Denúncia de propina abre crise no PSDB









Denúncia de propina abre crise no PSDB
O ministro da Educação e o presidente do PSDB travam bate-boca

A denúncia envolvendo o ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio de Oliveira, acusado de cobrar propina no processo de privatização da Companhia Vale do Rio Doce, abriu uma crise no PSDB.

Conforme reportagem publicada pela Revista Veja desta semana, Ricardo Sérgio teria tentado conseguir R$ 15 milhões do empresário Benjamin Steinbruch, que liderou o grupo de empresas e fundos de pensão vencedor do leilão da maior mineradora do país.

Dois integrantes do governo Fernando Henrique Cardoso, o ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros e o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, confirmaram ter ouvido Steinbruch se queixar do assédio de Ricardo Sérgio. Um dos arrecadadores de recursos da campanha presidencial de Fernando Henrique Cardoso nas eleições de 1994 e 1998 e da campanha de José Serra ao Senado, em 1994, Ricardo Sérgio teria pedido propina em 1997 para organizar o Consórcio Brasil, vencedor da privatização.

A comissão seria uma espécie de “remuneração” pelo trabalho que o então diretor do BB teve para reunir os fundos de pensão estatais em torno do consórcio liderado por Steinbruch. O grupo venceu o consórcio encabeçado pelo empresário Antônio Ermírio de Moraes, da Votorantim. Graças a Ricardo Sérgio, o Consórcio Brasil ficou com três dos maiores fundos de pensão: o do Banco do Brasil (Previ), o dos funcionários da Caixa Econômica Federal (Funcef) e o dos empregados da Petrobras (Petros).

O fato de Paulo Renato ter confirmado que ouviu de Steinbruch a denúncia provocou forte reação na cúpula do PSDB. O ministro confirmou que se reuniu em 1998 com Steinbruch com o objetivo de pedir que a Vale do Rio Doce patrocinasse um programa do ministério. Segundo Paulo Renato, o empresário contou na ocasião que Ricardo Sérgio havia lhe pedido, em 1997, dinheiro em nome dos tucanos. Steinbruch não teria especificado quem eram os tucanos.

O presidente do partido, deputado José Aníbal (SP), chamou o ministro de leviano. Segundo Aníbal, Paulo Renato deveria ter imediatamente perguntando quem eram os tucanos.

– Se não perguntou, perdeu uma boa oportunidade para não ficar calado – disse no sábado o presidente do PSDB.

Ontem, Paulo Renato se declarou surpreso com a reação do companheiro de partido:
– Eu não fiz nada de errado. Escutei uma história e confirmei que escutei. Queriam que eu mentisse? Não reconheço autoridade no José Aníbal para me criticar nem fazer comentários a meu respeito.

Paulo Renato afirmou que não levou o assunto ao presidente na época, como fez o ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros, porque considerou o fato irrelevante na medida em que a propina não foi paga. Ainda segundo Paulo Renato, Steinbruch lhe disse ter checado se Ricardo Sérgio falava mesmo em nome dos tucanos por meio de uma consulta que fez chegar ao presidente Fernando Henrique.

– Como resposta, segundo suas palavras, Steinbruch ouviu que o governo não tinha nada a ver com aquilo e que ele não deveria pagar – disse Paulo Renato.
Ricardo Sérgio ficou no governo até novembro de 1998. Foi demitido após o vazamento das fitas de privatizações do sistema Telebrás. Na ocasião também saíram o então ministro Mendonça de Barros e o presidente do BNDES, André Lara Resende.


Serra classifica acusação de leviandade
O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, reagiu indignado à reportagem da revista Veja que acusa o economista e arrecadador de recursos para sua campanha ao Senado, Ricardo Sérgio de Oliveira, de cobrar propina no processo de privatização da Vale do Rio Doce.
A reportagem ainda menciona uma contribuição de R$ 2 milhões do empresário Carlos Jereissati à campanha de Serra, não declarada à Justiça Eleitoral.

– Estou estarrecido com o tamanho da mentira e da leviandade publicadas nesta matéria, manipulando seus leitores – disse Serra, ao desmentir a suposta doação de Carlos Jereissati em 1994.

Irmão do ex-governador do Ceará Tasso Jereissati (PSDB), Carlos é um dos proprietários da empresa de telefonia Telemar e tido como amigo de Ricardo Sérgio.

– Foram quatro ou cinco prestações, não me lembro exatamente – declarou Carlos.
Nervoso e preocupado com os efeitos da reportagem sobre as pesquisas de intenção de voto, Serra afirmou ontem que “essa história toda é uma maluquice completa, uma plantação eleitoral muito grande”.

Na lista do TRE de São Paulo onde estão registradas as contribuições oficiais para Serra à época aparecem apenas três doações do empresário. Nenhuma nesse valor. Conforme os registros do TRE, teriam sido feitas três contribuições a Serra em nome de empresas do grupo La Fonte, pertencente à família de Carlos Jereissati: uma no dia 11 de julho, de R$ 15 mil, outra em 9 de agosto, de R$ 30 mil, e uma terceira em 27 de setembro, de R$ 50 mil.

– A insinuação de que houve doação não registrada para minha campanha, oito anos atrás, é inteiramente maluca. As doações feitas estão registradas no Tribunal Regional Eleitoral. Qualquer um pode comprovar isso – disse Serra.


Instalação de CPI divide bancadas no Congresso
MP promete abrir novo processo contra Ricardo Sérgio

A suposta tentativa de cobrança de propina no processo de privatização da Companhia Vale do Rio Doce divide o Congresso sobre abertura de uma CPI.

Líderes de oposição cobram uma investigação parlamentar mais profunda, mas o PFL poderá emperrar a instalação da comissão. Até o momento o partido não demonstrou disposição em assinar o pedido de CPI.

O líder do PT na Câmara, João Paulo Cunha, pretende iniciar o recolhimento das assinaturas amanhã, mas já admite que pode não haver vontade política dos congressistas. Mesmo assim, João Paulo vai negociar com o PFL, PPB e com setores do PMDB.


– Não vamos insistir em uma coisa inviável. Se não houver clima não vamos nem apresentar o pedido – avisou o líder petista.

Nas bancadas de oposição ainda há divergências sobre o alvo da CPI. Não sabem se investigam somente o ex-diretor Banco do Brasil Ricardo Sérgio de Oliveira ou também o PSDB e o candidato a presidente do partido, José Serra.

Dirigentes do PT querem focar o trabalho na ação de Ricardo Sérgio e dos fundos de pensão estatais na privatização da Vale. O líder do PDT na Câmara, deputado Miro Teixeira, avalia que as denúncias são mais amplas e atingem o PSDB e o presidente Fernando Henrique Cardoso. Para Miro, a tentativa de cobrança de propina lembra a briga familiar que resultou no impeachment do ex-presidente Fernando Collor.

A CPI será pauta do colégio de vice-líderes do PFL e na executiva nacional no PSDB, na quinta-feira. Líderes do PFL afirmam que o partido deverá agir com cautela. Apesar das dúvidas, o PFL acredita que as denúncias vão derrubar a candidatura de Serra e já recomenda substitutos: o ex-governador do Ceará Tasso Jereissati ou o presidente da Câmara, Aécio Neves.

O Ministério Público vai investigar a suposta propina cobrada por Ricardo Sérgio na privatização da Companhia Vale do Rio Doce. O procurador da República Luiz Francisco de Souza vai requisitar documentos dos Fundos de Pensão que operaram na formação do consórcio que arrematou a estatal no leilão de 1997. Além disso, Luiz Francisco pretende colher depoimentos das pessoas envolvidas.

Segundo o procurador, o MP não se surpreendeu com a reportagem da revista Veja. Luiz Francisco disse que Ricardo Sérgio já responde a outros processos e que os dados da denúncia só complementam as informações que o MP tinha desde 2001:

– O quad ro vai se consolidando a cada dia, com indícios de crescimento patrimonial em total descompasso com a renda de uma pessoa, ligação com empresas nas Ilhas Virgens e negócios imobiliários. Talvez dentro de 30 ou 40 dias já tenhamos um processo contra Ricardo Sérgio.
A Corregedoria Geral da República vai acompanhar o trabalho do Ministério Público. A corregedora, Anadyr de Mendonça Rodrigues, explicará hoje como será a sua atuação no caso.


Economista sempre foi próximo dos tucanos
Ex-diretor da Área Internacional do Banco do Brasil, entre 1995 e 1998, o economista Ricardo Sérgio de Oliveira, 56 anos, entrou no PSDB pelas mãos do ex-ministro chefe da Casa Civil Clóvis Carvalho.

Apresentado ao presidente Fernando Henrique Cardoso e ao hoje candidato à Presidência José Serra, acabou sendo arrecadador de fundos para as campanhas eleitorais de ambos.

Em 1990, quando candidatou-se a deputado federal, Serra destacou quatro pessoas para captar recursos para sua campanha, um deles era Ricardo Sérgio, que voltou a ajudá-lo em 1994 na disputa pelo Senado. No mesmo ano, o economista ainda captou recursos para a campanha de Fernando Henrique, função que voltou a ocupar em 1998.

Antes de ingressar no governo, Ricardo Sérgio trabalhou 17 anos no Crefisul, então sócio do Citibank. No auge de sua carreira chegou a ser vice-presidente de investimentos do Citibank, em Nova York, durante dois anos. A revista Veja teve acesso às declarações de renda de Ricardo Sérgio e de suas companhias, a corretora de valores RMC e a empresa de consultoria Planefin.
O cruzamento de dados aponta que ao aceitar entrar no governo o economista levou vantagem. Em 1995, quando assumiu uma das direções do Banco do Brasil, seu patrimônio pessoal declarado era de R$ 1,4 milhão. Ao virar funcionário público, afastou-se dos negócios. Conforme a revista, em 1998, quando deixou o cargo no Banco do Brasil envolvido no escândalo das privatizações das teles, Ricardo Sérgio ampliara seu patrimônio para R$ 3,3 milhões.


PMDB abre campanha com ataques a Britto
Mulheres realizam ato para Rigotto

No primeiro ato de apoio à candidatura do deputado federal Germano Rigotto (PMDB) ao governo do Estado, ontem durante o encontro de mulheres do PMDB, o alvo preferido das críticas foi o ex-governador Antônio Britto, que deixou o partido e disputará o governo pelo PPS.

O senador Pedro Simon arrancou aplausos ao acusar Britto de ter construído uma carreira política “às custas do PMDB”. Rigotto culpou o ex-companheiro de ter governado sozinho.

Simon afirmou que soube das “maluquices que o ex-governador fez pelo Interior” depois da saída de Britto do PMDB. Relatou “pressões e humilhações com palavras de baixo calão” sofridas por prefeitos. Segundo Simon, Britto teria o hábito de desprezar platéias reunidas para ouvi-lo, de acordo com oscilações de seu humor:

– Ele botou fora a campanha de 1998 com seu estilo, sua grosseria, sua arrogância e falta de elegância.

Simon revelou ter sido sua a idéia do livro em que Britto relatou os últimos dias de vida do presidente Tancredo Neves, estratégia para tornar o ex-assessor de imprensa no candidato a deputado mais conhecido no Estado. O senador teria percorrido mais de 200 municípios ao lado de Britto para sessões de autógrafos agendadas pelo partido. Simon também atacou a ligação de Britto com o Banco Opportunity, o qual representa no conselho das operadoras de celulares Telemig e Tele Norte.

– Quando era governador, Britto privatizou a telefonia e hoje trabalha para o Opportunity. É a primeira vez que acontece isso. O cidadão larga o governo e vai trabalhar numa instituição financeira que dirige a companhia telefônica.

O deputado José Ivo Sartori, presidente da Assembléia Legislativa durante o governo Britto, criticou a infidelidade do ex-governador e revelou ter votado “às vezes contra a consciência” para ser fiel ao governo. Para Cezar Schirmer, que derrotou o grupo de Britto na disputa pela presidência estadual do PMDB, o partido tem dois inimigos nesta eleição:

– De um lado, um mentiroso e, do outro, um traidor.

A coordenadora do PMDB Mulher, Maria Helena Sartori, denunciou tentativas de aliciar filiados por aliados de Britto. Simon questionou se a ex-presidente do PMDB Mulher Iara Wortmann havia devolvido uma lista de filiados que teria levado ao deixar a sigla.

O PMDB Mulher apresentou sugestões para o programa de governo de Rigotto. Festejado pelas mulheres que lotaram o auditório da Assembléia, Rigotto prometeu abraçar todas ao final do ato e acusou o PT de lançar o Estado num clima de insegurança e tentar apresentar Tarso Genro como o condutor de um projeto diferente.

– Será uma eleição de cobrança. O Tarso é farinha do mesmo saco.


Cartórios eleitorais registram público recorde no Estado
Mais de 3,7 mil pessoas compareceram à Central de Atendimento ao Eleitor na Capital

Faltando dois dias para o encerramento do prazo de cadastramento eleitoral, mais de 3,7 mil pessoas aproveitaram o final de semana para solicitar o título de eleitor e regularizar o alistamento, só em Porto Alegre.

Em todo o Estado, os 173 cartórios e a Central de Atendimento ao Eleitor trabalharam em esquema de plantão e registraram números recordes de atendimento.

O funcionamento dos cartórios eleitorais no final de semana foi garantido pela Corregedoria Regional Eleitoral, em virtude da proximidade do prazo final de cadastramento. O prazo para o alistamento eleitoral se encerra no dia 8.

Na Capital, a maioria dos atendimentos realizados no final de semana foi de adolescentes entre 16 e 18 anos. Só no sábado, 1,6 mil pessoas compareceram à Central de Atendimento ao Eleitor da cidade, onde estão concentrados os cartórios das 10 zonas eleitorais. Ontem, foram registrados 2,1 mil alistamentos.

Segundo a coordenadora das zonas eleitorais de Porto Alegre, Solaine Teixeira, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) decidiu realizar plantões justamente para atender a esse público.

– Os jovens que estão solicitando o primeiro título deixam o alistamento para a última hora. Nos próximos dois dias, os números deverão ser ainda maiores – afirma.

Na tarde de ontem, a União da Juventude Socialista (UJS) realizou um ato-show no bairro Ipanema, para incentivar o alistamento de adolescentes, e disponibilizou um ônibus para transportar os jovens do bairro até a Central de Atendimento ao Eleitor. A iniciativa será repetida até o dia 8, em outros pontos da cidade.

Segundo o TRE, mais de 16 mil jovens compareceram aos cartórios eleitorais de todo o Estado, no último final de semana. Até ontem, aproximadamente 171 mil eleitores já haviam solicitado a confecção de títulos ou alteração de registros junto às centrais de atendimento ao eleitor.


Artigos

Brinquedo perigoso
Paulo Brossard

São muitos os aspectos em que o governo que entra em fase terminal está em débito com a sociedade. Se não estou enganado, a segurança é o primeiro deles. Os problemas relacionados com esta não são peculiares ao nosso Estado, mas aqui o grau de insegurança chegou a níveis jamais vistos. Ultrapassou todos os limites do suportável. E o que mais constrange é que a violência desenfreada vem tomando as formas da crueldade. Não basta a violência. Esta há de ser acompanhada da crueldade, como se aquela não bastasse. Nem errará quem diga que, a respeito, homens e mulheres são iguais perante a lei... da insegurança. A ela todos estão igualmente sujeitos, idosos e adolescentes, pretos e brancos, ricos e pobres. A lei da violência é universal, como a insegurança dela decorrente. Como universal é a falta da ação policial. Acontece que o governo enche a boca falando em uma “banda podre ” da polícia, mas a generalidade da expressão nada prova e, o que é pior, iguala o possível mau policial ao bom servidor e apenas desprestigia o serviço, que é da mais absoluta relevância e tem de ser bom. Se não for, tem de ser melhorado, progressivamente aperfeiçoado. E para isso em nada concorre o labéu lançado pelo governo aos quatro ventos. E se não melhora a segurança e não reduz a violência, o uso de expressões ofensivas, genericamente endereçadas, desmerece uma corporação inteira. Para percucientes analistas, o tratamento dado à segurança pública, associando-a a uma indefinida “banda podre”, sem nada precisar, não vem sendo por acaso, mas com a finalidade de tisnar o serviço inteiro e desacreditá-lo como um todo, exatamente pelo seu caráter de essencialidade. Para o objetivo de desmoralização institucional, nada como a deterioração de seus componentes indispensáveis.

Com a mesma inspiração e objetivo está o descumprimento frontal e ostensivo de decisões judiciais, como se o agente da façanha estivesse acima da lei e a ninguém devesse contas. O mais grave, porém, é que essa afronta à ordem jurídica e à seriedade institucional vai passando em branca nuvem, como se fora procedimento normal. O caso do IPE é típico. O governo do Estado deixou de cumprir a lei. Os lesados, que em sua imensa maioria são idosos, tiveram de recorrer aos caminhos da Justiça, nem sempre fáceis e rápidos. Foram vitoriosos. Foi como se tivessem sido malsucedidos. O Executivo vem descumprindo as decisões do Judiciário com... absoluta regularidade, como se fosse regular, normal e legal descumprir a lei. Estou informado de que na mensagem anual do governador à Assembléia não há uma palavra a respeito do problema que hoje já tem dimensões milionárias e em breve estrangulará a administração, tenha ela o nome que tiver. Desmoralizar a Justiça, serviço igualmente essencial, faz parte do mesmo projeto demolitório das instituições democráticas. Se a Justiça pode ser arrostada e desprezada, como vem sendo, por que para ela recorrer, se o valor de suas decisões é nulo e o desrespeito a elas de nenhuma conseqüência?

Já se disse que liberdade não se conquista de uma vez; da mesma forma, também não se perde de uma vez só

Não é tudo. Contrariando norma constitucional, o governo estadual promoveu ao posto de coronel oficiais da Brigada Militar segundo o exclusivo critério do merecimento, que permite a promoção segundo critérios puramente subjetivos e se presta ao sectarismo mais desbragado. Bom ou mau, o critério da antigüidade consorciada com o merecimento foi consagrado pela Constituição.

Interessados bateram às portas da Justiça e tiveram êxito. Pois a despeito da vitória alcançada, o governo tem se recusado a cumprir as decisões. Outra vez o olímpico desrespeito a sentenças judiciais. São fatos notórios e fatos extremamente graves, inconciliáveis com o Estado de direito, com a democracia, com as noções fundamentais e expressas da Constituição. Ou muito me engano, ou essas anomalias insignes atendem a uma idéia central, a de aluir as instituições de modo a preparar a violência sem regras.

Já se disse que liberdade não se conquista de uma vez; da mesma forma, também não se perde de uma vez só. Mas se vai perdendo dia a dia, quando pouco valem as franquias da lei e suas garantias.

No momento em que escrevo, chega-me a notícia de que uma das fazendas mais bem organizadas e produtivas da fronteira, Ana Paula, vem de ser invadida. O proprietário nela fez grandes investimentos. Sua produção tem mercado cativo, exatamente por sua qualidade. Como nas outras invasões, os invasores não se denominam invasores. E como nas anteriores, salvo na do senhor FH ou de seus filhos, em Buritis, nada acontece. E como se isso não bastasse, fragmentos da Justiça abdicam de seus deveres legais e deixam triunfar o ilícito civil e criminal, em escandalosa infração a expressos mandamentos constitucionais e legais. Assim têm começado as piores ditaduras e as maiores violências.


Colunistas

ANA AMÉLIA LEMOS

Agenda para crescimento
A Confederação Nacional da Indústria usou 150 páginas de uma alentado relatório para apresentar aos presidenciáveis a sua agenda para o crescimento. Preparada pela Assessoria de Assuntos Legislativos, a agenda resultou das contribuições de centenas de empresários e instituições industriais de todo o país e não se limita apenas a mostrar que tipo de economia e de sociedade esse segmento idealiza, mas avança sobre a área social, ambiental, educacional, política e do Judiciário.

Em relação à economia, a agenda para o crescimento, que será apresentada aos candidatos na próxima quinta-feira, na sede da CNI, em Brasília, propõe: equilíbrio fiscal sustentado, estabilidade de preços, superação da vulnerabilidade externa, aumento da poupança interna e respeito às regras de mercado. Para que o país ganhe competitividade, numa economia cada vez mais globalizada, a receita que a CNI apresenta aos candidatos à sucessão presidencial inclui reforma tributária, financiamento de longo prazo, modernização das relações trabalhistas, melhoria da infra-estrutura, aperfeiçoamento da legislação de defesa da concorrência.

Quanto aos desafios para aumentar o comércio exterior, além de alterações tarifárias e mais acesso ao financiamento à exportação, a CNI propõe a retomada do projeto Mercosul, abalado pela crise econômica argentina. Outra preocupação da entidade diz respeito à política de desenvolvimento regional, que deve ter como meta a construção de sistemas econômicos eficientes. A direção da CNI vai dizer aos presidenciáveis que é preciso transformar “gastos sociais” em gastos sociais, como melhor caminho para a inclusão social.

A entidade que representa a indústria nacional é taxativa quando diz que a capacidade de crescimento da economia é afetada pela qualidade do ambiente institucional. Por isso, recomenda uma reforma política tendo como referências a implementação da cláusula de barreira para formação de partidos, a fidelidade partidária, legislação eleitoral duradoura e regras claras para financiamento de campanha. Sobre o Poder Judiciário, sugerirá aos presidenciáveis uma reforma que leve em conta o aumento da eficiência, da transparência, modernização das leis processuais, adoção da súmula vinculante e difusão de sistema alternativo de composição de conflitos.


JOSÉ BARRIONUEVO

PMDB ataca “o mentiroso e o traidor”
Schirmer diz que Britto será condenado “à morte política” por ter traído o partido

O tom da campanha do PMDB foi dado ontem no primeiro ato público desde o lançamento da campanha de Germano Rigotto a governador, com fortes críticas a Antônio Britto, identificado como principal adversário na tentativa de chegar ao segundo turno com Tarso Genro. O candidato do PT foi definido como mentiroso, Britto, como traidor.

– Vamos derrotar o mentiroso e o traidor – proclamava o presidente estadual do partido, Cezar Schirmer, acrescentando que “os traidores são condenados à morte política”.
Primeiro colocado nas pesquisas na oposição, o candidato do PPS sofreu as mais duras críticas deste início de campanha. Nem o PT foi tão duro com o ex-governador, que deixou o PMDB juntamente com mais seis deputados. Simon foi às lágrimas em longo discurso em que lembrou a trajetória do PMDB e atacou Britto.

Até o salário que Britto recebe do banco Opportunity, que comanda a CRT privatizada, foi lembrado por Simon.

Denúncias atingem os dois principais adversários de Lula
Duas notícias das revistas do final de semana mostram que a campanha eleitoral terá ainda muitos sobressaltos até a oficialização das candidaturas. O comportamento pouco ético do economista Ricardo Sérgio, ex-caixa de campanha do s tucanos, acusado pela Veja de cobrar comissão para ajudar a montar o consórcio que comprou a Vale do Rio Doce, atinge a campanha de José Serra, do PSDB, segundo colocado nas pesquisas. O outro adversário de Lula, Anthony Garotinho, do PSDB, terceiro colocado e em ascensão, teve seu vice detonado por reportagem na Época. Costa Leite escondeu de seu currículo os 11 anos que permaneceu em altos postos do SNI, o serviço secreto com atuação na repressão política no regime militar de 1964.
Lula não pode atacar a grande imprensa de estar a serviço do governo.

Cpers destinou R$ 3 mi à CUT
Começa a esquentar a campanha à presidência do Cpers, com eleição marcada para os dias 26 e 27 de junho. Reunido sábado, o Movimento Pó de Giz, comandado pelo professor Luiz Afonso, preparou forte munição contra o atual comando do sindicato. Com uma arrecadação de R$ 500,9 mil só no mês de março, o Cpers destinou à CUT R$ 3 milhões nos últimos seis anos, algo em torno de R$ 42 mil por mês, enquanto repassa apenas R$ 1,5 mil aos núcleos para a mobilização da categoria.

– A atual direção privilegia a mesada destinada à CUT, reduzindo a intensificação da luta da categoria – diz Luiz Afonso, que aponta a elaboração do calendário de mobilização do Cpers fora do sindicato, exclusivamente voltado ao interesse da CUT.

O Pó de Giz prega a independência do Cpers, sem atrelamento à CUT ou a outras centrais, autonomia do sindicato perante o governo, o retorno do Cpers para as mãos dos professores e dos funcionários das escolas, melhorias salariais, fortalecimento do IPE e requalificação profissional.

Vovô Bernardi
Ao completar 59 anos, Celso Bernardi teve o melhor presente de aniversário: o nascimento da primeira neta, Vitória, filha de Carina Bernardi e Ronildo Gomes. Foi um bom motivo para suspender a campanha no domingo.

Reação da Fronteira Oeste
O PPB concentra fogo na Fronteira Oeste, região que assegurou a vitória de Olívio Dutra no segundo turno em 1998. Neste fim de semana, Celso Bernardi prestigiou o lançamento da candidatura de Frederico Antunes em Uruguaiana, como candidato a mais um mandato na Assembléia, contando com a presença dos deputados federais Luis Carlos Heinze, Erico Ribeiro Júlio Redecker e João Augusto Nardes. Integrado à campanha do PPB, Gaúcho da Fronteira animou o encontro juntamente com Luis Carlos Borges e João de Almeida Neto, perante um público de 1,5 mil pessoas.

PL gaúcho não aceita PT
A executiva do PL no RS divulgou ontem nota oficial rechaçando, em definitivo, uma aliança do partido com o PT. Segundo a nota, a coligação fará o PL implodir em diversos Estados e beneficiará apenas os petistas. Os liberais defendem o apoio a Garotinho para presidente. Segundo o texto assinado por Paulo Gouveia, Valdir Caetano e Aroldo Medina, “o PL gaúcho não está sozinho nesta trincheira”, citando SC, PE, ES e AC. Alega “princípios éticos e morais” para não se aliar com um “partido oportunista que se diz dos trabalhadores”.

Mirante
• Ex-secretário dos Transportes e da Segurança, Waldir Walter participou do congresso das mulheres, ontem, demonstrando impressionante recuperação do mal de Parkinson.

• A presença de Waldir Walter mostra a unidade do PMDB em torno de Rigotto.

• Maria Helena Sartori revelou capacidade de mobilização no comando do PMDB Mulher. Está cotada para concorrer a deputado estadual. Com a saída de Rigotto, o marido concorre a federal, depois de cinco mandatos na AL.

• José Ivo Sartori é o mais antigo deputado estadual, único atualmente com cinco mandatos. Também começou como vereador de Caxias do Sul, onde Rigotto e Simon estrearam na política.

• Simon às vezes exagera. Todos que ganharam projeção no PMDB só ingressaram no partido graças a ele. Até o livro de Britto, Assim Morreu Tancredo, peça de marketing da primeira campanha do ex-governador, teria sido idéia sua.

• José Fortunati dá entrevista às 14h30min na sede do PDT. Pela primeira vez reage às críticas de que não teria densidade eleitoral. Também analisa o comportamento do PTB na Frente Trabalhista.


ROSANE DE OLIVEIRA

Sombras
Se o ex-ministro José Serra estivesse bem nas pesquisas, com presença garantida no segundo turno e pelo menos o PSDB coeso em torno de seu nome, o efeito Ricardo Sérgio seria menos danoso para sua candidatura. Vulnerável como está, Serra deve ter percebido neste fim de semana que a sombra de Ricardo Sérgio de Oliveira não o abandonará durante a campanha – se é que até a campanha Serra não terá sido substituído no posto de candidato à Presidência, por pressão escancarada do PFL e por manobras de bastidores dos tucanos.

Se paredes tivessem ouvido, as do apartamento do presidente Fernando Henrique Cardoso no bairro Higienópolis, em São Paulo, teriam muito a contar sobre a conversa que lá ocorreu na sexta-feira. Serra conversou com FH, mas o teor não foi revelado. A essa altura, a cúpula do tucanato já sabia que a revista Veja desta semana traria a bomba sobre um suposto pedido de propina de 15 milhões de dólares ou de reais feito por Ricardo Sérgio ao empresário Benjamin Steinbruch à época da privatização da Vale do Rio Doce.

O que Serra tem a ver com os 15 milhões, que pela informação do achacado sequer foram pagos? Até onde se sabe, nada, exceto que Ricardo Sérgio é uma parte de sua vida que não poderá apagar, como ninguém pode apagar os rastros dos arrecadadores de dinheiro para campanhas eleitorais. Volta e meia o nome de Ricardo Sérgio aparece em denúncias de escândalos nas privatizações, mas agora apareceram um ministro (Paulo Renato Souza) e um ex-ministro (Luiz Carlos Mendonça de Barros) para confirmar que ouviram de Steinbruch a história do pedido de propina.

Serra está empacado nas pesquisas, sem conseguir tirar distância de Anthony Garotinho, do PSB, com quem briga pelo segundo lugar. É verdade que a campanha não começou (Serra acha que só começará de verdade depois da Copa do Mundo) e as pesquisas desta época não significam grande coisa. O problema do ex-ministro da Saúde é o clima de descrença que acompanha sua candidatura desde o início.

Quando foi lançado, o PSDB já tinha no bolso um Plano B, o deputado mineiro Aécio Neves, para o caso de Serra não decolar. Esperava-se que herdasse os votos de Roseana Sarney, mas quem cresceu foi Lula. E o PFL não perde oportunidade de dizer que se o governo mudar de candidato pode contar com seu apoio. Todas as semanas um tucano precisa vir a público dizer que o partido não cogita da substituição de Serra. O que é péssimo, como bem sabe Ciro Gomes, outra vítima dos boatos quase diários de que poderá desistir da candidatura.


Editorial

O PESO DA DÍVIDA

Lembrada nos últimos anos apenas pelo seu custo insuportável e pelas proporções que vem assumindo, a dívida externa brasileira volta ao centro das atenções em conseqüência da insegurança gerada entre os investidores pela sucessão presidencial. O primeiro alerta partiu do Banco Mundial (Bird), que há duas semanas incluiu a dívida externa brasileira na categoria das que podem se tornar insustentáveis. A essa advertência, somam-se agora as de influentes instituições privadas de crédito, que vêm recomendando a seus clientes a redução de investimentos no país. A dívida externa brasileira atinge proporções inquietantes tanto sob o ponto de vista do Brasil quanto dos credores. Em nenhuma hipótese, porém, pode ser avaliada sem que sejam levados em conta o potencial do país e a seriedade de seus dirigentes.

Nona economia do mundo e com um endividamento externo calculado em US$ 237,9 bilhões pelo Bird ao final de 2000, o Brasil paga ainda hoje o ônus de ter sido levado a duas moratórias nos anos 80. O custo adicional sobre o arcado pelos Est ados Unidos amplia-se em momentos de maior instabilidade como o atual e é um dos principais responsáveis pela progressão do débito. Somadas, as dívidas externas de Brasil, Argentina e Indonésia excedem em 220% suas exportações de produtos e serviços, nível que não se sustenta por muito tempo na avaliação do Bird. A estrutura de pagamentos externos do Brasil, porém, é bem mais favorável que a dos outros dois países. Além disso, o montante equivale a 40% de seu Produto Interno Bruto (PIB), percentual próximo da média latino-americana e bem distante dos 60% da Ásia e da África.

O país precisa crescer mais que seu débito externo e, ao mesmo tempo, cobrar um apoio efetivo dos credores

O problema é que, nos últimos tempos, a economia brasileira tem se expandido num ritmo muito inferior ao do endividamento. Em conseqüência, o país vem destinando a cada ano um volume de recursos públicos para pagamento de juros superior ao destinado individualmente para áreas como a educação, a saúde, a segurança pública e para todas as demais que são de competência do Estado. Essa é uma das questões que intranqüilizam os investidores num momento em que as pesquisas eleitorais convergem para a possibilidade de alternância no poder. Por isso, o desafio do Brasil e dos pretendentes ao Planalto é convencer a comunidade financeira internacional de que não estão dispostos a incorrer em erros do passado. O país precisa crescer mais que seu débito externo e, ao mesmo tempo, cobrar um apoio efetivo dos credores, a começar por medidas que levem a uma redução dos elevados custos de sua rolagem.

Infelizmente, por insuficiência de poupança interna, o país tornou-se vulnerável em excesso de dinheiro externo, a um custo injustificável quando comparado ao potencial de sua economia. Nessa situação, é improvável que o futuro comandante do Brasil possa se desincompatibilizar com o capital externo, mas se torna absolutamente indispensável que o país alcance logo as condições para crescer mais e exportar mais.


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05/06/2002


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