Serra diz que Ciro é campeão de mentiras






Serra diz que Ciro é campeão de mentiras
Ministro da Saúde nega que tenha tentado sabotar o Real. A acusação foi feita pelo candidato do PPS à Presidência da República, em entrevista aos Associados

As declarações do presidenciável Ciro Gomes em entrevista aos Associados conseguiram irritar praticamente todo o espectro partidário, do governo à oposição. O ministro da Saúde, José Serra, foi o mais irônico. ‘‘O Ciro Gomes tem uma primazia entre os políticos brasileiros: ele consegue dizer mais mentiras na imprensa por centímetro quadrado’’, reagiu por intermédio da assessoria de imprensa, referindo-se à versão de Ciro para as reuniões que antecederam a implantação do Plano Real.

Na entrevista, Ciro afirma que Serra tem pessoas da sua confiança em toda a administração pública e que o apoio do atual ministro da Saúde ao Plano Real foi tirado a fórceps pela cúpula do partido em 1993. Fala inclusive de um diálogo no apartamento do então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, entre Mário Covas (PSDB), na época senador, e o próprio Serra. ‘‘O que é que seu Serra? Está achando que esse negócio aí não vai dar certo e que você vai me tomar o lugar de candidato a governador de São Paulo? Não vai não. Você vai dizer é agora o que acha disso’’.

O presidente nacional do PSDB, deputado José Aníbal (SP), disse que Ciro está se especializando em ficar xingando e falando mal das pessoas. ‘‘Ele vive dizendo que quer fazer uma campanha com debate programático, discutindo propostas e idéias de cada candidato. Mas, quando tem oportunidade, ataca e termina dando razão ao Serra que já se referiu a Ciro no passado como o candidato do insulto’’, afirmou.

“Petulância’’
Os petistas também não gostaram nada de saber que Ciro se referiu a Luiz Inácio Lula da Silva como um candidato isolado. ‘‘E ele Ciro, o que é?’’, reagiu o deputado José Genoíno (PT-SP). ‘‘Só não vou responder à altura porque o Ciro não é o nosso adversário principal. O PT não vai ficar polemizando com o Ciro. É essa petulância dele que torna o torna um candidato incompreensível’’, disse Genoíno, partindo para a ironia: ‘‘A cada semana, a campanha dele tem um eixo: um dia elogia a Roseana (Sarney, governadora do Maranhão), outro o Collor (Fernando Collor, ex-presidente da República). Agora, bate no Serra e no Lula’’, comentou Genoíno.
Um dos únicos que ficou satisfeito com as declarações de Ciro foi o PMDB do governador de Minas Gerais, Itamar Franco. Um de seus fiéis escudeiros, o ex-deputado Israel Pinheiro Filho, considerou um grande elogio o candidato do PPS dizer que Itamar era o mais experiente dos presidenciáveis. ‘‘Ele tem pretensões de uma aliança com o governador, foi ministro da Fazenda de Itamar, em 1994. No mais, ele conseguiu o que queria: criar uma certa polêmica’’, afirmou o ex-deputado.


Marta e Favre ao som de Only You
A cúpula petista e a elite paulistana se reuniram sábado à noite na casa da prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, numa festa preparada para comemorar os 52 anos de seu namorado, o franco-argentino Luis Favre (foto) e assumir a relação amorosa que já criou constrangimentos no partido, por preocupação com o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), ex-marido de Marta. O clima em meio a acarajés, canapés de caviar e salmão mostrou que, para a cúpula petista, constrangimentos são passado, embora apenas metade dos 200 convidados tenha comparecido. Estavam lá o presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva, o deputado Aloízio Mercadante (PT-SP), além de empresários, como o presidente da Gradiente, Eugênio Staub. Favre fez questão de ir ao portão servir refrigerantes aos jornalistas. ‘‘Isso é para deixar bem claro que eu não tenho nada contra vocês’’. Há dois dias havia declarado que os jornalistas deviam dizer aos donos de jornais que se preocupassem com as festas deles. Quebrado o gelo com a imprensa, Favre voltou à festa e pediu ao DJ que tocasse Only You, para dançar com a namorada logo depois de Parabéns a você — tocado em uma versão jazzística e cantada, depois, pelos convidados. ‘‘Eles estão assumindo a relação de uma maneira muito digna e têm todo o direito de serem felizes‘‘, disse o ex-presidente da CUT, Vicente Paulo da Silva.


PRTB quer Collor no Senado
A volta do ex-presidente Fernando Collor de Melo (PRTB) ao cenário político terá como objetivo final a disputa à Presidência da República em 2006. Para isso, o ex-presidente concorrerá nas próximas eleições a uma vaga no Senado pelo Estado de Alagoas pelo PRTB, a que está filiado, com o objetivo de ganhar mais visibilidade nacional para a disputa de 2006. Quem revela o plano de vôo de Collor é o presidente nacional do partido, José Levy Fidélix, que coordenou ontem um encontro com diversos representantes municipais do PRTB, na sede do partido em São Paulo. Segundo ele, o cargo de senador daria mais visibilidade nacional ao ex-presidente — com vistas à cadeira do Planalto em 2006 — do que o governo de Alagoas. Félix acha que o fato de Collor ter sido o primeiro presidente brasileiro a sofrer um processo de impeachment não trará dificuldades a qualquer candidatura. ‘‘Nada foi provado contra ele’’, diz.


Artigos

A lição de casa
Rubem Azevedo Lima

O endividamento externo do Brasil cresce e nossa inflação este ano passará de 7%. O que, dizem os economistas, é ruim para o país e para o povo. Mas, para o guru econômico da candidata Roseana Sarney à sucessão presidencial em 2002, ‘‘felizmente o mercado não nos confunde com a Argentina, pois sabe que os brasileiros fazem a lição de casa’’.
Que maravilha: nessa idade, lição de casa! O presidente Fernando Henrique Cardoso e o ministro Pedro Malan, bons alunos, cada qual com seu caderno escolar, a prepará-la caprichosamente, na melhor caligrafia, depois da aula, para mostrá-la no dia seguinte a seus mestres. Quase dá para vê-los. Uma boa imagem de obediência!

Estamos em apuros e se agravam dia a dia as dificuldades de todos os brasileiros que não são donos nem inquilinos dos andares próximos da cobertura, nos quais moram as pessoas ricas do país. Azar daqueles. Mas, faça-se justiça: os dedicados alunos estudam com afinco as lições de casa, para aplicá-las, supostamente, a nosso favor. Já imaginou o leitor se FHC e Malan fossem relapsos? Iríamos todos, com certeza, viver embaixo de pontes e viadutos.

Pois, se os alunos parecem pessoas inteligentes e normais, e capricham na lição de casa, por que estamos, como se diz, na pior e piorando sem parar? De quem é a culpa? Afinal, além de tudo, se FHC e Malan têm os mestres nos quais confiam e a quem obedecem, algo, claro, está errado. O que será? Há dias, sobre o crescimento de Roseana Sarney, nas preferências do povo para o pleito presidencial de 2002, FHC simplificou o fenômeno e o explicou: ‘‘É essa ‘coisa’ de mulher’’. Será que a pobreza no Brasil, por acaso, não é ‘‘essa coisa’’ de pobre?

Os excluídos acham, talvez com razão, que a culpa, no caso, é dos maus ensinamentos dados a FHC e a Malan. Com as lições recebidas, ambos previram, no começo do ano, que cresceríamos entre 3,5% e 4% em 2001. Não chegaremos, porém, sequer a 2%, para miserabilizar ainda mais nossa pobreza.
A China ignora as lições dadas a FHC e a Malan e crescerá mais de 10% em 2001. A aceitação do viés colonialista de tais lições, pelo guru de Roseana, pode, pois, significar a adesão da discípula a uma prática da qual o eleitor parece cansado.
Assim, para ter chances eleitorais, ela deveria, talvez, mudar de guru ou convencer o presidente e o ministro a mudarem de mestres. Para que o eleito em 2002 governe um país, não os destroços feitos pelas l ições de casa de Malan e FHC.


Editorial

Na marca do pênalti

Longe dos gramados, o futebol brasileiro terá um dia histórico amanhã. Quando o relatório do senador Geraldo Althoff (PFL-SC) for colocado em votação, na CPI do Futebol, o Congresso Nacional mostrará à opinião pública de que lado está no confronto ético que domina o esporte mais popular do país.
O mau exemplo da CPI da CBF-Nike, na Câmara, que terminou em junho sem que o relatório fosse aprovado, ainda ecoa. Mais uma vez a ‘‘bancada da bola’’, ávida por manter intacta a estrutura corroída do futebol, sai a campo para tentar ‘‘convencer’’ os colegas de que o relatório de Althoff carece de provas convincentes e de base jurídica.

Desta vez, porém, os defensores do status quo estão em desvantagem. Ao contrário do que ocorreu na CPI da Câmara, o trabalho dos senadores desenvolveu-se em cima de uma pauta produtiva, ouvindo depoimentos de pessoas que efetivamente poderiam contribuir para as investigações preliminares. Os indícios de irregularidades constatados tiveram o amparo da Justiça, o que permitiu a quebra de sigilos bancários de pessoas físicas e jurídicas para o relator chegar às conclusões que tiram o sono dos cartolas.
As pressões estão aí, escancaradas, mas denunciadas em público pelo presidente da CPI, senador Álvaro Dias (PDT-PR). Com isso, não pairam dúvidas de que o interesse dos dirigentes que sepultaram o orgulho esportivo nacional é continuar no comando dessa engrenagem viciada, perpetuando a desonestidade e a má administração.

Imaginam esses senhores que, a exemplo do caos futebolístico, a impunidade é uma garantia aos seus desmandos. Crimes contra a ordem tributária e contra o sistema financeiro, evasão de divisas, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal, apropriação indébita, enriquecimento ilícito, falsidade ideológica, uma seleção de irregularidades que assusta pela ousadia com que é praticada.
A aprovação do relatório da CPI do Futebol é apenas o pontapé inicial de um processo que se espera longo, complexo, mas definitivo. Os poderes Executivo e Judiciário não podem depender de fatos políticos para fiscalizar e punir os desmandos do esporte nacional. Ministério Público, Receita Federal, Banco Central e Polícia Federal terão nas mãos um farto material. Resta aprofundar as investigações e promover a faxina necessária.
A recuperação técnica do futebol brasileiro passa, necessariamente, pela moralização fora das quatro linhas. Somente com administradores profissionais e transparentes, clubes e federações terão condições de ingressar no primeiro mundo da indústria desportiva. E o torcedor, maltratado pela interminável seqüência de vexames, poderá recuperar a auto-estima.


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12/03/2001


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