Competição desigual
Como sindicalista, o senador Paulo Paim acostumou-se desde o início de sua militância a pensar na luta pelos excluídos como um processo em que o aspecto sócio-econômico devesse prevalecer, acima de diferenças raciais ou étnicas. O hoje -defensor apaixonado- do sistema de cotas já chegou a pregar em congressos e palestras que os trabalhadores negros buscassem atingir seus objetos com base na solidariedade de classe e no mérito individual.
Paim conta que há cerca de 20 anos, durante um seminário para líderes sindicais em Porto Alegre, foi convencido em poucos minutos pela argúcia de Frei Davi, militante do movimento negro. O ativista desenhou no quadro uma pista de corrida com atletas e obstáculos e pediu para que Paim pensasse em um grupo de corredores bem preparados, alimentados e utilizando bom equipamento. Esse grupo, o dos brancos, além de todo o bom preparo, sairia 500 metros na frente num percurso de mil metros. O outro grupo, o dos negros, além de toda a precariedade, largaria da marca usual.
- Essa explicação me tirou todas as resistências e eu saí dali para colocar a defesa das políticas afirmativas como uma das minhas principais bandeiras de luta - conta o senador, hoje vice-presidente do Senado.
Segundo ele, lutar pelas políticas compensatórias é um trabalho árduo e que tem de ser feito todos os dias, uma vez que há entre os próprios integrantes da comunidade afro-descendente opiniões contrárias a medidas como o sistema de cotas. Há quem entenda que deve vencer por critérios que independam da etnia e há os que têm dificuldade em se assumir como negros. Mesmo entre parlamentares há os que, de origem negra, preferem se dizer brancos. Dos senadores e deputados que compõe a frente parlamentar de Combate à Discriminação Racial, aproximadamente 20 identificam-se e pedem para serem identificados como negros.
Foi como principal defensor das políticas afirmativas e vice-presidente da Casa que Paim recebeu na quinta-feira (24) um grupo de ativistas norte-americanos e brasileiros engajados num frente ampla pelas medidas compensatórias. A eles disse que pretende ampliar a participação dos parlamentares e do Congresso como instituição nas atividades destinadas a fortalecer esse movimento.
A despeito desse engajamento, o senador não deixa que o critério meramente étnico prevaleça nas suas posições sobre tema tão polêmico. Tanto que ele não aconselha a presença no sistema de cotas dos cidadãos negros que possam pagar a universidade e estejam preparados para competir com os brancos, evitando que negros da classe média alta para cima retirem a possibilidade dos pobres. Dos cinco filhos de Paim, três fazem curso superior em faculdades particulares porque o pai é radicalmente contra o ensino superior gratuito para quem pode pagar.
25/07/2003
Agência Senado
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