Economistas descartam dolarização em seminário da CAE



Os economistas convidados para o Seminário "Dolarização versus Pluralismo Monetário nas Américas: A Controvérsia Vista do Brasil", promovido nesta quinta-feira (dia 22) pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) foram unânimes em desaconselhar a adoção da moeda norte-americana como alternativa para a política monetária brasileira.

- Para o Brasil, a utilização do dólar de uma maneira unilateral, seria uma grave perda de autonomia para o governo, que teria em dificuldade para implementar instrumentos de política econômica que um governo soberano deve ter a possibilidade de colocar em prática - afirmou o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), ao final do seminário.

Um dos convidados da tarde, o ex-presidente do Banco Central, Affonso Celso Pastore criticou políticas de câmbio fixo, classificando a dolarização como a pior forma de controle cambial. Na sua opinião, a adoção de uma moeda controlada por outro país faz com que a nação perca a capacidade de se defender de ataques especulativos.

Já o diretor do Instituto de Pesquisa em Relações Internacionais do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, avaliou a crise na Argentina, que, na sua opinião, foi provocada pelo equiparação do peso ao dólar. A medida tomada por aquele país, disse, foi elogiada inicialmente, mas, com o passar do tempo, provou ser ineficiente.

Essa também foi a opinião manifestada pelo professor Eduardo Gianetti da Fonseca, que acredita que a Argentina está "num beco sem saída". Para ele, o Brasil acertou ao se livrar da âncora cambial. Porém, ele ressaltou a diferença entre um processo de unificação monetária negociada, que pode ser positiva, da dolarização.

Segundo Daniel Gleizer, diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, o argumento de que a dolarização levaria à perda da autonomia na condução da política monetária também é utilizado pelos defensores da adoção da moeda dos Estados Unidos, por acreditarem que os países da América Latina são incapazes de conduzir suas economias de maneira adequada pela falta de maturidade de suas instituições. Porém, ele rejeita a tese, por acreditar que o Brasil é capaz de construir mecanismos de fortalecimento e crescimento institucional necessários à estabilidade monetária.

Nesse momento, o senador Roberto Saturnino (PSB-RJ) lembrou que os maiores descontroles monetários da História foram registrados em países europeus e não latino-americanos. Para ele, o Brasil não pode assumir um sentimento de inferioridade e acreditar que a solução está na dolarização, o que poderia liquidar com a soberania nacional.

Antes de encerrar o seminário, Suplicy ressaltou que a integração monetária só pode ser pensada se valer para todos os elementos da sociedade, favorecendo, principalmente, o ser humano.

- Se algum dia ocorrer a integração de nossas economias e das nações isso tem que ser feito num processo de construção institucional em que haja representação de todos, a exemplo do que ocorreu na Europa - destacou.

22/03/2001

Agência Senado


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