Cortador de grama à gasolina pode causar danos ocupacionais



Estudo da Poli/USP, que está na final de uma competição em ergonomia nos EUA, recomenda a troca por equipamento elétrico

Apesar da maioria dos trabalhadores que executam serviços de jardinagem no País utilizar cortadores de grama movidos à gasolina, esse modelo de máquina aumenta o risco de lesões e doenças ocupacionais. É o que revela um estudo realizado por um grupo de quatro pesquisadores do Lacasemin (Laboratório de Controle Ambiental, Higiene e Segurança na Mineração) do Departamento de Engenharia de Minas e de Petróleo da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. O grupo analisou os problemas ergonômicos relacionados aos equipamentos e métodos de trabalho de funcionários de empresas de manutenção de áreas verdes.

O estudo mostrou indícios de que o esforço muscular usado para acionar a corda do motor de arranque do modelo à gasolina é extenuante, na medida em que os trabalhadores precisam desligar as máquinas constantemente para fazer ajustes no equipamento. “O aparelho é ligado e desligado várias vezes durante o turno de trabalho”, afirma o pesquisador do grupo, André Lomonaco Beltrame. “Ao final do dia, os funcionários se queixam de fortes dores nos braços”, acrescenta.

Além disso, esses trabalhadores realizam inúmeras atividades que exigem movimentos repetitivos, como arrancar ervas daninhas ou podar plantas, mas não são treinados para fazer exercícios de alongamento – que aliviariam a tensão pelo esforço - durante o expediente de trabalho. “Isso torna muito comum lesões por esforço repetitivo ou distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho entre os jardineiros”, afirma Beltrame.

Recomendações

A equipe de pesquisadores recomenda que as empresas de manutenção de áreas verdes substituam os cortadores à gasolina por modelos elétricos, que não têm esse tipo de acionamento. A limitação da mobilidade poderia ser resolvida com um pequeno gerador acoplado ao equipamento. “O custo é equivalente, já que o preço de uma máquina à gasolina varia de R$ 1.000,00 a R$ 2.000,00 e a elétrica, com um pequeno gerador, pode ser adquirida por R$ 1.000,00 a R$1.500,00”, diz Beltrame.

O modelo elétrico também tem a vantagem de emitir menos ruído. “Enquanto o cortador à gasolina emite níveis de ruído de até 93,9 dBA, o elétrico emite 84,7 dBA”, diz Beltrame. O valor padrão da norma NR-15 é de 85 dBA para turno de 8 horas. O mesmo ocorre com relação à vibração do aparelho elétrico, que é 20% menor que o à gasolina.

O estudo também apontou outros problemas de ergonomia que precisam ser resolvidos: uniformes mais adequados, com cores claras e tecido leve, e obrigatoriedade do uso de chapéu, de protetor solar e das luvas antivibração. O protetor auricular, geralmente restrito ao operador da máquina, também deveria ser usado pela equipe de apoio.

Mérito da pesquisa

A pesquisa da Poli foi baseada na observação dos movimentos e da postura dos trabalhadores durante suas atividades, incluindo o modo de uso dos equipamentos. Também foram realizadas análise de dados por meio de dois programas de computador: o 3DSSPP, que analisa postura e esforços na coluna, e o e-Tools, que mensura movimentos repetitivos. Foram feitas ainda entrevistas com funcionários de empresas de pequeno e médio portes, além de um jardineiro autônomo.

O estudo teve seu mérito reconhecido na primeira fase do concurso internacional “Ergonomics Student Design Competition”, realizado entre dezembro de 2007 e janeiro de 2008 pela Auburn Engineers – instituição norte-americana especializada em ergonomia. A equipe da Poli foi uma das cinco finalistas e recebeu como prêmio US$ 1 mil. Agora, os pesquisadores Fernanda Urquieta, André Beltrame, Ivan Tachibana e Michiel Schrage se preparam para disputar, no início de março, a final nos Estados Unidos.

Trata-se de um desafio em que os competidores precisam resolver um novo e inusitado problema de ergonomia.

 

Da Escola Politécnica da USP

(I.P.)



03/06/2008


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