Colóquio reforça crítica à visão utilitarista da economia



Debates no Colóquio Internacional sobre a Carta da Terra, realizado nesta segunda-feira (7) no Senado, apontaram a necessidade de se superar a visão utilitarista da economia, abrindo espaço para uma relação mais responsável e harmônica com a natureza, no caminho do desenvolvimento sustentável.

O evento foi promovido pela Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor, Fiscalização e Controle (CMA), em parceria com a União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) e a Carta da Terra Internacional (Earth Charter International).

Ao saudar os convidados, o presidente da CMA, Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), afirmou que a humanidade enfrenta hoje o desafio de construir novas formas de convivência no planeta.

Para o senador, discutir a Carta da Terra antes da realização da Rio+20 é uma oportunidade para definir objetivos voltados à prática da sustentabilidade.

Presente à abertura do evento, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, manifestou sua convicção de que a conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) reafirmará o desenvolvimento sustentável como paradigma único para o planeta.

– O desafio será colocá-lo em prática – frisou, ao defender negociações multilaterais para a construção de uma nova governança para o desenvolvimento sustentável.

Opinião semelhante foi manifestada pelo ministro de Estado dos Países Baixos e fundador da Comissão da Carta da Terra, Ruud Lubbers. Para ele, a Rio+20 espelhará uma sociedade multipolar, permeada pela diversidade, diferente de encontros onde predominam as superpotências.

A convicção de que a conferência das Nações Unidas será cenário para construção de novos modelos de desenvolvimento também foi manifestada pelo senador Jorge Viana (PT-AC).

Justiça socioambiental

A Carta da Terra é “uma declaração de princípios éticos fundamentais para a construção, no século 21, de uma sociedade global justa, sustentável e pacífica”. Os esforços para a construção da carta foram lembrados por Ruud Lubbers e Luiz Fernando Krieger Merico, coordenador da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN).

– A Carta da Terra pode contribuir para criar estratégias para a transição para o desenvolvimento sustentável – opinou Merico.

O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) disse concordar que a carta é exemplo de nova concepção de sociedade, mas observou que os políticos são incapazes de conduzir uma mudança de paradigmas, por serem reféns da visão imediatista do eleitor.

Na opinião do senador, toda mudança é precedida pelas ideias dos filósofos, como as apresentadas por Leonardo Boff. Também escritor e teólogo, Boff observou que o modo sustentável de vida deve ser levado a todas as esferas, “também ao desenvolvimento, sem ser capturado pelo desenvolvimento”.

– Nós chegamos a um momento em que devemos tomar essa decisão, lutar por um novo modo de habitar o planeta, com uma nova mente e um novo coração. Se assim fizermos, poderemos legar às novas gerações uma terra preservada e enriquecida.

O ex-ministro do Meio Ambiente, José Carlos Carvalho, também manifestou pensamento semelhante.

– Não é possível imaginar a humanidade apartada da natureza. Estamos diante de uma crise civilizatória, mais do que uma crise econômica. Fomos construindo conceitos hoje ultrapassados, em razão da pressão da visão antropocêntrica – disse ele, ao criticar a visão reducionista da economia em relação à natureza.

Previsão constitucional

Na avaliação do ministro Herman Benjamin, do Superior Tribunal de Justiça, a Carta da Terra “dialoga” de forma ampla com a Constituição brasileira.

– Tudo o que está contido na Carta da Terra tem referência expressa na Constituição federal – afirmou.

Já o professor Brendan Mackey, da Griffith University, da Austrália, disse que o mundo observa a forma como o Brasil responderá às tensões em torno do uso da terra e às pressões sobre os recursos ambientais.



07/05/2012

Agência Senado


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