Ciro: ‘Serra é um clone monstruoso de FH’









Ciro: ‘Serra é um clone monstruoso de FH’
SÃO PAULO. O candidato da Frente Trabalhista (PPS-PTB-PDT) à Presidência, Ciro Gomes, chamou ontem seu adversário tucano, José Serra, de "clone monstruoso do Fernando Henrique", ao acusá-lo de estar por trás dos boatos que atingem a sua candidatura. Ciro negou os rumores de que esteja pensando em renunciar para apoiar Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmando que se trata de uma armação para atingir sua campanha.

— O Serra é o clone monstruoso do Fernando Henrique. O Fernando Henrique, com todos os seus defeitos, não é capaz e nunca foi, e essa homenagem eu lhe faço, de usar os expedientes fascistas de que Serra tem abusado em matéria de destruição de reputações, de escuta telefônica, de mentira, de calúnia, de agressões. É um clone piorado — disse Ciro.

O candidato afirmou ter tido notícias de que "gente ganhou e perdeu dinheiro especulando com o boato", ao comentar o que chamou de terrorismo do mercado financeiro:

— Ele (Serra) não tem limites, é o império do vale-tudo.

Ao responder se estava convicto de que Serra estava por trás dos boatos, Ciro disse:

— A quem interessa? No dia em que um tatu estiver em cima do topo, na beira do caminho, não tenham dúvidas de que alguém botou ele ali. Sabe por quê? Por que tatu não sobe em topo. O boato não caiu do céu. O boato interessa ao candidato do governo, que está desesperado, gastando milhões de reais, contratando artistas, se escondendo, mentindo feito um Pinóquio.

Candidato aposta em decisão na reta final
O candidato disse que acredita que tem condições de vencer e ressaltou o fato de que levantamentos internos da Frente Trabalhista demonstrariam que boa parte dos eleitores ainda não tem uma decisão amadurecida. Para Ciro, a eleição será resolvida na reta final.

Ciro voltou a atacar os dois primeiros colocados nas pesquisas: Lula e Serra.

— É nosso dever construir um caminho alternativo que não obrigue o eleitor a escolher entre um homem capaz de tudo ou um homem que não tem experiência nenhuma, embora tenha boa intenção, para governar um país que está no olho de um furacão, de uma crise grave.


Um abraço constrangido na Saúde contra Ciro
BRASÍLIA. Uma manifestação não muito espontânea. Um ato realizado ontem por funcionários do Ministério da Saúde contra as declarações do candidato à Presidência Ciro Gomes (PPS-PDT-PTB), que afirmou haver corrupção generalizada na Saúde, foi convocado pelo sistema interno de mensagens por computador do ministério. Na hora marcada para a manifestação, chefes de departamento passaram pelos setores convidando os funcionários a descer para abraçar o prédio.

Metade dos funcionários desceu do prédio
A manifestação, que reuniu cerca de metade dos dois mil funcionários na frente do ministério, não tem coordenação nem autoria assumidas.

— No início achamos que estava sendo organizado pela associação, mas depois descobrimos que era um ato espontâneo dos funcionários. Todos no ministério se sentiram muito ofendidos (com as declarações de Ciro) — disse Ailton de Lima Ribeiro, subsecretário administrativo do ministério.

Ribeiro afirma que nem todos os funcionários desceram para a manifestação e nem eram obrigados a isso. Se não chegava a ser uma ordem, o convite para descer deixava no ar certo constrangimento. Os servidores eram lembrados de que estava na hora do ato e chamados para descer.

Funcionários contam que durante a semana começaram a receber mensagens eletrônicas de colegas comentando as declarações de Ciro e levantando a possibilidade de alguma reação. Na terça-feira, um dia antes da manifestação, os funcionários foram oficialmente avisados da data e do horário pelo sistema interno de comunicação do ministério. Nos computadores, quando o servidor abre o sistema com uma senha, todos os dias aparece uma mensagem diferente. A de terça-feira era a convocação para o ato.

— É verdade. O sistema é usado para enviar mensagens de interesse dos servidores — disse Ribeiro.

O subsecretário disse que não sabe de quem foi a iniciativa de enviar a mensagem. Explicou que é o departamento de informática quem cuida disso. O ministro da Saúde, Barjas Negri, que não participou do ato, também não quis comentar o caso. Alguns assessores disseram, no entanto, que a ação dos chefes de setor foi pessoal.

Ato durou 20 minutos e teve até Hino Nacional
O ato começou às 10h e durou cerca de 20 minutos. Com faixas com dizeres como “Somos limpos e transparentes. Será que os que nos caluniam podem dizer o mesmo?”, servidores ouviram o Hino Nacional e deram as mãos, formando um círculo em frente ao ministério.

Em cima de um carro de som, integrantes da Social Democracia Sindical discursaram e pediram um minuto de silêncio pelos mortos no atentado ao World Trade Center. No entanto, tomaram cuidado para não citar nomes de candidatos à Presidência. Nem mesmo o de Ciro Gomes, alvo da manifestação.


Lula nega ter meta de dez milhões de empregos
CURITIBA. Em entrevista a uma TV alemã, ontem, o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, disse que não lançou no seu programa de governo um número exato de dez milhões de empregos em seu eventual governo. Negando a existência de uma meta em seu programa, ele explicou que há apenas a constatação de que é necessário criar, no mínimo, dez milhões, mas não sabe se vai criar sete ou 15 milhões de novas vagas de trabalho. Este número, até agora visto como uma proposta de governo de Lula, deve ser o principal ponto de ataque e questionamento do candidato tucano José Serra.

Mesmo negando a existência da meta, Lula prometeu que o PT vai transformar o desemprego numa obsessão, que deve ser mantida até o último dia de seu mandato, 24 horas por dia. Indagado sobre como iria criar tantos empregos, Lula respondeu:

— Quando lancei meu programa de governo, nós não prometemos criar um número exato de empregos. No programa de governo, afirmamos que o governo precisaria criar, no mínimo, dez milhões de empregos. Não sabemos se vamos criar sete, oito, dez, 12 ou 15 milhões.

Quando explicou como criar o maior número de empregos possível, Lula disse acreditar ser possível fazer a economia crescer, reduzir os juros e aumentar a produção da indústria e da agricultura; aumentar o setor de turismo e de serviços.

— Acreditamos que o emprego é o que dá dignidade ao ser humano. Nada dá mais dignidade a um homem ou a uma mulher do que ter oportunidade trabalhar e viver às custas de seu salário e não do favor do estado. O concreto é que vamos tentar fazer tudo o que for possível, cada investimento do estado, para gerar um posto de trabalho no país.

Lula disse que uma forma de concretizar o objetivo é incentivando cooperativas pelo país para reativar a economia. Ele não perdeu oportunidade de criticar o atual governo, afirmando que, se o país continuar do mesmo jeito, vai produzir milhões de jovens para a marginalidade.

— Vamos fomentar o surgimento de milhares de cooperativas pelo Brasil, de produção e crédito, para reativar a economia brasileira.

Serra cobra de Lula explicações sobre empregos
Ontem, o candidato José Serra (PSDB) cobrou de Lula explicações sobre como ele iria criar os dez milhões de empregos. No programa de governo do candidato do PT está escrito: “No nosso programa de governo estima-se que será necessário gerar cerca de dez milhões de empregos nos próximos quatro anos para reduzir o desemprego no país a níveis aceitáveis”.

O economista José Grazziano, um dos coordenadores econômicos da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva, disse que a afirmação do candidato sobre não fixar um número para geração de emprego não se trata de um recuo do PT. Ele garantiu que o programa de governo não traz os dez milhões de empregos como meta, mas sim como necessidade. Segundo ele, é má-fé do candidato tucano José Serra declarar que os dez milhões citados no programa de Lula são uma meta:

— O PT constata a necessidade de criação de dez milhões de empregos.

A entrevista à TV alemã foi uma exceção aberta pela assessoria do candidato, que tinha garantindo que não falaria ao chegar a Curitiba. A TV produz um programa de seis minutos sobre a campanha do PT. Além de questioná-lo sobre a geração de empregos, a TV perguntou o que mudou de 1989 para cá. Lula respondeu que tudo, inclusive o interesse da TV alemã, que em 89 não o entrevistou.


‘Fiz tudo o que podia. Não posso fazer mágica’
“Se eu não fiz mais, me perdoem. As pessoas que criticaram a política de segurança tiveram a oportunidade de assumir. E olha o que está acontecendo”

Antes de saber da rebelião no presídio Bangu I, o candidato do PSB à Presidência, Anthony Garotinho, declarou ontem, em entrevista a colunistas e assinantes do GLOBO, que fez tudo o que considerou possível para acabar com o poder paralelo nos presídios do Rio, mas que não podia “fazer mágica”. Ele disse que, mesmo aparelhando a polícia, aumentando os salários dos policiais e reformando as delegacias, faltou a atuação do governo federal para controlar a entrada de armas e drogas através das fronteiras do país. “Eu dei de mim o melhor que pude. Vocês podem crer nisso. Eu fazia reuniões quinzenais com a cúpula da segurança pública, mas não posso fazer mágica. Tudo o que eu podia fazer eu fiz. Se eu não fiz mais, me perdoem. As pessoas que criticaram a política de segurança tiveram a oportunidade de assumir. E olha o que está acontecendo. Não é tão simples assim”, afirmou Garotinho, criticando a atuação de sua sucessora, Benedita da Silva. Ele disse também que vê no problema uma origem social. O candidato contou que, ao visitar uma delegacia quando era governador, atendeu ao pedido de um bandido para que libertasse um desempregado cujo crime fora ter furtado uma lâmina de barbear para se apresentar bem numa entrevista de emprego.

Garotinho disse que pagou a fiança para soltá-lo. Ao condenar a entrada do Brasil na Alca, ele defendeu o presidente George Bush por não ter assinado o protocolo de Kioto para redução da emissão de gases poluentes. “Ele iria prejudicar as empresas de seu país?”

A série de entrevistas prossegue no dia 20 com Luiz Inácio Lula da Silva, às 15h


Lula desafia Serra a mostrar os erros do PT
MARINGÁ e CURITIBA (PR). O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, lançou ontem um desafio ao seu concorrente tucano, José Serra, empenhado em criticar governos estaduais e municipais do PT. Lula disse que topa comparar as gestões de seu partido com qualquer outra.

— Nós topamos. E isso pode ser feito num debate. Não temos problemas em mostrar nossos governos — disse Lula, em resposta aos sinais emitidos pelos tucanos de investigar e atacar administrações petistas, como no Rio Grande do Sul e na capital paulista.

Ao falar sobre as supostas estratégias de ataque de Serra, Lula afirmou:

— É problema dele. Estou preocupado em fazer uma campanha mostrando o que o Brasil tem de bom e o que a gente pode melhorar. Não participo da campanha de nenhum adversário, nem estou preocupado com críticas.

“Lulinha paz e amor” continua
Lula afirmou ainda que, em vez de rebater os outros candidatos, vai manter o que ele mesmo chamou de fase “Lulinha, paz e amor” como estratégia de consolidação do crescimento nas pesquisas. Lula ressaltou que trabalha só com a hipótese de concorrer no segundo turno, sem sonhar com a vitória absoluta no dia 6.

— Queremos consolidar nosso crescimento de degrau em degrau, sem pressa. Ainda faltam 25 dias de campanha.

Num comício no início da noite de ontem, em Maringá, para um público de cerca de 500 pessoas, Lula disse que não pode ser prepotente.

— Em vez de fazer programa de TV xingando os outros, é melhor falar daquilo em que se acredita.

Sobre as declarações de Ciro Gomes, da Frente Trabalhista, de que seria um desertor da oposição, Lula declarou:

— Tem gente que, para poder parecer oposição, faz campanha fazendo oposição. Não quero ser oposição. Quero ser governo. E, por isso, faço campanha para ganhar.

Num recado indireto a Serra, que deu início a ataques ao petista explorando sua falta de experiência administrativa, Lula afirmou que um presidente precisa ter humildade para reconhecer que não sabe tudo.

— Erra quem quer errar. Se um governante se isola e acha que as decisões devem ser tomadas pelo presidente sozinho, a possibilidade de ele errar é muito maior do que se tivesse a oportunidade de convocar a sociedade a cada assunto importante, sobretudo quando se trata de política social — afirmou.

Para Lula, é saudável que um presidente não saiba tudo:

— O presidente não pode saber tudo, nem deve saber tudo e é bom que não saiba tudo. O presidente deve querer humildemente que a sociedade o ajude a fazer as coisas darem certo.

De acordo com o candidato, petista, a classe política deveria ouvir mais e falar menos.

— Haverá uma dia em que a classe política terá quatro ouvidos e uma boca menor, porque precisamos aprender a ouvir mais do que a falar. Falamos demais e ouvimos de menos. E para ouvir é preciso ter humildade. É muito difícil uma autoridade reconhecer que não sabe uma coisa. Ele prefere fazer errado do que consultar aqueles que sabem fazer e não têm chance — disse.


Bornhausen convoca para dia 10 reunião que decidirá o rumo do PFL
BRASÍLIA e SÃO LUÍS. Pefelistas que apostaram na vitória de Ciro Gomes (Frente Trabalhista) vivem o drama de ter de manter o apoio pelo menos até o primeiro turno para não serem acusados de oportunistas, mas já não escondem o desânimo. De São Luís, onde foi tentar buscar o apoio da ex-governadora Roseana Sarney (PFL), o presidente do partido, senador Jorge Bornhausen (SC), anunciou para o dia 10 de outubro, quatro dias após o primeiro turno das eleições, a reunião do partido para decidir o que fazer no segundo turno. Mas já praticamente descartou a possibilidade de apoiar José Serra, caso o tucano, e não Ciro, vá para o segundo turno.

Oficialmente, o PFL não tem candidato à Presidência. No primeiro turno, os pefelistas foram liberados para apoiar quem quisessem, e se dividiram entre Ciro e Serra.

O projeto de poder do PFL, disse Bornhausen, não passa só pela Presidência da República. Ele disse que o partido, independentemente da ida de Ciro ou de Serra, já está de olho na presidência do Congresso na próxima legislatura.

— Trabalharemos contra (Serra), assim como a Roseana o fará. Mesmo com as pesquisas apontando que ele (Serra) pode disputar o segundo turno, iremos vencer e Ciro irá para o segundo turno – disse Bornhausen após o encontro.

Bornhausen aproveitou para falar dos planos do partido para a próxima legislatura:

— Seremos majoritários no Congresso. Venceremos em vários estados, alguns deles como Bahia, Tocantins e Rio Grande do Sul, onde apoiamos o Antônio Britto — disse.

E os pefelistas que estão com Serra desde o início, quando as pesquisas desaconselhavam o apoio, já se preocupam em garantir espaço privilegiado no ninho tucano.

— Há colegas dispostos a garantir a valorização dos que apoiaram Serra desde o começo, e com receio de que os grandes nomes do partido voltem com força. Eu não penso isso. Acho que teremos bônus sim. Serra saberá ser grato com os que ficaram com ele desde o início — afirmou o deputado Rodrigo Maia (PFL-RJ), filh o o prefeito do Rio, Cesar Maia.

Rodrigo acredita ainda que a adesão dos pefelistas a Serra, se o tucano realmente passar para o segundo turno com o petista Luiz Inácio Lula da Silva, não será difícil.

‘Está todo mundo amargurado’
O secretário-executivo do PFL, Saulo Queiroz (MS), confirma a decisão de manter o apoio a Ciro até o primeiro turno e só depois disso voltar a conversar. Mas ele é o retrato do desânimo quanto a uma possível mudança do quadro.

— Defendi o nome dele, pedi votos quando ele estava em alta e é oportunismo pular do barco agora. Mas está todo mundo amargurado, triste. Eu continuo pedindo votos para o Ciro, mas tenho consciência de que está muito difícil reverter — afirmou Queiroz.

O deputado Vilmar Rocha (PFL-GO) admite que o ânimo dos militantes diminuiu com a queda de Ciro, mas que não a ponto de mudar o voto.

— É claro que muita gente do interior acendeu a luz amarela — afirmou.


Artigos

O alvo é o lucro
Cleusa Santos

Desde a segunda metade da década de 70, a terceirização ou subcontratação adquire maior importância.

Resultante da queda tendencial da taxa de lucro do capital, esse fenômeno, parte constitutiva do sistema capitalista, levou à chamada reestruturação produtiva e exigiu novas formas de valorização do capital.

Uma simples lista de medidas político-econômicas recentes prova este ponto: grandes fusões e aquisições, na área empresarial, para expandir o nível de acumulação do capital demandaram redução no tempo de produção e nos custos. Esse processo, além de levar a uma maior concentração e centralização do capital, fenômeno endógeno ao capitalismo, consagrou a flexibilização e a precarização das relações de trabalho, gerando trabalho temporário, informalidade, desemprego maciço em escala planetária, redução dos salários e das conquistas sociais, expressos na quebra do aparato institucional do Estado.

Com efeito, com a desresponsabilização do Estado por um lado, e por outro as novas modalidades de acumulação do capital, privatização ou a terceirização de serviços, o alvo maior é o lucro, e não a qualidade.

Há dados que chocam por sua crueza: só nos hospitais universitários das instituições públicas há um déficit de 20 mil empregados. Dos 38 mil funcionários, 20 mil são terceirizados, pagos em sua maioria com recursos do Sistema Único de Saúde, o que constitui procedimento ilegal.

Outro exemplo: de acordo com a Associação dos Engenheiros da Petrobras, a terceirização crescente dos serviços da Petrobras, com a contratação de técnicos sem qualificação, foi o pano de fundo do acidente ocorrido na plataforma P-36 — o quadro de funcionários da estatal caiu de 60 mil para 36 mil nos últimos 10 anos (dados de 2001).

Ao contrário do que sugerem os neoliberais, o mercado e o processo antiestatizante não garantem a liberdade, a cidadania e a democracia. O que se percebe é uma tendência ao dilaceramento do tecido social (40 milhões de brasileiros vivem na indigência; a violência urbana chega a níveis de guerra civil). A reversão de tal situação só se dará através do combate organizado dos trabalhadores a esse sistema hegemônico do capital, concentrador de riqueza e disseminador da miséria.


Colunistas

PANORAMA POLÍTICO - Tereza Cruvinel

Exposição e risco
Uma das características mais louvadas da campanha para presidente foi a abertura sem precedentes da mídia para o debate e a exposição dos candidatos, antes do início do horário eleitoral. Muitas já foram as oportunidades para conhecê-los, fora da autopropaganda. Mas surgem sinais de que os dois primeiros colocados já não querem pôr em risco o patrimônio amealhado.

Pode ser uma tática eleitoral correta, mas não deixará de ser uma desconsideração com o eleitor, diante dos quais gostaram de se exibir quando a meta ainda era seduzir. Lula e Serra já teriam dúvidas, por exemplo, sobre a conveniência de participação no debate da TV Globo, previsto para o dia 3.

Lula, em primeiro lugar nas pesquisas, lembrou mais de uma vez, no debate da TV Record, que estava ali embora no Brasil o primeiro colocado geralmente se recuse a participar de debates. O costume existe mesmo, mas não é bom. Lula também adiou ontem sua participação no ciclo de entrevistas com colunistas e leitores do GLOBO, no auditório do jornal, que se encerraria amanhã com ele. Embora tivesse confirmado anteriormente, acabou se complicando com uma extensa agenda de encontros com militares. Prometeu vir no dia 20.

Semana passada, por razões até agora controvertidas, acabou sendo cancelado o debate programado pelo SBT.

Ao da TV Globo todos prometeram comparecer, mas dos comitês de Lula e Serra começam a sair notícias de que o assunto estaria sendo reexaminado. Estão eles em primeiro e segundo lugar. A Serra não interessaria expor-se num debate em que será atacado por três adversários simultaneamente: Lula, Ciro e Garotinho. Embora Serra tenha conseguido atingir Ciro no confronto da Record, as pesquisas estão dizendo que Lula e Garotinho estão ficando com a maior parte dos votos perdidos pelo candidato do PPS. Lula estaria propenso a ressuscitar o mau costume dos primeiros colocados de não correr riscos em véspera de eleição.

Mesmo na véspera ainda existem eleitores querendo tirar dúvidas para decidir seu voto. Muitos levam a indecisão para a boca da urna. Serão privados da última chance se houver o boicote. E no futuro partidos e candidatos perderão a razão para reclamar mais espaços para o debate.Num lapso, o candidato José Serra andou falando em “primeiro mandato”. Não pode pensar em segundo quem já fez promessa solene de, se eleito, propor o fim da reeleição.Ciro: imprensa, palavras e coisas

Ciro Gomes é o candidato que mais tem reclamado da imprensa, cobrando isenção e imparcialidade, virtudes que os jornalistas devem mesmo perseguir. Inclusive os que trabalham para candidatos, que podem dourar a pílula mas não falsificá-la.

O site do partido de Ciro pecou contra elas na reportagem sobre a entrevista do candidato a colunistas e leitores do GLOBO. Omitiu, por exemplo, a passagem em que ele fez uma brincadeira de viés machista com esta colunista, que fazia o papel de mediadora. Falava ele da construção de um falso Ciro, voluntarioso e machista, quando resolvi agregar a pergunta correlata de Marcio Moreira Alves sobre a acusação de uso machista de Patrícia Pillar na campanha. Tendo eu usado o verbo introduzir, ele fez uma piada de mau gosto, com o intuito de mostrar o perigo das palavras descontextualizadas. Quis lhe dizer que não era o caso, que lido bem com o idioma. Mas tendo usado a palavra língua, ele piorou o chiste. Prossegui lendo a pergunta de Marcio, e ele começou por dizer que costuma fazer brincadeiras mal compreendidas.

— Como esta que o senhor acaba de fazer comigo? — perguntei, explicitando meu desagrado.

— Por quê? Você se ofendeu? Achou machista?

— Pessoalmente, sim, mas vamos continuar.

Esgota-se aqui esse episódio, rememorado porque não inteiramente transcrito na edição de ontem.

Já o site do PPS cometeu outras incorreções jornalísticas. Na manchete, diz que a entrevista não foi veiculada pela TV Globo ou pela Globonews “para não prejudicar o candidato do governo”. Tal cogitação nunca existiu. Tanto que não ocorreu em relação ao entrevistado da véspera, José Serra. Fala ainda de uma “cobertura resumida” do jornal, que foi, pelo contrário, vasta e completa. É deselegante quando elogia esta colunista e Helena Chagas em comparação negativa com Míriam Leitão, alvo de um comentário de viés também sutilmente machista. Diz que ela trata com “fraternidade, para n


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