Depois das pesquisas, crise na campanha de Ciro








Depois das pesquisas, crise na campanha de Ciro
Um grupo quer reverter tendência com ajustes, outro defende alteração radical na estratégia

Depois do choque causado pelas primeiras pesquisas após o horário eleitoral, que apontaram uma redução de até 12 pontos na diferença para o candidato José Serra (PSDB), a campanha presidencial de Ciro Gomes (PPS) já começou a mudar, mas ainda não se sabe que rumo tomará.

Os integrantes da Frente Trabalhista (PPS, PDT e PTB) admitem alterações no programa, mas não querem ataques diretos a Serra. Acham que Ciro vinha bem até agora e seu programa só precisa de ajustes, como a participação de sua namorada, a atriz Patrícia Pillar.

Do outro lado, o PFL e o ex-governador do Ceará, Tasso Jereissati (PSDB), cada vez mais presentes na campanha, defendem uma mudança radical, até mesmo com troca de filosofia e de nomes. Para Tasso e os pefelistas, a campanha ainda tem um caráter muito "paroquial" e os programas de Ciro são "quase amadores", "coisa de micro-empresário".

No meio do fogo cruzado, o candidato parece hesitar. Ontem, esboçou uma reação, ao afirmar que tem munição para contra-atacar. "Conheço o Serra de mil anos. Tenho conhecimento de todas as graves questões que ficaram por aí", insinuou. Ciro, porém, negou que vá atacar o adversário. "O que isso acrescenta à educação política do País? O que isso acrescenta à qualidade da democracia?", ponderou. "Acho desagradável entrar na casa das pessoas com insulto." Segundo Ciro, a sua campanha vai continuar na mesma linha: "Em time que está ganhando não se mexe."

Agressividade - Não é o que acham o ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), o presidente nacional do PFL, Jorge Bornhausen, e o ex-governador Tasso. ACM e Bornhausen têm tentado convencer Ciro a adotar uma linha mais agressiva contra Serra e o governo Fernando Henrique. "É preciso tratar do combate à corrupção, da questão da segurança pública, do emprego e ligar o Serra ao governo Fernando Henrique, que produziu esse caos econômico", sugeriu ACM.

Bornhausen também quer mais críticas ao governo, mas acha que elas podem ser feitas por outras pessoas. "Ciro deve ter um papel propositivo, porque isso vem dando certo." De qualquer forma, o pefelista acha que o programa deve mudar e logo. "É preciso não só uma resposta ao Serra, mas uma reordenação do programa e isso deveria começar a partir de amanhã (hoje)", defendeu.

Tasso não chega a sugerir críticas ao governo do seu partido, mas também pede mudanças. Assim como ACM e Bornhausen, ele tem feito críticas ao programa de Ciro e guarda reservas em relação aos membros da Frente, como Leonel Brizola (PDT) e Roberto Freire (PPS).

Para Tasso, ACM e Bornhausen, a campanha sofre resistências no centro do País, porque padece de mais representantes da "inteligência nacional", na definição de um deles. Não por acaso, Tasso fez questão de apresentar o economista José Alexandre Scheinkman a Ciro.

Bornhausen e ACM vão mais longe. Acham que a campanha de Ciro - cujo irmão, Lúcio, é tesoureiro e o cunhado, Einhart Jacome da Paz, responde pelo marketing - ainda tem um caráter provinciano e precisa adquirir dimensão nacional. Por ora, ACM nega que vá ceder o publicitário Fernando Barros. E Bornhausen faz questão de defender publicamente a manutenção de Einhart.

Ambos sabem que Ciro não cogita trocar pessoas de confiança, mas têm uma expectativa de
que o candidato, ao seguir algumas orientações, fique cada vez mais na órbita do PFL e distante dos partidos da Frente. Sempre pragmáticos, os pefelistas não imaginam como Ciro governaria com partidos tão pequenos e contraditórios. Se o candidato se recuperar, a briga pode ser adiada para janeiro. Caso as próximas pesquisas confirmem sua queda, a disputa terá de ser resolvida logo.


Maquiagem de Lula 'não vai durar', diz Bornhausen
Pefelista quer Ciro no ataque contra Lula e diz que PT 'é sócio da CUT e do MST'

Se depender do presidente nacional do PFL, Jorge Bornhausen, além de responder aos ataques de José Serra (PSDB), o candidato Ciro Gomes (PPS) também deve partir para cima do PT. O próprio Bornhausen já aponta dois caminhos: a ligação da CUT e do MST com o partido e o cancelamento, anunciado por Lula, da construção de uma plataforma da Petrobrás. "A CUT e o MST são os sócios ocultos do PT nesta campanha, por conveniência eleitoral", afirma Bornhausen.

"Mas isso vai até o dia 27 (data do segundo turno), porque no dia 28 eles voltarão à ativa e não deixarão de ser sócios."

Para o presidente do PFL, Lula está com uma imagem bem produzida pelo publicitário Duda Mendonça - é o candidato "Dula", ironiza, numa referência aos dois nomes - mas essa maquiagem não vai resistir por muito tempo. "Há quanto tempo não se vê uma greve ou uma invasão?", pergunta Bornhausen.

"Eles conseguiram segurar a CUT e o MST até agora, mas depois da eleição eles voltarão com toda a força, ganhando o Lula ou não."

Da mesma forma, Bornhausen lembra que Lula já afirmou, durante um comício em Manaus, que vai cancelar o contrato para a construção de uma plataforma da Petrobrás. "Lula foi o único dos quatro candidatos que já deixou claro que vai quebrar contratos", atacou o presidente do PFL.

"Trata-se de um contrato feito após uma licitação internacional, mas ele já disse que não vai cumprir."

Nesse campo, o presidente do PFL também acha que Ciro pode explorar alguns apoiadores de Lula, como o governadores do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra (PT), e o de Minas Gerais, Itamar Franco (sem partido). "Quais foram as principais quebras de contrato ocorrida no País nos últimos anos?", pergunta Bornhausen, antes de ele mesmo responder: "Olívio, que quebrou o contrato com a Ford, tirando a fábrica do Estado, e Itamar, que declarou uma moratória esdrúxula em Minas Gerais e causou uma apreensão geral no País."

Com esses ataques, o PFL espera provocar Lula e trazer o candidato do PT para o centro do ringue. Até agora, raciocinam os pefelistas, o candidato petista só tem levado vantagem na disputa entre Serra e Ciro. Enquanto os dois brigam, Lula permanece em primeiro lugar nas pesquisas e passa a imagem de um candidato acima de qualquer crítica. Como acredita que Ciro estará no segundo turno, Bornhausen acha que a polêmica anteciparia a polarização da disputa.

"Ciro vai para o segundo turno e lá o debate será fundamental", argumenta o pefelista. "É preciso preparar desde já o terreno para essa disputa." Mas ainda que Ciro não chegue ao segundo turno, Bornhausen está convencido de que um eventual governo Lula teria muito pouco a ver com seu discurso de campanha. "Quando fala em quebra de contrato, Lula demonstra recaída. E é nesse Lula que eu acredito mais." Por isso, Bornhausen também não pestaneja quando o assunto é uma eventual disputa entre Lula e Serra. "Voto em Serra, sem dúvida." (S.B.)


Serra quer mudar cálculo do preço de energia
Idéia é desatrelar do dólar o custo do que é produzido pela hidrelétrica de Itaipu

O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, prometeu ontem que, se eleito, vai rever as regras de cálculo das tarifas de energia elétrica proveniente da Hidrelétrica de Itaipu e de concessionárias, como a Ligth. No caso de Itaipu, a idéia é desatrelar o custo da energia gerada ali ao dólar, previsto no acordo de operação da hidrelétrica binacional com o Paraguai. O candidato ainda quer tentar renegociar com as concessionárias o uso do Índice Geral de Preços ao Mercado (IGP-M) como referência básica para o cálculo do reajuste das tarifas. O compromisso, válido no seu eventual governo, foi formulado em entrevista ao jornal Bom Dia Brasil, da Rede Globo.

"Sobe o dólar, so be a tarifa, não tem nada a ver com os custos de Itaipu.

Sobe a tarifa e contamina todo o resto", afirmou o candidato. "Vamos refazer o contrato com o Paraguai."

Ele destacou que não pretende romper nenhum contrato, mas renegociar, inclusive com as concessionárias, novos termos que permitam baratear o custo final ao consumidor. As principais iniciativas seriam desindexar as tarifas em relação ao dólar e ao IGP-M.

O uso do IGP-M - que tem provocado grande alta nas tarifas - foi introduzido no contrato de concessão da Light, cujos termos foram acertados sob a gestão de Serra no Ministério do Planejamento, lembrou o jornalista Alexandre Garcia, um dos entrevistadores. O candidato defendeu-se, dizendo não ter como prever na época que o IGP-M teria tal desempenho. De quebra, fez uma crítica velada ao governo. "Eu teria refeito esses contratos, procurando outro índice", declarou. "Vou mexer nisso também. Não é acabar o índice. É refazer um contrato vendo um mix de preços."

Orgulho - Apesar de mostrar restrições à atuação do governo - ele ainda admitiu que o presidente Fernando Henrique Cardoso não "atingiu na sua plenitude" as metas prometidas nas áreas de segurança e emprego e voltou a criticar a sobrevalorização do real - , Serra preferiu responsabilizar a conjuntura nacional e internacional e afirmou que Fernando Henrique "deve aparecer mais" em sua campanha. "É óbvio que sou o candidato do presidente e me orgulho de ter esse apoio", afirmou. Para Serra, não existe dilema sobre ele ser ou não candidato do governo. "Agora, meu governo será diferente, como seria o de Fernando Henrique se tivesse um terceiro mandato", ressalvou. Em seguida, criticou os adversários: "O pessoal fica escavando para trás, como se o Brasil não tivesse futuro. Chega de fazer balanço. É importante analisar o que aconteceu? É, mas os problemas não têm só culpas, eles têm causas. O importante é ir melhorando."

O tucano explicou não ter reunido em torno de sua candidatura a mesma base de sustentação do governo Fernando Henrique porque "o Brasil mudou, tem um novo ciclo". Destacou ter o apoio de economistas que criaram o Real, entre eles Edmar Bacha, mas considerou "normal" o fato de alguns desses economistas preferirem outros candidatos.

Serra voltou a defender a coerência da indicação da deputada Rita Camata (PMDB-ES) como sua vice e reafirmou que tem condições de cumprir sua promessa de criar 8 milhões de empregos.

Ao falar de horário eleitoral, negou que as inserções referentes a Ciro Gomes (PPS) sejam "ataques" ao rival. "É importante que se debata o que os candidatos já fizeram também", disse.

Sobre o fato de as inserções não identificarem claramente a relação com o PSDB e sua coligação, o tucano respondeu que esta seria "uma observação a ser levada em conta".


Serra ganha força para negociar em Minas
Candidato usará subida nas pesquisas para atrair PFL e consolidar apoio dos próprios tucanos

BELO HORIZONTE - Os pontos ganhos nas pesquisas eleitorais deram novo fôlego à campanha do candidato do PSDB à Presidência, José Serra em Minas, onde boa parte do tucanato confessava desânimo e outros tantos ameaçavam migrar para a candidatura de Ciro Gomes (PPS). Além de servir para consolidar o apoio dos próprios tucanos e motivar as bases a pedir votos a Serra, a reação do presidenciável abriu caminho para que o comando estadual da campanha começasse o trabalho de reaproximação do PFL mineiro, hoje quase todo engajado na campanha de Ciro.

"Nunca houve um risco iminente de debandada do PSDB mineiro, mas o crescimento vem em muito boa hora, porque o desânimo e apreensão eram muito grandes", avalia o ex-governador Eduardo Azeredo, que disputa uma vaga no Senado. Foi no embalo dos bons ventos das pesquisas que Serra desembarcou ontem à noite para um comício em Santa Luzia, município da Grande Belo Horizonte, governado por Carlos Alberto Calixto, um dos poucos prefeitos pefelistas que manteve o apoio ao tucano em tempo de popularidade em queda.

Para atrair os 111 mil eleitores de Santa Luzia à praça central e garantir o sucesso da primeira investida de Serra depois das pesquisas favoráveis, o comando da campanha incluiu na programação do palanque um show da dupla sertaneja Chitãozinho e Xororó.

Convite - A divulgação do convite, em tom de convocação, foi tarefa candidato a govenador e presidente da Câmara, Aécio Neves, que aproveitou o horário gratuito no rádio e na TV. Enquanto o locutor anunciava o showmício, o programa na TV exibia imagens coloridas da campanha de rua de Aécio em que a figura de destaque era o governador de Minas, Itamar Franco (sem partido), eleitor de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Serra e sua presença nem sequer foram mencionados.

Aliados de Aécio e operadores da campanha presidencial em Minas explicaram ontem que o presidente da Câmara não poderia mesmo falar em Serra no convite.

Argumentaram que por muito menos - apenas por não ter citado Itamar em sua estréia no horário gratuito - Aéco teve que enfrentar uma crise com o temperamental governador mineiro. Lembraram também que o tucano tem o apoio e os minutos na TV da Frente Trabalhista que apóia Ciro Gomes.

"Aécio lidera com folga as pesquisas para o governo mineiro, mas é sempre bom ter em mente que sua eleição é um projeto importante demais para o PSDB de Minas e nacional. É melhor não criar problema", diz um influente personagem do comando da campanha de Serra no Estado.

Mas os tucanos mineiros não têm dúvida de que a situação local de Serra melhorou e muito, independentemente do sucesso de público do comício de Santa Luzia. Prova disso, dizem Azeredo e o coordenador do comitê de Serra em Belo Horizonte, Sílvio Mitre, é o crescente interesse pelo material de campanha do tucano. "O movimento no comitê em busca de material de Serra, especialmente adesivo, dobrou de segunda-feira para cá", atesta Mitre. "Eu já havia notado isto no domingo, na panfletagem que fizemos em Contagem", completa Azeredo.

O cientista político e presidente do Instituto Vox Populi, João Francisco Meira, atestou o crescimento de Serra em todo o Brasil, mas recomenda cautela na leitura dos números.

Segundo ele, é cedo para apostar numa nova tendência do eleitorado, porque o chamado "núcleo duro" das candidaturas do PSDB e do PPS permanecem inalterados, com Serra na faixa dos 11% de votos espontâneos e Ciro mantendo 20 pontos porcentuais.


Garotinho ironiza apoio de Sarney a Lula
Candidato do PSB lembra que o petista e o ex-presidente já trocaram acusações

O candidato do PSB à Presidência, Anthony Garotinho, criticou ontem o petista Luiz Inácio Lula da Silva por aceitar o apoio do senador José Sarney (PMDB-AP). "O Lula, que chamava o Sarney de grileiro, eu não sei o que mudou. Será que o Sarney devolveu as terras e deixou de ser grileiro, ou o Lula passou agora a conviver com grileiro?"

Garotinho disse ainda que Lula "já cedeu aos caprichos" do sistema financeiro, durante coletiva em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo. "Eu sou o único candidato contra o sistema financeiro. O Lula já cedeu aos caprichos deles, o (José) Serra, do PSDB, é o candidato deles, o Ciro (Gomes), do PPS, também. Por isso eles continuam manipulando as pesquisas."

Mais tarde, em Osasco, o presidenciável do PSB disse que Lula "mudou de lado". "No Lula que faz cafuné em banqueiro eu não voto."

O dia de campanha de Garotinho acabou se transformando em uma maratona relâmpago. Ele chegou a Itaquaquecetuba, acompanhado da filha Clarissa Matheus, quase cinco horas atrasado.

A justificativa: uma forte dor de garganta que o deixou afônico. Deveria dar palestra sobre habitação a movimentos populares e religiosos, mas apenas falou rapidamente em cima de um carro de som - antes foi feito um "gato" na rede elétr ica para conseguir energia. O candidato prometeu construir 500 mil casas populares por ano.

Depois, Garotinho subiu na caçamba de uma velha caminhonete Pampa, junto com sete pessoas, e seguiu em carreata, que pouco animou quem passava nas ruas.

No centro, fez uma caminhada, que durou menos de 5 minutos. "Já vai embora?", perguntou uma eleitora.

Em Guarulhos, um comboio de carros o aguardava. Seguiram até o centro, onde Garotinho desceu do carro, agora uma picape nova e reluzente, cumprimentou eleitores, entrou em lojas, enquanto Clarissa distribuía panfletos. Ele seguiu para Osasco de helicóptero.


FHC decide iniciar minirreforma com MP
Objetivo é compensar o fracasso da votação do projeto sobre cobrança cumulativa do PIS

BRASÍLIA - Com o fracasso do esforço concentrado na Câmara, o presidente Fernando Henrique Cardoso decidiu ontem que dará início à minirreforma tributária, editando uma medida provisória para pôr fim à cobrança cumulativa do PIS, em substituição ao projeto de lei que está no Congresso. A MP deve ser editada até amanhã, antes de o presidente embarcar para a África do Sul, onde participa da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável - Rio + 10.

A negociação para a votação do projeto na Câmara emperrou diante da resistência dos setores de agroindústria e de serviços. Seus representantes alegam que terão prejuízos se a MP mantiver as mesmas regras estabelecidas pela proposta que não foi votada. Mas o governo deverá adotar parte do parecer do relator do projeto, deputado Armando Monteiro (PMDB-PE), que prevê o recebimento de um "crédito presumido" para esses dois setores, para compensar o aumento da alíquota que sofrerão.

A idéia do governo é reajustar as alíquotas de 0,65% para 1,65%, o que na prática incide principalmente sobre os produtos que passam por várias etapas de fabricação. Também será uma nova MP, ainda sem data para ser editada, a saída encontrada pelo governo para resolver o impasse envolvendo a Medida Provisória 38 (que trata do refinanciamento das dívidas das empresas privadas), que está obstruindo a pauta da Câmara.

A decisão de editar medidas provisórias foi defendida pelo presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), e pelo vice-líder do governo no Senado, Romero Jucá (PSDB-RR). Ambos disseram ser favoráveis ao esforços pela aprovação dos textos na Casa, mas reconheceram que, diante do fracasso, a melhor alternativa seria a edição de MPs. "A MP 38 ainda está em discussão no Ministério da Fazenda", ressaltou Aécio.

As divergências em torno dessa MP foram causadas principalmente pelas inúmeras alterações que ela sofreu na Câmara. A principal é a que cria o chamado Refis 2, que beneficiaria as empresas em débito com a Receita Federal, além de isentá-las do pagamento de multa. Outra alteração considerada polêmica foi a que deixa em aberto a função de fiscalização das aduanas nacionais: pela lei em vigência (desde 1966), apenas os auditores têm essa competência.

Equívoco - Para o líder do governo na Câmara, Arnaldo Madeira (PSDB-SP), o fracasso das negociações e do próprio acordo foi provocado pelo "equívoco" de ocorrer uma convocação para votações em pleno período eleitoral, no qual a maioria dos parlamentares está em campanha em seus Estados. Ele ressaltou, porém, que a falta de consenso em torno da aprovação dos dois assuntos mostrou "como é difícil" negociar a reforma tributária no País. "Não se faz Reforma Tributária sem que um setor perca e outro ganhe, e isso ninguém aceita", afirmou o deputado, explicando que as dificuldades referem-se a "questões técnicas e políticas".

Ainda neste período eleitoral, outras questões ficarão pendentes: são as 19 MPs que perderão a validade entre amanhã e 15 de setembro e que vão trancar a pauta de votação. Madeira acredita que a solução pode ser a sua reedição.

Ele lembrou que o teor das MPs, apesar da perda da eficácia (prazo), será mantido. O líder destacou ainda que a próxima sessão do Congresso só deverá ocorrer após o segundo turno das eleições, em 27 de outubro. Na prática, os deputados e senadores trabalharão apenas um mês e meio, já que o recesso parlamentar começa em 15 de dezembro.


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A Vale privatizada
Roberto Macedo

A Faculdade de Economia da Faap está realizando a sua Semana de Economia, com várias palestras para alunos, professores e convidados. Na terça-feira, fiquei do lado da platéia e assisti a uma das mais interessantes, proferida pelo diretor-presidente da Cia. Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, ex-aluno da faculdade. Ele esteve lá acompanhado do diretor Financeiro e de Relações com o Mercado de Capitais, Fábio Barbosa, que também prestou esclarecimentos sobre a empresa.

As informações que vieram com a palestra merecem registro pelo status dos que falaram, pela dimensão da empresa e porque seu desempenho é um dos ingredientes importantes de qualquer avaliação dos resultados do programa de privatizações desenvolvido desde o início da década passada.

A Vale é a maior empresa privada do Brasil, com uma receita operacional bruta de R$ 11 bilhões em 2001. Como é uma empresa internacional, muitas cifras foram apresentadas em dólares.

Assim, seu lucro líquido no ano passado foi de US$ 1,2 bilhão. Outro número a destacar é o da sua contribuição para as contas externas brasileiras. Sozinha, gerou no ano passado um superávit comercial (exportações menos importações) de US$ 2,9 bilhões. Este ano esse superávit deverá ser cerca da metade do total previsto para o País como um todo, que analistas estão estimando em torno de US$ 7 bilhões.

Críticos da privatização da empresa dizem que ela já era grande e competente, tida como uma das "jóias da coroa". A privatização, contudo, permitiu que ela se tornasse ainda maior, mais eficiente e com melhores perspectivas de continuar seguindo por esse caminho no futuro. Como estatal, a empresa sofria a carência de aportes de seu acionista principal, o governo, para fins de investimento, o motor do crescimento das empresas. E, não menos importante, havia também a lentidão e restrições típicas do processo decisório das estatais.

Assim, uma das razões do melhor desempenho da Vale na sua fase pós-privatização e de seu cenário promissor, já espelhados no aumento dos dividendos pagos aos acionistas e na cotação de suas ações na bolsa, foi a concentração da empresa em menor número de atividades, principalmente mineração e logística, deixando de lado investimentos em papel e celulose e siderurgia. Assim, entre empresas e participações, nos dois últimos anos fez 11 aquisições, totalizando US$ 1,9 bilhão, e deixou seis investimentos, num total de US$ 1,3 bilhão. Deixou também de lado a navegação de longo curso e pretende dedicar-se à cabotagem como uma de suas atividades na área de logística. Para fazer tudo isso como estatal, ao lado do problema da lentidão, haveria a pressão política em defesa de interesses de todo tipo.

A Vale é uma entre dezenas de empresas que passaram pelo processo de privatização. Várias pesquisas que cobrem um grande número de empresas, contudo, têm comprovado que, de um modo geral, a privatização contribuiu para melhorar o desempenho das companhias privatizadas, beneficiando também a eficiência da economia como um todo.

Onde o processo se revela vulnerável a críticas não é tanto nas empresas, mas na forma como o governo desenvolveu o processo e utilizou os recursos que vieram dos leilões. Na forma, deixou de cumprir um dos objetivos da legislação sobre as privatizações, o da democratização da propriedade do capital. Só mais recentemente, com a oferta pública de blocos de ações da Petrobrás e dos que ainda retinha da Vale, o governo permitiu que os depósitos dos trabalhadores no FGTS fossem utilizados como moeda de compra, ainda que de forma limitada. Aliás, vários professores presentes se identificaram como novos acionistas da empresa como resultado dessa oportunidade.

Ainda no mercado de capitais, medidas adotadas pelo governo para estimular ainda mais o interesse pela aquisição do controle das suas empresas vieram prejudicar os interesses dos acionistas minoritários. Isso causou danos ao desenvolvimento do mercado de ações, não de todo reparados por modificações recentes da legislação sobre os direitos desses acionistas.

Quanto aos recursos resultantes dos leilões, havia o objetivo de utilizá-los para reduzir ainda mais a dívida pública, ao lado da diminuição que esta sofreu com a transferência, para o setor privado, das dívidas das estatais privatizadas. O que aconteceu, entretanto, foi que entrou o dinheiro dos leilões, mas o governo aproveitou a folga para fazer novas e maiores dívidas, e o resultado final é que a dívida pública continuou aumentando, alcançando valores recordes que tantos problemas vêm causando ao País.

Visto de outra forma, o dinheiro da privatização teve também o resultado indesejável de sustentar o fôlego de políticas equivocadas. Abrindo mais espaço para o endividamento, permitiu ao governo prosseguir ainda mais tempo com sua política, muito onerosa para a dívida pública, de juros altos em defesa do dólar barato, adotada no primeiro mandato do governo FHC. Esse dólar barato teve ainda o papel de ampliar a dívida externa do País e essa política foi também sustentada pelo dinheiro que veio de fora para a privatização e que aumentava a oferta de dólares, mas não em caráter permanente.

Assim, quem quiser buscar problemas da privatização, vai encontrá-los predominantemente no governo que a fez, e não nas empresas privatizadas.

Para estas, como demonstra sobejamente o caso da Vale, a privatização, longe de ser debitada à conta de problemas, veio trazer uma solução em benefício da empresa e do País.


Editorial

MAIS VAGAS ABERTAS

Duas pesquisas - a do Ministério do Trabalho e a do Departamento Intersindical de Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) -, divulgadas entre a sexta-feira da semana passada e anteontem, apontaram continuidade da tendência de diminuição do desemprego e de acréscimo no número de novos empregos na economia formal, ou seja, com carteira de trabalho assinada.

Embora a economia brasileira esteja crescendo em ritmo inferior ao seu potencial e enfrente graves turbulências cambiais, as empresas continuam abrindo vagas no mercado formal. É o que se constata pelas estatísticas do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho.

Há três anos, segundo os dados do Caged, o emprego formal vem mostrando crescimento. Em 2000, houve a criação de 657,5 mil novos empregos; em 2001, esse número alcançou 591 mil, ou seja, foram adicionados, em dois anos, 1,248 milhão de novos empregos à economia. Este ano, a evolução está sendo ainda mais promissora: entre janeiro e julho de 2002, foram criados 741.997 postos de trabalho, 11,5% a mais do que em idêntico período do ano passado.

Há oscilações entre um mês e outro. Em julho, por exemplo, o número de ofertas de novas vagas (61.277) correspondeu à metade dos 133.346 postos criados em junho. O que se deve notar é que a tendência geral é positiva e revela, de um lado, que as empresas estão mais confiantes na recuperação sustentada do crescimento (pois, se assim não fosse, prefeririam contratar mão-de-obra temporária ou aumentar o número de horas extras) e, de outro, o aumento da fiscalização federal.

Dados compatíveis com os do Ministério do Trabalho constaram da pesquisa feita em conjunto pelo Dieese e pela Fundação Seade, patrocinada pelo governo do Estado de São Paulo. As estatísticas sugerem que está se consolidando a tendência de queda do porcentual de pessoas desempregadas na Grande São Paulo, pois o fenômeno vem se repetindo, pelo terceiro mês consecutivo, mas o diretor técnico do Dieese, Sérgio Mendonça, acredita que a situação piore, quando forem incorporados os dados de agosto. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) também teme que o desemprego cresça, neste fim de ano. Em julho, segundo o Dieese, o desemprego aberto e oculto atingiu 18,1%, com queda de 0,7 ponto porcentual em relação a junho.

O número de desempregados formais e informais, segundo o Dieese, atinge 1,7 milhão de pessoas, mas, no mês passado, foram gerados 98 mil novos empregos, com destaque para o setor industrial, que fez 43 mil contratações. Isto sugere que a indústria se prepara para aumentar a oferta de produtos neste semestre, com vistas a suprir o comércio, que tem, nos fins de ano, sua fase de maior atividade. Em julho, segundo o Dieese, o setor de serviços abriu 28 mil vagas e o comércio, 8 mil postos de trabalho. Outras atividades, tais como construção civil e serviços domésticos, geraram a abertura de 19 mil empregos.

Há outro ponto relevante a considerar. O Estado de São Paulo reage mais rapidamente às mudanças econômicas, para o bem e para o mal. Se o emprego está crescendo em São Paulo, este é um indício de que toda a economia poderá retomar o ritmo antes mesmo do que se esperaria. É no que parecem acreditar tanto o economista Fábio Giambiagi, do BNDES - para quem "avolumam-se os sinais de que a maré está virando", como declarou em entrevista à TV -, como as empresas que contratam mais.


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08/29/2002


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