FH apelará por reformas
FH apelará por reformas
Nos encontros com os candidatos à Presidência, hoje, no Planalto, presidente pedirá apoio para aprovar projeto que prevê autonomia do Banco Central
Para sensibilizá-los, o presidente Fernando Henrique Cardoso pintará um cenário difícil, hoje, quando abrir as contas públicas aos quatro principais candidatos à sua sucessão. Entre as más notícias, está um buraco de R$ 51,1 bilhões que seu sucessor terá que cobrir para pagar as contas da Previdência em 2003. Para acalmar o mercado e mostrar que está propondo alternativas, Fernando Henrique não tentará obter dos candidatos apoio apenas ao acordo com o FMI, mas também a três propostas que tramitam no Congresso: o fim do efeito cascata na cobrança do PIS/Cofins; o projeto que cria o sistema de previdência complementar privada para o servidor público (PLP-9) e, principalmente, a regulamentação fatiada do sistema financeiro, que prevê, entre outras mudanças, a flexibilização do limite constitucional de 12% de juros ao ano, e a independência do Banco Central.
O presidente também deverá sugerir a aprovação de um projeto que dobra o bônus do trabalhador que adiar seu pedido de aposentadoria. Atualmente, dependendo da idade, o adicional para quem atrasa a data da aposentadoria varia de 2% a 10%.
Essas medidas, diz um integrante do governo, servirão para atenuar a crise financeira. Mas, para o mercado, a mais importante é a revogação do artigo 192 da Constituição, sobre sistema financeiro, que permitiria, por exemplo, a independência do BC. O problema é que não há consenso e especialmente quórum para essas votações. Além disso, os primeiros colocados na disputa à Presidência — Luiz Inácio Lula da Silva e Ciro Gomes — já avisaram que são contra a emenda.
— Para acalmar o mercado, só mesmo a desconstitucionalização do 192. Sem um grande acordo, entretanto, teríamos que pôr 480 deputados em plenário. E isso, agora, é praticamente impossível — admitiu um dos integrantes do governo.
FH tem que correr contra o tempo
Não é só. O governo terá que correr contra o tempo até para aprovar o projeto que dá fim à cumulatividade na cobrança do PIS/Cofins. Apesar de contar com o apoio de quase todo o Congresso — à exceção dos ruralistas — a proposta só poderá ser votada depois da aprovação de uma polêmica medida provisória que tranca a pauta da Câmara, além de dois projetos com urgência constitucional na Casa. Isso nos dias 27 e 28, a pouco mais de um mês das eleições.
— O problema é que estamos a 45 dias da eleição e mobilizar o Congresso agora é praticamente impossível — disse o líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA).
O líder do PSDB, Jutahy Júnior (BA), e o vice-líder do governo no Congresso, o deputado Ricardo Barros (PPB-PR), concordam.
Já o líder do PDT na Câmara, Miro Teixeira (RJ) lembra que pelo menos uma das propostas defendidas hoje pelo presidente — o fim da cumulatividade na cobrança das contribuições — sofreu resistência do governo e, por isso, está estacionada no Congresso. Ele frisa ainda que foi o governo que suspendeu a votação do PLP-9 na Câmara, após sucessivas derrotas na Casa:
— Temos que votar um mundo de medidas provisórias que estão obstruindo a pauta. Isso é quase impossível. Quem as editou foi o presidente Fernando Henrique Cardoso.
O presidente receberá os candidatos à Presidência a partir do meio-dia. O primeiro deles será Ciro Gomes, da Frente Trabalhista. Depois dele, serão Anthony Garotinho (PSB), Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e José Serra (PSDB).
Lula: ‘Brasil está subordinado à especulação financeira e ao FMI’
Às vésperas do encontro com FH, petista ataca equipe econômica em comício em Santos
SANTOS (SP). Diferentemente do tom moderado e conciliador que tem adotado nas entrevistas ao abordar temas relacionados à economia, o candidato do PT a presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, voltou a atacar a política econômica do governo quando se dirige aos eleitores. Em comício no sábado à noite, em Santos, às vésperas do encontro com o presidente no Palácio do Planalto, Lula acusou o governo de subordinar o país à especulação financeira e ao Fundo Monetário Internacional (FMI), o que, segundo ele, impede o crescimento do país e alimenta o desemprego e a violência nas cidades.
— A verdade é que no Brasil de hoje não há emprego para ninguém porque aquela gente que governa em Brasília nunca ficou desempregada. O Malan não sabe o que é o desemprego. O presidente Fernando Henrique Cardoso e o Armínio Fraga (presidente do BC) também não sabem. Se soubessem certamente o Brasil não estaria subordinado à especulação financeira e ao FMI — disse.
Depois de destacar que o emprego é o bem que mais dá dignidade ao cidadão e de dizer que em seu governo a adoção de políticas que estimulem a geração de empregos será uma obsessão, Lula voltou a atacar a equipe econômica do governo:
— Se eles soubessem disso, saberiam também que o único meio de se resolver esse problema da sociedade é o país crescer.
Animado por vários grupos musicais, o comício de Santos contou com um grande aparato na organização e reuniu cerca de cinco mil pessoas. José Genoino, candidato do PT ao governo de São Paulo, e os deputados Aloizio Mercadante, candidato a senador, e José Dirceu, presidente do PT, também discursaram.
Último a falar, Lula escolheu, além do desemprego, a segurança como tema de seu pronunciamento.
Chamando o desemprego de usina da criminalidade, Lula criticou o despreparo da polícia no país. Para ele, a polícia está preparada apenas para cuidar de ladrões de galinha. Falando das dificuldades dos jovens para encontrar emprego e estudar em universidades públicas, ele voltou ao ataque:
— O governo deu R$ 23 bilhões aos bancos e R$ 2 bilhões para um agiota italiano (Salvatore Cacciola). Um governo que tem dinheiro para isso não pode dizer que não tem dinheiro para financiar um menino pobre que quer estudar.
Ciro diz que mercado impede voto livre no país
Na véspera do encontro com o presidente Fernando Henrique, o candidato da Frente Trabalhista (PPS-PTB-PDT) à Presidência, Ciro Gomes, insinuou ontem que o mercado financeiro, com suas constantes oscilações atribuídas aos reflexos do cenário eleitoral, está impedindo que os eleitores escolham livremente seus candidatos à Presidência. Ciro, em discurso feito em um carro de som, na Avenida Atlântica, disse que os brasileiros estão sendo vítimas do terrorismo econômico na hora de escolher em quem votar:
— Temos o direito de votar livremente em quem acharmos que devemos. Eles não querem nos permitir. É o terror econômico. É sempre uma ameaça de crise. É uma tentativa de domesticar o pensamento rebelde do povo brasileiro.
Ciro passa a tarde discutindo reunião com FH
Ciro voltou a endurecer o discurso contra a política econômica, mas se recusou a comentar o encontro de hoje com o presidente.
— Posso lhes dizer, com muita tristeza, que o nosso país, co$çado pelo mundo inteiro, está posto de joelhos diante da agiotagem internacional — disse o candidato, que passou a tarde de ontem reunido na casa do ex-governador Leonel Brizola, candidato ao Senado pelo PDT.
No cardápio, além de bobó de camarão e torta de banana, a $ão de hoje com o presidente e os eventos de campanha desta semana, em Tocantins.
O líder do PTB na Câmara, Roberto Jefferson (PTB), que estava no encontro, afirmou que Ciro terá que manter o equilíbrio durante o encontro:
— Tem que ser muito sereno $afirmar o credo no Brasil.
Ciro, que fez o percurso em cima de uma caminhonete, a toda hora trocava afago s com a mulher, Patrícia Pillar, que foi a estrela da carreata: deu autógrafos e ganhou presentes dos banhistas. Ele e Patrícia se alternavam, carregando uma $do Brasil. Durante o percurso, o grupo cruzou com militantes de outros partidos, como os de Rosinha Matheus, candidata ao governo do estado pelo PSB. Ciro Gomes parou para cumprimentar o cantor Agnaldo Timóteo, que dava autógrafos em seu CD, na orla.
Brizola: "Só a fraude pode tirar essa vitória"
Brizola, em discurso, afirmou que Ciro Gomes já está eleito presidente:
— Só a fraude pode tirar essa vitória do povo brasileiro. Não tentem fazer essa violência contra o povo.
Ciro pediu o voto dos cariocas e dos fluminenses contra a roubalheira que, segundo ele, existe no país:
— Se não for para mudar, vamos escolher outro. Mas se for para mudar com compromisso, eu peço ao povo do Rio de Janeiro que se junte a nós nessa caminhada. Nelas são bem-vindos todos os brasileiros de fé, que não aceitem ficar de braços cruzados diante da ladroeira impune quer infesta a vida pública brasileira.
Equipes buscam vítimas de queda de helicóptero
PORTO ALEGRE. Navios da Marinha, equipes do Ibama e pescadores de povoados próximos à localidade de Mar Grosso, em São José do Norte (RS), retomam hoje as buscas a dois civis e um militar que estavam no helicóptero que caiu sexta-feira passada no litoral sul gaúcho. No Esquilo UH-12, do 5 Esquadrão de Helicópteros viajavam três militares e dois civis.
Sábado foram encontrados os corpos de dois oficiais da Marinha: o tenente Eduardo de Souza Campos e o capitão Marcelo Muniz Reis, ambos do Rio. Os corpos foram enviados ontem ao Rio para o sepultamento.
Continuam desaparecidos os fiscais do Ibama José Alfredo Gonçalves e Elvir Martins, além do cabo da Marinha José Adeildo da Silva Mello. Destroços do helicóptero foram achados ontem na Praia de Mar Grosso e as buscas se concentram na região. O grupo fazia viagem de inspeção contra a pesca clandestina no litoral gaúcho.
Vices repetem estratégias de seus candidatos
Alencar evita polêmica, Paulo Pereira da Silva critica política econômica, Rita é evasiva na defesa do governo e José Antônio provoca adversários
No primeiro debate entre os candidatos a vice-presidente, promovido ontem pela TV Bandeirantes, os quatro participantes procuraram repetir a estratégia dos candidatos a presidente de suas chapas. O empresário José Alencar, candidato a vice de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), evitou polêmicas. Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, companheiro de chapa de Ciro Gomes (PPS), defendeu mudanças na economia e criticou o governo federal. Rita Camata, candidata a vice de José Serra (PSDB), não foi enfática ao defender o atual governo. E José Antônio de Almeida, que integra a chapa de Anthony Garotinho (PSB), foi o que mais provocou os adversários com perguntas contundentes.
O debate, apesar do esforço dos participantes em seguir à risca a cartilha de suas chapas, foi mais morno do que o programa da TV Bandeirantes que reuniu os candidatos a presidente, há três semanas. Mesmo Paulinho, que se mostrou mais à vontade diante das câmeras, atrapalhou-se ao explicar as denúncias sobre irregularidades na gestão do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) envolvendo a Força Sindical.
Pouca polêmica faz debate morno
O debate começou com uma pergunta única a todos os candidatos sobre segurança. José Alencar, o primeiro a responder, quase não falou sobre o assunto, pois perdeu mais da metade do tempo cumprimentando os integrantes da mesa. Em outras oportunidades, ele fez elogios a Rita Camata e a José Antônio de Almeida. O candidato a vice do PSB, na sua resposta, disse que fuzis AR-15 não eram fabricados no Rio, repetindo frase muito usada por Garotinho no tempo em que governava o Rio. Paulinho respondeu que a melhor forma de combater a violência é incentivar o emprego e Rita criticou o excesso de policiais em funções internas.
O programa esquentou um pouco mais a partir do segundo bloco, quando os candidatos fizeram perguntas entre si. José Antônio cobrou esclarecimentos a Paulinho sobre a denúncia de que uma empresa contratada pela Força Sindical teria feito 32 inscrições no FAT repetindo o CPF. O sindicalista respondeu que o candidato desconhecia as regras do FAT e tentou explicar o que teria levado à repetição da inscrição.
Rita faz defesa de Serra
Já no terceiro bloco, José Antônio perguntou a Rita Camata sobre as metas de José Serra para enfrentar o desemprego e afirmou que o candidato tucano, quando era ministro da Saúde, havia demitido 5,9 mil mata-mosquitos no Rio, abrindo caminho para a epidemia da dengue no estado.
— Temos compromissos em ampliar as oportunidades e José Serra fez isso como ministro, ao lançar o programa Saúde da Família, que contratou equipes para cuidar de mais de 5 milhões de pessoas. Com relação aos mata-mosquitos, o que houve foi uma transferência para os estados — respondeu Rita.
Paulinho, em seguida, provocou José Alencar. Perguntou se o empresário concordava com a proposta do PT de reduzir a jornada semanal de trabalho para 40 horas.
— Estamos entrando cada vez mais no mercado globalizado. Existe uma organização do trabalho chamada OIT. Há países que já estão levando a sério a redução da jornada. Não sou contra, a priori, embora seja empresário.
Paulinho usou a réplica para atacar Lula:
— A proposta de seu candidato vai causar desemprego e inflação.
No bloco de perguntas feitas por jornalistas, Rita Camata aproveitou uma indagação sobre a sua contribuição para a campanha de Serra, em queda, para valorizar a sua condição de mulher.
— Sou mulher e uma mulher sabe o que é a luta de outra mulher — declarou, provocando o único momento de aplausos na platéia.
Mas, em seguida, ao comentar a resposta de Rita, o sindicalista Paulinho repetiu literalmente a pergunta de Ciro Gomes a José Serra, no debate entre os candidatos a presidente, cobrando explicações sobre o dinheiro apurado nas privatizações.
— Quero lembrar que os crimes que o candidato Paulo Pereira quer federalizar já são federais. E, com relação ao FAT, é preciso lembrar que este programa foi um trabalho de José Serra — disse Rita, deixando a pergunta sobre privatizações sem resposta.
No encerramento, o trabalhador foi o assunto central dos quatro candidatos. José Alencar destacou que jamais na História do Brasil houve uma transferência de renda, em prejuízo dos pobres, como a registrada nos últimos anos. Segundo ele, o compromisso de Lula é com os esforços para favorecer o trabalho, “que nasceu antes do capital”.
Paulinho destacou números sobre desempregados e frisou que Ciro Gomes valorizará os salários. Rita também se disse candidata numa chapa que tem compromisso com o emprego, mesmo tema usado por José Antonio de Almeida para afirmar que Garotinho mudará o mercado financeiro para distribuir a renda nacional.
‘Sei cantar e sou afinado’
SÃO JOÃO DEL REY (MG). Com humor inabalável, pelo menos em público, o candidato tucano José Serra revelou, na noite de sábado, que se preparou a vida inteira para ser presidente da República. A revelação foi feita logo após ser divulgado o resultado da pesquisa Datafolha, em que perdeu três pontos e Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, cresceu quatro. Mostrando confiança de que o jogo ainda não está perdido, Serra cantou e dançou nos comícios realizados em São João del Rey e Barbacena, ao lado de Aécio Neves (PSDB), candidato ao governo de Minas Gerais.
— Lutei a minha vida toda e devo confessar que, olhando para trás, eu me preparei a vida inteira para ser presidente do Brasil — disse Serra, lembrando da época em que foi presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE). < BR>
No fim do comício em São João Del Rey, Serra cantou a música “Cerveja” puxada pelo cantor sertanejo Leonardo. Tentando convencer o eleitorado de que é simpático e desenvolto, disse:
— Sei cantar e sou afinado. Sei dançar muito bem. Sei fazer muito bem tudo que as pessoas acham que eu não sei — afirmou o candidato, que tem fama de ser sério e mal-humorado.
Serra evitou comentar pesquisas, afirmando que ainda não tinha conhecimento dos novos resultados. Mas se mostrou otimista e afirmou que vai ganhar “o campeonato”. O comício reuniu 25 mil pessoas, segundo cálculos da Polícia Militar. Serra fez questão de lembrar sua ligação com o ex-presidente Tancredo Neves, natural de São João Del Rey.
Ao chegar na cidade, o candidato visitou a viúva de Tancredo, dona Risoleta Neves, que está com 80 anos, e ficou emocionado. O cantor Leonardo ficou encarregado de dar um ar mais popular ao comício, improvisando um novo refrão para a música “Cerveja”.
— Hoje é sábado, dia de alegria. Serra na Presidência é trabalho, trabalho, trabalho... para a gente — esforçou-se Leonardo, sendo acompanhado por Serra.
Artigos
Imprensa, memória da cidadania
Carlos Alberto di Franco
Perguntam-me alguns, em seminários e debates, se o jornalismo de denúncia não estaria extrapolando as suas funções e assumindo tarefas reservadas à polícia e ao Poder Judiciário. Outros, ao contrário, preocupados com reiterados precedentes de impunidade, gostariam de ver repórteres transformados em juízes ou travestidos de policiais.
Um exame sereno, no entanto, indica um saldo favorável ao esforço investigativo dos meios de comunicação.
O despertar da consciência da urgente necessidade de uma revisão profunda da legislação brasileira, responsável maior pelo clima de imoralidade nos negócios públicos, representa um serviço inestimável prestado pela imprensa deste país.
O ex-juiz Nicolau dos Santos Neto, para citar um caso que já pode ser analisado sem nenhum tipo de paixão, não é, como alguns imaginam, um solitário gênio da corrupção. Armado de notável desenvoltura na prática do desvio de verbas públicas, ele aproveitou como ninguém as brechas abertas pelo próprio sistema. Foi um elo, certamente o mais expressivo, de uma disciplinada linha de montagem que dá suporte à industria da corrupção. Setores do governo e da oposição tiveram, voluntariamente ou não, alguma participação na aprovação dos créditos suplementares para a construção da sede do TRT de São Paulo.
A denúncia, para além das gravíssimas evidências de corrupção, levantou importante questionamento a respeito da fragilidade do esquema de elaboração do Orçamento. A imprensa não ficou na denúncia do crime. Foi às raízes do problema. Mostrou os vícios de uma estrutura que precisa ser mudada. Caso contrário, delitos análogos reaparecerão com muita freqüência.
A exposição da chaga, embora desagradável, é sempre um dever ético. Não se constrói um país num pântano. Impõe-se o empenho de drenagem moral. E só um jornalismo de denúncia, comprometido com a verdade, evitará que tudo acabe num jogo de faz-de-conta. Os meios de comunicação existem pra incomodar. Um jornalismo cor-de-rosa é socialmente irrelevante. A imprensa, sem precipitação e injustos prejulgamentos, está desempenhando importante papel na recuperação da ética na vida pública.
Mas o jornalismo de denúncia, numa rigorosa prestação de serviço, pode e deve ir ainda mais longe. Resgato hoje, neste espaço opinativo, uma sugestão editorial que venho defendendo há anos. Não seria má idéia inaugurar o Placar da Corrupção. Mensalmente, por exemplo, a imprensa exporia um quadro didático dos principais escândalos: o que aconteceu com os protagonistas da delinqüência, as ações concretas ou as omissões dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Não se trata de transformar a mídia numa espécie de contrapoder, mas numa instância de uma sociedade freqüentemente abandonada por muitas de suas autoridades.
Inauguremos também o Mapa das Promessas. É fácil. Basta recorrer aos arquivos e bancos de dados. Os políticos, pródigos em soluções de palanque, não costumam perder o sono com o rotineiro descumprimento da palavra empenhada. Afinal, para muitos deles, infelizmente, a política é a arte do engodo. Além disso, contam com a amnésia coletiva. Ao jornalismo cabe assumir o papel de memória da cidadania. Precisamos falar do futuro, dos projetos e dos planos de governo. Mas devemos também falar do passado, das coerências e das ambigüidades. É absurdo, por exemplo, que ex-governantes, conhecidos por sua histórica capacidade de destruir patrimônios, endividar administrações e inviabilizar a gestão de seus sucessores, reapareçam como exímios tocadores de obras. A imprensa tem o dever de refrescar a memória do eleitor.
O Brasil depende, e muito, da qualidade ética da sua imprensa. A opinião pública espera que a mídia, apoiada nos crescente aprimoramento dos seus recursos humanos e nas balizas éticas, prossiga no seu ânimo investigativo.
Colunistas
PANORAMA POLÍTICO – Tereza Cruvinel
O jogo tucano
Os tucanos decolaram em 1994 para um projeto de 20 anos no poder, mas podem estar sendo obrigados a um pouso forçado em outubro. A turbulência política na nave pilotada pelo senador José Serra abriu feridas na fuselagem e espalhou penas ao vento. A nave continua voando baixo, e à medida que o horizonte se distancia muitos tucanos começam a refletir sobre o terreno da descida.
Se a tendência na vitória eleitoral é a de sublimar ressentimentos e relevar as traições, isto não ocorre na débâcle . A passagem para o segundo turno em 6 de outubro é considerada um divisor de águas no PSDB.
— Se o Serra passar, todos se unem. Os ratos que saíram do barco voltam e vamos acolhê-los — resume o vice-presidente do PSDB, Alberto Goldman (SP).
Nesse contexto o comando do PSDB se manteria com os paulistas e o ex-governador Tasso Jereissati, mesmo com algum constrangimento, seria reincorporado à caravana. E mesmo que vitorioso no primeiro turno em Minas Gerais, o atual presidente da Câmara dos Deputados, Aécio Neves, ocuparia uma posição de coadjuvante.
A correlação de forças interna muda completamente se Serra não for para o segundo turno. Para fora, o partido se apresentaria dividido com apoios tanto para o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, quanto para o candidato do PPS, Ciro Gomes. Internamente, o PSDB de São Paulo dividiria poder com Tasso Jereissati — este na condição de senador e de vitorioso, ao lado de Ciro Gomes — e o provável governador Aécio Neves. A fragilidade dos paulistas será ainda maior caso o governador Geraldo Alckmin não se reeleja.
Nesse cenário, os serristas, mesmo enfraquecidos, pretendem um acerto de contas. Isso faria de Aécio Neves uma liderança sem contestações, enquanto a força de Tasso Jereissati estaria mais vinculada à presença de Ciro Gomes no Palácio do Planalto.
Essas mudanças e dificuldades internas não significam o definhamento do projeto partidário. O PSDB deve eleger o maior números de deputados federais, terá uma bancada equivalente à atual no Senado (14 de 81 senadores) e vai eleger cinco ou seis governadores. Com tal musculatura, seus principais líderes avaliam que tanto Lula quanto Ciro vão precisar do PSDB para construir a governabilidade.
As portas do Sul foram abertas para Ciro Gomes. No próximo sábado, em São Borja, comício vai reunir no mesmo palanque Ciro Gomes, Leonel Brizola e Antônio Britto.
Sarney abre o coração: Lula
As conversas entre o senador José Sarney (PMDB-AP) e o presidente do PT, deputado José Dirceu (SP), não são mais segr edo desde a última sexta-feira, quando foram noticiadas pelo GLOBO. Só faltava o próprio Sarney falar a respeito do assunto. O ex-presidente diz que ainda não decidiu seu voto, mas abre o coração:
— A minha simpatia é pelo Lula. Ele amadureceu. As derrotas anteriores o ajudaram. Ele tem mais humildade e mais experiência. Além disso, temos que passar por uma alternância de poder. Tudo leva a crer que o povo já decidiu que esta é a vez do Lula.
O ex-presidente lembra que alertou a direção do PMDB de que a coligação com o PSDB levaria o partido ao fracasso. Agora Sarney defende a convocação de uma convenção para que o PMDB se posicione para o segundo turno:
— O partido não pode errar mais.
Com a candidatura José Serra atravessada na garganta, Sarney afirma que a estratégia tucana, de destruir a imagem de seus adversários, não deu certo.
Imagens
Cada candidato tem sua estratégia para o encontro com o presidente Fernando Henrique no Palácio do Planalto. Lula levará propostas para enfrentar a crise, preocupado em mostrar que é portador de um projeto alternativo para o país. Ciro vai disposto a desfazer a idéia de que é o candidato do confronto. E José Serra levará os presidentes do PSDB e do PMDB para ressaltar que seu governo teria maioria no Congresso.
Para a platéia
O líder do governo na Câmara, deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP), está descrente com o esforço concentrado dos dias 27 e 28 de agosto. Diz que tem muita gente jogando para a platéia. Lembra que o projeto do fim da cumulatividade do PIS está há meses pronto para ser votado e nada. Esta realidade pode mudar hoje, depois que o presidente Fernando Henrique Cardoso se reunir com os candidatos à sua sucessão.
O TUCANO José Serra anuncia quinta-feira, em Orlândia (SP), o seu programa de governo para a agricultura. O candidato decidiu que também terá uma proposta específica para o Nordeste e outra para o meio ambiente.
O ESPIRITUOSO ex-ministro da Justiça no governo José Sarney Saulo Ramos anda dizendo por aí que “deram um tiro na Roseana e o Ciro saiu pela culatra”.
OS GOVERNADORES Hugo Napoleão (PFL-PI) e Joaquim Roriz (PMDB-DF) foram aconselhados a não colar suas candidaturas à de Serra para não serem contaminados.
Editorial
PONTO DE ENCONTRO
Estão chegando à etapa final os estudos de viabilidade para a instalação, no Rio de Janeiro, de uma filial do Museu Guggenheim de Nova York. O projeto continua a dividir corações e mentes: muito entusiasmo por parte dos seus idealizadores e da prefeitura; questionamentos do lado de artistas e arquitetos — os primeiros, sobretudo, querendo saber o que representaria este novo museu num cenário cultural onde instituições importantes vêem-se à míngua de recursos.
A favor do projeto, pode-se dizer que ele seria uma atração a mais na paisagem carioca, com tudo o que isso representa de incentivo ao turismo. Mas os estudos de viabilidade precisam, realmente, contemplar o conjunto do cenário, para que ninguém se sinta prejudicado por uma obra que, para dar certo, precisa de apoio e adesão gerais. Outro aspecto positivo é o impulso que um Guggenheim daria — instalado no píer da Praça Mauá — ao esforço de revitalização do Centro da cidade. Sozinho numa área que ainda é mal freqüentada e mal utilizada, ele certamente não responderia às expectativas que se formaram. Dentro de um projeto maior, pode vir a fazer muito sentido.
É o caso da idéia de reaproveitar os antigos armazéns da Cibrazem como espaços para restaurantes, lojas, teatros, cinemas e locais de exposição. A Secretaria municipal de Obras tem planos de recuperação de ruas degradadas em toda a redondeza. Todo esse movimento, entretanto, só estará completo quando o Centro do Rio se converter, de fato, no que chegou a ser impensável: um local de moradia. O que, por sua vez, depende de medidas específicas na área da segurança.
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08/19/2002
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