Com atrizes, Serra e Lula travam 'duelo do medo'









Com atrizes, Serra e Lula travam 'duelo do medo'
Fala de Regina Duarte gera reação, divide artistas e leva PT a usar Paloma Duarte na TV

O programa eleitoral do PT de ontem à noite na TV usou a atriz Paloma Duarte, da Globo, para responder ao depoimento de sua colega de emissora, Regina Duarte, que, desde segunda-feira, aparece na propaganda de Serra afirmando ter "medo" de um eventual governo petista.

Paloma disse que, ao ver Regina no horário tucano, sentiu-se "desrespeitada como eleitora". "Eu é que procurei a campanha do Lula e decidi vir aqui [na TV] para dizer como estou chocada com o terrorismo e o uso do medo nas eleições presidenciais do meu país". Referindo-se a Serra, acrescentou que "um candidato que precisa apavorar a população não merece ser presidente".

Imediatamente em seguida, entrou no ar o programa do tucano, em que a candidata a vice, Rita Camata, defendia Regina Duarte.

Após começar a aparecer no horário de Serra, Regina entrou em um verdadeiro fogo cruzado. Petistas a acusam de ser "medrosa" e "patrulhar" os votos. Tucanos a aplaudem por ser "corajosa" e enfrentar o "patrulhamento ideológico" da classe artística. A atriz não pára de receber e-mails e telefonemas. A maioria, segundo sua assessoria, com críticas.

Entre as mensagens, há uma carta de João Felício, presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), que apóia Lula.

Preocupado com a influência das palavras da atriz entre os eleitores, o PT quer transformar o lançamento do programa de cultura de Lula, na segunda, no Rio, numa espécie de resposta. A idéia é reunir artistas em apoio ao petista, no Canecão, e levar as imagens ao horário eleitoral.

A estratégia é sugerir ao eleitor que as palavras da atriz fazem parte de um "clima de terrorismo". "O depoimento teve repercussão negativa não pelo fato de ela apoiar Serra. Mas por ter feito coro a especuladores", disse Stepan Nercessian, presidente do Sindicato dos Atores do Rio.

O ator Raul Cortez, que organizou jantar de apoio a Serra, defendeu a atriz. "Regina tem o direito de achar o que quer para o país."

Para ele, o jantar em sua casa "não vingou" porque as pessoas "têm medo de dizer o que pensam e isso é um cacoete da ditadura".

Nana Caymmi, que gravou jingles e depoimento para Serra, disse que criticar sua atitude é uma "cretinice". "Tem muito artista que é uma farofada de merda. Eu, se fosse a Regina, mandava todos para a porra. Isso mostra um país racista, quase fascista." Nana disse que também foi condenada quando aderiu à campanha.
Chico Buarque, que participou do programa do PT na TV, destoou dos que apóiam Lula e também defendeu a atriz: "Ela tem direito de falar o que quiser".

Paloma Duarte que, apesar do sobrenome, não é parente de Regina- disse à Folha que o problema não foi a participação da colega, mas "o clima de terrorismo". "O Serra é desagregador. É dele que eu tenho medo", disse.

Ontem, a propaganda tucana subiu o tom dos ataques a Lula. Continuou a bater na tecla de que o petista não quer debater com Serra e comparou Lula a um sabonete. "Quando perguntam o que ele pensa sobre certos assuntos, ele não diz, escorrega". O programa questionou o relacionamento de Lula com a CUT e o MST, afirmando que "agora ele só mostra os empresários que o apóiam".


Caetano vai notificar o PT por uso de música
O cantor e compositor Caetano Veloso acionou seu advogado, Paulo César Pinheiro, para que ele notifique o PT pelo uso indevido de sua voz no programa eleitoral de Lula que foi ao ar anteontem. A música usada pelo PT é "Amanhã", de Guilherme Arantes, interpretada pelo cantor.

De acordo com o publicitário Duda Mendonça, responsável pelos programas, Caetano autorizou o uso da canção há quase um ano. A permissão teria sido feita numa conversa com Antônio Rizério, amigo de Caetano que hoje assessora Duda. "Usamos a música no programa do PT [que foi ao ar em maio] e não houve problemas."

A assessoria de Caetano não reconhece a autorização porque ela não foi formalizada e o cantor não foi informado de que a música seria usada na véspera das eleições.

De acordo ainda com a assessoria, Caetano, que quer ficar neutro na campanha presidencial, nunca autorizou o uso de sua voz.

O cantor está nos EUA para uma turnê. Ontem, divulgou nota afirmando não ter autorizado a utilização de suas gravações para uso nos horários eleitorais.


PT usa escola pública para gravar propaganda e fere a lei
Equipe de TV petista usa unidade municipal de Ribeirão Preto como locação para programa eleitoral de Lula; medida é ilegal

O PT fez uma gravação para o horário eleitoral gratuito em uma escola municipal de Ribeirão Preto contrariando a Lei Eleitoral, que proíbe o uso de prédios públicos em propaganda política.

A gravação foi usada no espaço do candidato à Presidência pelo partido, Luiz Inácio Lula da Silva, anteontem. O prefeito de Ribeirão, Antônio Palocci Filho, é coordenador do programa de governo de Lula.
Palocci está licenciado para se dedicar só à campanha.

A gravação foi autorizada pela secretária municipal da Educação e vereadora licenciada Joana Leal Garcia (PT). Segundo ela, o pedido de uso da escola foi feito pela agência que cuida da produção dos programas de TV do PT, do publicitário Duda Mendonça.

A agência prepara os programas para Lula e José Genoino, candidato do partido ao governo de São Paulo.
O promotor eleitoral Arnaldo Hossepian Júnior afirmou que o procedimento foi ilegal. "É vedada a utilização de prédio público para propaganda eleitoral."

A gravação foi feita na segunda-feira pela manhã na escola municipal Neuza Michelutti Marzola, no Jardim Centenário.

Não foram usadas imagens de alunos ou professores de Ribeirão. Todos os participantes da filmagem foram trazidos de Piracicaba pela equipe do PT.

Alunos
Foram cerca de 40 alunos e uma professora de escolas de Piracicaba -cujo prefeito, José Machado (PT), está licenciado para coordenar a campanha de Genoino. A assessoria de imprensa da prefeitura da cidade informou que não tinha dados sobre o caso.

As imagens foram ao ar anteontem, no horário eleitoral de Lula. No programa, dedicado à proposta petista para a educação, a professora Carla Lima, cercada por crianças na escola de Ribeirão, diz que dá aulas em uma escola pública, cujo nome não é revelado.

A secretária da Educação informou que a escola foi escolhida porque "está limpinha e acabou de ser reformada".

A diretora Adriana De Bortoli Gentil disse que não sabia da gravação porque não estava na escola na ocasião, mas que a assistente de direção, Geralda Catarina Bressiani Botura, saberia.

Geralda, no entanto, disse que só Adriana poderia dar informações sobre a autorização para as gravações.


PT critica atriz e PSDB defende o depoimento
O presidenciável do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, criticou anteontem as declarações da atriz Regina Duarte no programa de José Serra.

Num comício em Aracaju, Lula declarou: "A Regina Duarte é uma artista que eu admiro, mas eu sei que é do PSDB. O que ela fez é apologia do medo, do medo do novo. Só podem ter medo do novo pessoas com mentalidade de ontem, pessoas que não têm coragem de acreditar. Possivelmente ela tenha medo dos novos artistas que estão surgindo na Globo".

Ontem, Serra respondeu a Lula dizendo que "o que está causando medo ao país é o Lula se esconder" [dos debates]. Ele ironizou nota divulgada pela CUT acusando a atriz de ter se prestado "ao papel de terrorista e/ ou patrulheira do voto": "Imagina, a CUT. Como se fosse um partido político!"

O presidente do PT, José Dirceu, afirmou que "o discurso do medo" do programa de Serra pode se voltar contra ele: "A maioria dos brasileiros tem segurança em votar no PT, até porque conhece o PT e o PSDB".
O presidente do PSDB, José Aníbal, declarou que as pessoas tem o direito de falar o que pensam: "Não vamos admitir patrulhamento. Regina Duarte tem o direito de manifestar o seu medo. As pessoas têm o direito de falar o que pensam", afirmou.

O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) negou ontem ao PT pedido de liminar para suspender a exibição do depoimento da atriz. O plenário vai examinar a questão.


Serra recebe apoio de evangélicos e chama petista de "arrogante"
O candidato do PSDB a presidente, José Serra, chamou ontem Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de "arrogante", por ele se recusar a participar de mais de um debate entre ambos, conforme seria o desejo da maioria da população.

Segundo Serra, Lula não quer debater porque "tem o receio do confronto de idéias" e porque "em alguns casos, ele não quer explicitar suas posições".

"Portanto, ele tem receio. Como não pode dizer que tem receio, responde com arrogância", disse. "Como se o país pudesse escolher um presidente a partir de posições obscuras, pouco claras e tudo o mais. Aí parte para a arrogância", acrescentou.

Serra fez essas afirmações após receber o apoio formal da Convenção Geral das Assembléias de Deus do Brasil, que afirma reunir cerca de 70% dos evangélicos do país, em ato realizado na produtora na qual seus programas de TV são gravados.

Na semana passada, o tucano já havia recebido o apoio de outro ramo da Assembléia de Deus, denominada de Ministério de Madureira. A Assembléia de Deus reúne 17 milhões de fiéis no país.

Segundo o pastor José Wellington, o apoio foi decidido por "consenso geral". Já o pastor Ronaldo Fonseca disse que os fiéis que haviam aderido à candidatura Lula, seguindo a orientação de Anthony Garotinho (PSB), já estariam "retornando".

Na entrevista que concedeu em seguida, Serra foi questionado sobre o encontro entre Aécio Neves (PSDB) e Lula. Respondeu que ficaria "muito feliz" em ser fotografado ao lado de Lula nos debates programados pela Folha, e pelas TVs Bandeirantes e Record, aos quais o petista decidiu não ir.


Lula quer debater Alca com 'companheiro
Bush'

Petista diz que não pretende conversar com representante do comércio exterior dos EUA, a quem chamou de "sub do sub"

O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, disse que, se eleito, vai discutir a Alca "diretamente com o companheiro Bush" porque não é "papel" dele falar da Área de Livre Comércio das Américas com Robert Zoellick, representante do comércio exterior dos EUA, cujo cargo é equivalente ao de ministro.

Lula afirmou que conversaria sobre Alca com o presidente dos EUA, George W. Bush, a quem chamou de "companheiro" em tom de brincadeira, ao responder a uma pergunta da Folha se não seria importante um candidato a presidente saber quem é Zoellick.

Na edição de domingo do jornal norte-americano "The Miami Herald", o auxiliar de Bush disse que ou o Brasil aceita a Alca ou terá de fazer comércio com a "Antártida". Zoellick afirmou que, em caso de recusa brasileira, os EUA priorizariam outros países.

Anteontem, ao ser indagado sobre o recado duro de Zoellick ao Brasil, Lula disse que não responderia "ao sub do sub do sub do secretário americano". "Quem vai discutir com ele será o meu ministro ou o meu negociador."

Ontem, o petista disse que, se vencer a eleição no dia 27, visitará Bush ou convidará o presidente dos EUA a vir ao Brasil para fazer "uma discussão de alto nível e de forma soberana, porque interessa ao Brasil integração e não anexação quando o assunto é a Alca".

A Alca é uma zona de livre comércio que pretende, a partir de 2005, envolver os 34 países americanos, com exceção de Cuba. O presidenciável petista declarou que, numa eventual conversa com o presidente americano, buscará "um ponto de equilíbrio".

Sobre a declaração de anteontem de que não interpretaria as declarações de uma pessoa que não conhecia, Lula disse: "Não creio que o presidente Bush tenha a obrigação de saber o nome dos membros do primeiro e do segundo escalão do presidente Fernando Henrique Cardoso. Um presidente tem de fixar diretrizes e tomar decisões para defender o seu povo. Isso é o que o Bush faz e é o que pretendo fazer".

Lula disse que discutirá a Alca com os EUA "exatamente como os EUA discutirão com o Brasil". Ele afirmou que a forma contundente como os EUA defendem seus interesses devem servir de "modelo" para o Brasil. Afirmou ainda que, assim como os EUA, também há outros países interessados em aumentar o comércio bilateral com o Brasil, além daqueles que vão compor a Alca.

No Rio, o presidente do PT, José Dirceu, afirmou que foram "infelizes" as declarações de Zoellick.

"O próprio presidente Fernando Henrique já disse que a Alca não é destino, a Alca é opção. A Alca tem de atender os interesses de todos os países das Américas, não só dos EUA. Nosso destino é o Mercosul", afirmou Dirceu, ressaltando que o protecionismo americano é que impede o aumento das relações Brasil-EUA.

O presidente do PT disse que o governo Lula não terá nenhuma política de confronto ideológico com os EUA.


Serristas unificam 'teoria do caos'
FHC se reúne com comando de campanha e pede empenho; presidente do PSDB vê "estelionato eleitoral" do PT

Após reunião com o presidente Fernando Henrique Cardoso -a primeira nesta campanha presidencial realizada no Palácio da Alvorada-, o comando político da campanha do presidenciável tucano, José Serra, unificou o discurso de que a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pode significar caos econômico e administrativo para o país e classificou a campanha petista de "estelionato eleitoral".

O presidente pediu empenho dos líderes para prestigiar a candidatura Serra. A proposta é sair do isolamento do primeiro turno e mobilizar 3.000 prefeitos do PSDB, PMDB e PFL nesta semana. Ficou marcada para a próxima quarta outra reunião no Alvorada, a quatro dias das eleições.

FHC, segundo relato dos presentes, assentiu com a cabeça quando o presidente do PSDB, o deputado federal José Aníbal (SP), usou a expressão "estelionato eleitoral". Na reunião com líderes e presidentes de partidos, FHC deu a entender que aprova a linha dura do programa de TV de Serra.

Em alusão indireta a Lula, afirmou: "Estão prometendo isso e aquilo, mundos e fundos, mas, na hora de governar, vão ver como é difícil". O próprio presidente lembrou de sua célebre frase de que seria "fácil governar o Brasil". FHC falou que se enganou.

De acordo com aliados que participaram do encontro, o presidente manterá, em público, a mesma "compostura" exibida anteontem, quando disse, em discurso na CNI (Confederação Nacional da Indústria), que o caminho do país será mantido seja quem for seu sucessor.

Para eles, a declaração foi um recado a respeito da força das instituições democráticas brasileiras para o público externo e não contradiz a atual campanha tucana.

"Tem horas em que o governo é uma coisa e a campanha é outra mesmo. O presidente fala para dentro toda hora e fala para fora toda hora. Ele tem sabido se envolver na campanha com compostura e não se envolver a partir do momento em que a compostura falisse", explicou o deputado Arthur Virgílio (PSDB-AM), líder do governo no Congresso.

"Estelionato eleitoral"
Aníbal afirmou após a reunião que Lula teria assumido tantos compromissos que "não se pode saber o caminho para o Brasil, tal é o grau de indefinição e de dissimulação da campanha. Não se sabe o que significará um governo do PT. É quase um estelionato eleitoral".

Segundo relato de Aníbal, FHC teria concordado com a avaliação do comando da cam panha: "O presidente disse que compartilha conosco dessa avaliação". Questionado sobre as declarações feitas no dia anterior por FHC na CNI, Aníbal disse que foi uma afirmação de quem tem a responsabilidade de governar o país.
Segundo o deputado Michel Temer (SP), presidente do PMDB, FHC desempenha dois papéis distintos nestas eleições. "Há uma exigência do cenário internacional de revelar que nós estamos vivendo plenamente o sistema democrático, e, seja qual for o candidato eleito, o Brasil vai continuar. Mas não há dúvida, hoje isso ficou muito definido, que segurança absoluta nós teremos é com o candidato Serra", disse Temer, para quem "uma coisa é o presidente do país, outra coisa é o presidente interessado na eleição de José Serra". O líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA), disse que FHC teve a intenção de frear "qualquer perspectiva de golpe ou atentado à democracia" em seu último discurso.

"Nunca vi o candidato [Serra] dizer na televisão que a vitória de quem quer que seja possa significar ferir as instituições democráticas. O que o candidato tem dito na televisão é que a vitória de um programa que não tem consistência pode significar o caos do ponto de vista econômico e administrativo e um retrocesso do país nessa inserção mundial", disse.

Para os aliados, as propostas de Lula não são consistentes com o controle e as metas de inflação. "O PT vai reajustar o funcionalismo público, vai reaparelhar as Forças Armadas, vai fazer as casas populares que prometeu, vai baixar os juros drasticamente, ou quando chegar à realidade tudo vai ser diferente?", ironizou Arthur Virgílio. Segundo ele, o compromisso sério significa "sacrificar qualquer coisa", inclusive aumentar as taxas de juros em detrimento da candidatura.

Nos últimos nove dias de campanha, Serra vai insistir em mais duas teses: Lula estaria fugindo dos debates porque não está preparado para debater, e o PT estaria sendo derrotado nos Estados que governa. Na avaliação de FHC é muito difícil, mas Serra ainda teria condições de reverter a larga desvantagem em relação a Lula. Segundo a pesquisa Datafolha divulgada no domingo, Lula teve 58% contra 32% de Serra.

A eventual "virada", expressão usada pelos aliados de Serra, estaria baseada no tripé: programa no horário eleitoral gratuito crítico, mobilização dos prefeitos que apóiam o tucano e insistir em realizar mais de um debate de TV entre o tucano e o petista.

Participaram do encontro: Marco Maciel, Michel Temer, José Aníbal, Jarbas Vasconcelos, Arthur Virgílio, Renan Calheiros, Geddel Vieira Lima, Heráclito Fortes, Jutahy Magalhães e Gilberto Kassab.


Lula evita entrevistas e limita debate com Serra no 2º turno
Petista recusa convites e aceita participar apenas de debate na Globo

A decisão do candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, de participar de apenas um debate com o presidenciável tucano, José Serra, frustrou iniciativas de pelo menos quatro veículos de comunicação, entre eles a Folha.

Também as redes de televisão Record e Bandeirantes pretendiam promover encontros em que os candidatos do segundo turno debateriam suas propostas. E a TV Cultura convidou Lula para ser entrevistado por jornalistas no programa "Roda Viva", do qual Serra participou na última segunda-feira. Além de evitar comparecer a debates, Lula tem adotado uma atitude bastante restritiva em relação a entrevistas.

Ele não respondeu, por exemplo, a um convite do apresentador Jô Soares para ir ao seu programa da TV Globo. Serra aceitou a proposta de Jô Soares, que, diante da ausência de resposta de Lula, decidiu suspender o convite ao tucano. "Eu não poderia entrevistar apenas um dos dois candidatos", disse o apresentador.
Até ontem, só a Bandeirantes ainda aguardava uma definição do petista sobre o debate.

Lula e Serra deverão se encontrar frente a frente somente na Rede Globo, no próximo dia 25.

Segundo dados da pesquisa do Datafolha publicada no último domingo, 74% dos eleitores consideram muito importante a realização de debate entre os candidatos no segundo turno.

De acordo com o porta-voz de Lula, André Singer, o candidato petista "quer debates, mas o segundo turno disponibiliza poucos dias, e a agenda do Lula é muito cheia. Ele pretende ir a oito Estados onde o PT passou para o segundo turno e também a outros, onde há aliados importantes."

"Além disso", diz Singer, "existem as gravações para o horário eleitoral; são 20 minutos diários até o dia 25. Por isso restou a possibilidade de um debate, e foi decidido que ele iria à Globo. A campanha sugeriu que as demais emissoras montassem um "pool" para a transmissão conjunta, mas não cabe a ela decidir se isso vai acontecer."

Singer afirmou ainda que o debate na Globo foi escolhido por dois motivos: "Havia um compromisso por escrito desde maio e o formato adotado pelo programa será democrático, porque vai permitir participação do eleitor."

De sua parte, o coordenador de imprensa da campanha de José Serra, Alon Feuerwerker, afirma que o candidato tucano defende a realização de um ciclo de debates e entrevistas, da mesma forma que ocorreu no primeiro turno.

"Ao optar pela realização do segundo turno, o eleitor decidiu adiar sua decisão e que precisaria de mais tempo para conhecer melhor os candidatos e suas propostas sobre o Brasil. Nesse sentido, a realização de debates é extremamente importante para o eleitor, porque o candidato pode ser testado em situações de improviso e sobre temas que eventualmente não lhe agradem."

Para Feuerwerker, "por causa do sistema de governo, o presidente da República tem muito poder no Brasil, então é razoável que se queira saber o que de fato o candidato pensa e quer fazer, por intermédio de debates e encontros com a imprensa."

Convite antigo
Cada um dos quatro principais candidatos à Presidência foi convidado, ainda antes do primeiro turno das eleições, a participar, caso fosse para o segundo turno, de debate organizado pela Folha.

Aceitaram de pronto os candidatos Anthony Garotinho (PSB) e Ciro Gomes (PPS). As assessorias de Serra e Lula afirmaram que não marcariam nenhum compromisso para o segundo turno antes de 6 de outubro.

Uma vez confirmado que haveria segundo turno, a Folha voltou a convidar José Serra e Lula a se encontrarem no jornal. José Serra respondeu primeiro ao convite, afirmando, por meio de sua assessoria, que participaria de debate se ele fosse realizado no dia 17 de outubro.

A Folha comunicou à assessoria de Lula que o candidato do PSDB havia aceitado participar de encontro no dia 17 e pediu uma resposta sobre a concordância de Lula até o dia 10 de outubro, a fim de organizar o evento.

Como não houve resposta até o dia 14, apesar da insistência do jornal, o debate foi cancelado.

Procurada mais uma vez pela Folha, a assessoria de Lula afirmou na terça-feira que o candidato já tinha um compromisso agendado para o dia 17.

O âncora e editor-chefe do "Jornal da Record", Boris Casoy, disse que a emissora não recebeu resposta ao convite feito a Lula para que ele participasse de um debate na emissora, a exemplo do que fizera no primeiro turno. "Não recebemos nenhuma resposta, e eu cobrei isso no ar", afirmou Casoy.

"Eu reconheço que, no primeiro turno, Lula esteve fora dos padrões que têm norteado o comportamento dos candidatos. Mesmo com grande vantagem nas pesquisas, agiu correta e democraticamente comparecendo a todos os debates. O que geralmente acontece é que, quando está na frente, o candidato não comparece, acredita que pouco tem a ganhar e pode perder muito. Foi assim com Fernando Henrique nas duas eleições, foi assim com Paulo Maluf no primeiro turno para governador", disse Casoy.

Em relação ao segundo turno, afirma Casoy, "Lula tem a virtude de pelo menos ter aceito um debate. Mas o faz às véspe ras da eleição, tarde da noite, com o mínimo de possibilidade de influenciar o resultado eleitoral. Ou seja, ele segue o padrão. E não sei por que essa preferência pela Rede Globo. Ele deve ter suas razões. De minha parte, gostaria muito de vê-lo debatendo mais vezes dentro de sua pregação por mudanças. O respeito ao debate poderia ser uma dessas mudanças."

Tentativa
O diretor de jornalismo da Rede Bandeirantes, Fernando Mitre, disse ontem ainda ter esperança de que possa realizar um encontro entre Lula e Serra em sua emissora. "Ainda não desisti. Estou em contato com os coordenadores do PT. Acho muito difícil um debate, mas estou tentando fazer um programa em que haja a exposição dos candidatos."

Segundo Mitre, a fórmula que deverá ser adotada pelo programa da Rede Globo os candidatos responderão a perguntas do público- vai "prejudicar o confronto de idéias". "O que soube a respeito do programa da Globo permite concluir que chegaremos ao final do segundo turno sem um confronto entre os dois."

O diretor de jornalismo da TV Cultura, Marco Antônio Coelho, disse lamentar muito que o candidato do PT não tenha aceitado participar do "Roda Viva". "É uma pena, porque seria uma prestação de serviço da TV pública ao eleitor, no programa televisivo que proporciona o maior tempo para a reflexão."

Coelho acredita que a candidatura de Lula esteja "sofrendo uma inflexão eleitoral. Ele não quer se expor porque está na frente. Ou seja, o marketing está acima da necessidade de conhecimento do eleitor e por causa dele não se pode avaliar melhor as propostas para governar o país". No segundo turno os candidatos deveriam ir a debates. Não é andando nas ruas que eles vão tornar suas idéias mais conhecidas".


Artigos

O sub e a águia
Clóvis Rossi

MIAMI - Donna Hrinak, que parece gozar de especial carinho na cúpula do PT, já havia sugerido a Luiz Inácio Lula da Silva: pode criticar o quanto quiser a política norte-americana, mas não entre em críticas pessoais ao presidente.

Referia-se à declaração de Lula segundo a qual, de cada dez vezes que George Walker Bush abre a boca, nove são para falar de guerra.

Não tenho a menor idéia de como Hrinak vai reagir ao ataque de Lula a Robert Zoellick, uma espécie de ministro de Comércio Exterior norte-americano, qualificado de "sub do sub do sub" de não sei quem. Na forma, é bobagem: o cargo de Zoellick tem status ministerial. Logo ele só é sub de Bush, de ninguém mais.
No conteúdo, é uma bravata equivalente à arrogância do funcionário norte-americano. Ao dizer que o Brasil ou aceita a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) ou vai ter de vender os seus produtos na Antártida (onde não há compradores), Zoellick está exibindo a prepotência típica dos negociadores comerciais norte-americanos (o que, na gestão Bush, virou regra geral).

O diabo é que Zoellick tem toda a incontrastável força dos Estados Unidos para fazer valer a sua prepotência. E Lula, o que terá se eleito?

A menos que queira jogar a Alca na lata do lixo (hipótese que pode, de fato, fazer o Brasil ter a Antártida como principal mercado), Lula terá de negociá-la basicamente nos termos definidos pelo governo Fernando Henrique Cardoso.

Ao Brasil, a Alca só interessa se os EUA eliminarem o protecionismo, tarifário ou de outra natureza, que prejudicam exatamente a produção brasileira mais competitiva. E se, além disso, não quiserem impor regras (sobre investimentos, por exemplo) que impeçam políticas internas, sejam quais forem.

Para isso, no entanto, o PT vai precisar de uma ampla coalizão interna política, sindical e empresarial- em torno da Alca. Hoje, ela é fragmentada e hesitante. Zoellick pode ser o que Lula quiser, mas tem atrás dele o peso da águia americana.


Colunistas

PAINEL

Dois discursos
Pela manhã, FHC deu aval oficial à campanha de José Serra em reunião no Palácio da Alvorada. Horas mais tarde, porém, reclamou com o candidato do tom dos ataques a Lula na TV.

Mira descalibrada
Para FHC, Serra tem de mostrar que é mais preparado do que Lula para governar o Brasil e que as propostas do PT são inconsistentes. Mas não pode seguir na linha de que o petista dá medo e que o país vai pegar fogo se ele vencer a eleição.

Ato falho
O Itamaraty reservou 30 apartamentos num hotel cinco estrelas do RS para que o próximo presidente e sua comitiva participem do próximo Fórum Social Mundial, marcado para janeiro.

Disputa de bola
No rádio, os programas de Serra e Lula usam analogias futebolísticas para se atacarem. Numa "mesa-redonda" tucana há um "tira-teima" das 600 pontes que o PT diz ter feito em MS: "Nem se o governador fosse dentista faria tanta ponte". Resposta do PT: "O outro time tá jogando uma bola quadrada...".

Falta de fé
A pesquisa Ibope para presidente mostra que apenas 17% dos eleitores acreditam que Serra será eleito. Como o tucano tem 31% das intenções de voto, significa que quase metade de seus eleitores jogaram a toalha.

Direita, volver
O Clube dos Militares da Reserva e Reformados na Aeronáutica, no Rio, comemorou a eleição de oito parlamentares dos quadros das Forças Armadas nas eleições. São cinco federais e três estaduais. A entidade lançou o projeto "Bancada Militar", já de olho em 2006.

Pedido de investigação
José Eduardo Dutra (PT), candidato ao governo de SE, encontra-se com Nelson Jobim (TSE) para reclamar que conselheiros do Tribunal de Contas do Estado estariam ameaçando prefeitos que pretendem apoiá-lo.

Hora do espanto
Por causa do depoimento da atriz Regina Duarte na propaganda de Serra, o programa do PT para a área de cultura, que será lançado segunda, no Rio, vai se chamar "Sem medo de ser feliz", slogan de Lula em 89.

Risco calculado
A avaliação geral no comitê de Lula é que o candidato petista só perde a eleição se falar uma grande bobagem ou surgir um fato muito grave contra alguma administração do partido.

Matemática tucana
No comitê do PSDB, a expectativa é a de que Lula vá cair nas próximas pesquisas. A questão é se haverá ou não uma redução significativa da diferença. Caso Serra chegue ao debate da Globo perdendo por mais de 20 pontos, seria quase nula a chance de uma virada em razão do evento.

Mágoa de campanha
José Sarney pediu a Orestes Quércia (PMDB) para que organizasse um evento em favor de Lula, mas o ex-governador não se entusiasmou muito com a idéia. Está chateado com o PT. Acha que se Mercadante não tivesse jogado contra ele em SP, teria sido eleito senador.

Mão única
Quércia considera que Mercadante trabalhou para que o segundo voto para senador em SP fosse para Wagner Gomes. O candidato do PC do B obteve 9,88%. Se o peemedebista tivesse recebido a maior parte desta votação, teria sido eleito no lugar de Romeu Tuma (PFL).

Terror religioso
Panfleto apócrifo distribuído em Juazeiro do Norte diz que Lula vai pintar de vermelho a estátua branca do Padre Cícero, símbolo de fé dos nordestinos. A nova cor seria um ajuste ao "regime comunista e ateu" do PT.

Latifúndio cobiçado
Seis senadores eleitos procuraram a direção do Senado pedindo para ocupar o gabinete que pertenceu a Jader Barbalho, um dos maiores da Casa.

TIROTEIO

Do deputado Olavo Calheiros (PMDB-AL), sobre a postura de Aécio Neves (PSDB) na campanha presidencial:
- Há um velho ditado mineiro que diz que sabedoria demais vira bicho e come o dono.

CONTRAPONTO

Compromisso de campanha
No último sábado, Ciro Gomes (PPS) participou de evento organizado pelo PT para abertura do programa eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva.
Ciro e Lula esperaram o início das gravações numa sala ao lado do au ditório onde ocorreu o evento. O candidato derrotado do PPS à Presidência estava acompanhado do deputado João Herrmann (PPS).
No meio da conversa, Ciro fez piada com o deputado:
- Lula, o único pedido fisiológico que aceitei durante a minha campanha foi do João Herrmann. Prometi a ele que, eleito, o nomearia para a Embaixada do Brasil no Vaticano...
Lula não perdoou:
- Sem dúvida, é uma ótima idéia colocar o João numa embaixada, assumo esse compromisso. Mas, em vez de mandá-lo para a do Vaticano, vou enviá-lo para a Embaixada do Brasil na Faixa de Gaza...


Editorial

VIOLÊNCIA NO RIO

O Rio de Janeiro viveu mais uma noite de violência anteontem. Pelas informações até aqui disponíveis, uma tentativa frustrada de resgatar presos no complexo penitenciário de Bangu desencadeou uma onda de tumultos. Houve uma rebelião no presídio e uma série de atentados em vários bairros da cidade.

Traficantes metralharam o Palácio Guanabara, sede do governo do Estado, um batalhão da PM, uma delegacia, carros das polícias Militar e Civil e ainda lançaram uma granada contra o Shopping Rio-Sul, em Botafogo. Sabe-se que um policial morreu e dois ficaram feridos.

Controlada a rebelião em Bangu 3, policiais capturaram em poder dos presos um verdadeiro arsenal de guerra: cinco pistolas, três fuzis AR-15, carregadores, granadas e 5 kg de explosivos. Drogas e uma ou outra arma acabam entrando em qualquer presídio do mundo. Já encontrar armamento pesado, de uso exclusivo das Forças Armadas, e altos explosivos é algo bem diferente.

Desta vez, pelo menos, o que parecia ser um ambicioso plano de fuga malogrou, mas não há motivos para muita comemoração. O crime desafia às escâncaras o Estado, o que é uma afronta não só ao governo fluminense mas à própria democracia brasileira. Infelizmente, ações como as de anteontem não são episódios isolados. Ao contrário, a situação de desmando é crônica e parece estar além da capacidade de resolução de governos estaduais ou mesmo do federal tomados em separado.

O tráfico tem como aliados, além de enormes quantias de dinheiro, problemas crônicos do Estado brasileiro, como a corrupção policial e o despreparo humano e tecnológico das forças da lei. Enfrentar tudo isso vai exigir mais do que boa vontade de governantes. É preciso uma verdadeira mobilização em torno da questão da segurança não só em seus aspectos policiais como também nos estruturais. Trata-se de um processo infelizmente lento, mas ao qual não podemos nos furtar.


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10/17/2002


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