posse, em 1° de julho. Os planos políticos foram abandonados depois que o governador do Ceará, Tasso Jereissati, vai concorrer ao Senado e optou pelo senador Lúcio Alcântara para a sucessão.


Artigos

Juventude e violência
Fernando William

As estatísticas comprovam que os jovens são os mais atingidos pela violência, com maioria nos registros de homicídio e nas prisões. Mais de 70% dos que estão presos no Estado tem menos de 25 anos. As causas podem ser muitas. Não há dúvida de que a falta de perspectivas (econômicas, sociais, culturais) vislumbrada pela maioria dos jovens é forte componente de mobilização de muitos contra a sociedade que os exclui. Incluem-se aí setores da classe média que, há duas ou três gerações, precisavam apenas que seus filhos passassem no vestibular para ter um futuro garantido. Hoje, impressiona o número de jovens que praticam atos criminosos sem nenhum motivo socioeconômico aparente para isso.

São 2,7 milhões de jovens, de 10 a 24 anos, moradores de comunidades carentes que não trabalham, não estudam e os que procuram emprego, não encontram.

A banalização da violência proporcionada pelo conteúdo da grande maioria dos meios de comunicação certamente também contribuiu para o aumento de agressividade nas novas gerações. De um modo geral, nos filmes e até nos desenhos, assistimos diariamente os heróis ridicularizarem o cotidiano tranqüilo e a vida ''comum'', valorizando o espetacular e mitificando a arma de fogo como símbolo de poder.

Se somarmos a isso a crise do Estado-nação, que vem encolhendo sem estabelecer medidas de suporte social para esse impacto, e a crise moral resultante do mau comportamento de grande parte dos representantes do povo que deveriam dar bons exemplos, concluímos ser grave a situação. E pode piorar. A Argentina que o diga.

Medidas contra violência devem ser feitas com urgência, mas o discurso de ''acabar com a violência em 100 dias'' é demagógico e irreal. Assim como é demagógico e irracional defender a pena de morte e prisão perpétua como meio de intimidar criminosos. É bom lembrar que o jovem que se envolve com o tráfico sabe que suas chances de ultrapassar os 25 anos de vida são mínimas e nem por isso deixa de fazê-lo.

É muito importante incentivar o protagonismo juvenil, mediante o qual os jovens possam ir assimilando novas formas de relacionamento como princípios de solidariedade, companheirismo, e fraternidade, de modo a levá-los a ver que tinha razão o poetinha Vinicius quando nos lembrou que ''é impossível ser feliz sozinho''. E isso não pode ser entendido como tarefa só dos governantes. O papel dos pais, dos educadores e especialmente dos meios de comunicação são fundamentais.

Se queremos de fato reduzir os índices de violência, a primeira ação objetiva é perguntarmos a nós mesmos se também não estamos sendo agressivos, individualistas, egoístas e, também, o que estamos fazendo para que a cultura de paz esteja se impondo à cultura da violência.

A maneira mais eficaz de combater a violência não é aplicando a lei de talião, ou seja, com mais violência, mas, sim, com ações efetivas que envolvam poder público, meios de comunicação e sociedade civil na busca de promover a solução dos problemas socioeconômicos e a cultura de respeito e amor ao próximo.


Colunistas

COISAS DA POLÍTICA – Dora Kramer

O sol não nasce antes da madrugada
Nos últimos dois anos - mais exatamente desde o dia 5 de abril de 2000, quando Antonio Carlos Magalhães e Jader Barbalho escancararam à nação as entranhas do mandonismo na política -, o país vem assistindo a repetidas demonstrações de que a soberba, a ganância, a intolerância, a mentira, o erro de cálculo na avaliação de conseqüências e no poder de fogo de cada força e, principalmente, a precipitação são péssimas companheiras e piores ainda conselheiras. Vitimaram os dois e, de roldão, levaram o novato José Roberto Arruda, cuja arma que disparou contra o próprio peito foi a crença de que mais vale mentira enfática que o reconhecimento rápido da conduta errática.

Temos aí o infortúnio da governadora Roseana Sarney para demonstrar, mais uma vez, a veracidade da tese. Caiu fundamentalmente por mentir e, além disso, ainda tentar, ofendida, atribuir culpas ao alheio - sem tirar nem pôr, como a cena de Arruda às lágrimas na tribuna do Senado tirando o corpo fora do episódio da violação do painel eletrônico. Mas, graças aos avanços tecnológicos, que sustentam os progressos éticos pois democratizam os instrumentos de vigilância, cada vez mais as versões perdem terreno para os fatos.

E, sendo assim, é que cumpre lembrar a todas as excelências envolvidas no processo eleitoral - sejam elas candidatas ou não - que o gesto brusco e apressado é o pai de todos os equívocos, cuja maternidade guarda estreita relação com a conclusão apressada e definitiva. Se formos buscar as razões da oceânica quantidade de tropeços já ocorridos em todas as candidaturas desde os últimos meses do ano passado até agora, veremos que a origem deles foi a artificial antecipação da disputa.

O efeito foi o descrito por Assis Valente no samba em que se anunciava e garantia que ''o mundo ia se acabar'' e muita gente ficou arrependida de ter desfilado em ''trajes de maiô'', pegando ''na mão de quem não conhecia, beijando a boca de quem não devia'' porque depois, quando o mundo não se acabou, outros tantos andaram espalhando ''coisa que não se passou''. O resultado foi que se instalou ''muito barulho e confusão'', e ficou a lição de que, definitivamente, o sol não nasce antes da madrugada.

Ou seja, pôr a chamada carroça na frente do chamado boi continua sendo erro imperdoável. Que agora, com todos devidamente vacinados, espera-se que haja um freio de arrumação geral, e que quem desceu nas pesquisas não se precipite ao suicídio - note-se que aqui não se fala da candidatura Roseana, cuja continuidade é que representa um salto no escuro -, e quem subiu não se considere o rei da barraquinha das cocadas pretas, porque estamos apenas em março, mês a partir do qual as águas costumam rolar com mais intensidade.

E podem levar na enxurrada várias certezas, como aquelas de que Lula estava com a vida ganha, Ciro seria um tucano mais à esquerda, Garotinho tinha o perfil da novidade, Itamar a herança da estabilidade, Roseana a marca do fenômeno midiático e Serra a mala de chumbo impossível de carregar.

Pois exatamente pela rápida subida do candidato do Planalto nas pesquisas é que a prudência aconselha aos tucanos certa discrição nas comemorações e contenção no entusiasmo. Salto alto é coisa para mulher. E, considerando que nem a única representante feminina no certame conseguiu equilibrar-se em cima dele, o melhor que os vencedores da hora têm a fazer é calçar rasas sapatilhas e considerar o cenário em volta no lugar de observar o quadro de cima daquele coqueiro que, segundo Billy Blanco, quanto mais alto maior é o tombo que proporciona ao final.

Operação Curupu
A frase mais serena que a governadora Roseana Sarney conseguiu articular logo após a descoberta da dinheirama ao vivo e em cores no cofre da Lunus foi a de que ''não é crime uma empresa ter dinheiro em caixa''. Se tomarmos por veraz a versão apresentada por Jorge Murad, segundo a qual aqueles reais que somavam 1 milhão e 340 mil já eram parte daquilo que seria gasto na campanha


Artigos Relacionados


Ciro e Serra se evitam, sem esconder clima de confronto

PSDB lança Serra semana que vem

PSDB se une e Tasso vai ao lançamento de Serra

PSDB paga despedida de Serra

PSDB ignora PFL e mantém Serra

Nota do PSDB sobre agressão a Serra