Ciro reage contra tentativa do governo de cooptar PTB









Ciro reage contra tentativa do governo de cooptar PTB
Manobra implodiria aliança do PPS

A operação do governo federal e do PSDB para tentar atrair o PTB para a campanha do candidato tucano à Presidência, José Serra, provocou ontem uma reação irritada do candidato do PPS, Ciro Gomes.

Em São Paulo, onde ministrou palestra para os estudantes de Direito da Faculdade do Largo São Francisco, o ex-ministro da Fazenda qualificou o gesto dos tucanos de “peculato” (uso de dinheiro público em proveito próprio) e “abuso do poder público”.

Ao lado do PPS e do PDT, o PTB integra a Frente Trabalhista, que apóia a candidatura de Ciro. Sem a aliança, a candidatura do PPS fica praticamente inviabilizada, pela pequena fatia a que teria direito no horário eleitoral gratuito.

– O governo, agora, vai tomar o PTB, liberando emendas, dinheiro público, cedendo cargos e espaço publicitário para fins de eleger o candidato deles. Isso é crime. Tem de se perguntar se isso é razoável, que num país democrático, à luz do dia, ocorra tentativa de suborno assim – reiterou o candidato do PPS.

Ciro disse não ter “a menor dúvida” da participação de José Serra, candidato do PSDB, no episódio que culminou na apreensão de documento na empresa Lunus, de propriedade da governadora do Maranhão e candidata do PFL à Presidência, Roseana Sarney.

– Do senador candidato (a participação), não tenho a menor dúvida. As evidências estão dadas, e a própria atitude dele diante do assunto. Saiu-se, escondeu-se, como é de seu hábito – disse.
Quanto à participação de FH no episódio, Ciro afirmou que “jamais, em tempo algum, um delegado de polícia poderia passar um fax para a casa do presidente da República”.

E completou:
– No caso de Fernando Henrique, só há uma coisa e sem explicação, já que a explicação dada o condena e não o absolve.

O 3º vice-presidente nacional do PTB, Claudio Manfroi, negou que exista a possibilidade de seu partido recuar do apoio a Ciro.

– Não acredito na possibilidade de recuo. Se ocorrer, o Rio Grande vai se rebelar – afirmou Manfroi.


CPMF é o primeiro teste sem o PFL
Base aliada acredita que partido se decidirá por votação

O governo federal deverá enfrentar seu primeiro teste sem o apoio do PFL na retomada das votações pelo Congresso nesta semana, com a proposta de prorrogação da CPMF até dezembro de 2004.

A liderança do governo e o presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), já estão com seu cronograma de votação da CPMF estabelecido: votar a redação final do primeiro turno da CPMF hoje e o segundo turno na noite de amanhã. Tanto a base aliada quanto Aécio acreditam que o PFL se decidirá pela votação da CPMF esta semana e não pelo adiamento, como chegou a ser cogitado pelo líder da bancada do partido na Casa, Inocêncio Oliveira (PE). Os pefelistas se reúnem às 14h de hoje para deliberar sobre a votação.

Em Fortaleza, o presidente Fernando Henrique Cardoso fez um apelo aos integrantes do PFL e do PSDB para que coloquem os interesses do país acima das questões eleitorais. O presidente enfatizou que ele tem a palavra do presidente nacional do PFL, Jorge Bornhausen, e do vice-presidente da República, Marco Maciel, de que a saída do partido do governo não implicou em uma quebra de compromissos com o país. O presidente afirmou ter certeza de que contará com o apoio pefelista nas votações nesta semana do Congresso.

FH afirmou que os partidos que integram a base aliada, “sobretudo o PFL”, juntaram-se no passado não por interesses eleitorais, mas por um programa para o Brasil.


PF investiga o R$ 1,34 milhão da Lunus
A Polícia Federal (PF) decidiu investigar se o R$ 1,34 milhão encontrado na Lunus Serviços e Participações, pertencente à governadora do Maranhão e candidata do PFL à Presidência, Roseana Sarney, e ao marido, Jorge Murad, gerente de Planejamento do governo do Estado, está vinculado a empresários ou empresas que receberam recursos da extinta Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam).

Uma das primeiras suspeitas é de que o valor localizado num cofre na Lunus serviria para financiar o início da campanha presidencial de Roseana, apesar de advogados de Murad afirmarem que o dinheiro seria produto da comercialização de chalés numa pousada no interior maranhense.

O material apreendido na Lunus chegou ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) às 12h15min de ontem. Dois veículos da Polícia Federal foram usados para transportar seis caixas contendo documentos, uma CPU de microcomputador e um envelope com vários papéis apreendidos no escritório da empresa, no dia 1º. O dinheiro que a PF encontrou na empresa – R$ 1,34 milhão – foi depositado numa agência da Caixa Econômica Federal (CEF) de São Luís.


PFL exige explicação e dá ultimato a Roseana
Se a candidata não apresentar defesa convincente contra acusações, a sigla pode retirar apoio e forçar renúncia

O PFL demonstrou unidade e rompeu com o governo para garantir à governadora do Maranhão, Roseana Sarney, o palanque que ela precisava para se defender da invasão, pela Polícia Federal, do escritório da empresa que tem em sociedade com o marido, Jorge Murad.

Mas a falta de explicação para o R$ 1,34 milhão apreendido no escritório da empresa Lunus, no dia 1º de março, está esgotando a paciência até do PFL.

O presidente do partido, Jorge Bornhausen, viaja hoje a São Luís para expor um quadro nada animador para a governadora e pedir que ela reaja às denúncias. Dirá a Roseana que as acusações precisam ser esclarecidas rapidamente, antes que o PFL perca votos capazes de eleger deputados, senadores e governadores. Parlamentares que vão disputar as eleições começam a admitir a hipótese de Roseana renunciar.

Nenhuma das versões apresentadas até agora pela governadora convenceu seus companheiros de partido. Nem a informação – divulgada ontem pelo Correio Braziliense – de que o dinheiro é fruto de doações de empresários para o fundo de campanha da candidata foi suficiente para o PFL. Bornhausen pedirá a Roseana providência imediata para responder as acusações que se multiplicam na imprensa. As explicações podem ser dadas por meio de nota oficial ou anúncio pago em jornais.

Caso Roseana comprove que a origem do dinheiro encontrado não tem nada de ilegal, o PFL considera possível reverter a queda de sua candidata nas pesquisas. Mas se não conseguir se desvencilhar das suspeitas de que a Lunus faz parte de um esquema de desvio de verbas da extinta Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) – ou se a participação da Lunus no esquema for comprovada –, ela deverá desistir da candidatura à Presidência. Espontaneamente, sem que o PFL precise lhe pedir isso.

Para não ser pego de surpresa, o partido trabalha com diversas hipóteses em caso de perder sua candidata. O plano B do PFL vai desde lançar outro nome do partido à Presidência até compor com o PSDB em torno de um nome que não seja o do candidato tucano, José Serra.

– Não podemos limitar nosso projeto político nem ao sucesso de Roseana nas explicações nem a uma eventual desistência de Serra – afirma um integrante da cúpula partidária.

Roseana disse ontem que não comentaria o caso do dinheiro encontrado na Lunus.

– Não quero falar sobre isso hoje, estou governando o Maranhão – afirmou a candidata, em São Luís.


FH diz a Serra para se afastar de Márcio Fortes
O presidente Fernando Henrique Cardoso aconselhou no domingo o candidato presidencial do PSDB, José Serra, a se afastar do secretário-geral do partido, Márcio Fortes.

A conversa ocorreu numa viagem d e avião de Brasília a Fortaleza, onde FH e Serra participariam da Assembléia-Geral do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

– Ele (Fortes) precisa responder a essas coisas – disse FH, referindo-se a denúncias de que o dirigente tucano teria oferecido ao governador do Rio, Anthony Garotinho (PSB), um dossiê contra a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL).

A pelo menos dois ministros e senadores que o aguardavam na capital cearense, FH revelou o teor da conversa mantida com Serra.

– Isso está fugindo ao controle da lógica e do bom senso – reclamou o presidente.

O PFL busca no submundo da espionagem política a munição contra a candidatura presidencial de José Serra (PSDB). O partido teria descoberto que o ex-agente do antigo Serviço Nacional de Informações (SNI) Gercy Firmino da Silva e um colega, também ex-funcionário do SNI e conhecido como Alemão, foram supostamente contratados para vasculhar a vida pessoal e empresarial da governadora do Maranhão, Roseana Sarney.

De acordo com altos dirigentes do PFL, Gercy e Alemão teriam sido contratados por uma empresa de segurança de Brasília, e a conta teria sido paga pelo secretário-geral do PSDB, Márcio Fortes. Os dois teriam passado por São Luís e Fortaleza em busca de provas contra Roseana.


José Sarney adia discurso contra FH pela terceira vez
A decisão do senador foi motivada por um pedido feito pelo presidente do PFL

Pela terceira vez, o senador José Sarney (PMDB-AP), pai da candidata do PFL à Presidência e governadora do Maranhão, Roseana Sarney, adiou ontem o discurso que prometera fazer na tribuna do Senado para atacar o governo federal.

A decisão foi motivada por um pedido feito pelo presidente do PFL, Jorge Bornhausen, que trabalha nos bastidores para evitar um guerra aberta contra o presidente Fernando Henrique Cardoso.

Sarney decidiu fazer o discurso em resposta à ação da Polícia Federal (PF), que no dia 1º apreendeu com mandado judicial documentos da empresa Lunus, de propriedade de Roseana e do marido, Jorge Murad, gerente de Planejamento do Maranhão.

A Lunus é investigada pelo Ministério Público por supostos desvios de verbas da extinta Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). Na sede da empresa foi encontrado R$ 1,34 milhão, cuja origem ainda não foi esclarecida.

Reservadamente, o senador criticou a atuação da PF e disse que o ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, havia sido “omisso” no caso. O episódio causou constrangimento em Brasília e levou o PFL a sair da base do governo.

Um dia depois da ação da PF, Sarney declarou que faria um discurso criticando ao governo. Na terça-feira, Sarney decidiu adiar sua fala para dar tempo para que o PFL discutisse a questão. Prometeu falar na quinta-feira, mas, pela segunda vez, decidiu esperar.

Ficou acertado que o pronunciamento ocorreria hoje, mas houve nova mudança de planos no gabinete de Sarney: o senador recebeu um telefonema de Bornhausen pedindo mais tempo. Sarney acatou o pedido.

A assessoria de imprensa do senador, no entanto, garante que o discurso ainda será feito, só que não precisou a data. Hoje, Sarney embarca para Paris, onde lançará seu mais recente romance, Saraminda, em francês.


Jorge Bornhausen se reúne com Roseana
O presidente nacional do PFL, Jorge Bornhausen, informou que se encontrará hoje no Maranhão com a governadora Roseana Sarney, candidata do PFL à Presidência, para discutir as estratégias de campanha. Bornhausen disse que a tentativa de desestabilizar a candidata continua em curso:
– Ainda não terminou, mas vai terminar.

Ao comentar a possibilidade do retorno do diálogo entre seu partido e o PSDB, o dirigente disse:
– As coisas ocorreram de uma maneira violenta e fica difícil que o equilíbrio seja permanente.


PPB incentiva voto dos jovens
O PPB gaúcho inicia hoje uma campanha de incentivo ao voto de jovens entre 16 e 18 anos para o pleito de outubro.

Com a iniciativa, a Juventude Progressista Gaúcha pretende convocar os adolescentes a confeccionar seus títulos de eleitor e participar das eleições.

Nas mobilizações pelo Estado, os militantes do PPB distribuirão materiais em shopping centers, escolas e áreas de lazer. Em Porto Alegre, as ações do partido serão concentradas em palestras e visitas a instituições de ensino. Segundo o presidente regional do PPB e candidato da sigla ao governo do Estado, Celso Bernardi, os jovens precisam entender que exercendo o poder de voto iniciam sua politização.

– Se a juventude reclama que está descontente com a política, deve reagir com seu voto e ousadia – afirma Bernardi, ressaltando que a iniciativa não representa a busca do partido por novos filiados.

Segundo Pedro Feiten, membro da Juventude Progressista Gaúcha, 262 mil adolescentes considerados aptos a votar não possuem título de eleitor no Estado.


PMDB gaúcho tenta convencer Simon a concorrer ao Piratini
Candidato a governador deverá ser definido no dia 7 de abril

O cancelamento da prévia nacional do PMDB apressou as definições do partido no Rio Grande do Sul, que agora se empenha em convencer o senador Pedro Simon a disputar o governo do Estado.
Numa reunião ontem à noite, a executiva marcou para o dia 7 de abril o encontro que definirá o pré-candidato ao Piratini e as linhas básicas do programa de governo.

Entre os líderes do PMDB gaúcho é unânime o apoio ao nome de Simon para disputar o Piratini. Hoje o senador se encontra com o governador de Minas Gerais, Itamar Franco, no Rio. O presidente regional do PMDB, deputado Cezar Schirmer, também irá, mas com a missão de convencer Simon a a ser candidato a governador.

Um líder nacional do PMDB, que prefere não ser identificado, acredita que Simon pedirá hoje a Itamar que assuma de vez a candidatura a presidente da República. O mesmo líder garante que o cancelamento da prévia nacional deixou os peemedebistas gaúchos “mais livres para trazer Simon de volta”.

A reunião de ontem deixou claro que a decisão agora está nas mãos do senador gaúcho.

– Se Simon insistir em disputar a Presidência o candidato a governador deverá ser o deputado Germano Rigotto. Mas hoje Rigotto é candidato a senador – afirmou Schirmer num intervalo da reunião de ontem.

Primeiro vice-presidente da executiva estadual do partido, o prefeito de Osório, Alceu Moreira, afirma que o PMDB gaúcho discorda da decisão de cancelamento da prévia nacional, mas argumenta que é preciso se conformar com a decisão da maioria. Para o prefeito, é preciso analisar em que circunstâncias a decisão foi tomada, e não simplesmente contrariá-la.

Participaram da reunião a maioria dos deputados estaduais e federais, representantes dos movimentos jovem e de mulheres do partido, da associação de prefeitos, vereadores da Capital e o ex-ministro dos Transportes Eliseu Padilha.


Política de boa vizinhança
Deixando a rivalidade política de lado, o presidente regional do PPS, Nelson Proença, visitou a sede estadual do PT na tarde de ontem. Recebido pela direção da executiva petista, o deputado permaneceu por quase uma hora em reunião com o presidente gaúcho da sigla, David Stival.
Os líderes partidários defenderam a necessidade de desenvolver uma campanha eleitoral civilizada.

Desde que assumiu a presidência estadual do PPS, em dezembro do ano passado, Proença vem realizando visitas de cortesia aos partidos com sede na Capital, acompanhado por membros de sua executiva. No PT estadual, o deputado estendeu um pouco a pauta do encontro e substituiu a política de boa vizinhança pelo debate direto sobre as eleições de outubro. Considerando que PPS e PT irão se enfrentar nas urnas, Proença apresentou a Stival a intenção de estabelecer um pacto de civilidade entre os dois partidos.

O presidente do PT elogiou a iniciativa de Proença e se comprometeu a controlar pessoalmente os eventuais excessos cometidos pelos militantes. Ressaltando que os enfrentamentos entre os dois grupos têm sido difíceis, Stival espera que os ataques sejam substituídos por debates politizados sobre projetos e pontos de vista.

O PPS vem consolidando a aliança com o PTB e com o PDT, na formação da Frente Trabalhista. Sem descartar a possibilidade de lançar candidatura própria ao Piratini, Proença espera definir nomes durante o encontro nacional do partido, que será realizado em Niterói,no Rio, entre 23 e 25 de março.


Pesquisa de Tarso acirra guerra no PT
O levantamento será entregue hoje ao partido, sob protesto do grupo que apóia Olívio

O comitê de apoio à candidatura do prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, ao governo do Estado pelo PT entrega hoje oficialmente ao presidente estadual do partido, David Stival, uma pesquisa encomendada ao Labors, instituto da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

O levantamento, que mostra Tarso em melhor posição do que o governador Olívio Dutra na disputa pelo Palácio Piratini em outubro, teve o efeito de uma bomba no interior da sigla e deve dominar os debates internos a cinco dias da prévia que escolherá o candidato do PT.

Na pesquisa, à qual Zero Hora teve acesso, foram ouvidas 1.270 pessoas entre os dias 6 e 8 de março. Além da eleição para governador, o levantamento mede a intenção de voto para presidente da República. Mais do que a decisão de realizar a pesquisa, o que mais incomodou o setor de Olívio foi a inclusão de perguntas sobre o significado da candidatura do prefeito e de uma eventual vitória na prévia. O levantamento mostra questões como “Qual dos candidatos do PT está mais preparado para ser governador?”, “Se Tarso Genro vencer Olívio Dutra, isso mostra que: 1) O PT tem vários líderes; 2) O PT não aprova o atual governo de Olívio Dutra; 3) O PT quer promover avanços e melhorias no próximo governo” e “Qual dos candidatos do PT está mais preparado para ser governador?”.

A informação de que o comitê de Tarso encomendaria ao Labors uma pesquisa sobre intenção de voto já circulava há pelo menos uma semana no interior do PT. Menos conhecida era a intenção dos simpatizantes do prefeito de registrar o levantamento junto à Justiça Eleitoral. Como a legislação eleitoral proíbe a divulgação de pesquisas sem registro, os apoiadores de Olívio viram nesse procedimento um sinal de que o grupo de Tarso pretendia divulgar os números e usá-los como arma na disputa. A ala pró-prefeito, porém, nega essa intenção.

– Nosso principal objetivo era dimensionar o impacto da saída de Tarso da prefeitura e o fato de uma possível vitória do prefeito na prévia ter um impacto negativo para o governo – afirma o vice-presidente estadual do PT, Paulo Ferreira, do PT Amplo, pró-Tarso.

– Fazer uma pesquisa às portas de uma prévia sem discuti-la com o partido revela claras e evidentes segundas intenções. Pode constituir inclusive abuso de poder econômico – ataca o deputado estadual Ronaldo Zülke, integrante da Democracia Socialista (DS), que apóia Olívio.

Oficialmente, o comitê de Tarso não pretende divulgar os números. A Democracia Socialista, porém, considera que os dados já são públicos e deve contra-atacar com a proposta de que o partido divulgue uma pesquisa do Ibope, encomendada pelo diretório estadual, que favoreceria Olívio. Os números do Ibope não haviam sido registrados na Justiça Eleitoral. A Ação Democrática (AD), do deputado estadual Ivar Pavan e do secretário estadual de Administração, Marco Maia, também protestou contra a iniciativa.

A polêmica deve esquentar na reunião da executiva estadual, que se realiza a partir das 9h de hoje, na sede estadual do partido. Ontem, ainda que não tenha ocorrido encontro formal dos organismos do PT, já era possível detectar o acirramento de ânimos.

– A pesquisa alterou o clima da disputa, e a temperatura tende a subir – prevê Ferreira.

A polêmica teve um efeito explosivo na prévia. Nos encontros promovidos com os candidatos em Porto Alegre e Caxias do Sul, as diferenças políticas vinham cedendo lugar à troca de declarações diplomáticas entre Olívio e Tarso.


Juízes sob suspeita no Rio serão afastados
O presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Paulo Costa Leite, disse ontem que os juízes do Tribunal Regional Federal - 2ª Região investigados pela Corregedoria por suspeita de favorecimento de instituições privadas em decisões judiciais serão afastados de suas funções, se forem denunciados pelo Ministério Público Federal.

Estão sendo investigados os juízes Antônio Ivan Athié, Francisco Pizzolante e Ricardo Regueira. Eles são acusados de uma série de irregularidades em processos, muitos dos quais implicam prejuízos milionários para o Tesouro Nacional. A investigação foi revelada na edição de domingo do jornal O Globo.

– Os fatos são muito graves e merecem uma apuração rigorosa. Queremos punir os responsáveis, tirar do nosso meio as maçãs podres e os bandidos – disse o presidente do STJ.


PT diz que suspeitos de matar prefeito foram soltos
Os dois teriam sido detidos em Maringá, mas não ficaram presos

Dois suspeitos de integrar a quadrilha que seqüestrou e assassinou o prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), haviam sido detidos em Maringá (PR), mas foram libertados pouco depois.

As informações são do deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), designado pelo PT para acompanhar as investigações.

Ele disse que Ivan Rodrigues da Silva, o Monstro, apontado como líder da quadrilha, e Elcyd Oliveira Brito, conhecido como John, foram detidos no dia 31 de janeiro. No entanto, não ficaram na cadeia.

Celso Daniel foi seqüestrado em 18 de janeiro, em São Paulo, quando saía de um restaurante.Dois dias depois do seqüestro, o corpo do prefeito de Santo André foi encontrado em uma estrada em Juquitiba, na Grande São Paulo.

O adolescente L.S.N., detido no dia 6, confessou ter atirado contra o prefeito, conforme a polícia. José Edson da Silva, outro acusado de envolvimento no crime, disse que mandou matar o prefeito porque ele olhou para seu rosto.

A Polícia Civil de São Paulo localizou, também no dia 6, o cativeiro onde Celso Daniel teria sido mantido até pouco antes da morte. O local, uma pequena chácara, fica na região de Juquitiba, mesmo município onde o corpo do prefeito foi encontrado.

Segundo a polícia, o primeiro cativeiro de Daniel ficava na Favela Pantanal, na zona sul de São Paulo, onde a quadrilha possuía sua base.


Artigos

Em defesa do municipalismo
Fetter Júnior

Municipalista confesso, compartilho da apreensão dos prefeitos quanto às dificuldades enfrentadas pelos municípios brasileiros. Estou entre aqueles contrários ao exacerbado e histórico centralismo do Estado brasileiro, responsável em grande parte pelo minguado orçamento da maioria das administrações municipais do país. Portanto, saúdo a mobilização dos milhares de prefeitos que foram a Brasília para, mais uma vez, chamar a atenção sobre os problemas com que se deparam no cotidiano das prefeituras, financeiramente anêmicas em virtude da voracidade com que o Tesouro Nacional abocanha o bolo da arrecadação, deixando apenas migalhas para os municípios.

Não bastasse isso, a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), necessária no sentido de disciplinar e limitar os gastos com a folha de pagamentos, impôs economia de guerra às prefeituras, o que é saudável, embora limite a ação dos prefeitos, uma vez que boa parte do orçamento municipal está compr ometido com o funcionalismo, geralmente herdado de administrações anteriores. Logo, os prefeitos ficam entre a “cruz e a espada”, pois, se precisam honrar o salário dos funcionários, por outro lado ficam com os caixas raspados e impedidos de investir nos serviços básicos exigidos pela população.

Os prefeitos querem que os parlamentares aprovem projetos que facilitem o cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal

Esta, inclusive, é uma das mais importantes reivindicações da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), comandada pelo gaúcho Paulo Ziulkoski, com quem por diversas vezes discuti o assunto e outras questões referentes aos interesses dos municípios. Os prefeitos querem que os parlamentares aprovem projetos que facilitem o cumprimento da LRF e na Marcha a Brasília em Defesa dos Municípios a questão foi amplamente debatida.

Tudo isso, na minha opinião, não teria razão de ser, se o governo federal cedesse aos argumentos daqueles (nos quais me incluo) que clamam pela descentralização não só financeira mas também política e administrativa, dando maior poder aos Estados e municípios. A partir disso, tenho certeza de que grande parte dos municípios brasileiros poderia resolver seus problemas e por conseqüência beneficiar a comunidade. Em paralelo, a responsabilidade do governo federal seria diluída e as queixas da população quanto à precariedade de muitos serviços públicos seria dividida com as prefeituras, que teriam maior volume de recursos para neles investir.

Assim, aproveitando esta intensa mobilização dos prefeitos brasileiros, quero propor a incorporação da luta pelo municipalismo na lista de suas reivindicações. Como deputado federal, continuarei trabalhando para defender esta bandeira que considero vital para que os municípios possam obter os recursos necessários para atender aos serviços devidos à população, fazendo retornar os tributos que ela paga em forma de benefício ao bem-estar público.


Colunistas

ANA AMÉLIA LEMOS

O discurso de Sarney
Se não mudar de idéia, o ex-presidente da República senador José Sarney subirá à tribuna do Senado para reafirmar publicamente as críticas ao governo. O pai da governadora Roseana Sarney está convencido de que houve interferência política na ação da Polícia Federal, na batida feita na empresa Lunus, na capital maranhense.

Na operação policial foram apreendidos R$ 1,3 milhão em dinheiro vivo. A origem até agora não tem uma explicação convincente embora várias versões já tenham sido apresentadas por executivos e advogados da empresa cujo controle pertence à governadora e ao marido, Jorge Murad.

A resposta política do PFL foi uma exigência da candidata, que, antes do episódio, vinha registrando um surpreendente apoio do eleitorado, conforme os números das pesquisas de intenção de votos. Roseana Sarney exigiu que o partido rompesse a aliança com o PSDB e deixasse os cargos do primeiro, segundo e terceiros escalões da administração federal. Assim foi feito. A reação, embora rápida, não conseguiu neutralizar o estrago junto ao eleitorado. A última pesquisa feita pelo instituto Vox Populi acusou uma queda de 5% nas intenções de voto. Ainda assim, continua em segundo lugar.

O diretor do Vox Populi, Marcos Coimbra, na entrevista dada ontem à Rádio Gaúcha, confirmou que uma possível reversão desse mau desempenho dependerá muito da explicação final que for dada à origem do dinheiro encontrado na Lunus. Para o governo, a crise PSDB/PFL ampliou as dificuldades do presidente FH em fazer seu sucessor. A pesquisa eleitoral mostrou que o candidato do PSDB, José Serra, não foi beneficiado pelo escândalo do Maranhão. O pragmatismo de FH pode levar a uma alteração substancial no tabuleiro sucessório. Se o quadro continuar eleitoralmente desfavorável para o governo, novos nomes poderão ser buscados. No caso do PSDB, Aécio Neves será a alternativa. Recorrendo ao inesquecível Garrincha, cabe indagar: já avisaram isso ao Serra?

O discurso do senador José Sarney, hoje, vai expor com mais clareza as dificuldades políticas da base aliada. Sarney pode acentuar, como um dos líderes do PMDB, a divisão interna do bloco governista. É pouco provável, no entanto, que o pronunciamento no Senado irá reverter o abalo provocado na candidatura de Roseana Sarney.


JOSÉ BARRIONUEVO

Pesquisa que favorece Tarso é vetada
No início da noite de ontem, o presidente da coordenação eleitoral do PT, Vitor Labes, telefonou ao colunista para informar que a pesquisa não seria divulgada. No Palácio Piratini, a reação era numa única direção, a partir de dados antecipados pela Página 10: “O questionário da pesquisa foi induzido. Pesquisa manipulada é golpe”, disse um representante da DS, anunciando que a executiva estadual se reúne hoje para avaliar o assunto.

Conheça os números que atingem o governo Olívio
Alguns novos dados da pesquisa, realizada nos dias 6, 7 e 8, com 1.270 entrevistados, cuja divulgação foi vetada pela coordenação de campanha ontem. Tarso derrota todos os adversários no primeiro e no segundo turnos só empatando no segundo turno com Pedro Simon (42,9% a 42,4%, com vantagem de Simon). O Labors apresenta os piores índices já obtidos por Olívio numa pesquisa em todos os campos. O governador perderia para Britto, Zambiasi e Simon por uma diferença de no mínimo 18 pontos. Na pesquisa paga pelo grupo de Tarso, Olívio aparece como um candidato inviável, com 58% dos eleitores não admitindo votar nele “de jeito nenhum” (15 pontos acima de Britto). Tarso leva 68,7% contra 17,2% como o candidato do PT com melhores condições de vencer. O prefeito também aparece com 64% a 18,7% como o mais preparado do PT para governar.

Mais contundente seria a vantagem de Tarso na pesquisa espontânea (sem mostrar a lista de candidatos): estaria com 15,1%, bem acima de Britto (12,6%), de Olívio 7,7%, de Simon (4,4%) e de Zambiasi (1,6%). A pesquisa espontânea provoca suspeita ao mostrar Zambiasi com um índice inferior a todos os demais candidatos, incluindo Celso Bernardi e José Fortunati, só vencendo Yeda Crusius.

Alguns exercícios da estimulada: Britto 28%, Olívio 22,2%, Simon 19,3%. Outro cenário: Simon 22,9%, Olívio 21,7%, Zambiasi 15%. Com Tarso: Simon 19,4%, Britto 25,7%, Tarso 30,7%. Um quarto exercício: Tarso 29,4%, Simon 22,3%, Zambiasi 13,5%.

Para acabar com as chances de Olívio, mostra que o governo tem uma desaprovação de 55,8% e uma aprovação de apenas 32%.

Roseana venceria Lula no RS
A pedido do grupo de Tarso, o Labors também avalia os candidatos a presidente. O mais espetacular da pesquisa, considerada fraudulenta pelo Palácio Piratini: coloca pela primeira vez Roseana Sarney na frente de Lula no Estado em que o PT jamais perdeu para presidente. O Labors, ligado à UFRGS, realizou a pesquisa cinco dias após o escândalo envolvendo a governadora do Maranhão.

Nenhum instituto de pesquisa havia colocado a candidata em primeiro lugar no RS.

Cpers apresenta candidata ao Senado
A presidente do Cpers, Juçara Dutra, que abraçou a candidatura de Tarso Genro, aceitou o convite feito pelas correntes que apóiam o prefeito de Porto Alegre e foi lançada para concorrer ao Senado. Agora são quatro os candidatos: a senadora Emília Fernandes, que teria direito assegurado por exercer o mandato, o deputado federal Paulo Paim, o chefe da Casa Civil, deputado Flávio Koutzii, e a presidente do Cpers.

Desde a abertura política, com a eleição de 1982, o Cpers transformou-se em base de lançamento de candidatos: primeiro foi Hermes Zanetti, que se elegeu deputado federal, depois Delmar Steffen, Paulo Egon (os três já foram do PMDB), Maria Augusta Feldman (eleita deputada estadual pelo PDT), hoje no PSB, Lúcia Camini (secretária da Educação e candidata a estadual) e Juçara Dutra.

Com as bênçãos de Getúlio
Na visita que fez a São Borja, para participar da abertura da colheita do arroz, o presidente da Assembléia, deputado Sérgio Zambiasi (PTB), foi beber água na fonte de inspiração do trabalhismo. Recolheu-se por alguns momentos em meditação junto ao túmulo de Getúlio Vargas. Passados 48 anos da morte do ex-presidente, Zambiasi está convencido de que, inspirados nos ideais do fundador do velho PTB, os trabalhistas de diferentes partidos estarão unidos numa mesma frente nesta eleição. Ele próprio emprestará sua contribuição para a formação da frente, oferecendo seu nome como candidato a uma das vagas ao Senado. Promete trabalhar pela unidade em torno de um candidato a governador, que tanto pode ser José Fortunati, do PDT, como Antônio Britto, do PPS.

Dupla em Caxias
Aproveitando o espaço aberto em Caxias do Sul com a candidatura do deputado federal Germano Rigotto (PMDB) a governador, seu colega Júlio Redecker (PPB) não perdeu tempo. Esteve reunido na metrópole da Serra com Denise Kempf, participando de programação do Dia Internacional da Mulher. Candidata a vice-prefeito na chapa encabeçada por José Ivo Sartori (PMDB), Denise concorre à Assembléia.

O desafio da democracia
Serão lançados hoje o tema, a relação de palestrantes e as peças da campanha de divulgação da 15ª edição do Fórum da Liberdade, que acontece em abril. O tema é O Desafio da Democracia no Século 21. Palestrantes de diferentes matizes políticos participam do evento.
A divulgação ocorre no almoço com a presença da direção do Instituto de Estudos Empresariais, que promove o evento: Pedro Chagas, Rodrigo Lacroix, Felipe Pozzebon, Luciano Brochmann, Luiz Eduardo Fração e Caio Sbruzzi.
Está sendo reservada para hoje a divulgação de pelo menos um nome de impacto.

MP investiga tarifa do Dmae
Foi aceita pela Promotoria de Defesa do Consumidor, do Ministério Público, uma representação do vereador João Dib (PPB) diante do reajuste da tarifa de água e esgoto em Porto Alegre. A promotoria instaurou inquérito civil. Dib lembra que idêntica situação já ocorreu na Corsan e a companhia foi obrigada a desistir do aumento da tarifa.
Em resposta a crítica recebida do vereador Marcelo Danéris, do PT, Dib lembra que no reajuste de 131% baixado por decreto em 1986, quando era prefeito, a inflação foi de 160%.

Obras atrasadas
O secretário Guilherme Barbosa (PT) discorda das críticas feitas pelos vereadores Fernando Záchia (PMDB) e Isaac Ainhorn (PDT), que listaram uma série de obras em atraso, enquanto o prefeito está mais preocupado com a prévia do partido. Barbosa estranha que a oposição, a qual define como “a direita”, cobrava da prefeitura por só pintar cordão de calçada.
– Agora que realizamos grandes obras, decidiram mudar o foco da crítica.


ROSANE DE OLIVEIRA

Contra a parede
Ou a governadora Roseana Sarney prova que o dinheiro encontrado no cofre de sua empresa é lícito ou sua candidatura vira pó mais cedo do que a oposição poderia imaginar. Preocupado com o futuro, o PFL vem pressionando Roseana a apresentar explicações convincentes para a existência da bolada de R$ 1,34 milhão encontrada em seu escritório. A cada explicação furada, é a credibilidade do PFL que desaba junto com a da candidata. Os caciques entendem que o partido fez a sua parte, saindo do governo. Agora Roseana precisa fazer a dela, oferecendo explicações convincentes para se livrar das suspeitas.

Na viagem que fará hoje a São Luís, o presidente do PFL, Jorge Bornhausen, pedirá gentilmente que Roseana reaja às denúncias. Por reagir entenda-se apresentar uma justificativa que possa ser apresentada na campanha eleitoral sem risco de os eleitores acharem que estão sendo tratados como tolos.

Com ou sem explicação, a Polícia Federal está disposta a investigar a origem e o destino dos reais encontrados no cofre. Rastrear dinheiro em espécie não é tão simples quanto refazer o caminho de um cheque, mas a PF encontrou indícios de que pelo menos uma parte pode ter vindo da construtora Sucesso, uma das maiores empreiteiras do Nordeste. Um dos pacotes de dinheiro era revestido por um envelope com o nome da Sucesso.

Ontem, o Correio Braziliense publicou uma reportagem assinada pelo jornalista Ricardo Noblat, dizendo que o dinheiro era do fundo de campanha de Roseana Sarney. A informação foi confirmada ao Correio por três integrantes da direção nacional do partido de Roseana e um ex-colaborador da campanha dela. Pela lei, fundos de campanha só podem ser constituídos legalmente depois das convenções, que só ocorrerão em junho, mas é comum os candidatos começarem a arrecadar doações bem antes.

De todas as explicações surgidas até agora para o dinheiro, essa é a mais convincente. O problema é que Roseana não a confirma, seu marido, Jorge Murad, não fala sobre o assunto, os líderes do PFL que deram a informação a Noblat não querem se identificar e os supostos doadores não se apresentam.

O advogado de Roseana e Murad reafirmou a versão de que o dinheiro é proveniente da venda de chalés que nem começaram a ser construídos. Dois deles teriam sido comprados pela Sucesso, que até ontem à noite não tinha se manifestado.


Editorial

O CONTINENTE E AS REFORMAS

Estudo divulgado por um representante do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), às vésperas do início da assembléia geral da instituição, que se realiza desde ontem em Fortaleza (CE), demonstra o quanto os latino-americanos se mostram insatisfeitos com a condução de suas economias e até com o desempenho de seus governantes. Da série de razões para a insatisfação com as reformas pró-mercado defendidas pelo organismo multilateral de financiamento, uma delas merece reflexão especial: quanto mais a população percebe seu país como corrupto, mais rejeita as reformas econômicas.

Apresentado pelo economista Eduardo Lora, principal consultor do Departamento de Pesquisa do BID, o estudo não deixa dúvidas sobre os níveis de insatisfação dos latino-americanos: 61% acham que a situação é ruim, 85% consideram a distribuição de renda injusta, 64% pensam que a democracia não funciona bem e 85% dizem que há muita corrupção em seus países. São dados que merecem reflexão. Seria injusto atribuir esse panorama às reformas institucionais, até porque na maioria dos países da região elas ainda ou não foram feitas ou não foram completadas. Não foram as reformas que falharam, foi a região que não teve capacidade de levá-las a termo. O processo de reformas é irreversível e, certamente, as dificuldades seriam maiores se os países da região não tivessem modernizado sua máquina pública e aberto sua economia. Os baixos índices de crescimento da América Latina e crises agudas como a enfrentada hoje pela Argentina, porém, são motivos consistentes para justificar a insatisfação e ao mesmo tempo para desencadear sinais de alerta.

Não foram as reformas que falharam, foi a região que não teve
capacidade de levá-las a termo

Neste sentido, é importante que tais avisos sejam emitidos sob os auspícios de uma organização da credibilidade do Banco Interamericano de Desenvolvimento. O papel desse organismo multilateral precisa ser valorizado até mesmo para que se consiga identificar onde estão as debilidades econômicas e sociais que emperram o progresso regional. Duas dessas carências foram denunciadas por Enrique Iglesias, com a autoridade de quem há 15 anos é o principal executivo do BID. Pois Iglesias repete o diagnóstico eterno – embora freqüentemente esquecido – de que a falta de poupança interna e a insuficiência das exportações estão entre as causas das dificuldades brasileiras e latino-americanas para financiar seu crescimento. “A pequena poupança, que nos fez depender muito do capital externo , e as baixas exportações, que nos fizeram aumentar o endividamento, tudo isso deveria fazer parte de uma reflexão séria”.

Aí estão temas que conferem importância à reunião do BID de Fortaleza. Um continente que tem nesse banco uma decisiva fonte de financiamento social – em projetos que abrangem saúde, educação, desenvolvimento urbano, combate à pobreza e proteção ambiental – precisa ter clara a visão dos obstáculos que se levantam à sua tentativa de encontrar estabilidade fiscal, progresso econômico e desenvolvimento social e político.


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03/12/2002


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