Doleiro paraguaio era "barriga de aluguel" nas remessas ilegais por Foz do Iguaçu



O esquema de evasão de divisas montado em Foz do Iguaçu depois que o Banco Central concedeu autorização especial para que cinco bancos recebessem depósitos em espécie acima de RS$ 10 mil pelas contas de não residentes, as chamadas CC-5, foi detalhado pelo perito da Polícia Federal, Renato Barbosa, aos integrantes da CPI do Banestado. A constatação mais grave, segundo ele, é que o titular paraguaio da CC-5 não realizava nenhuma ordem de saque do dinheiro depositado na conta.

- O doleiro paraguaio apenas emprestava o nome para a abertura da conta CC-5 nas agências dos cinco bancos em Foz do Iguaçu - contou Barbosa, deixando claro que esse titular não tinha a menor ingerência na movimentação de sua conta bancária.

- Era só uma prestação de favores ao doleiro brasileiro, em que a CC-5 funcionava como uma -barriga de aluguel- - explicou.

Essa interação entre doleiros dos dois países pôde ser identificada pela Polícia Federal depois que houve a quebra do sigilo telefônico dos brasileiros suspeitos de integrarem o esquema de evasão de divisas. Barbosa contou que foram verificadas diversas ligações deles para doleiros paraguaios e também para a agência do Banestado em Nova York. As investigações mostraram que as sedes dessas casas de câmbio no Paraguai, que respondiam por depósitos que alcançavam US$ 300 milhões em contas CC-5 no Brasil, funcionavam em instalações precárias que não correspondiam ao porte da sua movimentação bancária.

Laranjas

Em resposta ao deputado Sérgio Miranda (PC do B-MG), Barbosa explicou que havia 25 contas CC-5 de casas de câmbio e de instituições financeiras paraguaias abertas nas agências dos cinco bancos em Foz do Iguaçu. Essas contas recebiam depósitos de laranjas, parte deles em espécie, de várias praças do país e de vários bancos, mostrando, sempre segundo o perito, que o dinheiro fluía para aquela fronteira brasileira para em seguida ser remetido ao exterior.

Os laranjas ouvidos pela PF comprovaram não ter a menor noção do que era movimentado em suas contas. Barbosa disse que alguns testemunhos mostraram que os laranjas recebiam de R$ 300 a R$ 1.000 para fornecer os documentos exigidos para a abertura de contas bancárias e assinar cheques. Isso permitia que, ao final do dia, houvesse um cheque do laranja, continuou Barbosa, sacando o valor equivalente ao saldo existente na conta.

- Era um cheque nominal a um office-boy do doleiro brasileiro, que sacava o dinheiro em espécie para quebrar a cadeia, já que assim se perde o rastro do dinheiro - afirmou.

Em seguida, continuou o perito, os reais eram colocados em carros-fortes que atravessavam a Ponte da Amizade, que liga Foz do Iguaçu a Ciudad del Leste, para chegar às casas de câmbio e instituições financeiras paraguaias. Essas, por sua vez, realizavam os depósitos nas suas contas CC-5 nas agências dos cinco bancos brasileiros em Foz do Iguaçu, que eram remetidos posteriormente para Nova York.

Sofisticação

O esquema -hierarquizado e com filiais- teve que se sofisticar depois que o Banco Central proibiu, pela Circular nº 2.677 de 1996, que as casas de câmbio fechassem operações em moeda estrangeira. Algumas casas de câmbio transformaram-se em bancos. Foi o que aconteceu com o Banco Integración, no Paraguai, como exemplificou Barbosa, que operava contas CC-5 no Banco Araucária e remetia para o Banestado em Nova York.

- O Banco Araucária comprava reais do Paraguai e precisava entregar dólares. Só que, nessa operação, o dinheiro nem voltava para o Paraguai. Caía no Integración, que remetia direto para o Banestado de Nova York - afirmou o perito.

Esse tipo de irregularidade pôde ser detectado, segundo o perito, porque quando o Araucária foi liqüidado pelo BC -um contador do banco abriu o jogo ao ver a PF, com medo de ser incriminado-. Barbosa disse que a entrega de dólares em Nova York já não tem o carimbo da CC-5, mas que foram identificadas 20 contas de doleiros brasileiros na agência do Banestado naquela cidade. Eram dessas contas, segundo ele, que partiam todas as ordens de partilha do dinheiro remetido por Foz do Iguaçu para os 30 mil beneficiários.

- Só as nove contas no Banestado de Nova York, já mapeadas, com o cruzamento entre origem e destino do dinheiro, representam movimentação de US$ 1 bilhão - informou.



30/07/2003

Agência Senado


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