Diógenes não esclarece origem de recursos







Diógenes não esclarece origem de recursos
O relator da CPI considera que depoimento do presidente do Clube da Cidadania trouxe novas dúvidas para os deputados

Considerado testemunha-chave da CPI da Segurança, o presidente do Clube de Seguros da Cidadania, Diógenes de Oliveira, se atrapalhou nas explicações sobre a origem dos recursos que viabilizaram a compra do imóvel cedido gratuitamente ao PT.
Foram exatas oito horas de depoimento e, mais de uma vez, os deputados ameaçaram pedir a prisão de Diógenes, alegando que mentia.
– O depoimento dele não esclareceu nada. Ao contrário. Trouxe novas dúvidas – avaliou o relator da CPI, deputado Vieira da Cunha (PDT).

A audiência foi suspensa às 22h35min, depois de Diógenes sentir-se mal. O presidente da CPI, Valdir Andres (PPB), anunciou que os trabalhos seriam retomados na manhã de hoje. A interrupção causou irritação entre os deputados de oposição.
O dirigente do clube garantiu não ser bicheiro nem conhecer os diretores do jogo do bicho no Estado. Admitiu, no entanto, manter relações de amizade com alguns apontadores do jogo e relatou em quais momentos costuma manter contatos com os mesmos:
– Tomando trago, falando de futebol ou de mulheres em bares do Mercado Público, lugares preferidos meus nos finais de tarde.

Diógenes atribuiu as denúncias a uma “conspiração macabra” envolvendo a RBS, que acusou de patrocinar uma campanha contra o governo por, segundo ele, estar ameaçada de não receber verbas publicitárias do Estado. Enumerando operações financeiras registradas publicamente pela RBS, entre as quais algumas feitas por sua subsidiária internacional com sede nas Ilhas Cayman (RBSpar Ltd), ele tentou denunciar uma aparente irregularidade em empréstimos do grupo. (Ver nota da RBS nesta página)

A testemunha também foi questionada sobre suas relações com o governo do Estado. A quebra do seu sigilo telefônico revelou 350 ligações com a Metroplan, 178 com a Secretaria de Obras, cerca de 80 com o Palácio Piratini e cem para outros órgãos públicos, inclusive o Palácio das Hortênsias, em Gramado. Diógenes, empresário do ramo do turismo, alegou que se tratava de contatos profissionais com clientes.

O dirigente não conseguiu esclarecer a origem dos recursos que viabilizaram a compra do imóvel cedido gratuitamente ao PT. Uma operação de crédito intitulada “empréstimo de mútuo” no valor de R$ 80 mil, ao contrário de esclarecer a origem do dinheiro, trouxe mais nebulosidade às contas do Clube de Seguros. A expressão usada por Diógenes seria dinheiro recebido de amigos.
– Ele fez a popular vaquinha – disse Vieira da Cunha.

O montante teria sido emprestado para que Diógenes pudesse pagar as despesas cartoriais da transação de compra e venda do imóvel da Avenida Farrapos e também para honrar a entrada do negócio, estipulada em R$ 50 mil.
– Os R$ 80 mil sempre apareceram na contabilidade do clube – afirmou Diógenes.
A operação financeira foi mencionada pela testemunha quando o relator perguntava sobre a fragilidade contábil da entidade, que teve mais gastos do que receitas em 1998. Às 21h, inquirido por Mário Bernd sobre quem seriam as pessoas que colaboraram para o empréstimo, Diógenes prometeu entregar a lista de doadores à CPI na manhã de hoje. O compromisso foi assumido depois de um áspero diálogo entre ambos.
– Recomendaria ao deputado que baixasse o tom de voz – chegou a dizer o presidente do Clube da Cidadania.

Durante o depoimento, recitou versos e iniciou quase todas as suas respostas agradecendo a pergunta que lhe era destinada:
– Nobre deputado, lhe agradeço a pergunta.

O QUE DIÓGENES DISSE
Não sou bicheiro, não conheço nenhum diretor do jogo do bicho e nunca arrecadei nenhum centavo desse setor para o que quer que fosse.

Sou um cidadão comum, profundamente popular.

O tempo é áspero, enganoso. Os sapos no charco odeiam a luz da nossa estrela.
Neste momento, me declaro revolucionário e socialista, casado com a liberdade e amante de todas as estrelas.

Tendo jurado dizer a verdade nesta CPI, quero aqui afirmar categoricamente o seguinte: não tinha autorização do governador para usar o seu nome, nem nunca falei com ele, nem antes nem depois, sobre este episódio. Foi apenas um carteiraço que eu dei, falso, como já disse.

O deputado Vieira da Cunha é um grande cavalheiro. Agradeço a civilidade com que o senhor está conversando comigo. Se todos os deputados tiverem essa grandeza, essa sessão da CPI será uma das mais nobres.

Como disse o poeta, a mentira é uma verdade que ainda não aconteceu.
Sem nenhuma modéstia, tenho uma certa característica de fênix. Saí dos porões da ditadura.

Os senhores passaram a tarde falando com um homem de bem.

Eu tive grandes sonhos com esse clube. Esse clube foi uma ave abatida em pleno vôo.

Se não fizerem isso, se não mostrarem esses sigilos, ficará cabalmente demonstrada perante a opinião pública a minha superioridade moral diante dos autores da conspiração.



Mal-estar de testemunha obriga CPI a interromper sessão
A continuidade do depoimento de Diógenes de Oliveira à CPI da Segurança Pública dependerá da avaliação dos médicos do Instituto de Cardiologia.
O presidente do Clube de Seguros da Cidadania foi internado no final da noite de ontem, depois de passar mal durante audiência da comissão.

O médico da Assembléia Legislativa Carlos Magno atestou que Diógenes teve taquicardia e pressão alta (17 por 11). Magno atendeu a testemunha por volta das 22h30min. O presidente da CPI, Valdir Andres (PPB), havia determinado uma pausa nos trabalhos, mas Diógenes, 60 anos, fumante, não retornou ao Plenarinho. De cadeira de rodas, foi levado até o carro que o conduziu ao Instituto de Cardiologia.

O depoimento foi suspenso sob protestos dos deputados de oposição, que insistiam em ir até a casa de Diógenes – mesmo sem ele – em busca da lista de amigos que contribuíram para um empréstimo de R$ 80 mil para o clube. A intenção de Andres é retomar a sessão na manhã de hoje, se os médicos autorizarem a continuação do interrogatório. No início da madrugada, a previsão era de que o paciente passaria a noite em observação.

Dirigentes petistas, deputados e militantes fizeram plantão no Instituto de Cardiologia.
Diógenes sentiu-se mal momentos depois de concordar em conduzir os deputados até sua residência para buscar a lista. A relação foi tema de discussões durante a audiência. Horas antes, Diógenes e os parlamentares haviam acertado que o documento seria entregue na manhã de hoje, mas a combinação foi substituída pela ida da comissão até a residência da testemunha.
A explicação de Diógenes para uma doação atribuída à Marcopolo e negada pela direção da empresa não poderá ser conferida pelos integrantes da CPI da Segurança Pública.

No depoimento, Diógenes disse que se equivocou ao atribuir à Marcopolo uma doação feita em caráter pessoal por um dos diretores da subsidiária Marcopeças, Antônio Carlos Hilgert, já falecido.
Diógenes disse não lembrar se a doação foi feita em dinheiro ou em cheque e deixou os deputados intrigados quando falou em fluxo de caixa para explicar as razões de ter emitido dois recibos no mesmo dia.
– Como assim fluxo de caixa para pessoa física? – questionou o relator, Vieira da Cunha.
A Marcopolo teria doado, segundo lista apresentada por Diógenes, R$ 20 mil, em 29 de setembro de 1998, em dois cheques de R$ 9,1 mil e R$ 10,9 mil. Na sessão em que foi ouvida a maior parte dos doadores, o representante da Marcopolo, economista Carlos Zignani, negou que a empresa tivesse doado qualquer quantia à entidade.

Segundo Zignani, a Marcopolo fez uma doação para a campa nha eleitoral do PT em 1998, no valor de R$ 41 mil em três parcelas.
Perguntado se havia trabalhado na Marcopolo, afirmou que apenas fizera uma consultoria pessoal ao amigo Hilgert e para a qual obteve pagamentos em recibos avulsos.
O presidente do clube negou que tivesse procurado empresários para pedir doação em nome da campanha eleitoral do PT ou mesmo para projetos da área social, como declararam alguns doadores.

AS EVASIVAS DE DIÓGENES
1) Como o clube quitou a compra do prédio em 16 de dezembro de 1998 se não tinha dinheiro suficiente?
Diógenes recorreu aos livros contábeis que entregou à CPI para afirmar que a entidade tinha dinheiro para quitar o prédio, no entanto, não quis explicar a contabilidade, dizendo que não era técnico.
2) Como o clube pagou a entrada de R$ 50 mil pelo prédio em 8 de julho de 1998 se não tinha dinheiro suficiente naquela data?
Pela primeira lista, o clube só tinha R$ 428,13. Pela segunda, só R$ 13.428,13.
Diógenes responde que pediu R$ 80 mil a título de empréstimo feito junto a amigos. O presidente da entidade não quis revelar, no entanto, quem foram os amigos e o quanto cada um emprestou. Diógenes assegurou que os lançamentos constavam da contabilidade por ele entregue à CPI.
3) Por que Diógenes só refez a lista de doações depois de avisado das irregularidades?
O presidente do Clube de Seguros afirmou à CPI que elaborou uma lista de afogadilho para justificar a insistência da reportagem do Diário Gaúcho e que, depois, retificou, aí sim, com dados mais precisos.
4) Por que os recibos de doações não aparecem em ordem cronológica nas duas listas de doações?
Diógenes afirmou que eram cinco ou seis pessoas que saíam com talonários e, ao juntar a documentação no clube, poderia não ter ficado em “ordem linear e cronológica”.
5) Por que a empresa Marcopolo diz que nunca doou dinheiro ao clube, mas consta nas duas versões da lista de compra do prédio com R$ 20 mil em doações?
Diógenes afirmou à CPI que recebeu uma doação do amigo pessoal Antônio Carlos Hilgert, um dos proprietários da Marcopeças, que já está morto e que não revelou detalhes da negociação a ninguém da empresa ou da família.
6) Como Diógenes explicou a doação da IAB Assessoria, que disse na CPI ter doado para “obras sociais” e ter recebido a proposta de doar R$ 40 mil para a compra de uma caminhonete?
O presidente do Clube de Seguros disse que o senhor Isaias Sucasas Júnior “se equivocou”.
– Em absoluto falei de compra de caminhonete ao senhor Isaias – disse Diógenes.
7) Por que aconteceu desvio de destinação do dinheiro obtido pelo Clube de Seguros?
Diógenes recorreu ao artigo 1.165 do Código Civil que, segundo ele, regula as questões relativas a doações e que afirma serem de “liberalidade do doador, sem qualquer referência a motivos ou destinações dos recursos”. Diógenes admitiu que “para alguns doadores foi mais e, com outros, menos explícito sobre o destino que daria ao recurso obtido.


Nota da RBS
A RBS comunica que tomará providências legais contra o presidente do Clube de Seguros da Cidadania, Sr. Diógenes de Oliveira, diante das afirmações caluniosas e irresponsáveis sobre a empresa, proferidas durante a CPI da Segurança Pública, na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul.
Mesmo tendo identificado nos ataques do Sr. Diógenes de Oliveira a tentativa de desviar a atenção sobre as denúncias que o atingem, a RBS esclarece:
1. Suas operações financeiras são legítimas, regulares e adequadas ao porte e solidez da empresa, estando devidamente registradas e auditadas por empresas independentes.
2. Da mesma forma, as subsidiárias da empresa, no país e no Exterior, são regulares e estão devidamente registradas nos órgãos competentes.
3. Todos os compromissos do grupo estão rigorosamente em dia, como sempre estiveram.
4. Ao contrário do mencionado pelo Sr. Diógenes de Oliveira, a empresa jamais teve qualquer dependência de verbas do governo do Estado do Rio Grande do Sul, que nunca representaram mais do que 3% da receita publicitária do grupo.
No passado, com propósitos semelhantes, já houve a disseminação de rumores e boatos sobre a situação econômica da RBS, ficando claramente demonstrada a falsidade de tais ataques.
Apesar das tentativas de intimidação, a RBS assegura a seu público e a seus colaboradores que seguirá em sua linha de independência jornalística e empresarial, reafirmando seu projeto de crescimento, como vem fazendo há mais de quarenta anos.


Verçosa transfere responsabilidade a Diógenes
Diretor do clube disse que representantes da Ambras e da Sabemi sabiam que dinheiro era para compra da sede do PT

Durante as três horas e quinze minutos nas quais falou à CPI da Segurança, o diretor de Seguros do Clube de Seguros da Cidadania, Daniel Verçosa Gonçalves, repassou toda a responsabilidade da entidade a Diógenes de Oliveira, presidente da entidade.
Poucas informações sobre a movimentação financeira do Clube de Seguros foram detalhadas aos deputados no primeiro depoimento do dia.

Verçosa sustentou que a sede do diretório estadual do PT foi comprada pelo clube com dinheiro “de doações legais” e que, em 1998, fez uma doação de R$ 11 mil à entidade. O empresário reafirmou que fez pessoalmente o contato com a Associação dos Municípios Brasileiros (Ambras) e com a Sabemi Seguros para pedir a doação de R$ 50 mil para o clube. Disse ter explicado que o clube tinha dívidas decorrentes da compra de uma sede no valor de R$ 300 mil, prédio posteriormente cedido em regime de comodato ao PT.

No último dia 1º, o empresário Antônio Tulio Lima Severo, representante da Sabemi, e a diretora financeira da Ambras, Eda Margot Severo Schoereder, admitiram ter repassado um total de R$ 50 mil a Verçosa, mas negaram que fosse para a compra da sede do PT.
Verçosa contou à CPI que cedeu parte do escritório de suas empresas, no centro de Porto Alegre, ao clube que, quando foi criado, não teria condições financeiras para comprar uma sede.

Verçosa confirmou ainda que empregou o filho do governador Olívio Dutra, Espártaco Dutra, como gerente administrativo da corretora de seguros Condor Ltda, de sua propriedade, em maio de 1998. Negou, porém, qualquer vínculo de Espártaco com o Clube de Seguros e garantiu que teve de demiti-lo mais tarde por problemas financeiros. O relator Vieira da Cunha perguntou se Espártaco tinha formação para trabalhar em uma seguradora, quando Verçosa respondeu:
– Não. Ele estava chegando da Alemanha, precisava trabalhar e nós precisávamos de alguém com boa formação. Era pessoa qualificada para a área que eu precisava.

O momento mais tenso do depoimento foi quando Verçosa se considerou atingido por uma pergunta feita pelo relator com dados explícitos sobre a quebra de sigilos fiscal e telefônico.
Verçosa se recusou a responder, e a sessão foi suspensa para que a Procuradoria da Assembléia decidisse sobre a possibilidade ou não de trazer tais questões a público. O parecer foi de que novas perguntas envolvendo detalhes da quebra de sigilo não poderiam ser mencionadas, a menos que a sessão fosse restrita aos membros da CPI.

Apesar da decisão da procuradoria, Vieira insistiu em dados telefônicos. Perguntou se Verçosa tinha alguma ligação de trabalho com o governo estadual. Verçosa negou qualquer vínculo profissional.
Vieira questionou o motivo de terem sido efetuadas 195 ligações para o Piratini, 117 para a Secretaria de Obras e 125 para a Secretaria da Habitação. As ligações foram originadas de telefones da empresa de Verçosa, onde também funciona o Clube de Seguros.

O diretor do clube explicou que não tem como controlar ligações feitas de suas empresas para o Palácio Piratini. Disse que o próprio Espártaco poderia tê-las feito. Além disso, admitiu ter amigos do partido que trabalham no palácio. Sobre as secretarias, respondeu ter amigos engenheiros e até o próprio secretário da Habitação, Ary Vanazzi.


Assembléia reforçou segurança para evitar tumultos
Pouco antes das 10h, os empresários Diógenes de Oliveira e Daniel Verçosa desembarcaram do mesmo carro no estacionamento da Assembléia Legislativa.
Diógenes carregava uma caixa de papelão lacrada com fita gomada contendo a documentação que usaria quatro horas e meia mais tarde para falar aos deputados da CPI. Verçosa tinha na mão apenas uma pasta azul.

Acompanhados pelo advogado Ricardo Cunha Martins, os dois seguiram para a sala da CPI, no sexto andar da Assembléia. Depois, Verçosa foi levado ao plenarinho, no terceiro andar, onde começou a depor às 11h15min. Diógenes aguardou até as 14h30min no primeiro andar, onde almoçou com seu advogado. Duas à la minutas foram levadas a Diógenes e Martins, na sala da Diretoria de Segurança. Verçosa não almoçou.
A segurança no plenarinho estava reforçada ontem. Na entrada principal da Assembléia foi acionado o detector de metais. O advogado acompanhou os depoimentos de seus dois clientes sentado ao lado deles, na mesa principal da CPI, o que por alguns instantes provocou polêmica.

Alguns deputados queriam impedir o advogado de orientar seus clientes, reivindicação rechaçada pela deputada Maria do Rosário (PT):
– Daqui a pouco vão nos impedir de perguntar ao depoente e falar com a imprensa também.
A CPI da Segurança foi o centro das atenções da Assembléia ontem. Um emaranhado de cabos de câmeras de TV e de microfones das rádios se espalhava pelo chão. Os pouco mais de cem lugares do plenarinho ficaram lotados rapidamente e no final da manhã o acesso ao local passou a ser controlado pela segurança em razão do excesso de público.

Na galeria, ao fundo da sala, um pequeno grupo de militantes petistas se encarregava do barulho nos momentos de maior tensão. Aplaudiam e gritavam em vários momentos, ignorando os pedidos do presidente da CPI, Valdir Andres (PPB), que invocava o regimento interno da Casa que não permite manifestações do público.

No primeiro intervalo do depoimento de Verçosa, ainda pela manhã, o advogado impediu a imprensa de questioná-lo. Chegou a ser ríspido em alguns momentos.
– Não estamos preocupados com as dúvidas de vocês – disse Martins a um grupo de jornalistas.
Minutos antes, Maria do Rosário dirigiu-se a Verçosa para cumprimentá-lo:
– Estás muito bem, hein?

Praticamente toda a bancada petista estava no plenarinho, mas apenas os integrantes do PT na CPI falavam: Ronaldo Zülke e Ivar Pavan. Na galeria, o presidente estadual do PT, Júlio Quadros, e o secretário-geral do partido, Paulo Ferreira, acompanharam a maior parte dos depoimentos. Sem se manifestar.

AS REAÇÕES
O que disseram os deputados sobre o depoimento de Diógenes:
“Ele não explicou as coisas. Está baseado nos livros contábeis que não têm registro em cartório e apresentam contradições. Fez uma longa dissertação na qual fala em traidores. Ele é o maior traidor. Traiu o governador que depositou confiança nele.”
Germano Bonow (PFL)

“Se fosse submetido a um detector de mentiras, o Diógenes não passaria. Suas afirmações foram contraditórias.”
Mário Bernd (PPS)

“Diógenes assumiu para si a responsabilidade do que havia dito na fita. Se existem questões em aberto, são explicações que nós do PT também queremos. Estamos aqui com esse espírito.”
Maria do Rosário (PT)

“O Diógenes não conseguiu explicar o que foram as doações. Nada ficou definitivamente claro. Tenho muitas dúvidas ainda.”
Ciro Simoni (PDT)

“Foi um depoimento contraditório. Questões sobre os recibos, sobre os valores e sobre a quitação do prédio ele não conseguiu explicar. Ele também está negando o que todos os doadores disseram aqui.”
Valdir Andres (PPB)

“O que eles querem é uma investigação contra o PT. O Diógenes pode não ter a noção exata de como foi organizada a contabilidade. Basta que a CPI requisite as cópias dos documentos, mas a parcialidade é tanta que eles só investigam o PT.”
Ivar Pavan, deputado do PT

“Concluímos que ele mentiu para os doadores do clube e para o Luiz Fernando Tubino. E tenho a sensação de que está mentindo para nós.”
Berfran Rosado (PPS)


Itamar cumpre agenda de candidato em São Paulo
Quércia acompanha governador

O governador de Minas Gerais, Itamar Franco (PMDB), cumpre agenda de candidato em São Paulo.
Ontem, fez palestra sobre A Situação Política e Econômica do Brasil: Perspectivas, na Escola de Governo da USP.

Hoje, Itamar embarca para Araraquara, no interior do Estado, onde recebe homenagem na Câmara de Vereadores. Amanhã, Itamar participa de encontro no diretório estadual do PMDB. Na prática, será o lançamento da campanha do governador mineiro à prévia interna. Foram convidados para este encontro os senadores Maguito Vilela (PMDB-GO) e Roberto Requião (PMDB-PR).

O evento foi organizado pelo ex-governador Orestes Quércia, pré-candidato do partido ao governo paulista. Quércia deve acompanhar o governador em todos os compromissos no Estado. A agenda de Itamar em São Paulo se encerram na quinta-feira com uma palestra sobre o tema Um Projeto para o Brasil.


Simon diz que Temer não concorre
Em discurso no plenário, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) garantiu que o presidente de seu partido, deputado Michel Temer (SP), não sairá candidato às prévias do PMDB à Presidência da República.
A informação vinha sendo divulgada pela imprensa e questionada pelo senador Roberto Requião (PMDB-PR).
Simon lembrou que Temer foi eleito presidente do partido, numa disputa acirrada com o senador Maguito Vilela (PMDB-GO), para garantir a realização das prévias para eleição do candidato do PMDB à Presidência, marcar a data das prévias e presidi-la. O senador acredita que Temer fará isso com imparcialidade.
– Se ele for candidato vai ser uma página triste para ele. Ele será uma página virada da nossa vida partidária, as bases não vão aceitar, as lideranças não vão aceitar – afirmou.


Roseana Sarney se consolida em segundo lugar em pesquisa
Levantamento do CNT/Sensus indica liderança de Lula

Com 19,1% na pesquisa estimulada, a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), se consolida em segundo lugar na corrida à sucessão do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Os dados fazem parte da pesquisa encomendada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), realizada pela Sensus Consultoria e divulgada ontem.
O desempenho de Roseana melhora tanto na pesquisa espontânea, na qual o entrevistado aponta seu candidato sem a necessidade de consultar uma lista, quanto na estimulada, quando é feita entre os nomes relacionados pelo pesquisador. Na comparação com o levantamento de setembro, ela arrancou do sexto para o segundo lugar na espontânea – de 1,7% para 6,2% – e distanciou-se do terceiro colocado na estimulada – crescendo de 14,4% para 19,1%.

Entre os candidatos tucanos, nenhum conseguiu chegar ao patamar de 1% na espontânea. Mas, o ministro da Saúde, José Serra (PSDB), melhorou seu desempenho na pesquisa estimulada. Ele cresceu de 4,2% para 4,8% no cenário em que Roseana está no páreo e de 5,6% para 8,2% na simulação sem a presença dela. O número de indecisos ou que não pretendem votar em nenhum candidato é de 54,1% na espontânea e 13,1% na estimulada.

Eufórico com o resultado da pesquisa, o presidente nacional do PFL, Jorge Bornhausen (SC), quer antecipar a data-limite para que os partidos aliados (à exceção do PMDB) comecem a definir os critérios para a escolha do cabeça-de-chapa. Ele acha que as conversações têm de começar até no máxim o o dia 15 de dezembro, último dia de trabalho parlamentar.
Conforme o levantamento, o índice de popularidade de FH manteve-se estável em relação à pesquisa de setembro. Conforme os dados divulgados ontem, a avaliação positiva de FH foi de 22%, em outubro, contra 21,7%, em setembro. A avaliação regular subiu de 36,1% para 38,9% entre setembro e outubro. A negativa caiu de 39,4% para 36,4%.

A mesma pesquisa avaliou também o Índice de Satisfação do Cidadão (ISC), que passou de 44,85 pontos em setembro para 49,04 pontos em outubro. O ISC é obtido por meio de uma média entre a satisfação da população com o país, com o Estado, com o município e com a situação social e econômica pessoal. A pesquisa CNT/Sensus foi realizada entre os dias 23 e 31 de outubro com 2 mil entrevistados de 24 Estados. A margem de erro é de 3 pontos percentuais.


Brizola diz que processará revista, PT e José Vicente
Ex-governador rebateu acusações

O presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, disse ontem que irá processar criminalmente a revista Veja, o PT gaúcho e o próprio filho, o ex-deputado José Vicente Brizola.
Em uma entrevista que durou cerca de duas horas, Brizola afirmou que vai exigir reparações morais na Justiça em razão da reportagem publicada na edição desta semana, segundo a qual o patrimônio dele teria se multiplicado por quatro num período de 20 anos. Pelos cálculos da revista, a soma atinge R$ 15 milhões.

O ex-governador afirmou que tudo o que sua família possui no Uruguai tem uma só origem: os bens herdados de sua mulher, Neusa, morta em 1993, que era irmã do ex-presidente João Goulart.
– Vou querer indenização por essa lesão e responsabilizar criminalmente os autores. Será a guerra aos Civitta – ameaçou Brizola, referindo-se à família que controla a editora Abril e publica a revista Veja.

Segundo o ex-governador, José Vicente estaria sendo usado pelo PT. Atualmente, o filho de Brizola ocupa um cargo no gabinete do secretário da Fazenda, Arno Augustin, como diretor da Loteria do Rio Grande do Sul (Lotergs).
– A degradação humana existe e, quando o indivíduo é o filho da gente, dói bastante – lamentou o ex-governador, emocionado.

Ontem pela manhã, em entrevista ao programa Atualidade, da Rádio Gaúcha, Brizola reiterou que os valores atribuídos pela revista Veja ao seu patrimônio não correspondem à realidade.
O relato do ex-governador deixou transparecer problemas familiares antigos, que justificariam o comportamento de seu filho mais velho. De acordo com Brizola, há oito anos o patrimônio da família foi dividido em seis partes iguais, fato que desgostou José Vicente. Ele teria, então, insistido em receber mais que os irmãos Neusa e João Otávio.

Depois de se descrever como um pai “latino-americano, mas anglo-saxão na hora de ser rigoroso”, Brizola contou que José Vicente se vangloria de ser filho espiritual do governador Olívio Dutra “em e-mails enviados depois da meia-noite”. Para o ex-governador, José Vicente sempre foi “um caso muito difícil”, que largou a faculdade de Engenharia no segundo ano para se dedicar à música.
– Às vezes tenho vontade de mandar para o Olívio a série de e-mails que esse rapaz tem me mandado. Tenho a impressão de que, depois da meia-noite, fica transtornado, baixa algum espírito – disse.

Procurado por telefone, José Vicente não foi localizado. Na secretaria estadual da Fazenda, onde trabalha, a assessoria de imprensa informou que ele não pretende falar sobre o assunto no momento.
Em resposta às declarações de Brizola, o chefe da Casa Civil, Flávio Koutzii, afirmou ontem que “definitivamente as denúncias contra o ex-governador não são uma iniciativa do governo do Rio Grande do Sul”. Segundo Koutzii, o que é evidente e claro é “que a Veja é uma revista que sempre faz a política do Palácio do Planalto”.
– Brizola errou de palácio. É o Palácio do Planalto que neste momento articula uma ofensiva geral contra o PT e o campo progressista. Esse é o sentido do ataque a Brizola – disse.


PSDB poderá presidir CPI do BEC
Diretores do banco começaram a ser ouvidos

O PSDB, partido do governador Tasso Jereissati (CE), poderá ficar com a presidência da CPI que irá apurar, na Assembléia cearense, denúncias de irregularidades em financiamentos feitos pelo Banco do Estado do Ceará (BEC) no segundo mandato de Tasso (1995 a 1998).
O presidente, o vice-presidente e o relator serão escolhidos, hoje. Como os tucanos são maioria deverão ficar com a presidência.

O interrogatório de ex-diretores do banco foi encerrado ontem por volta das 18h. O juiz federal substituto da 11ª Vara, Marcos Mairton da Silva, conseguiu ouvir apenas a ex-diretora de Gestão e Risco, Maria Aurilene Cândido Martins, que não quis dar entrevista. O depoimento dos outros diretores foi remarcado para sexta-feira.


Artigos

É o outro Olívio, Lula
CÉZAR BUSATTO

O candidato do PT à presidência da República, Lula, usou seu privilegiado espaço dominical em Zero Hora para realizar um duplo exercício de competência.
Como companheiro, manifestou a esperada e sincera solidariedade com seu partido, envolvido em profundo desgaste diante das graves acusações formuladas sempre por petistas (Jairo Carneiro e Diógenes de Oliveira). Lula sabe, pelas pesquisas, que estas acusações tornam vulnerável sua candidatura, exatamente onde ela esperava ser forte: na ética.
Competência maior Lula demonstra ao escolher um Olívio, apenas um, para defender. O que divide conta em bares, zeloso com centavos. O amigo de 27 anos. O funcionário do Banrisul que se recusou a viver como ele, Lula, das funções partidárias.

Em sua gestão criou-se um sistema, em tudo laranja, para a obtenção de recursos para sua campanha eleitoral

Lula esquece que no Rio Grande do Sul, hoje, por maior que possa ser o respeito, amizade ou companheirismo dos petistas pelo ser humano Olívio, há um outro, que a ele se sobrepõe: é o governador Olívio Dutra, condutor maior das campanhas do PT, do qual foi candidato e presidente e responsável primeiro pelo governo que, constitucionalmente, comanda.
Habilmente, Lula confunde duas responsabilidades. A primeira, pessoal, suporia e exigiria o envolvimento individual, direto, intransferível de Olívio Dutra. Fosse um militante comum, um cidadão comum e inexistente esta cumplicidade de ordem pessoal, estaria ele ausente, inocente, distante do escândalo do Clube da Cidadania.

Só que candidatos, presidentes partidários e governadores detêm uma segunda e pesada responsabilidade: a responsabilidade política por escolhas de pessoas e critérios. É este segundo Olívio que está sendo julgado pelos gaúchos, já que em sua gestão criou-se um sistema, em tudo laranja, para a obtenção de recursos para sua campanha eleitoral. Onde deixou-se que esse sistema comprasse sedes à vista, enganasse empresários quanto ao destino de recursos, confundisse recibos, datas e valores. Onde permitiu-se um governo em torno do qual alguns tecem uma sombria rede de interesses e outros se defendem gravando fitas.

Em casos assim, é preciso escolher o papel desempenhado pelo responsável político. Um ingênuo, distante dos assuntos mais complexos da política, como financiamento de sua própria campanha? Um omisso que não tomou nenhuma providência sobre o tal esquema, denunciado publicamente há mais de dois anos? Um líder que delega tais tarefas a amigos e deles não cobra resultados nem informações?

Ao contrário do PT do Rio Grande do Sul, gostamos de preservar as pessoas. Em nome disso, apenas pela apresentação de provas irrefutáveis pode-se chegar à condenação de qualquer indivíduo. Mas, no Rio Grande do Sul, igualmente, não gostamos de terceirizar responsabilidades. Preferimos, h istoricamente, cobrar isso dos nossos líderes. É desse Olívio que estamos falando, Lula.


Colunistas

ANA AMÉLIA LEMOS

Os interesses da China
A notícia é alvissareira para os exportadores de calçados do Rio Grande do Sul. A República Popular da China, maior mercado consumidor do planeta, com 1,2 bilhão de habitantes, pode comprar sapatos brasileiros. A boa notícia foi dada a este espaço pelo conselheiro da embaixada da China em Brasília, Fang Ming Di, responsável pelos assuntos de imprensa. “Hoje nós importamos muita soja, carne suína e café”, lembrou o diplomata, que aprendeu a falar português em Macau, ex-possessão portuguesa, agora reintegrada à China, a exemplo do que ocorreu com Hong Kong. Até há pouco tempo, a China era o maior concorrente do calçado brasileiro na disputa pelo mercado norte-americano. Com o aumento do poder aquisitivo da população, beneficiada por uma abertura econômica planejada, o consumidor chinês está querendo comprar produtos de maior qualidade, explica o conselheiro, que vê enormes possibilidades de ampliação do comércio bilateral.

Grande importadora de minério de ferro brasileiro, a China está se preparando para colocar em operação uma hidrelétrica (Garganta do Diabo) maior do que Itaipu e que conta com cooperação da engenharia brasileira na área de grandes barragens. Com o aumento do consumo, até os hábitos alimentares estão mudando. O peixe, abundante no litoral, é caro na região norte, informa o conselheiro Fang. Para atender a essa crescente demanda, o governo chinês fez acordo de cooperação com a Embrapa para produzir, em cativeiro, camarões, peixes de água doce (tambaqui, tucunaré e pescadinha).

O embaixador da China, Wang Yong Xiang, que está há pouco mais de um ano no posto, em Brasília, deve oficializar o convite para uma visita oficial do presidente Fernando Henrique Cardoso, uma retribuição à visita feita pelo presidente Jian Zeming, ao Brasil este ano. A visita que o governador Olívio Dutra fará à China poderá trazer muitas vantagens à economia gaúcha, não só no setor de calçados, mas também em confecções. Em fevereiro, será inaugurada a fábrica de carrocerias de ônibus resultante de uma parceria entre a gaúcha Marcopolo e uma empresa chinesa.
A produção inicial é de 5 mil unidades, mas pode chegar aos 50 mil.


JOSÉ BARRIONUEVO – PÁGINA 10

Entidades cobram do governador os nomes da banda podre da BM
As seis entidades de classe da Brigada estão cobrando do governador que “nomine e torne pública” a banda podre que diz existir na instituição da qual é comandante-em-chefe. “Assim como o governador quer que fitas da CPI sejam tornadas públicas, também nós exigimos que sejam nominados quem a integra e onde está localizada a ‘banda podre’ da Brigada. Até agora as irregularidades e os indícios de crime estão surgindo dentro do seu governo e, na Brigada, quem está sendo processado criminalmente são assessores da Secretaria da Segurança e integrantes de seu próprio gabinete”.
As seis entidades da Brigada cobram providências em nota oficial:“São de sua responsabilidade direta as providências, não só em nominar, como em expulsar, encaminhando à Justiça, sua banda podre, eis que não lhe falta instrumental jurídico, inclusive das leis militares que nos regem. O que não podemos aceitar é que sua omissão como comandante e sua contrariedade por não poder atingir uma CPI que busca esclarecer irregularidades na segurança pública façam com que se volte contra a instituição, acusando seus integrantes de forma inominada, utilizando-se do poder do cargo, tentando macular o bom conceito da Brigada”.
A nota é assinada pelas seis entidades: de cabos e soldados, de oficiais, de subtenentes e sargentos, de inativos, servidores civis e de oficiais especialistas.

Olívio dá autógrafos
Enquanto Diógenes de Oliveira tergiversava na CPI da Segurança, o governador dava autógrafos em livro sobre Orçamento Participativo e Socialismo.
A sessão começou às 19h. Às 22h ainda havia companheiros na fila e a diposição de Olívio era ficar até a última alma.
Sorridente, nem parecia que estava debaixo de mau tempo.
No Exterior – A semana passada foi dedicada pelo governador a uma viagem ao Senegal, para promover o Fórum Social Mundial, que começa a substituir o OP como principal instrumento de marketing do PT. Tudo por conta da viúva, das burras do Estado.

Como foi o passado do bravo guerrilheiro Diógenes de Oliveira
O site www.ternuma.com.br narra a participação de Diógenes de Oliveira na execução do capitão Charles Chandler no dia 18 de outubro de 1968, às 8h15min, em SP. A ação ocorreu às vésperas de Chandler concluir curso de Sociologia e Política na Fundação Álvares Penteado com bolsa da George Olmsted Foundation.
Com todo o repúdio que devemos ter à tortura, vale lembrar a atuação de Diógenes, que ontem declarou que continua “socialista e revolucionário”. O capitão americano foi condenado à morte por um “tribunal revolucionário”, integrado por três integrantes da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). O fato é relatado no livro A Esquerda Armada no Brasil:
“Os terroristas avançaram com o Volks, roubado dias antes, e bloquearam o caminho do carro de Chandler. Nesse instante, um dos meus companheiros saltou do Volks, revólver na mão, e disparou contra Chandler”.
Era, segundo o site, Diógenes de Oliveira, que descarregava, à queima-roupa, os seis tiros de seu Taurus de calibre 38. O relato é de Pedro Lobo, que dirigia o Volks:
“Quando o primeiro companheiro (Diógenes) deixou de disparar, o outro aproximou-se com a metralhadora INA e desferiu uma rajada. Foram 14 tiros. A 15ª bala não deflagrou e o mecanismo automático da metralhadora deixou de funcionar. Não havia necessidade de continuar disparando. Chandler já estava morto. Quando recebeu a rajada de metralhadora emitiu uma espécie de ronco, um estertor, e então demo-nos conta de que estava morto”.
A esposa e o filho de Chandler, que estavam no portão da garagem, gritaram. Diógenes apontou o revólver para o menino, que, apavorado, fugiu correndo para a casa da vizinha.
Alguns dos panfletos deixados no local:
“Justiça revolucionária executa criminoso de guerra no Vietname e adverte a todos os seus seguidores que, mais dia menos dia, ajustarão suas contas com o Tribunal Revolucionário”.
“O único caminho para a revolução no Brasil é a luta armada”.
“A luta armada é o caminho de todo revolucionário no Brasil”.
“Criar um, dois, três, vários Vietnames”.

Ouvidoria receberá reclamações do cidadão
O presidente da Assembléia, deputado Sérgio Zambiasi, instalou ontem o serviço de ouvidoria do poder, que prestará serviço de utilidade pública e recolherá reclamações em relação ao parlamento e ao serviço público em geral. Funcionará das 12h às 19h, sob a coordenação dos deputados Otomar Vivian e Manoel Maria. Telefone 0800-541-2333. Representantes dos demais poderes compareceram à instalação.

Canha, futebol e mulher
Pelos bares da vida, o passatempo de Diógenes é canha, futebol e mulher. Foi o que disse na CPI. Em texto escrito.
As mulheres, dentro e fora do PT, não devem estar satisfeitas por serem colocadas nesta seleção de prazeres e no mesmo patamar. Anos de esquerda e o exílio não foram suficientes para ensinar mais respeito pelo ser humano.

Termômetro eleitoral
Defensores da candidatura de Tarso vão avaliar os estragos no tempo do escândalo do Clube da Cidadania com naturais reflexos no governo Olívio e no PT. As pesquisas eleitorais serão um termômetro importante para Tarso decidir se renunciará a três quartos do mandato.
Só entra se tiver boa perspectiva de vitória.

Omelete poderosa
Do ex-prefeito Raul Pont sobre as gravações l igando o Clube da Cidadania ao jogo do bicho, ontem, no programa Polêmica, da Gaúcha:
– Estamos diante de muito cacarejo e pouco ovo. Precisamos ver o que é ovo e o que é cacarejo.

Sucessos e fracassos
A 3ª Jornada Press & Advertising reúne um primeiro time da política hoje e amanhã, das 9h às 12h: pela ordem, deputados Cézar Schirmer (presidente do PMDB) e Sérgio Zambiasi (presidente da Assembléia, do PTB), hoje; Alceu Collares (ex-governador, do PDT) e Miguel Rossetto (vice-governador, do PT), amanhã.
Do diálogo, participam colunistas de política, sob o tema “Marketing político: sucessos e fracassos”.
Informações: fone 3227-0011.

Reforma na AL
A mesa diretora da Assembléia Legislativa aprova hoje projeto de reforma administrativa, passados 34 anos da última mudança.

Debate na PUC
Os senadores Pedro Simon (PMDB) e Eduardo Suplicy (PT) confirmaram presença sexta-feira, às 20h, em debate na PUC, dentro da série com presidenciáveis promovido pelo centro acadêmico.


ROSANE DE OLIVEIRA

Os mortos não falam
Pela segunda vez nos últimos dias, uma pessoa já falecida vira personagem da CPI da Segurança Pública. Agora é o empresário Antônio Carlos Hilgert, citado por Diógenes de Oliveira como autor de uma doação atribuída à empresa Marcopolo – e negada por seus dirigentes. Na semana passada, a viúva do motorista do governador Olívio Dutra, Celso Ruy Almeida, o Padre, foi à CPI explicar como o marido comprara uma caminhonete colocada sob suspeita pelos deputados.

Os mortos não falam, mas suas almas não conseguem descansar em paz. No caso de Hilgert, Diógenes disse que foi uma doação de R$ 20 mil, sem testemunhas, que ele contabilizou como contribuição da Marcopolo. Embora alertado do erro, não pôde desfazê-lo porque o amigo adoeceu e morreu antes que pudesse trocar o recibo. É possível que a família de Hilgert – como fez a viúva do motorista – possa jogar alguma luz sobre essa doação.
O depoimento de Diógenes acrescentou mais dúvidas à já confusa contabilidade do Clube da Cidadania. A explicação para os R$ 80 mil que o clube teria em caixa no dia 30 de junho de 1998 teve cheiro de uma mini-Operação Uruguai (o empréstimo com o qual Fernando Collor justificava seus gastos superiores à renda). Os valores não se comparam, mas a explicação foi considerada tão frágil quanto a de Collor. Teria sido dinheiro recolhido entre um grupo de amigos e devolvido quando as doações começaram a entrar nas contas.

Esses R$ 80 mil são importantes para a história porque é com eles que Diógenes explica o pagamento da entrada de R$ 50 mil na compra do prédio cedido ao PT. Nessa parte do depoimento, Diógenes disse que “a contabilidade é uma ciência exata, ela não mente”. Faltou dizer que é fácil identificar quando está maquiada.
O problema de saúde de Diógenes, levado para o Instituto de Cardiologia depois de sofrer uma crise de hipertensão, frustrou os planos da CPI de arrancar dele a lista dos amigos que teriam participado do que o deputado Vieira da Cunha chamou de “vaquinha”.


Editorial

Os gastos estaduais

Mesmo com os rígidos controles impostos pela Lei de Responsabilidade Fiscal, a maioria dos Estados brasileiros pretende confirmar a tradição de que o último ano de governo costuma ser o de maior volume de gastos públicos. Levantamento realizado em 21 Estados revela que a maioria projeta investimentos superiores ao deste ano para 2002, apesar de entraves como os constituídos pela falta de energia, pela crise argentina e pelo combate ao terrorismo. Em épocas de maiores dificuldades econômicas, investimentos públicos costumam funcionar como válvula de escape. O aspecto complicador, neste momento, é que alguns dos Estados que planejam gastar mais ainda não conseguiram se adequar às exigências legais da gestão governamental.

Levantamento publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo revela que, das 27 unidades federativas brasileiras, 16 estão enquadradas no limite máximo de 49% dos gastos da receita comprometidos com os salários do Poder Executivo. Baseado em números da Secretaria do Tesouro Nacional, o estudo mostra que outras seis estouraram suas contas com pessoal, faltando informações referentes a outras cinco. Mesmo em minoria, os Estados que ainda não conseguiram se adequar às normas legais são expressivos. A lista é liderada por Rio Grande do Sul (59,6% dos gastos do Executivo com a folha) e Minas Gerais (59,2%), seguidos por Pernambuco, Maranhão, Pará e Goiás.

A incapacidade de alguns Estados equilibrarem suas contas frustra
a sociedade e limita o crescimento

Historicamente, os dispêndios com servidores constituem um indicador importante das finanças de um Estado, pois são vitais para definir a sua real capacidade de investimento. Quanto mais comprometerem o pagamento de impostos com o funcionalismo, menos as unidades da federação terão condições de destinar recursos para áreas que dependem basicamente da atuação estatal, como educação, saúde e segurança, além de obras de manutenção e de ampliação da rede de infra-estrutura. Em conseqüência, a incapacidade de alguns Estados equilibrarem suas contas frustra a sociedade e limita o crescimento do setor privado.

Às vésperas da deflagração de uma nova campanha eleitoral, portanto, é importante que esse debate venha à tona, já que o tema diz respeito direto à sucessão no comando tanto dos Estados quanto do país. A eficiência na administração pública, com base na transparência e no rigor no uso de dinheiro de impostos, é uma cultura que se tornou inevitável a partir da estabilização da economia. Mais cedo ou mais tarde, se não quiserem correr o risco de se isolarem no âmbito federativo, todos os Estados terão que assumir essa postura – mesmo aqueles em que essa tarefa parece difícil de ser levada adiante.


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11/06/2001


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