Ciro passa Serra e campanha tucana entra em crise
Ciro passa Serra e campanha tucana entra em crise
Ibope mostra candidato do PPS 7 pontos à frente de rival do PSDB; Lula lidera, mas cai 1 ponto
O candidato do PPS à Presidência, Ciro Gomes, manteve a tendência de crescimento e subiu 4 pontos porcentuais, chegando a 22% das intenções de voto, segundo a última pesquisa Ibope, divulgada ontem. Com isso, Ciro se estabeleceu no segundo lugar, abrindo diferença de 7 pontos sobre José Serra (PSDB), que perdeu 2 pontos em relação à pesquisa anterior e tem 15%. Luiz Inácio Lula da Silva (PT), apesar da oscilação negativa de 1 ponto, continua na liderança, com 33%. Anthony Garotinho (PSB) também apresentou queda de 2 pontos, e está com 10%.
A queda de Serra na pesquisa e as críticas à falta de organização da campanha abriram uma crise. Serra mudou a agenda para participar hoje, em Brasília, de reunião de emergência para discutir com dirigentes dos partidos que o apóiam os rumos de sua candidatura.
Nas simulações do Ibope para o segundo turno, Ciro aparece tecnicamente empatado com Lula. O candidato do PPS teria 44% e o petista, 43%. Lula venceria Serra por 48% a 37%. A folga é maior ainda contra Garotinho: 50% a 32%.
Esse foi o primeiro levantamento feito depois das entrevistas dos presidenciáveis no Jornal Nacional, na semana passada. Dos ouvidos pelo Ibope, 44% afirmaram ter assistido a pelo menos uma – 69% à de Lula, 60% à de Ciro, 53% à de Garotinho e 51% à de Lula. Para 28% dos que assistiram às entrevistas, o petista e Ciro tiveram melhor desempenho. Serra foi considerado o melhor por 13% e Garotinho por 8%.
A pesquisa foi feita com recursos próprios do Ibope, entre os dias 12 e 14, com 2 mil entrevistas em todo o País. A margem de erro é de 2,2 pontos, para mais ou para menos.
Reunião – Em Brasília, além de representantes de PSDB e PMDB, que estão coligados na chapa de Serra, a reunião do comando de campanha terá a presença de pelo menos dois pefelistas: o vice-presidente Marco Marciel e o governador Hugo Napoleão (PI). Também foram convidados o governador do Paraná, Jaime Lerner, o líder do PFL na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE), e dirigentes do PPB.
O alarme de que as coisas vão mal foi dado ontem pela cúpula do PMDB, que foi ao Palácio do Planalto pedir participação mais efetiva do presidente Fernando Henrique Cardoso na campanha.
O presidente do PMDB, Michel Temer, e o líder na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA), saíram com a promessa de que ele vai se engajar, embora ainda esteja definindo se vai comparecer a comícios.
INTERTITULO/INTERTITULONo Planalto, a avaliação é de que a candidatura enfrenta momento muito difícil e só a união de todas as forças pode reverter a queda de Serra. Mas não há unanimidade sobre o papel do presidente. “Não vamos exigir que Fernando Henrique faça pela candidatura Serra o que não fez pela sua, em 98. O governo não será posto a serviço da candidatura Serra”, disse o coordenador-geral da campanha, o deputado tucano Pimenta da Veiga (MG). A cúpula do PMDB não é da mesma opinião. “Fernando Henrique ainda é um grande eleitor e se ele entrar para valer na campanha ajuda o Serra”, disse Temer . “E o presidente está inteiramente disposto a fazer o que for necessário.”
Falhas – No encontro com o presidente, Temer e Geddel lembraram episódios que evidenciam falhas na campanha. “É preciso organizar a agenda de Serra melhor de modo que tenha gente onde o candidato estiver”, observou Temer. “É preciso fazer alguns ajustes”, completou Geddel.
O líder citou como exemplo de desorganização a visita a Barreiras (BA), sábado: “Não dá para Serra ir à Bahia sem nos avisar com antecedência.” Pimenta justificou: “Ele decidiu ir a Barreiras em cima da hora e foi uma maneira de aproveitar o tempo. Campanha é isso, é um negócio veloz.”
Os dirigentes do PDMB estão há tempos preocupados com as dificuldades criadas pela equipe do candidato. Contam que seus assessores não deixaram que prefeitos do interior de São Paulo subissem no palanque, em Barretos. “Alegaram que o palanque estava muito cheio”, disse Temer.
Na Paraíba, assessores de Serra não queriam que políticos locais viajassem no avião entre João Pessoa e Patos. Mas Serra foi convencido pelo candidato tucano ao governo, Cássio Cunha Lima, de que era melhor chegar acompanhado de nomes conhecidos na região.
Lula lembra Collor e repudia um novo 'anti-Lula'
Ele pede a empresários que não repitam eleição de 89, quando se viu apresentado como "anti-Cristo"
JOÃO PESSOA - No dia em que o Ibope indicou novo crescimento da candidatura de Ciro Gomes (PPS), o presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pediu a empresários paraibanos que não votem no "anti-Lula", como ocorreu em 1989, por medo de mudanças. Ao falar daquela eleição, vencida por Fernando Collor de Mello, o petista disse que "o povo preferiu votar no anti-Lula, como se fosse o anti-Cristo."
Depois da palestra para empresários, no Sesc Praia Cabo Branco, o candidato negou que estivesse comparando Ciro a Collor. Garantiu, ainda, que nunca teve a intenção de carimbá-lo como anti-Lula. Na pesquisa divulgada ontem pelo Ibope, Ciro passou José Serra (PSDB), consolidando-se na segunda colocação.
No Sesc, Lula fez várias referências a 1989. "Nunca consegui entender por que o povo votou em Collor." O candidato enumerou várias opções naquela eleição, além dele mesmo. Incluiu Leonel Brizola (PDT), o ex-governador Mário Covas, que morreu no ano passado, e até Guilherme Afif Domingos (PFL).
"Entretanto, o povo preferiu votar no anti-Lula, como se fosse um anti-Cristo", lamentou o presidenciável.
Quase no fim do discurso, Lula dirigiu-se aos cerca de 200 empresários presentes e fez um apelo.
"Em vez de ficarem procurando o anti-Lula, por favor, chegou a hora de votar no pró-Brasil, que a gente vai ganhar muito mais." Em nenhum momento ele disse quem seria seu preferido para uma disputa num eventual segundo turno. Mas citou a revista Veja desta semana, que pergunta quem será o anti-Lula - Ciro ou Serra -, para argumentar que começa agora um "processo de indução", por parte da "imprensa e da elite", para fomentar o medo contra sua candidatura.
Com o senador José Alencar (PL-MG), seu vice, Lula ouviu reclamações de empresários sobre carga tributária e prometeu que, se eleito, apostará no diálogo com vários setores da sociedade.
Outra vez, citou Collor. "Em política, não há mais espaço para a prepotência", disse. "O último prepotente a governar o País foi Collor, que achou que sua jovialidade lhe daria o direito de fazer o que bem entendesse. E não deu."
Em João Pessoa, Lula recebeu ontem o apoio do PMDB - manifestado publicamente pelo governador da Paraíba, Roberto Paulino, e do candidato ao Senado na chapa José Maranhão.
Quando Serra esteve na capital da Paraíba, há três dias, peemedebistas não integraram sua comitiva, pois o partido se mostra cada vez mais dividido na aliança com o tucanato.
Durante todo o dia, Lula tentou mostrar indiferença em relação ao crescimento de Ciro. "Tem gente com razão para ficar mais assustado do que eu", afirmou o petista, numa referência indireta à crise na seara tucana.
Falando por metáforas, o presidenciável disse que só pode ser anti-Lula "quem for ligado à agiotagem, ao grande sistema financeiro, à corrupção e malversação do dinheiro público."
Em entrevista à TV Correio, o candidato atribuiu o crescimento de Ciro à sua exposição na propaganda do PPS, em junho. "E ainda teve uma segunda parte, bem utilizada, em que a Patrícia Pillar fez o papel de âncora", observou, ao mencionar a namorada de Ciro e tentando mostrar descontração.
Repert ório - O comando de campanha do PT aposta agora na ampliação de palanques de políticos de partidos que não estão na coligação oficial. Não haverá ataques explícitos a Ciro, como Lula já demonstra em seu discurso, mas o repertório para desgastar o adversário já está sendo posto em prática. "Vamos apenas mostrar a verdade: Serra e Ciro são candidatos do sistema", afirmou o secretário de Organização do PT, Silvio Pereira.
Levantamento do Ibope aponta avanço de Ciro
Antes da divulgação oficial, muitos já sabiam que ele estava isolado em 2.º lugar
Antes da divulgação oficial da pesquisa do Ibope, ontem à noite, no Jornal Nacional, o isolamento do candidato Ciro Gomes (PPS) no segundo lugar já era um fato conhecido pela maioria dos políticos. Sem números exatos, em todas as conversas a diferença entre Ciro e o terceiro colocado, José Serra (PSDB), variava de cinco a oito pontos. Os números de Ciro oscilavam entre 22 e 24 pontos, enquanto Serra aparecia com 16 ou 17 pontos.
Na primeira colocação, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) manteve-se acima dos 30 pontos. Na quarta colocação, Anthony Garotinho (PDT) continuou acima dos 10 pontos. Em relação à última pesquisa do Ibope, a maior alteração foi na situação de Ciro Gomes, que ganhou entre quatro e seis pontos.
Serra se manteve na faixa dos 17, enquanto Lula, com 34, e Garotinho, com 12, também não tiveram mudanças significativas.
Para o cientista político Rubens Figueiredo, a subida de Ciro ainda reflete os programas exibidos em horário nobre na TV até o final de junho. "Ele foi o último candidato a se apresentar e isso ainda está na cabeça das pessoas", observa. Além disso, lembra o cientista político, o candidato do PPS teve um bom desempenho na entrevista realizada no Jornal Nacional, na semana passada. "No caso de Ciro, serviu para consolidar sua aparição nos programas partidários."
Cedo - Apesar disso, Figueiredo acha que ainda é muito cedo para apontar uma tendência. "Há muitas variantes que podem influir, como o apoio do presidente, os palanques estaduais e o horário eleitoral gratuito", anota ele. "Como Serra conta com o apoio de Fernando Henrique, tem maior número de palanques nos Estados e mais tempo na TV, tudo ainda pode mudar."
'Há muito pesquisismo', critica tucano
Ele avalia que oscilação na preferência do eleitor é normal e condena obsessão com pesquisas no País
Diante das notícias de que foi ultrapassado pelo adversário Ciro Gomes, do PPS, o candidato do PSDB a presidente, José Serra, minimizou o resultado e afirmou que pesquisa eleitoral "é uma gangorra, cujo movimento depende da aparição em horário gratuito da televisão e de outros fatores".
Para Serra, o Brasil vive uma obsessão com pesquisas. "Há muito 'pesquisismo' no País", afirmou.
Na sua opinião, oscilações em campanha são normais. "O Ciro chegou a estar 15 pontos a frente de mim e, há poucas semanas, eu estava 10 pontos acima dele", justificou. Serra reafirmou que os levantamentos a esta altura da eleição são apenas "uma fotografia do momento" e que "a pesquisa crucial é a da urna".
O senador afirmou ainda que a instabilidade dos mercados financeiros é fruto tanto da expectativa com o resultado das eleições quanto de especulação dos investidores. "Tem muita gente faturando em cima disso", disse o presidenciável do PSDB, que considera os problemas econômicos do País "administráveis". "O problema do Brasil não é de dívida pública, mas a dúvida pública sobre o que possa acontecer. E nós vamos acabar com essa dúvida. Temos condição de manter a economia no rumo, mesmo com as perturbações internacionais, se atuarmos com critérios, respeitando contratos, mantendo metas de inflação baixa e a responsabilidade fiscal."
Serra disse que respeita a decisão do PFL, que se dividiu entre o apoio a Ciro e ao senador tucano. "Dizia-se que o PFL ia ficar totalmente fora da minha candidatura. Não houve essa romaria no outro sentido", comentou.
PMDB - O candidato confirmou que o PMDB fará parte da coordenação de sua campanha e não deu importância às críticas do deputado peemedebista Geddel Vieira Lima (BA), que reclamou de ter sido informado em cima da hora sobre a última viagem de Serra à Bahia.
"O Geddel está engajadíssimo na nossa campanha." O senador disse que tem uma relação cordial com o governador de Minas Gerais, Itamar Franco (ex-PMDB, hoje sem partido), mas disse não ter tido nenhuma conversa com ele sobre um possível apoio. Por enquanto, Itamar diz que apóia Lula.
Fraga também liga para Ciro e acerta conversa
Ele é o terceiro a ser convidado para discutir a transição e idéia de ampliar acordo com FMI
RIO - O candidato do PPS à Presidência, Ciro Gomes, recebeu ontem à tarde um telefonema do presidente do Banco Central, Armínio Fraga, e os dois acertaram um encontro para breve, em data a ser marcada. "Somos amigos há longa data. Discordo dele na política econômica, mas estou às ordens. É civilizado que a gente - as autoridades e a oposição - desobstrua o diálogo", declarou o candidato ontem, depois de uma palestra organizada pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) com os candidatos a presidente, no Hotel Copacabana Palace.
Ciro é o terceiro a ser convidado por Fraga para discutir o processo de transição na Presidência e a possibilidade de estender o acordo atual com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para acalmar os investidores e o mercado. O primeiro encontro de Fraga será hoje, em Brasília, com o deputado e presidente do PSDB, José Aníbal (SP). Amanhã, vai conversar com o deputado Aloízio Mercadante (PT-SP). Nos encontros, Fraga contará o que ouviu nas reuniões que manteve nos Estados Unidos e defenderá o acordo de transição.
Indagado sobre sua posição a respeito desse compromisso - que teria de ser firmado por todos os principais candidatos a presidente -, Ciro respondeu:
"Não sei se seria favorável." E justificou: "Estou disposto a colaborar com o Brasil, mas para que a sociedade sofra o menos possível." Mesmo assim, ele louvou a iniciativa do presidente do BC de dialogar: "Um de nós (candidatos) será eleito e não vai inventar outro País. É inacreditável que tenha demorado tanto."
'Convergência' - Ciro reafirmou que não aceita firmar compromissos de manutenção das principais linhas adotadas pelo atual governo na economia, como metas de inflação e porcentual fixado em 3,75% de superávit fiscal primário. "Sou contra a atual política. Qualquer providência que projete políticas equivocadas, estou fora", avisou.
Lembrou ainda que, há dois meses, quando esteve nos Estados Unidos para uma série de conversas com investidores, falou por por telefone com o ministro da Fazenda, Pedro Malan. "Lá fora devemos mostrar o máximo de convergência possível. Liguei para o Malan para saber números, ouvir ponderações. Falei sobre minha divergência com relação a inflation target, ele argumentou de lá", relatou Ciro. "Nossas divergências devem ser internas."
Ao contrário dele, o ministro da Fazenda defendeu ontem, em entrevista ao jornal espanhol Expansión, o acordo de transição. "Não descarto que o País peça ajuda para garantir a transição.
O FMI acaba de dizer que não compartilha da histeria dos analistas privados e está disposto a oferecer apoio diante da boa base conjuntural do País." Malan avalia que não há razão para que seja necessária, neste momento, descartar a ajuda: "Seja na administração atual ou na próxima, é um direito que todo sócio do Fundo tem."
Collor - O candidato do PPS garantiu ontem que não apóia nem apoiará o ex-presidente e candidato ao governo de Alagoas Fernando Collor de Melo (PRTB), apesar da decisão de seu partido de se coligar a Collor. "A seção local, sem consultar a direção nacion al nem me consultar, constrangida pela verticalização, tomou uma decisão e diz que não significa apoio ao Collor. Foi para renovar o mandato de um deputado." Mesmo assim, ele diz que ficou aborrecido e seu candidato em Alagoas é Geraldo Sampaio (PDT).
Para candidato, parceria com PFL traz 'constrangimentos'
Ciro alega que precisa do apoio do Congresso e se diz honrado com a adesão de ACM
RIO - O candidato do PPS, Ciro Gomes, disse que precisa "superar constrangimentos para vencer as eleições", ao comentar a adesão do ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) à sua candidatura e as negociações entre o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC) e o governador de Santa Catarina, Esperidião Amin (PPB), em torno de um possível apoio no segundo turno. Ciro fez a declaração à TV Record, ao sair de encontro na casa do presidente do PDT, Leonel Brizola, no Rio, ontem de manhã.
Mais tarde, na sede do PDT, ele amenizou o discurso: "O apoio do senador Antonio Carlos me é muito honroso." O candidato da Frente Trabalhista (PPS-PDT-PTB) justificou as alianças, dizendo que precisa do apoio do Congresso.
"É preciso preparar a governabilidade do País para o dia seguinte (às eleições). Nossas propostas são para conseguir soluções, mas não se viabilizam se não tivermos capacidade para manejar três de cada cinco deputados e senadores", afirmou.
Ele disse não acreditar no apoio do vice-presidente Marco Maciel, que ontem esteve com Bonhausen. Em Brasília, após o encontro, Bornhausen disse que no segundo turno ele e Maciel devem se entender sobre que candidato apoiarão.
Maciel não abriu mão do apoio a José Serra (PSDB) nem definiu uma posição para o segundo turno.
No Rio, Ciro recusou-se a falar do apoio do PPS e do PTB à candidatura do ex-presidente Fernando Collor (PRTB) ao governo de Alagoas. Ele apóia o Geraldo Sampaio (PDT) e chegou a pedir intervenção do PPS nacional no diretório estadual.
Intervenção - O vice-presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), foi mais direto: "Quem montou a aliança do PTB com o Collor fui eu. Ciro ficou chateado, Brizola ficou chateado, mas 12 anos da cassação permitem ao Collor ser julgado pelo povo e o PTB não volta atrás no apoio que emprestou à campanha." Ele comparou a situação de Collor com a dos políticos que foram cassados no regime militar.
Sobre o pedido de intervenção, Jefferson limitou-se a dizer que o "PPS é problema dele" (de Ciro).
"Não abro mão de apoiar meus amigos e temos crédito com Ciro para isso." Brizola amenizou o tom. "Nossa diferença com Collor não é pessoal. Ele já prestou contas à Justiça. O que nos separa são nossas idéias e compromissos."
Ciro reuniu-se ontem com os coordenadores da campanha na sede do PDT. O senador Geraldo Althoff (PFL-SC), presente ao encontro, deixou claro que não representa o partido, mas um "grupo do PFL que acredita que Ciro é a melhor opção". Pelos seus cálculos, esse grupo reúne pefelistas de 15 Estados.
Campanha na internet é de troca de ofensas
Sites de Serra e Garotinho comparam Ciro a Collor e concorrente do PPS acusa tucano de nazismo
BRASÍLIA - A troca de ofensas na campanha ganhou forma mais agressiva na internet, onde os candidatos se referem aos outros com termos como "nazista, verme, velho e fantasma de Collor".
Nos sites dos principais candidatos, para cada ataque vem um contra-ataque. Esta semana, o alvo preferido é Ciro Gomes (PPS), comparado ao ex-presidente Fernando Collor pelo PSDB de José Serra e pelo PSB de Anthony Garotinho.
Texto no site tucano dizia ontem que "mais cedo ou mais tarde será identificado em Ciro o DNA de Collor". Afirmava que domingo Ciro e seu vice, Paulo Pereira da Silva (PTB) ultrapassaram todos os limites. "Adotando a linha de Collor, o candidato a vice de Ciro chamou Serra de 'corno' político, numa absoluta perda de compostura, mas coerente com seu parceiro de chapa." Segundo o texto, Ciro, no dia anterior, repetindo Collor, referiu-se várias vezes ao presidente Fernando Henrique Cardoso como "verme".
No site do PSB, Garotinho dizia ser "inegável a semelhança" de Ciro e Collor. "Collor é impulsivo e Ciro consegue ser mais ainda. Collor veio de uma oligarquia política de um Estado miserável, Ciro também, e os dois acham que o Brasil deveria ser governado pelas oligarquias."
O candidato do PPS, por sua vez, acusava Serra de táticas nazistas. "Sem nenhum argumento para impedir Ciro de estar no segundo turno, o tucanato passa agora a usar tática nazista para atacar Ciro", dizia, no site. "Da mesma forma como fez Goebbels, o propagandista de Hitler, os tucanos inventam mentiras contra Ciro, repetem as mesmas seguidamente. Fazem como o nazista Goebbels, que ensinava que uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade." E criticava: "Uma tática desonesta e baixa, que mostra o quanto Serra está despreparado para a Presidência."
O site mais light é a de Luiz Inácio Lula da Silva. Ontem, por exemplo, não saiu da página do PT nenhuma agressão a rivais. Os petistas preferiram divulgar seus feitos: "Benedita assina decreto que cria o Programa do Primeiro Emprego; gaúchos fazem debate sobre Alca e dívida externa; Mercadante reúne-se com Fraga quinta-feira" e outras manchetes. (J.D.)
Artigos
O festival de cinismo que assola a Pátria
José Nêumanne
A investigação sobre uma eventual cobrança de propinas a empresários de ônibus pela prefeitura de Santo André, sob domínio petista, poderia ser a melhor (talvez seja a última) oportunidade de puxar o fio de uma meada cujo deslindamento levaria a desmascarar um antigo sistema de corrupção na administração pública brasileira. Poderia ser, mas não está sendo e dificilmente o será. Ingênuo é pensar que ela vai dar em algo mais sólido do que uma pizza envenenada, como tantas outras tentativas abortadas de se chegar à verdade das maracutaias brasileiras.
Alguns antigos e profundos mistérios da gestão pública no Brasil são guardados na caixa de Pandora do transporte coletivo. Qualquer ginasiano sabe que quem quer dotar a população de uma grande cidade de um bom transporte coletivo constrói um metrô. Por que não temos um digno dessa denominação em nenhuma metrópole brasileira? Custa caro, dizem. Ora bolas, e não se produz aqui a décima não-sei-o-quê maior economia do mundo? E mais:
um país que comprou aqueles reatores atômicos alemães e os instalou em Angra dos Reis pode alegar que não tem dinheiro para fazer metrô?
Bem, não tendo metrô ao seu dispor, os infelizes habitantes das metrópoles nacionais optam entre andar a pé, como muitos já fazem, apesar das enormes distâncias e dos sacrifícios exigidos, ou em ônibus caros, inseguros, sucatados e fétidos. Ah, há os trens de subúrbio (não me façam rir) e as lotações. De maneira que os brasileiros urbanos sem automóveis são reféns de empresários que obtêm boas graças de administrações municipais sob quaisquer bandeiras partidárias da hora da concessão até a da fiscalização. Acham a tarifa insuficiente? Fazem uma greve, param a cidade, o prefeito a aumenta e dane-se o usuário! Querem subsídio? Convencem motoristas e cobradores a deixarem de trabalhar e embolsam o dinheiro do contribuinte em troca de garantias que não honram e promessas que não cumprem. Por que será que os prefeitos são tão lenientes com eles?
O escândalo de Santo André levanta uma possibilidade de resposta satisfatória à questão. Se forem verdadeiras as denúncias de que esses empresários colaboraram para uma caixinha mensal na base de R$ 40 mil por mês (que o presidenciável do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, chamou de "troco"), talvez seja possível entender a saia justa que um prefeito enverga quando tem de fiscalizar financiadores tão generosos. Punir, en tão, quem há de?
A família Daniel desconfia da versão da polícia do dr. Alckmin, que, com o aval do dr. Greenhalgh do PT, nos quer fazer engolir que a morte de seu ente querido, Celso, ex-prefeito de Santo André, não passou de um trágico acaso.
Pode ser excesso de zelo de parentes inconformados com a perda do familiar querido. Mas quem não duvida da lógica de um automóvel cujas portas travadas só podem ser abertas por dentro falhar nesse item de segurança elementar e de bandidos comuns levarem o passageiro, deixando livre o dono do carro?
Este, aliás, por mais um desses terríveis azares do destino, ainda tem a alcunha de Sombra, que na certa não sinaliza iluminação intelectual nem transparência ética.
É uma pena que Paul Auster, o escritor americano cujo tema literário favorito é o acaso, não conheça os pormenores do escândalo de Santo André, pois ele se surpreenderia com as coincidências com que se depararia. Não beira as raias do absurdo o fato de o ex-caminhoneiro Ronan Maria Pinto ser sócio de dezenas de empresas de ônibus no País inteiro, e sempre em prefeituras com petistas no comando? Não é fantástico que ele tenha tantos parentes, vizinhos e amigos com viações em Santo André? Todos, é claro, chamados a depor pelos promotores, lhes juraram em uníssono não haver esquema de propina nenhum. Ah, bom! Teria Auster talento para inventar uma desculpa imaginosa como essa de fazer troco, contada pelo denunciado de arrecadar as propinas mensais e confirmada pela amantíssima esposa de Ronan?
E não é que ela preside uma associação cuja sede é vizinha de uma agência da Caixa Econômica?! E, afinal, era dinheiro de troco ou para concessão onerosa, como depois disse Ronan?
Apesar de se estar familiarizando com bandalheiras em grandes grupos americanos e até na Casa Branca, Auster teria dificuldade de entender como este país inteiro continua refém de tanto cinismo e engole, hipocritamente, as investigações apressadas da polícia do dr. Alckmin, a ligeira aceitação do ombudsman que o PT nomeou para acompanhá-las e todo esse festival de lorotas que assola a Pátria.
Mas, em verdade, em verdade eu vos digo: enquanto esse cinismo e essa hipocrisia forem compartilhados pelos senhores engravatados, fardados e togados que manipulam o aparelho do Estado conosco aqui na planície, todos imitando o macaquinho que não enxerga, não ouve e, sobretudo, não fala, vai ser difícil dar um jeito no Brasil.
Colunistas
RACHEL DE QUEIROZ
Na trilha de Herodes
Acho que todos os brasileiros estamos sentindo uma espécie de complexo de Herodes; co-responsáveis nesse morticínio espantoso de recém-nascidos do qual diariamente jornais, radio e TV dão notícia.
A epidemia (será mesmo epidemia?) ocorre nos locais mais distantes uns dos outros, como Boa Vista em Roraima, Fortaleza, Vitória, Niterói, etc. Os recém-nascidos morrem por infecção hospitalar, explica-se. A capacidade dos hospitais infantis é excedida de longe e não há tempo para higienizar os berços entre um e outro ocupante.
Ontem me dizia um velho cético que o mal é que nascem crianças demais no Brasil e no mundo. Crianças demais para recursos cada vez menores, pois que as crianças que escaparem de morrer de infecção hospitalar morrem mesmo em casa, mal paridas e maltratadas.
Todo criador de animais reduz o rebanho quando verifica que não dispõe de alimentos suficientes para os sustentar. O homem, não. Aliás, quero dizer, a gente pobre, porque os ricos têm os seus meios de reduzir a prole: ninguém vê um miliardário deixar 10, 12 filhos: "Um casalzinho ou, máximo, três crianças", diz a madame num suspiro. "Imagine a dificuldade que já é arranjar três babás!"
Os animais irracionais, como já foi dito, sabem como reduzir a prole, de acordo com os seus recursos naturais. O homem, animal racional, não o sabe. A causa principal nos países mais pobres é a religiosidade. As igrejas, por inegáveis motivos, têm mais força sobre os pobres do que sobre os ricos - não me atrevo a discutir aqui esses motivos que levam quase todas as confissões cristãs a condenar os anticoncepcionais. O mais alegado é que o ato do amor não deve ser gratuito, pura luxúria; é destinado a dar frutos; para isso o Senhor o concebeu e o permite. E como exigir isso seria exigir o impossível, os casais mais renitentes, ou se amam em liberdade e no dia da confissão acusam-se do pecado; ou simplesmente deixam de lado a abstenção, como obsoleta.
No interior do Brasil, por exemplo, a reprodução humana se faz como a dos pássaros ou dos sagüis. Os caboclos nem compreendem bem os sermões dos pastores, com suas palavras difíceis, ou não os freqüentam. (Cada vez diminui mais o número do clero católico no nosso interior. São substituídos pela invasão pregadora dos "crentes" ou "protestantes", que têm posições diversas a respeito de controle de natalidade, contra ou a favor.
Mas mesmo um casal que sente a necessidade de limitar os filhos não tem como o fazer. O anticoncepcional mais conhecido por eles, talvez o único, é a pílula, cujo preço exorbitante é inacessível para os seus recursos. Toda mulher sertaneja, com mais de quatro ou cinco filhos, já tem noção de que existe a laqueação das trompas, e sonha em realizá-la, mas tanto a lei dos homens com a de Deus a proíbem. Conheço um hospital mantido por religiosos (que aliás presta preciosos serviços à comunidade) que, durante os partos, deixa sempre uma freira acompanhando os movimentos do médico parteiro, vigiando se ele vai executar a atadura (que a parturiente lhe suplicou fizesse) alegando: "O senhor bispo proíbe que se faça isso aqui..."
Que fazer então? A rede hospitalar do País, é fácil ver nas estatísticas, é dolorosamente insuficiente para atender à população adulta, quanto mais os berçários, sobrecarregados de bebês, pondo-se até de dois num berço único...
Certa vez consegui de uma instituição americana o fornecimento gratuito de pílulas para as mulheres da nossa região. Em poucos meses inscreveram-se 90 mulheres e era um alívio vê-las menos sobrecarregadas de crianças, na barriga ou escanchadas nos quadris. Mas aí uma autoridade eclesiástica da cidade de onde provinham as pílulas soube do fato e imediatamente conseguiu sua proibição; ainda neste mês, uma das antigas freguesas das nossas pílulas morreu de parto, junto com a criança, ao dar à luz o sétimo filho - e eram apenas sete por causa da bendita interrupção daqueles três anos...
A questão é de dinheiro, de cultura, de governo, de política? Não se sabe. Enquanto isso, continuam todos como o velho Herodes, matando criancinhas com poucos dias de vida, como se já não bastasse as que morrem pelas outras causas, que também vitimam os adultos.
Editorial
A CRISE DE CONFIANÇA, LÁ E CÁ
O risco Brasil oscila em função das eleições e da hipótese de que o sucessor do presidente Fernando Henrique dê o calote nos credores que assombram os mercados. O risco Estados Unidos oscila em função das grossas fraudes contábeis em pelo menos uma dúzia de gigantescas companhias. Nem no Brasil, nem nos Estados Unidos, portanto, a crise de confiança nos negócios financeiros e a conseqüente atitude de aversão ao risco por parte dos investidores - derrubando, aqui, o real; ali, o dólar; e as Bolsas, aqui e ali - refletem a verdadeira situação das respectivas economias.
A moeda nacional, as ações e os títulos da dívida pública se desvalorizam, o risco País aumenta, mas o próprio setor financeiro, como esta página ressaltou ontem, estima que, em 2002, a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro ficará 0,5 ponto porcentual acima do 1,5% registrado no ano anterior, podendo chegar perto de 3,5% em 2003. Já o dólar, na segunda-feira, ficou abaixo do euro pela primeira vez em 28 meses, acumulando no ano uma desvalorização superior a 13%. E, desde que chegou ao auge a alta no pregão de Wall Street, em janeiro de 2000, o Índice Dow Jones caiu cerca de 30%. Mas o PIB americano cresceu no primeiro trimestre a uma taxa anualizada de 6,1% e a metade disso de março até junho.
No Brasil, nem o compromisso público e formal de Lula com as metas de inflação, o superávit primário, o câmbio flutuante e o respeito aos contratos firmados, nem os bem-sucedidos entendimentos mantidos em Washington pelo presidente do Banco Central (BC), Armínio Fraga, para a assinatura de um "acordo de transição" pelo qual o Fundo Monetário Internacional (FMI) garantiria a solvência do País parecem ter conseguido reverter as expectativas pessimistas dos investidores e das agências avaliadoras de risco.
Nos Estados Unidos, a inquietação dos investidores tampouco diminuiu, seja quando o presidente George W. Bush lembrou, na semana passada, a verdade de que "a economia americana é o sistema produtivo mais criativo e empreendedor jamais concebido", seja quando fingiu ignorar, anteontem, que a manipulação dos balanços e as práticas ilegítimas dos executivos das grandes corporações - que o envolvem pessoalmente, bem como o seu vice Dick Cheney - violaram a confiança do público. Bush preferiu recorrer a uma duvidosa metáfora para descrever a atual conjuntura, que apenas seria "a ressaca da bebedeira econômica" dos anos 90. Na realidade, a ressaca se manifestou há dois anos e provavelmente não produziria, agora, um efeito rebote, se a contabilidade e os procedimentos financeiros das empresas em cujas ações as pessoas aplicaram as suas poupanças fossem honestos - ou se fossem mais estritos os mecanismos institucionais destinados a fiscalizá-los e a punir os transgressores.
De fato, o mal que acomete as finanças americanas já deixou de ser a "exuberância irracional" dos mercados acionários, como criticava o presidente do Fed, o banco central americano, Alan Greenspan, anos atrás, e que, ao murchar, reduziu o valor global das ações no portfólio das pessoas físicas em astronômicos US$ 6,8 trilhões. Hoje, a aflição é a "ganância infecciosa" a que ele se referiu ontem, no seu relato semestral ao comitê de assuntos bancários do Senado. (Hoje, Greenspan falará a uma comissão da Câmara dos Representantes.) Ele previu que os efeitos da suave recessão do ano passado e da presente retração de investidores e consumidores persistirão por algum tempo, mas acabarão por se dissipar, e que a economia americana, "na ausência de significativos choques adversos adicionais, está pronta para retomar um padrão de crescimento sustentável". Ou seja, o pior ainda não passou, mas vai passar.
O presidente do Fed disse acreditar que este ano a economia dos EUA crescerá entre 3,5% e 3,75% em relação ao último trimestre de 2001 - um prognóstico significativamente mais otimista que o de fevereiro passado, quando os cálculos do banco apontavam para um índice não superior a 3%. O Fed também reviu para melhor as previsões sobre o desemprego, que não deverá ir além de 6%. Por isso, Greenspan não vê motivos para baixar ainda mais os juros a fim de estimular o consumo. Na marca de 1,75%, a taxa é a menor dos últimos 40 anos.
Mas, enquanto os fatos não derem razão a Greenspan e a economia real americana não ficar a salvo do proverbial resfriado que leva o Brasil a contrair pneumonia, as finanças nacionais continuarão expostas a duas crises de confiança: a que faz o dólar cair perante o euro e o iene - e a que faz o real cair perante o dólar.
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07/17/2002
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