Contabilidade da CBF é irregular, diz Geraldo Althoff



A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) não adota a chamada boa técnica contábil, deixando de anexar em seus livros contábeis documentos comprobatórios de despesas realmente efetuadas, incluindo faturas de hotéis, despesas de viagens de atletas e dirigentes e pagamento de honorários advocatícios. Esta é a conclusão a que chegou o senador Geraldo Althoff (PFL-SC), ao final do depoimento do contador da confederação, Oswaldo Ferreira, prestado nesta quinta-feira (8) à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga irregularidades no futebol brasileiro.

Geraldo Althoff, relator da CPI, inquiriu Ferreira depois de tomar conhecimento dos resultados de uma auditoria realizada na CBF pela firma KPMG. A investigação contábil revelou que uma empresa prestadora de serviços, a SBTR, era a responsável pela emissão de faturas utilizadas pela comissão, sem, entretanto, discriminar as despesas. Althoff informou que de 1998 a 2000, a SBTR recebeu pelos serviços prestados cerca de R$ 31 milhões, e que, durante o período, realizou apenas lançamentos "genéricos", sem validade fiscal, portanto, em nome da CBF.

Em resposta, o contador da CBF, Oswaldo Ferreira, reconheceu que os lançamentos realmente não seguem a boa técnica contábil. Ele informou que as faturas da SBTR, para serem legais, teriam que vir acompanhadas de documentos comprovando as despesas pagas, devidamente discriminadas. O contador também estranhou que a CBF tenha pago, na forma de "auxílio hospitalar", as despesas de internação e tratamento médico do presidente da Federação de Futebol do Rio de Janeiro, Eduardo Viana, no valor de R$ 17 mil.

- Isso não é comum - admitiu Ferreira.

O contador da CBF não soube explicar as contas do Campeonato Mundial de Clubes de 2000, organizado pela Fifa e realizado em São Paulo e no Rio de Janeiro. É que houve uma diferença de R$ 4.571 milhões entre as despesas oficiais (R$ 12.642 milhões) e as despesas contabilizadas pela CBF (R$ 17.213 milhões). Essa diferença, segundo o relator, foi destinada a pagamentos de empresas que têm "um forte vínculo" com a Confederação Brasileira de Futebol, mas sem registro na contabilidade da entidade. Entre as empresas beneficiadas estão a SBTR, a Planeta Brasil e a Planeta Brasil Incoming.

- Os fatos comprovam que a contabilidade da CBF é uma farsa e tem por objetivo esconder desvios de recursos - acusou o presidente da CPI, senador Álvaro Dias (PDT-PR).O relator da CPI, Geraldo Althoff, chamou a atenção para a possibilidade de que as informações recebidas pelo contador "poderiam estar sempre manipuladas". Isso, a seu ver, mostra o desmando e a desorganização da confederação, e reforça as suspeitas de apropriação indébita por parte de dirigentes da entidade.

RELATÓRIO FINAL

Com o depoimento de Oswaldo Ferreira, a CPI encerrou a fase das audiências públicas. Nas próximas semanas, dois empresários ligados ao futebol, Reinaldo Pita e Francisco Monteiro, irão prestar depoimentos à Polícia Federal. O que disserem na PF constará do relatório final, a ser elaborado por Althoff.

No dia 4 de dezembro, a CPI reúne-se novamente para discutir e votar o relatório final. No dia 5, a comissão vota as propostas que serão apresentadas visando a modernizar e alterar a atual estrutura do futebol brasileiro.

Todas as propostas, de acordo com a assessoria da comissão, serão inseridas num projeto de lei a ser apresentado até o dia 15 de dezembro, data em que o Congresso Nacional entra em recesso. O projeto irá propor mudanças na atual legislação que rege o futebol, incorporando sugestões de representantes do Ministério da Educação, do Clube dos Treze e da Associação dos Atletas Profissionais. Durante um ano, a CPI colheu cerca de 50 depoimentos de dirigentes de clubes, de federações, jogadores, ex-jogadores, comentaristas esportivos e outras pessoas ligadas ao futebol.

08/11/2001

Agência Senado


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