Ciro obtém a primeira vitória contra Serra









Ciro obtém a primeira vitória contra Serra
TSE dá direito de resposta para ele no programa de Serra, que o comparou a Fernando Collor

Ciro Gomes começou bem o final de semana. O candidato da Frente Trabalhista à presidência conseguiu pela primeira vez o direito de resposta no programa de José Serra (PSDB), concedido pelo ministro Geraldo Grossi (TSE). O pedido de resposta se deu devido a comparações de Ciro com o ex-presidente Fernando Collor. Além de ter concedido o direito de resposta, Grossi também determinou que Serra pare de fazer esse tipo de comparação.

O TSE julgou que Ciro Gomes poderá usar o mesmo tempo usado pelo tucano para fazer as comparações, tanto no programa eleitoral quanto nas inserções durante a programação normal. Para o advogado Hélio Parente, advogado da Frente Trabalhista, a comparação é infundada, já que Collor foi cassado por corrupção e não existe nenhuma denúncia desse tipo contra Ciro.

O candidato da Coligação Grande Aliança (PSDB-PMDB), José Serra, desde quando iniciou o horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão no dia 20 de agosto último, recorreu 19 vezes ao Tribunal Superior Eleitoral contra seus adversários. Contra o candidato da Coligação Frente Trabalhista (PPS-PDT-PTB), Ciro Gomes, foram 14 vezes, das quais obteve 7 vitórias e conseguiu com elas, quatro minutos de direito de resposta.

Dentre as punições de Ciro estão a de ter veiculado cenas de luta livre com alusões ao programa de José Serra. Apenas um minuto foi até agora utilizado pelo candidato do governo, as outras decisões estão em fase de recursos.

Contra o candidato da Coligação Lula Presidente (PT), José Serra apresentou duas representações para que fosse vedada a participação do candidato petista em programas regionais, sem conseguir êxito, entretanto.
Ciro Gomes recorreu ao TSE oito vezes. Apenas uma representação não foi contra o candidato José Serra e ainda não ganhou minuto algum de direito de resposta. O TSE apenas atendeu ao pedido para que José Serra fosse obrigado a identificar a coligação a que pertence, nas inserções em que aparecem sua imagem e voz, antes não identificadas.

Lula apresentou duas reclamações contra José Serra, ainda sem sucesso. Na última delas, reivindica direito de resposta no programa pela divulgação de resultado de pesquisa eleitoral antes do prazo previsto em lei.
Outro fundamento de Lula é que, na divulgação dos resultados, foram apresentados somente os índices de Serra e Ciro, desconhecendo os seus.

Paulinho lança suspeita
O candidato a vice-presidente pela Frente Trabalhista Ciro Gomes (PPS), Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, afirmou ontem, em São Paulo que "estão se preparando para roubar a eleição". Sob investigação do Ministério Público Federal, que suspeita de sua participação em transações irregulares com recursos do Banco do Brasil para aquisição de terras, Paulinho está convencido de que "o governo é o responsável por uma armação política" para prejudicar sua candidatura e a de Ciro.

Paulinho voltou a defender a convocação de observadores internacionais para acompanhar as eleições. Na última quarta-feira, quando protocolou na Procuradoria da República autorização de quebra do sigilo bancário e fiscal, o presidente licenciado da Força Sindical declarou que iria "à ONU" pedir fiscalização das eleições no Brasil.

O procurador Célio Vieira da Silva investiga 33 negócios promovidos com base em convênio firmado entre o Ministério do Desenvolvimento Agrário e a Força para o programa Banco da Terra. O procurador divulgou documento assinado por Paulinho ao Banco do Brasil sobre liberação de verbas.

Ao lado de Paulinho, no aeroporto de Congonhas, o ex-governador Luiz Antonio Fleury Filho (PTB), um dos responsáveis pela campanha da Frente, disse que a "democracia corre risco". Fleury também defendeu convite a autoridades internacionais para acompanhamento das eleições. Os dois aguardavam a chegada do candidato à presidência para uma carreata organizada pela Frente Trabalhista em São Paulo.


Presidente garante lisura
O presidente Fernando Henrique Cardoso aproveitou ontem a solenidade de instalação do Conselho Nacional dos Diretos do Idoso, no Palácio do Alvorada, para defender a lisura do processo eleitoral brasileiro, em uma resposta às críticas feitas pelos integrantes da Frente Trabalhista de Ciro Gomes (PPS) que alegam que o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Nelson Jobim, pode "não estar sendo" isento por ser amigo do presidenciável do PSDB, José Serra.

"As próximas eleições serão uma demonstração desse amadurecimento das nossas instituições. Será um processo com cerca de 115 milhões de eleitores, com total liberdade de palavra e organização, e com a mais completa lisura nos procedimentos, algo que todos os brasileiros podem orgulhar-se", afirmou o presidente.
Antes, em uma solenidade de entrega de prêmios a estudante, o presidente criticou a estratégia de campanha Ciro, que vem atacando de forma dura o governo e Serra. "É preciso saber falar. Mas o mais importante não é falar demais, não é gritar, não é fazer cara feia, não é falar com braveza nem com bravata. Isso pode servir para assustar, pode enganar um ou outro, mas não convence", afirmou.

O presidente fez as críticas no momento em que falava sobre as frases sobre a educação, produzidas por 27 alunos da rede pública do País, que foram vencedoras do concurso promovido pelo Ministério da Educação em parceria com uma empresa privada. Fernando Henrique aproveitou a situação para fazer o ataque ao candidato da Frente Trabalhista, mas não citou o nome de Ciro Gomes. "É muito importante também saber fazer a frase. A palavra é fundamental e é fundamental num país como o nosso que vive em uma democracia. Na democracia o que vale é o argumento, não é a força. É preciso saber se expressar", disse.
O presidente ressaltou que para se reivindicar "direitos" é preciso apresentar argumentos.


Primeiro turno define maioria de governos
Pesquisas indicam que só 7 estados têm segundo turno, a menor proporção desde que se criou o atual sistema.
Só sete estados deverão ter mesmo segundo turno nas eleições deste ano. É a menor proporção desde que o sistema de dois turnos foi implantado, em 1989. E é a primeira vez desde essa data, também que haverá segundo turno na eleição presidencial, invertendo o que aconteceu das últimas duas vezes.

Nas eleições de 1990, só 12 estados conheceram seus governadores no primeiro turno. Essa eleição foi marcada, inclusive, pelo retorno de antigos caciques que já tinham ocupado o cargo, como Leonel Brizola e Antonio Carlos Magalhães. Outros 15 estados foram para o segundo turno.

Essa proporção se ampliou nas eleições seguintes, de 1994. Dessa vez, houve nada menos do que 18 estados, dois terços do total, na segunda rodada. Nove estados tiveram decisão no primeiro turno.

Em 1998 começou o movimento na direção oposta. A proporção se inverteu: foram 15 decisões em primeiro turno e só 12 no segundo turno.

As pesquisas já divulgadas este ano indicam um número ainda menor de eleições no segundo turno. Elas parecem asseguradas em apenas sete estados.

Deles, cinco apresentam o mesmo perfil. Os votos estão sendo disputados entre dois candidatos que, com razoável certeza, irão definir o vencedor em segundo turno. Os demais adversários, mesmo sem chances, contam com votos suficientes para impedir a decisão no primeiro. É o caso do Paraná, com a disputa entre Roberto Requião e Álvaro Dias, ou do Maranhão, entre Jackson Lago e José Reinaldo.

Em dois outros – Pará e Rio Grande do Norte – há três candidatos muito próximos, sendo difícil prever que m irá para o segundo turno. No Rio Grande do Norte, inclusive, os três estão muito próximos, embora a ex-prefeita Wilma Maia mantenha uma vantagem.

A decisão em primeiro turno deverá ocorrer até mesmo em estados que nas eleições anteriores assistiram a disputas passo a passo, às vezes até o último voto, como Minas Gerais. Desde que se instituiu o sistema, é a primeira vez que Minas deixa de ir para o segundo turno, se as pesquisas se confirmarem.

Quadro ainda pode mudar
Como ainda falta praticamente um mês para as eleições, o quadro da maior parte das unidades da Federação ainda pode sofrer alterações significativas. São poucos os candidatos a governador com margem suficientemente ampla para garantir vitória no primeiro turno.

Estão nesse caso Jarbas Vasconcelos, do PMDB de Pernambuco, Paulo Souto, do PFL da Bahia, e Lúcio Alcântara, do PSDB do Ceará. Outros têm margem ampla, mas ninguém afastaria a possibilidade de uma surpresa. É o que ocorre no Amazonas, onde o ex-prefeito Eduardo Braga, do PPS, tem mais de 60% das intenções de voto, mas enfrenta Gilberto Mestrinho (PMDB), três vezes governador.

A situação é mais incerta nos estados em que o primeiro colocado está à frente da soma de todos os outros, mas não chega aos 50%, margem que lhe garantiria maior tranqüilidade. Zeca do PT, de Mato Grosso do Sul, Antero de Barros, de Mato Grosso, e Paulo Hartung, do Espírito Santo, estão nessa situação. Uma pequena alteração e poderão se ver em um segundo turno.


Disputa voto a voto no Piauí e Alagoas
Em dois estados a disputa está tão próxima que ninguém se arrisca sequer a prever se haverá ou não segundo turno. É que, neles, a distância entre os principais candidatos tem diminuído tanto que a votação de um adversário nanico pode determinar o returno.

No Piauí, imaginava-se uma fácil reeleição do governador Hugo Napoleão. Seu adversário mais temido, o prefeito Firmino Filho, desistiu de candidatar-se e coligou-se com ele. O principal partido rival, o PMDB do ex-governador Mão Santa, rachou. Aparentemente, Hugo ficou sem adversário.
Nesse momento, o deputado federal petista Wellington Dias, que desistira de disputar a reeleição porque o partido temia nem chegar ao quociente eleitoral, lançou-se candidato ao governo. Perdido por um, perdido por dez, raciocinou o PT.

A zebra ficou solta. Formou-se uma coligação branca entre Wellington e Mão Santa, que concorre ao Senado. O deputado passou a subir nas pesquisas e encostar no governador.

O clima azedou a tal ponto que o PFL de Hugo conseguiu liminares para impedir a divulgação de pesquisas. O resultado do Ibope ainda é desconhecido. Quando enfim apareceu uma pesquisa, do Instituto Piauiense de Opinião Pública, a frente de Hugo se reduzira a sete pontos. Os vários candidatos nanicos somam quatro.

No outro estado complicado, Alagoas, o Ibope deu empate técnico entre o governador Ronaldo Lessa e o ex-presidente Fernando Collor. Lessa tem 43% e Collor, 38%. Como a margem de erro é de três pontos, para cima ou para baixo, ambos estão na mesma faixa.

As coligações brancas transformaram o jogo das legendas em um samba doido. Lessa, do PSB de Anthony Garotinho, concorre lado a lado com os senadores Teotônio Vilela (PSDB) e Renan Calheiros (PMDB), ambos de partidos que apóiam José Serra. Renan foi líder de Collor na Câmara.

Do outro lado, Collor utiliza como legenda um certo PRTB. Mas tem apoio, formal ou informal, de uma ampla base partidária, que tem PFL, PPB, PTB e até, depois de muita briga, o PPS de Ciro Gomes.

Não há outras candidaturas em condições de reunir votação razoável, desde que a senadora petista Heloísa Helena foi compelida a deixar sua candidatura. O PT acabou, inclusive, por proibi-la de participar da campanha. Seu sucessor está com menos de 4%.

Repete-se, porém, o que acontece com o Piauí. A diferença entre Collor e Lessa está tão pequena que os votos dos nanicos, por poucos que sejam, podem determinar o segundo turno.

Tanto no Piauí quanto em Alagoas, a proximidade das intenções de voto é tão grande que, segundo os analistas, pode dar de tudo. Qualquer um dos principais candidatos pode ganhar no primeiro turno. Ou podem ir todos para o segundo.

Situação fica mais restrita
Aécio Neves, em Minas Gerais, e Marcelo Miranda, no Tocantins, contam com boa folga, mas enfrentam forças tradicionais em seus estados e não podem dormir no ponto.

Nos estados que têm garantido o segundo turno, a disputa está quase sempre limitada a dois candidatos. Só no Rio Grande do Norte a disputa se dá entre três, muito próximos nas pesquisas. A ex-prefeita Wilma de Faria está pouco à frente, mas o governador Fernando Freire, que concorre à reeleição, está empatado com o senador Fernando Bezerra. Todos têm chances. Freire conta com o apoio da família Alves, do PMDB, que controla o estado há oito anos. Bezerra está com os Maia, que mandaram nos doze anos anteriores. Wilma foi casada com Lavoisier Maia, também governador.

No Pará, o senador Ademir Andrade, do PSB, está à frente, mas dificilmente escapará de um segundo turno com Simão Janene, o candidato do governador tucano Almir Gabriel. O problema está no vice-governador Hildegardo Nunes, que tem o apoio do grupo político do pai, o ex-governador Alacid Nunes, e pode ameaçar o quase desconhecido Janene.

Em São Paulo, José Genoíno, petista, está crescendo e ameaça tomar a segunda vaga do governador Geraldo Alckmin, tucano. Também no Rio de Janeiro, onde está dando vitória de Rosinha Garotinho, no primeiro turno, a vice não está definida. Pode ir a Jorge Roberto Silveira, do PDT, ou à governadora Benedita da Silva, do PT. Crescimento deles levaria Rosinha para o segundo turno. Que, como todos sabem, é uma nova eleição.


FHC defende eleições limpas
Presidente exigiu lisura no processo eleitoral e desfez críticas do grupo de Ciro sobre parcialidade do TS

O presidente Fernando Henrique Cardoso aproveitou ontem a solenidade de instalação do Conselho Nacional dos Diretos do Idoso, no Palácio do Alvorada, para defender a lisura do processo eleitoral brasileiro, em uma resposta às críticas feitas pelos integrantes da Frente Trabalhista de Ciro Gomes (PPS) que alegam que o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Nelson Jobim, pode "não estar sendo" isento por ser amigo pessoal do presidenciável do PSDB, José Serra.

"As próximas eleições serão uma demonstração desse amadurecimento das nossas instituições. Será um processo com cerca de 115 milhões de eleitores, com total liberdade de palavra e organização, e com a mais completa lisura nos procedimentos, algo que todos os brasileiros podem orgulhar-se", afirmou o presidente.

Antes, em uma solenidade de entrega de prêmios a estudantes, o presidente criticou a estratégia de campanha de Ciro, que vem atacando de forma dura o governo Serra. "É preciso saber falar. Mas o mais importante não é falar demais, não é gritar, não é fazer cara feia, não é falar com braveza nem com bravata. Isso pode servir para assustar, pode enganar um ou outro, mas não convence", afirmou.

O presidente fez as críticas no momento em que falava sobre as frases sobre a educação, produzidas por 27 alunos da rede pública do País, que foram vencedoras do concurso promovido pelo Ministério da Educação em parceria com uma empresa privada. Fernando Henrique aproveitou a situação para fazer o ataque ao candidato da Frente Trabalhista, mas não citou o nome de Ciro Gomes. "É muito importante também saber fazer a frase. A palavra é fundamental e é fundamental num país como o nosso que vive em uma democracia. Na democracia o que vale é o argumento, não é a força. É preciso saber se expressar", disse.

O presidente ressaltou que para se reivindicar "direitos" é preciso apresentar argumentos. Fernando Henrique também reconheceu a importância de se fazer oposição, "quando for o caso", mas sem perder a noção de que a argumentação num debate de idéias é fundamental. "É preciso reivindicar os diretos, mas argumentar, para mostrar realmente que têm os direitos. É preciso também, quando for o caso, fazer oposição mas argumentando, dando as razões e não simplesmente na emoção", afirmou.

Na última sexta-feira, os integrantes da Frente Trabalhista fizeram um ataque articulado contra o governo, o senador Serra e o presidente do Tribunal Superior eleitoral (TSE), ministro Nelson Jobim. Os ataques começaram com o candidato à vice na chapa de Ciro, Paulo Pereira da Silva – o Paulinho – contra a Controladora-geral da União, Anadyr de Mendonça Rodrigues, e prosseguiram com uma dura nota distribuída pelo presidente do PPS, deputado João Herrmann (SP), criticando Jobim e Serra.

O presidente enfatizou que vitórias só são conquistadas quando o pretendente consegue "convencer" que sua idéia é melhor. "E convencer quer dizer vencer junto", disse Fernando Henrique. "E só se vence mesmo quando se vence junto. Vencer sozinho leva, provavelmente, à desilusão mais adiante". Na opinião do presidente, num estado democrático a única opção que pode levar alguém à vitória é a persuasão por meio do convencimento.


Manifesto contra a Alca leva 150 mil a Aparecida
A discussão sobre a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) foi o tema principal das comemorações do Dia da Independência na 8ª edição do Grito dos Excluídos, realizado ontem na Basílica Nacional de Aparecida, no Vale do Paraíba.

Sob o tema "Soberania Não se Negocia", o evento reuniu cerca de 150 mil pessoas, público recorde nas comemorações do Sete de Setembro na Basílica Nacional, segundo levantamento da organização do santuário e da Polícia Militar. A última edição levou cerca de 90 mil pessoas a Aparecida.

Antes do início da missa, o bispo de Santos, dom Jacyr Francisco Braido, responsável pelas pastorais sociais da CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil), fez uma votação simbólica contrária à adesão do País ao tratado de livre comércio entre os países da América.
O plebiscito contra a Alca, que desde o início do mês está sendo feito em todo o país, espera alcançar cerca de 15 milhões de assinaturas.

"O lema deste ano tem uma grande importância por se tratar de um ano eleitoral. Foi a forma encontrada pela igreja para alertar os futuros governantes sobre a Alca", disse Braido.

Além de romeiros de vários Estados, o Grito reuniu representantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), sindicalistas ligados à CUT (Central Única dos Trabalhadores) e militantes de partidos políticos. Cerca de 200 romeiros, que durante uma semana caminharam pela Via Dutra para participar do evento, realizaram uma encenação durante a missa celebrada pelo cardeal-arcebispo de Aparecida, dom Aloísio Lorscheider. Com faixas sobre a Alca, os romeiros ocuparam o altar.

"O interesse da população tem que estar acima dos direitos privados. O Brasil tem que se tornar livre de grandes potências", disse Lorscheider durante a celebração, que durou cerca de 1h20
Cerca de 500 pessoas participantes da oitava edição Grito dos Excluídos caminharam hoje da Catedral Metropolitana até a Embaixada dos Estados Unidos, em Brasília. Estavam presentes representantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), Movimento Negro, Cimi (Conselho Indigenista Missionário), Movimento Nacional dos Meninos e Meninas de Rua, entre outros.

O evento, apoiado pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), terminou com um culto ecumênico em frente à embaixada.

Os manifestantes ficaram de costas para o prédio e cantaram o Hino Nacional. "Mostramos que temos força para virar as costas para a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) e caminhar com as nossas próprias pernas", disse o padre Daniel Higino, que conduzia o culto.

A oitava edição do Grito dos Excluídos também encerrou o Plebiscito da Alca. O resultado será divulgado no próximo dia 17 e será entregue ao presidente Fernando Henrique, ao presidente do Congresso Nacional, Ramez Tebet (PMDB-MS), ao presidente do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio Mello, e à embaixadora americana, Donna Hrinak.


Empregados podem se unir para criar plano de previdência
O Conselho de Gestão da Previdência Complementar (CGPC) aprovou ontem uma resolução que regulamenta a constituição e o funcionamento de planos de previdência que poderão ser instituídos por associações e entidades de classe. Dessa forma, o empregado que trabalha em uma empresa que não oferece um plano complementar poderá se juntar a outros da mesma classe para formar seu próprio fundo, evitando que se tenha apenas a alternativa de buscar planos privados ofertados pelo mercado financeiro.

"Quando um trabalhador recorre a um plano aberto oferecido pelo mercado financeiro, os valores negociados são individuais. Entidades e associações de classe têm, em sua maioria, muitos associados, o que poderá contribuir para uma economia de escala, reduzindo a taxa de administração do fundo. Uma entidade financeira visa sempre o lucro, e no caso do fundo constituído, o retorno será integral", afirmou o ministro da Previdência, José Cechin.

Segundo o ministro, a possibilidade dessas associações instituírem os planos está prevista na Lei Complementar 108, que reformulou o setor previdenciário. De acordo com a nova regulamentação, esse tipo de plano, contudo, terá de contratar um administrador credenciado pelo Banco Central ou procurar uma instituição financeira já existente para gerir os recursos, como o Bradesco. É proibida a participação dos fundos de pensão das empresas públicas neste tipo de plano.

O ministro explicou ainda que um empregado que trabalha em uma empresa que oferece um fundo patrocinado, poderá se integrar ao fundo da associação, portando os recursos que já foram contribuídos. "Estamos aumentando as operadoras de previdência complementar, fomentando a concorrência. No caso destes fundos, o risco é só do trabalhador, mas ele não assume o risco de mercado. Mas esse tipo de fundo vai exigir dos participantes uma vigilância muito maior".

As regras determinam que uma associação deve ter no mínimo mil trabalhadores para a criação de um fundo, com um administrador contratado pelos próprios trabalhadores. Cada entidade de classe que queira contratar um plano complementar já existente, oferecido pelos bancos privados, é necessária a participação de, no mínimo, 100 associados. A regulamentação permite que os planos instituídos sejam feitos por entidades de classe, profissional, sindicatos, patronais e cooperativas.

Cechin disse também que existe demanda no mercado por esse tipo de produto. Ele citou a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) como uma entidade que está esperando somente a regulamentação do assunto para criar seu próprio plano. As regras do CGPC serão publicadas na terça-feira, quando as medidas entrarão em vigor.


Artigos

O festival de bobagens
Paulo Pestana

Parece que você está parado no sinal de trânsito, tal a quantidade de pedintes. Mas logo você vê que está diante da televisão, vendo um monte de gente desconhecida que lhe trata como um velho companheiro, como o sujeito que pode resolver todos os seus problemas em troca de nada. Ou melhor, de um voto. A maioria trata o voto como uma esmola, um quase nada que você pode dar por estar sobrando. O difícil é, por exemplo, ver um rosto na multidão de candidatos que tenta uma vaga na Câmara Legislativa do Distrito Federal. Parece ser um bom sinal. Afinal, democracia é também abrir as portas da oportunidade para todos. Assim, um candidato se apresenta como representante do s gaúchos, outra como defensor das mães solteiras, mais um que quer defender os condomínios e um monte que quer acabar com os pardais do trânsito. Tem candidato para quase tudo, incluindo aí um travesti, um monte de militares e até um sujeito que ama Luiz Estevão e odeia Roriz. E há desencontro de propostas: enquanto um Espírito Santo se orgulha e se arvora de candidato dos gays, um Eurípedes Faria diz que quer ser eleito para impedir casamento de macho com macho e de fêmea com fêmea. Há até quem, com um certo Genival, se posicione contra a tortura. Mas não inclui a tortura que é assistir a tanta gente despreparada servindo, muitas vezes, de joguete para os poderosos.

Isto porque o festival democrático que se vê na televisão e se ouve no rádio é, na verdade, uma embromação. A maioria dos candidatos sabe que não tem a menor chance de conquistar cadeira alguma e nem mesmo está falando pela luta de alguma ideologia. A maioria não quer nem se locupletar, apenas porque já está se locupletando. São candidatos de aluguel, que preenchem algum espaço que a Lei Eleitoral exige dos partidos, têm a mesma função dos enchimentos de sutiã, ou seja, enganar o eleitor.

O valor de muitos desses candidatos oportunistas está na corrosão de candidaturas maiores; são pequenos líderes comunitários que atuam como ratos, roendo um pouco do eleitorado de políticos estabelecidos a mais tempo, não para tentar se eleger, mas para beneficiar um adversário do outro. Ao mesmo tempo, amealham pequenas porções de votos que vão servir a um mais poderoso, que pertence à mesma coligação. Só que o eleitor muitas vezes não consegue enxergar o que está por trás desta tal festa democrática. E fica atônito. É isto o que explica o fato do eleitor declarar que não sabe em quem votar. A esta altura do campeonato, 700 mil pessoas ainda não têm um candidato a deputado distrital.


Colunistas

CLÁUDIO HUMBERTO

Amigos de FhC recebem menos
Quando se trata de liberar verbas para os ministérios, o governo FhC parece determinado a fazer o mal sem olhar a quem. O Ministério do Esporte e Turismo, ocupado por Caio Luiz de Carvalho, amigo pessoal do presidente, recebeu até agora, segundo comprovantes em poder da coluna, apenas 16,85% dos recursos destinados pelo Orçamento de 2002. Dos R$ 786,8 milhões aprovados, a repartição chefiada por Carvalho só botou as mãos em R$ 132,5 milhões, suficientes para salários, viagens e cafezinhos.

Amigos, amigos...
O segundo ministério mais maltratado pelo governo é o das Comunicações, ocupado até há pouco por outro amigo de FhC, Pimenta da Veiga, com apenas 18,11% dos seus R$ 2,8 bilhões. Em terceiro lugar, no ranking dos ministérios mais desprestigiados, está o de Desenvolvimento – cujo titular, Sérgio Amaral, além de amigo, foi porta-voz do presidente: ele só conseguiu liberar 19% da merreca de R$ 95 milhões previstas no Orçamento de 2002.

Milagre eletrônico
Paulinho, vice de Ciro, acusa d. Anadyr de “mal-amada”. Nós achamos que a corregedora é, no máximo, mal retocada. Um Photoshop faria milagres.

Graciliano merece mais
Às vésperas de se completar 50 anos da morte de Graciliano Ramos, a professora Luciana Ramos, neta do escritor alagoano, protesta contra o tratamento da Editora Record aos 19 livros do autor, destacando “a falta de cuidado gráfico, um projeto editorial obsoleto para os dias de hoje, nenhuma atualização bibliográfica, nenhuma apresentação crítica respeitável”.

Cadê Luiz Francisco?
Quase tão ruim quanto assistir o governo federal fazendo cortesia com o chapéu alheio, dispensando as empresas aéreas de pagar meio bilhão de reais em impostos de que se apropriaram, é não ver o Ministério Púbico Federal se mexer para impedir o assalto à Viúva.

Ops, escapou
Já há quem se preocupe, no PSDB, com o risco de o Tribunal Superior Eleitoral conceder direito de resposta a José Serra antes de ser solicitado.

Inércia e descaso
O Departamento de Aviação Civil ainda não proibiu os perigosos Fokker 100, da TAM. Sempre muito bonzinhos, os burocratas devem estar esperando mais alguma grande tragédia, para então tomar uma atitude.

Petista rico
Chama a atenção de fiscais do TRE, em Brasília, a luxuosa campanha do advogado Sigmaringa Seixas (PT) a deputado. Enquanto concorrentes supostamente mais endinheirados recorrem a faixas de tecido ordinário e cartazes em papel barato, a peças da campanha de Seixas utiliza materiais muito caros. Muito mais caros. Parece até propaganda de multinacional.

Como antes
O ex-ministro dos Transportes Eliseu Padilha deixou o cargo há muito tempo, mas fotos suas ainda ilustram sites de alguns órgãos da repartição.

Jogo bruto
A turma de Newton Cardoso, candidato do PMDB ao governo de Minas, tenta plantar na imprensa uma denúncia contra seu adversário Aécio Neves (PSDB), favorito na disputa. Trata-se de um documento que sugere a reserva de propina a um certo “A.C.N.”, num pagamento de serviços de publicidade. Mas ninguém acredita na autenticidade do documento.

Lei do cão
Os advogados Theobaldo Vianna de Lima, Plínio Souza e Silva e Antonia Zumba, servidores aposentados de Alagoas, acusam o governador Ronaldo Lessa de perseguição. Ele mandou reduzir seus proventos em mais de 50%, desde maio de 2001, em represália a uma crítica à sua administração. A OAB nacional se omitiu e a local nem sequer recebe os queixosos.

Volta por cima
O que antes era um dos 710 esqueletos da finada Encol, virou o Edifício Office Tower, de 23 andares, que será inaugurado terça na Barra da Tijuca, Rio. As 418 vítimas da empresa bancaram a construção e o prédio terá recursos mais modernos que os prometidos pela construtora trambiqueira.

Boca fechada
A Band proibiu entrevistas de candidatos às eleições de outubro, nas rádios da empresa. Na TV continua valendo.

O dono do mundo
Só dá Sarney e correlatos no horário eleitoral gratuito no Maranhão. Dona dos principais veículos do estado, a família emplaca 30 segundos do candidato a governador José Reinaldo em quase todos os intervalos, além do noticiário de TV local. O TRE não mexe num só maribondo de fogo.

Voto no exílio
O site de jornalistas brasileiros na Alemanha Abknet.de promove pesquisa inédita sobre intenção de votos para presidente entre brasileiros no exterior. O sigilo dos internautas está garantido. O resultado sai dia 21.

Em cartaz
Na calada da noite, um eleitor-contribuinte-arretado de Fortaleza respondeu à pergunta no outdoor do candidato José Serra, de sorriso mais alvo (e sem gengivas) que nunca: “Você lembra do Saúde da Família?” Colou uma modesta tira de papel sobre a milionária peça, com a resposta: “Lembro. Meu tio morreu na fila.” Não deu arrematar direito “no hospital” e “a CPMF?”

Poder sem pudor

Regime ilícito
Amigo de Getúlio Vargas e assessor de Imprensa de João Goulart, o jornalista gaúcho Rivadávia de Sousa foi preso nos tempos de ira do regime militar, em 1968. O obtuso que o interrogava atacou:
- O que o senhor sabe sobre enriquecimento ilícito no governo de Jango?
Ele, topetudo e indignado, respondeu na bucha:
- Nada. Eu é que quero saber quem é hoje o responsável pelo meu empobrecimento ilícito!


Editorial

SUJEIRA NAS RUAS

A chuva chegou antes do previsto, alivia a secura e dá vida aos imensos gramados da cidade. Mas ao contrário de outros anos Brasília está feia. A imundice eleitoral, que tem até as bênçãos dos juízes responsáveis pelo bom andamento do pleito, chegou às raias do absurdo com o desplante de candidatos que agora amarram imensas faixas em dois postes, fazendo o nome do imundo cruzar as mais largas avenidas do Distrito Federal .
Os cartazes aumentam de tamanho a cada dia, evidenciando o desespero e o despreparo de gente que quer ser eleita para – segundo dizem, em unissono – cuidar da nossa cidade. Se é desta maneira que imaginam cuidar do Distrito Federal é melhor que nos deixem sós. O Tribunal Regional Eleitoral realiza, antes de cada eleição, um sorteio para definir onde cada candidato ou partido poderá afixar cartazes (outdoors). O que se vê é um verdadeiro acinte à decisão judicial, uma vez que cartazes imensos ganham as áreas verdes de residências, fachadas de prédios viram porta-cartazes, e carros velhos são deixados pelas ruas com anúncios de candidatos, pelo jeito, tão sujos quanto eles.

A eleição é a festa da democracia, mas isto não pode servir de desculpa para a sujeira espalhada nas ruas sob o olhar complacente das autoridades. Mas se os próprios juízes do TRE consideram normal a sujeira, o que se pode reclamar dos candidatos, que fazem de tudo para serem notados, como se vê pela propaganda gratuita e obrigatória do rádio e da televisão? Se o morador de Brasília que acompanhou a evolução da sujeira se choca com o absurdo da situação, quem chega à cidade toma um susto com tantas caras e cores pedindo um emprego público. O pior é que em alguns locais a propaganda oferece risco a quem passa, despencando das frágeis estruturas instaladas, como vem acontecendo especialmente na pista principal do Lago Sul e na Ceilândia.

Nas cidades a situação é ainda mais caótica graças aos carros de som que berram decibéis a procura de votos, fazendo da vida de quem anda pelas ruas um tormento. Os candidatos, mas do que ninguém, deveriam saber que Brasília é uma cidade diferente, que pode mostrar ao país uma maneira diferente de, inclusive, fazer política. Aqui há lugares para que os cartazes – qualquer um – sejam colados, os pirulitos instalados ao lado nas paradas de ônibus, e as propagandas não precisam invadir muros, postes e viadutos, numa louca corrida para ver quem suja mais.

O eleitor pode até escolher candidatos que não sujam as ruas, mas a esta altura da competição patrocinada pelo TRE, vai ser difícil. A omissão incentivou até a quem não pretendia sujar a cidade e hoje, no auge da guerra eleitoral, só os candidatos que não têm a menor condição financeira estão fora das ruas. Brasília precisa de quem proponha uma política diferente, livre dos vícios herdados de outras cidades, em outras épocas. A suja lição desta eleição não deve ser esquecida; é preciso que a Justiça Eleitoral tenha uma interpretação da legislação mais próxima do interesse da comunidade. Ninguém quer cercear o direito dos candidatos fazerem suas campanhas, mas é preciso pensar no direito do eleitor.


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09/08/2002


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