CPIS DEVEM TER FUNCIONAMENTO CODIFICADO, DIZ TÁVOLA



As Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) devem ter seu processo de funcionamento codificado de maneira semelhante ao que existe no Poder Judiciário, nos Códigos Civil e Penal. Essa foi a posição defendida pelo senador Artur Távola (sem partido-RJ), nesta quinta-feira (dia 30), durante o quarto dia de discussão, em primeiro turno, da proposta de emenda constitucional de autoria do senador Jefferson Péres (PDT-AM) que acrescenta poderes às Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs).
A proposta inclui, entre os poderes de investigação das CPIs a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico dos investigados. Na opinião de Távola, as CPIs estão reunindo comportamentos que são tradicionalmente separados na Justiça: de investigador, promotor e juiz.
- Muitas vezes a condução das perguntas já trazem acusações implícitas. A CPI é investigativa - disse Távola, citando o exemplo do ex-presidente do Banco Central, Francisco Lopes, que, na opinião do senador chegou para depor "como réu".
Para Távola, a pessoa que comparece para depor numa CPI muitas vezes acumula as figuras de testemunha e réu. O senador acredita que as falhas processuais encontradas nas investigações da CPI muitas vezes permitem que as apurações feitas pela Câmara e pelo Senado não sejam aceitas pela Justiça.
- Não é aqui que tudo "acaba em pizza", é na Justiça, mas a fama fica aqui - afirmou Távola.
O senador Pedro Simon (PMDB-RS) afirmou que as CPIs já investigaram presidentes, bancos, prefeitos, sem que Justiça tenha colocado obstáculos. Para ele, as liminares que teriam cerceado o trabalho das comissões constituem retalição. "Agora, que o Senado investiga o Judiciário, aparece a retaliação", afirmou.
- A retaliação é injusta. A lei é clara, a proposta que estamos votando aqui já está na Constituição Federal.
Simon defendeu que as informações apuradas pela CPI não podem "ficar na gaveta da Justiça. Para ele, ou o Ministério Público apresenta denúncia ou arquiva o processo.
O senador Jader Barbalho (PMDB-PA) concordou com a necessidade de se elaborar um instrumento processual para as CPIs e lembrou da dificuldade da tarefa, uma vez que as Comissões incluem investigação e ação política.
- É preciso estabelecer regras que preservem uma investigação isenta em uma casa política. As investigações das CPIs são sempre de natureza política. Com grande constrangimento tenho assistido haver pré-julgamento nas investigações. No Judiciário, quando o julgador pré-julga, fica incompatibilizado com o processo - disse o líder do PMDB.
O presidente da CPI que apura irregularidades cometidas por membros do Poder Judiciário, senador Ramez Tebet (PMDB-MS), afirmou que sempre procura agir com equilíbrio e lembrou a importância das CPIs, o mais forte instrumento de investigação do Legislativo na opinião dele. Já o senador Bello Parga (PFL-MA), presidente da CPI do Sistema Financeiro, afirmou que é necessário assegurar o direito individual dos cidadãos, respeitando as normas e regras da investigação.
O senador Roberto Requião (PMDB-PR) disse que os objetivos das comissões de inquérito são reunir subsídios para modificar a legislação, de forma que os fatos apurados não ocorram mais, e repassar as informações investigadas para o Ministério Público. Lembrou que toda prova apurada pela CPI é reexaminada pelo MP. Para Requião, regras processuais para a CPI podem emperrar e engessar o funcionamento das comissões.

30/09/1999

Agência Senado


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