Lula avança, Serra é 2.º e Garotinho passa Ciro








Lula avança, Serra é 2.º e Garotinho passa Ciro
Petista alcança 48% dos votos válidos, tucano permance estável, candidato do PPS cai 3 pontos e ex-governador do Rio empata em 3.º

O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, subiu 2 pontos e está com 41% das intenções de votos, segundo a última pesquisa Ibope, divulgada ontem no Jornal Nacional, da Rede Globo. Ciro Gomes (PPS) caiu pela quarta rodada consecutiva e foi numericamente ultrapassado por Anthony Garotinho (PSB). O candidato do PPS perdeu 3 pontos e foi de 15% para 12%. Já o ex-governador do Rio oscilou positivamente 1 ponto, chegando a 13%. Como a margem de erro é de 1,8 ponto porcentual, os dois estão empatados tecnicamente em terceiro lugar.

O candidato do PSDB, José Serra, manteve-se estável com 19%. José Maria de Almeida (PSTU) continua com 1%. Os votos em branco ou nulos somam 4% e 10% dos entrevistados ainda não sabem em quem vão votar ou não responderam à pesquisa.

Com esse quadro, considerando apenas os votos válidos (soma de todos os votos menos os em branco e nulos), Lula está a 2 pontos de decidir as eleições no primeiro turno. Para que não haja segundo turno, Lula precisaria ter 50% dos votos válidos mais um. Hoje ele tem 48% dos votos válidos.

Segundo turno - Nas simulações para o segundo turno, além de continuar vencendo todos seus adversários, Lula ampliou sua vantagem sobre Ciro e Serra. Na semana passada, Lula vencia Ciro por 53% a 36%. Na pesquisa divulgada ontem, o petista ganha do candidato do PPS por 55% a 32%. Se a disputa fosse contra Serra, Lula venceria hoje por 53% a 36% - na semana passada, o índice era de 52% a 38%. O resultado da disputa contra Garotinho permanece inalterado: Lula ganharia por 55% a 33%.

Segundo Fátima Pacheco Jordão, analista de pesquisas eleitorais e consultora do Grupo Estado, as chances de as eleições serem decididas no primeiro turno estão aumentando. "Essa é a quarta rodada em que Lula cresce entre os votos válidos", diz ela. "Isso não significa, no entanto, que o quadro vá permanecer assim. Agora as estratégias de campanha mudam, Serra se torna mais agressivo, tanto no seu tom como nos seus argumentos."

Fátima diz que Lula não deve ficar indiferente às acusações. "Ele precisa segurar o seu eleitorado, mostrando que as acusações e as dúvidas sobre ele são infundadas."

A analista diz que a queda de Ciro já era esperada. "Ele perdeu os eleitores que conseguiu convencer temporariamente com sua estratégia de comunicação", avalia Fátima. "O que surpreende é a estagnação de Serra, que está numa campanha que deveria se mostrar dinâmica."

A pesquisa, encomendada pela Rede Globo, foi feita entre sábado e segunda-feira. Foram ouvidos 3 mil eleitores em 203 municípios de todo o País.


Serra fez 'falsificação grosseira', reage Dirceu
Segundo presidente do PT, partido administrará bombardeio de tucanos com ações na Justiça

O PT tenta administrar o bombardeio que começou a ser deflagrado pelos tucanos apenas com pedidos de direito de resposta no programa de TV do presidenciável José Serra (PSDB). "Briga é com Fernandinho Beira-Mar", amenizou o marqueteiro Duda Mendonça, numa referência ao traficante Luiz Fernando da Costa, que liderou um motim no presídio Bangu I, no Rio de Janeiro.

Para o presidente do PT, deputado José Dirceu (SP), a propaganda de Serra, exibida ontem, é uma "falsificação grosseira" de fatos ocorridos há dois anos, na época da greve dos professores, em São Paulo.

O programa de Serra mostrou Dirceu num palanque dizendo que os tucanos iriam apanhar "nas ruas e nas urnas" nas eleições municipais de 2000. O PSDB repetiu o take, mostrou o governador Mário Covas, morto no ano passado, sendo agredido numa manifestação e, sem seguida, entrou em cena um novo slogan. "Atenção: este PT você não vê na TV", advertiu a propaganda, sinalizando que o ataque vai continuar.

"É evidente que houve uso indevido das gravações", reagiu Dirceu. "Agora, esse assunto passa a ser do nosso departamento jurídico e vamos pedir direito de resposta."

Confronto - Em junho de 2000, quatro meses antes das eleições municipais, Covas foi agredido por professores acampados na frente da Secretaria da Educação. O governador acusou o PT de estar por trás da agressão. Na época, chegou até a exibir o filme no qual Dirceu dizia, em ato público dos professores, realizado um mês antes, que os tucanos iriam "apanhar nas ruas e nas urnas".

Diante da acusação, Luiz Inácio Lula da Silva e dirigentes do PT contra-atacaram, alegando que Covas teria forjado um confronto em frente da secretaria para parecer vítima. Ao justificar sua frase, Dirceu afirmou que o verbo "apanhar" foi empregado no sentido de "derrotar".

A idéia de que ainda não é hora de rebater de imediato os ataques que feitos por Serra é compartilhada pela maior parte do comando de campanha de Lula. "Considero essa atitude dos tucanos um desespero", comentou Duda. "Vamos responder com os números da pesquisa do Ibope, porque Serra não está crescendo."

Irônico, Duda disse que está se preparando para o embate com o candidato do PSB, Anthony Garotinho. "Ele é o único que tem subido e já comecei a criar os programas do segundo turno para enfrentá-lo", provocou.

"Por que nós, que temos 40% dos votos, responderíamos a um candidato que não tem nem 20%", cutucou outro integrante da campanha petista. "Vamos continuar na linha da apresentação de propostas."

Voto útil - O esforço concentrado do comando da campanha de Lula, agora, é para liquidar a eleição no primeiro turno, no dia 6 de outubro. Para tanto, entra em operação a sutil estratégia do voto útil.

"Nós continuaremos com a cabeça fria e os tucanos não vão nos dar lição", comentou o candidato do PT ao governo paulista, José Genoíno. "Os adversários estão perdendo a cabeça".

Genoíno assegurou que, por enquanto, a cúpula do PT não mexerá na estratégia que "está dando certo". Advertiu, porém, que seu partido saberá a hora de mudar. (Conrado Corsalette, Vera Rosa e Ana Paulo Scinocca, da Agência Estado)


Lula afirma que não vai revidar ataques
Candidato do PT afirma que não é função sua responder a programa eleitoral

BELÉM - O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou ontem que não responderá a nenhum ataque que vier dos programas eleitorais. Muito menos os do candidato tucano José Serra. "Eu não vou responder a programa eleitoral. Isso não é função minha", disse, em Belém, minutos antes de lançar seu programa de governo para a Amazônia.

O coordenador do programa de governo de Lula, Antonio Pallocci, e o professor José Graziano, também do comando da campanha petista, afirmaram que a tendência é não mudar nada no programa eleitoral, pelo menos até sexta-feira. Mas admitiram que a direção da campanha vai fazer uma reunião para avaliar se os ataques de Serra provocaram algum tipo de estrago no favoritismo de Lula. "O que posso dizer é que as críticas de Serra com relação aos 10 milhões de empregos tidos como necessários pelo PT não fizeram dano algum", disse Graziano.

"Certamente vamos fazer uma reunião, depois de sexta, para discutir se temos ou não de tomar alguma providência", informou Pallocci. Ele afirmou ainda que o marqueteiro de Lula, Duda Mendonça, faz pesquisas qualitativas a respeito dos programas de todos os adversários.

Certamente, estava cuidando disso e comunicaria a Lula assim que tivesse uma resposta dos eleitores, disse.

Propostas - Ao lançar ontem o programa para a Amazônia, durante ato que contou com a presença de empresários e políticos da Região Amazônica, Lula mostrou um claro recuo em relação à impor tância do planejamento estratégico durante o governo Emílio Garrastazu Médici.

Em nenhum momento ele citou Médici, ao contrário d e outras ocasiões em que elogiou a visão estratégica do marechal.

Para Lula, a experiência mais rica em planejamento foi a de Juscelino Kubitschek. Depois, lembrou-se de Getúlio Vargas, para o criticar: "Getúlio também planejou, mas era um governo autoritário, sem a participação da sociedade", afirmou Lula.

No programa de governo do PT para a Amazônia, a Zona Franca de Manaus ganhou importância estratégica. "A Zona Franca é uma realidade intocável. Ninguém pode pensar em desativá-la, porque ela representa um símbolo do desenvolvimento", disse. Lula deixou claro ainda que se vencer a eleição reativará não só a Sudene (Superindendência de Desenvolvimento do Nordeste), mas também a Sudam (Superindência de Desenvolvimento da Amazônia), extintas pelo Cardoso depois de inúmeras denúncias de corrupção. "Nesse País, em vez de prenderem o criminoso, fecham a repartição", criticou Lula.

Antes de chegar a Belém, onde uma multidão o aguardava no aeroporto, Lula tomou um susto. O avião Cessna Citation III que o transporta normalmente teve uma pane na turbina e teve de ser deixado em Macapá.

De acordo com Luiz Carlos Franco, assessor de imprensa da Tam Táxi Aéreo, a aeronave, prefixo PT-LUE, teve um problema na caixa de ignição. Quando o piloto acionou a chave, a turbina esquerda não pegou.

Lula teve de fazer o percurso de Macapá a Belém num avião de carreira da Tam, desta vez um Airbus. A Tam lhe mandou ontem à noite outra aeronave, e especialistas para consertar a que ficou estragada, em Macapá .


Lula quer 'reciclar programas' na reta final
Em conversa reservada, candidato do PT fala da necessidade de dar mais ênfase ao tema da saúde

TERESINA - O presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse ontem em conversa reservada com assessores no Rio Poty Hotel, em Teresina, que é preciso fazer uma reciclagem em todos os seus programas de governo nesta reta final da campanha. Destacou, inclusive, a necessidade de dar mais ênfase ao tema da saúde. "Nas próximas semanas temos de dar uma reciclagem em todos os programas", disse. "A coisa é a seguinte: você está afiado para o dia da prova, mas quando chega a prova, vai acontecendo um monte de coisa.

Vamos pegar a saúde, pegar o eixo do programa."

A conversa foi captada acidentalmente. Após a entrevista coletiva, que ocorreu por volta das 8 horas, Lula se dirigiu com assessores a uma sala reservada, onde havia um link da Rádio CBN, de São Paulo, para uma entrevista ao vivo com o jornalista Heródoto Barbeiro. Seus assessores levaram os gravadores dos repórteres que haviam participado da coletiva para registrar a entrevista à CBN. No fim do programa, apenas o gravador do repórter do Estado foi mantido ligado.

Na hora de devolver os gravadores, o assessor Spency Pimentel não entregou o aparelho ao repórter. Vinte minutos depois, devolveu-o sem a fita.

Questionado pelo jornalista, Spency disse que havia sido gravada acidentalmente uma conversa reservada do presidenciável do PT. Depois de muita insistência, ele devolveu a fita.

Em outro trecho da conversa gravada, um dos assessores de Lula dá a entender que tem recebido informações do governo federal por meio de um embaixador.

"O embaixador informou (trecho inaudível). São 591 para ser exato. Dizem que aumentou a dívida.

Me lembra de te dar depois esses números direitinho. Tem de mudar os números também."

Na seqüência, Lula fala sobre um encontro com o ministro da Ciência e Tecnologia, Ronaldo Sardemberg. "No dia que saí com os militares, encontrei aquele ministro Sardemberg (trecho inaudível). Ele me tratou muito bem (pausa). Ele disse, olha Lula, já fizeram o acordo. Olha, eles não aceitam desafiar o (pausa), tinha uma claúsula que previa não atacar países que não têm arma nuclear. Mas os Estados Unidos se recusaram a assinar. Aí fica o Brasil querendo brigar com estilingue. Olha aquela tua tese do Ernesto..."

Nesse momento, o gravador foi desligado.

Pente-fino - Mais cedo, na entrevista, Lula defendeu a realização de um balanço no governo federal ainda em outubro. O petista sugere uma operação pente-fino para identificar o que funciona e o que não funciona, porque, segundo ele, falta diálogo entre o governo e a sociedade. Ele acha que o balanço deve ser feito já, para evitar que o novo presidente, seja quem for o eleito, assuma uma máquina deficitária.

Lula voltou a destacar que é preciso fazer a economia crescer para criar empregos. "Emprego é que dá dignidade ao ser humano, é uma coisa sagrada.

Milhões de brasileiros vivem de cesta básica e o governo não se preocupou com isso", disse. "O presidente Fernando Henrique Cardoso prometeu 12 milhões de empregos e o que deixou foi 12 milhões de desempregados. Há uma inversão na proposta que fazem e o que de fato acontece."


Serra acusa Lula de esconder o que pensa
Tucano afirma que há dois Lulas e dois PTs e acusa adversário de se esconder atrás de outros

RIO - O candidato da coligação Grande Aliança (PSDB-PMDB) à Presidência da República, senador José Serra (SP), acusou ontem o presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva (PT-PL-PMN-PCB-PC do B) de se esconder atrás de outras pessoas e de não revelar o que realmente pensa. O tucano disse que há dois Lulas - o verdadeiro e o "Lulinha Paz e Amor - e dois PTs - o "real" e o "PT da TV". Serra afirmou que Lula defende a construção, pelo Brasil, da bomba atômica, e quer saber o que o petista pensa de supostas relações do Movimento dos Sem-Terra com as Farc colombianas.

"Temos realmente o propósito de que questões reais, de natureza política, sejam postas", afirmou Serra, dizendo não ter "duas caras" no programa do horário eleitoral gratuito de ontem à tarde, no qual atacou duramente o PT.

"O Lula tem se ocultado muito, por exemplo, atrás do (Anthony) Garotinho (presidenciável do PSB) no debate, atrás do Luiz Francisco (de Souza, procurador da República que anunciou que processaria um ex-sócio de Serra), tem se colocado atrás do Duda Mendonça (marqueteiro da campanha petista).

Está na hora de o Lula se mostrar tal como ele é."

Debate - Serra quer que Lula exponha suas posições para debater, por exemplo, a bomba atômica e o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, assinado pelo Brasil. Na semana passada, Lula, em palestra para militares e diplomatas promovido pela Fundação de Altos Estudos de Política e Estratégia, criticou o acordo, que, segundo ele, dá tratamento desigual entre os países que já detêm a tecnologia atômica e os que não a detêm. Ontem, em encontro promovido pela mesma entidade, o tucano defendeu o tratado com veemência, posição que não agradou a muitos militares, para quem a assinatura do documento impossibilitou o acesso a tecnologia nuclear pacífica.

O tucano disse que pretende "cobrar posições". "Digamos, se o Lula defende a bomba atômica, então é interessante ele mostrar como", afirmou. "Se ele defende criar 10 milhões de empregos, tem de mostrar como. Isso não se resolve só com frases. Eu estou defendendo a idéia, a meta, de 8 milhões de empregos, e tenho procurado apresentar como. Para a população escolher bem o presidente da República, será importante que o PT da TV se idenfique com o PT de verdade. Porque senão as pessoas podem se iludir."

Para Serra, " é muito importante que todos se apresentem tal como são e com suas idéias, claramente. Por exemplo, em relação ao MST. O MST teve relações com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.Isso está certo? O que o Lula acha disso? Ou as invasões do MST apenas não acontecerão se ele (Lula) ganhar? Campanha eleitoral não é na base do paz e amor . Campanha eleitoral tem que debater as questões políticas, econômicas e estratégicas nacionais."

O candidato tucano classificou de eleitoreira a acusação de ter vendido um imóvel por apenas R$ 1. O negócio, explicou, foi feito em 1985, com a moeda da época, o cruzeiro. Custou Cr$ 80 milhões mas, como a transação só foi registrada em escritura pelos compradores nos anos 90, depois de várias moedas, os novos donos atribuíram ao imóvel o valor de R$ 1.

"Isso está declarado em meu Imposto de Renda", contou. "E eu paguei imposto." Segundo Serra, o processo foi regular. A denúncia, disse, vem de Luiz Francisco de Souza, que voltou a chamar de "procurador petista", que queria criar noticiário desfavorável à sua candidatura.

Serra disse ainda que, ao dizer que pode vencer no primeiro turno, Lula está "na dele". "Ele está agora querendo ganhar, então vai procurar criar uma onda favorável do lado dele", declarou o tucano. "Isso não vai acontecer."


Garotinho recebe apoio da mulher de Íris Rezende
Atitude de suplente do marido no Senado aproxima PMDB e PSB no 2.º turno em Goiás

GOIÂNIA - O candidato do PSB à Presidência, Anthony Garotinho, recebeu ontem, em Goiânia, o apoio de Íris Araújo, casada com o senador Íris Rezende (PDMB-GO), de quem é suplente pelo mesmo partido. A formalização do apoio foi feita em solenidade na Assembléia Legislativa de Goiás, onde Garotinho foi recebido por cerca de 150 cabos eleitorais.

Íris, que já presidiu o PMDB goiano e é evangélica, disse que admira as ações de Garotinho na área de segurança pública e contou que o marido, Íris Rezende, não se opôs ao apoio.

"Conversei com meu marido (Íris Rezende) sobre minha decisão e ele me disse que eu sou livre para apoiar quem eu quiser", disse Íris, durante seu seu discurso. "Voto no Garotinho por ele ser cristão e por ter absoluta convicção de que ele irá ganhar as eleições", declarou.

A estratégia do PMDB goiano de se aproximar de Garotinho faz algum sentido.

Em um eventual segundo turno para o governo de Goiás - entre o governador Marconi Perillo (PSDB), que tenta a reeleição e o senador Maguito Vilela (PMDB) -, Garotinho retribuiria o apoio dos peemedebistas subindo no palanque de Maguito Vilela.

O senador Íris Rezende é uma das maiores lideranças políticas goianas. Foi ele que decidiu pelo rompimento do PMDB do Estado com a candidatura de Serra, depois que o governo federal resolveu aprovar a venda das Centrais Elétricas de Goiás (Celg).

Ataques - Do lado do PSB, a adesão da peemedebista foi muito recebida, já que o partido apóia formalmente o candidato José Serra (PSDB). "Sabemos que há no PMDB de Goiás resistências ao candidato do governo à Presidência", disse Garotinho. "Queremos conquistar apoios importantes no Estado para o segundo turno."

O candidato do PSB voltou a afirmar que tem pesquisas que o confirmam no segundo turno. Em rápida entrevista, disse que "já passou Ciro Gomes (PPS)" e agora está "encostado" no tucano José Serra. "Estamos em situação de empate técnico." Depois do discurso na Assembléia, Garotinho percorreu a Avenida Bernardo Sayão, um dos mais tradicionais pontos comerciais de Goiânia. Por ali passam diariamente milhares de pessoas vindas de diferentes municípios e Estados.

Acompanhado por cerca de 200 correligionários, Garotinho criticou as alianças do petista Luiz Inácio Lula da Silva. Serra também foi alvo de ataques por parte do pessebista. No início da tarde, Garotinho viajou para Palmas, no Tocantins, onde fez uma palestra na Associação Tocantinense dos Municípios (ATM).


Artigos

Jovens, armai-vos uns aos outros
Frei Betto

Não é o filme Cidade de Deus - aliás, excelente (embora desprovido de esperança) - que ora me preocupa. Cinema é ficção. É a realidade, que sempre extrapola a imaginação, que me deixa perplexo. Refiro-me à pesquisa de Miriam Abramovay, do Banco Mundial, e Maria das Graças Rua, da Unesco, realizada em 14 capitais do País, com 33.655 estudantes, 3.099 professores e diretores de escola e 10.255 pais, vigias e policiais (Estadão, 5/9/2002).

Constatou-se que de 9% a 18% dos alunos já tiveram ou têm contato com armas de fogo. Só em São Paulo, mais de 57 mil estudantes têm ou tiveram armas. O que leva um adolescente a portá-las? Primeiro, o pai que se gaba de possuir uma, como se isso fosse sinônimo de segurança. Não é, como demonstrou o trágico acidente ocorrido em Brasília, semana passada, onde uma criança de 3 anos, depois de ver a novela O Beijo do Vampiro, apanhou a arma do pai em cima da geladeira e o matou.

As estatísticas revelam que uma pessoa armada tem mais probabilidade de ser assassinada por bandidos do que uma desarmada. Ainda assim há pais que se vangloriam do arsenal que possuem e inoculam em seus filhos o medo ao diferente: mendigo é agressivo, negro é suspeito, pobre é ganancioso, criança de rua é ladrão precoce, etc. As exceções forjam a regra e petrificam o preconceito. Inútil, depois, os pais chorarem no tribunal diante de filhos que puseram fogo num índio "pensando que era um mendigo", como declarou um dos rapazes responsáveis pelo cruel assassinato.

A pesquisa constatou que um dos fatores que favorecem a violência na escola é a facilidade com que os alunos se embebedam nas proximidades. Onde está a polícia para autuar bares que servem bebidas alcoólicas a menores? Tomando lanche de graça para fazer vista grossa?

Sou a favor do uso de uniforme escolar. Ele atenua a diferença social, evitando o exibicionismo consumista dos jovens bem aquinhoados e a vergonha de quem não pode usar tênis de grife. E impediria que bares servissem álcool a quem estivesse uniformizado, além de facilitar o transporte gratuito ou mais barato nos ônibus.

Poucas escolas têm policiamento. Em 51% das pesquisadas não há semáforos, passarelas, faixas de pedestre ou policial controlando o trânsito. Só 7% contam com guardas de trânsito na porta.

Além de redutores de velocidade, toda escola deveria estar protegida do assédio do narcotráfico.

Fosse a nossa polícia mais investigativa, e não só repressiva, bastaria que um suposto consumidor buscasse acesso às drogas nas imediações. E quem garante que o guarda que diz proteger a escola não foi corrompido pelo poder do narcotráfico?

Jamais deveria haver policiais dentro das escolas. Manter a disciplina interna é responsabilidade de professores, funcionários e pais. Mas como isso é possível, se os enlatados de TV incentivam à violência? Onde estão os exemplos altruístas de minha geração quando jovem? Nós, que tínhamos 20 anos na década de 1960, fomos salvos da desgraça por pessoas e fatos históricos que suscitavam indignação e solidariedade, como Gandhi, Luther King, Che Guevara, os Beatles, a revolução cubana, a vitória do pobre Vietnã sobre os poderosos Estados Unidos da América, num tempo em que tudo trazia o adjetivo de novo: o cinema era novo, a bossa era nova, também a literatura - até que a ditadura dependurou nossos sonhos no pau-de-arara.

Segundo pesquisa publicada também no Estadão (15/3/2002), hoje só 10% dos jovens brasileiros se interessam por política (na Argentina, 27%; nos EUA, 23%; no Japão, 42%). Eles passam em média quatro horas diante da TV; 56% associam consumismo à felicidade; malham o corpo, mas não o espírito; espelham-se em exemplos egocêntricos, como o exterminador do passado, do futuro e do presente; o mauricinho que esbanja fortuna; o ator ou esportista que adquiriu fama sem a menor preocupação com ética, valores morais, vida intelectual ou espiritual.

A pesquisa revelou ainda que os próprios alunos integram gangues arruaceiras. Aliás, 55% dos jovens pesquisados sabem onde , como e de quem comprar armas nas proximidades do colégio; 51% dos que já portaram arma de fogo admitem que pegaram de seus pais ou parentes; 67% confessaram que, em brigas na escola, essas armas sempre aparecem. Não me espanto, sabendo que o Brasil abriga 2,9% da população do mundo e 10% dos crimes por arma de fogo.

Segundo o Ministério da Justiça, há no País 1,5 milhão de armas legais e 20 milhões ilegais.

Ante esse dramático quadro, qual a solução?

Primeiro, uma profunda reforma educacional, o que supõe um governo que não considere as prioridades sociais - alimentação, saúde e educação - um estorvo aos acordos mantidos com o FMI.

Segundo, fazer a TV ser de fato o que é de direito: uma concessão pública que, portanto, deveria ser regida, em sua qualidade e conteúdo, pela sociedade civil. No dia em que os telespectadores exercerem o seu direito de cidadania, boicotando anunciantes de programas deseducativos, talvez haja melhora na grade de programação, na qual mulheres, negros, homossexuais e nordestinos, sobretudo em produções humorísticas, são ridicularizados.

Terceiro, educação política, por intermédio de grêmios e diretórios estudantis, conexões com movimentos populares e atividades como a campanha Jovem Voluntário, Escola Solidária, que arranca os adolescentes do comodismo, para empenhá-los em ações solidárias a populações carentes, e faz da escola um eixo de irradiação junto a comunidades empobrecidas, proporcionando-lhes alfabetização, cursos semiprofissionalizantes e atividades culturais e artísticas, como se vê no filme Uma Onda no Ar, de Helvécio Ratton.


Editorial

ESSA CÚPULA NÃO NOS INTERESSA

Não interessa ao Brasil uma reunião de cúpula das Américas em 2003. O ministro de Relações Exteriores, Celso Lafer, deverá explicar a posição brasileira, em Washington, nos próximos dois dias. A cúpula foi proposta pelos governos dos Estados Unidos e do Canadá. O governo mexicano dispõe-se a hospedar o encontro, no primeiro semestre.

Os governantes do hemisfério reuniram-se pela última vez no ano passado, em Quebec, no Canadá. Reafirmaram o compromisso com a formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e confirmaram a intenção de concluir as negociações até 2005. Além disso, aproveitaram a oportunidade para sacramentar o programa de negociações. Foi combinado que um novo encontro de cúpula ocorreria em Buenos Aires, depois de tudo negociado, para celebrar a conclusão dos trabalhos.

Nada justifica a alteração desse calendário. Nenhum fato novo torna recomendável uma reunião, no próximo ano, de chefes de governo dos 34 países comprometidos com a Alca. Há um calendário de trabalho para os próximos dois anos, que deverá ser conduzido, a partir de novembro, com Estados Unidos e Brasil co-presidindo as negociações. Os negociadores fixaram, nos últimos meses, métodos e normas para o trabalho, assim como prazos para apresentação e discussão de propostas. Uma reunião de cúpula, no primeiro semestre de 2003, não atribuiria novos mandatos aos negociadores, mas poderia produzir muito ruído. Estes são alguns dos argumentos do governo brasileiro para se opor à proposta de um encontro no próximo ano.

O governo americano, segundo informa o correspondente do Estado em Washington, Paulo Sotero, tem dúvidas sobre a capacidade argentina de hospedar o encontro em 2005. Além disso, tem interesse em testar o compromisso do novo presidente brasileiro com a Alca, especialmente se o novo governante for Luiz Inácio Lula da Silva. As duas alegações, ambas conhecidas oficiosamente, são muito frágeis. Se o governo argentino, em 2005, tiver problemas para hospedar uma reunião de cúpula hemisférica, haverá tempo, sem dúvida, para mudar os planos. Até lá, o mais importante, em relação à Argentina, é ajudar o país a sair da crise. Quanto ao novo presidente brasileiro, seja quem for, terá muitas oportunidades para esclarecer sua opinião sobre a Alca.

Mas é fácil antecipar pelo menos um ponto. O melhor que os Estados Unidos poderão fazer, nos próximos meses, para estimular o interesse brasileiro em relação à Alca, será a oferta de melhores condições de acesso a seu mercado e de condições mais eqüitativas de comércio. Isto inclui a renúncia a políticas unilaterais de proteção.

Até agora, os negociadores americanos não acenaram com nenhuma oferta que possa entusiasmar o governo e os empresários brasileiros. Ao contrário. A nova legislação agrícola dos Estados Unidos, assim como as condições ditadas pelo Congresso para negociações comerciais, apenas confirmam a disposição de impor ao mundo as pretensões americanas.

Antes de propor uma reunião de cúpula para 2003, o governo americano deveria examinar a qualidade das ofertas que deverá apresentar nos próximos meses.

Será a melhor maneira de criar boa vontade, entre os parceiros, para a formação da Alca no prazo sacramentado, em princípio, durante a Cúpula de Quebec.

Ao Brasil interessa mais, a curto prazo, a conclusão de um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a Comunidade Andina de Nações. Interessa também avançar na discussão de um acordo similar com o México, de tal forma que o novo presidente brasileiro possa formalizá-lo, sem dificuldade, nos primeiros meses de mandato.

Esses dois objetivos não colidem com a negociação de um acordo comercial hemisférico. Mas podem contribuir para que, na fase decisiva da discussão desse acordo, haja mais equilíbrio, ou seja, os interesses de todos os participantes mereçam a mesma consideração. Então, a Alca não será mera extensão do Acordo de Livre Comércio da América do Norte, o Nafta.


Topo da página



09/18/2002


Artigos Relacionados


Lula, Serra e Garotinho sobem, e Ciro cai

Lula, Serra e Garotinho crescem. Ciro cai 1 ponto

Roseana empata com Lula e Serra passa Ciro

Ciro e Garotinho indicam apoio a Lula

Ciro passa a ignorar Serra

Lula cresce e Garotinho já empata com Serra