FHC incorpora discurso de Serra em campanha oficial









FHC incorpora discurso de Serra em campanha oficial
Nova propaganda tem como lema "os oito anos que mudaram o Brasil"

A poucos meses da eleição presidencial, o Palácio do Planalto prepara uma reforma na propaganda oficial: as campanhas do governo terão como lema ""os oito anos que mudaram o Brasil" -uma referência aos dois mandatos do presidente Fernando Henrique Cardoso.

A idéia é contar a história dos oito anos do governo FHC e tentar mostrar que o Brasil de hoje é ""completamente diferente" do país de oito anos atrás. Na área social, o discurso será o de que muito foi feito, mas que muito ainda precisará ser. Aliás, o mesmo discurso de lançamento da pré-candidatura do ministro José Serra (Saúde) a presidente, no mês passado. O governo, obviamente, nega a relação, que é evidente.
A nova política foi elaborada pelo secretário de Comunicação, João Roberto Vieira da Costa, ex-assessor de comunicação de Serra. Mas todas as campanhas institucionais a serem apresentadas a partir de março contam com a assessoria do publicitário Nizan Guanaes (ex-DM9), consultor de FHC para assuntos de marketing -e que tem sido responsável pelos programas de TV do PFL. Nizan está sendo sondado para fazer a campanha de Serra.

Estabelecendo um "eixo de comunicação", como se diz no Planalto, o governo tenta evitar a dispersão de esforço e dinheiro. No último dezembro, por exemplo, foi registrado o mais elevado gasto de publicidade de 2001 (que alguns cálculos estimaram em R$ 111 milhões). Mas nada teria sido agregado à imagem do governo.

A partir de agora, a intenção do governo é evitar peças como uma que estava sendo preparada pelo Ministério da Integração Nacional, que era uma espécie de "eu fiz isso", "eu fiz aquilo" do ministro Ney Suassuna, que quer se candidatar a governador da Paraíba.
O total de gastos da administração direta com publicidade institucional, previsto para 2002, é de R$ 147 milhões. A maior parte da verba deve ser consumida até julho. A partir desse mês, até a eleição, o governo ficará impedido de gastar com publicidade oficial.

Reunião aberta
FHC comanda amanhã a última reunião do atual ministério para sinalizar que o governo continuará trabalhando, mesmo com a campanha eleitoral.

Dos 26 ministros, 14 deverão deixar seus cargos até o dia 6 de abril, quando termina o prazo de desincompatibilização para os candidatos às eleições de outubro. Diferentemente das outras reuniões ministeriais, realizadas no salão oval do Palácio do Planalto, a portas fechadas, a de amanhã está marcada para o auditório e deverá ser aberta à imprensa.

Segundo a Casa Civil, os ministros deverão fazer um balanço dos projetos prioritários dos seus ministérios. Os que saem deverão indicar claramente o que ficará pendente para seus sucessores.

O perfil do próximo ministério ainda não está definido, mas não deverá ser essencialmente técnico, porque o governo precisará se contrapor às críticas que inevitavelmente surgirão em todas as áreas na campanha eleitoral.

Os ministros "políticos" deverão ser recrutados preferencialmente entre os senadores que têm mais quatro anos de mandato e não serão candidatos em outubro. Eles já vão entrar com uma agenda de trabalho definida e o Orçamento "amarrado" aos projetos prioritários do governo, que deverão ser listados um a um durante a reunião.

Os primeiros ministros a deixar seus cargos serão Raul Jungmann (Desenvolvimento Agrário), no próximo dia 17, e Serra, no dia 20.

Os demais ficarão até o fim de março ou início de abril, a menos que haja determinação de FHC.


Ministro e Garotinho trocam ataques
Os pré-candidatos à Presidência do PSB, o governador Anthony Garotinho (RJ), e do PSDB, o ministro da Saúde, José Serra, trocaram acusações sobre a dengue e o uso indevido da máquina pública.

O governador desembarcou ontem em Brasília dizendo que Serra é o responsável pela proliferação do mosquito transmissor da dengue no Rio. Serra, por sua vez, disse que Garotinho precisa deixar de fazer "frufru" e "jogo de empurra" e começar a trabalhar no combate à epidemia no Estado.

"Avisei ao ministro que ele não deveria demitir os 6.000 mata-mosquitos [agentes de saúde" e que poderia acontecer esse problema. Mas ele disse que assumiria a responsabilidade total: agora assuma", declarou Garotinho, sobre demissões em 2000. "Quem pariu o mosquito que cuide dele."

O ministro da Saúde respondeu afirmando que, em janeiro deste ano, o número de casos de dengue caiu em 21 Estados, mas "subiu muito no Rio, onde está concentrada metade dos casos da doença no Brasil": "O governador do Rio precisa parar de se comportar como um garotinho e começar a trabalhar", disse o candidato tucano: "Se ele estivesse trabalhando em vez de ficar fazendo frufru e jogo de empurra, a situação no Rio de Janeiro certamente seria melhor".

Garotinho anunciou que estuda a abertura de processo contra o tucano por uso da máquina, devido às viagens que Serra faz como ministro e candidato. Serra ironizou: "Vindo de quem vem, só pode ser gozação", em referência às viagens que Garotinho pelo país.

O governador esteve em Brasília com a maior comitiva de seu governo, que viajou em um jatinho particular. "É difícil separar o candidato do governador, mas eu tenho esse cuidado e evito situações que levantem suspeitas. Estou indo para Presidente Prudente (SP), o partido que vai pagar", disse.

Ele se reuniu com o ministro da Fazenda, Pedro Malan, para convencer o governo a aceitar a liminar do Supremo Tribunal Federal que garante ao Estado do Rio redução de 80% nos pagamentos da dívida refinanciada com a União. Ele ironizou as conversas entre o pré-candidato Ciro Gomes (PPS) e o presidente do PDT, Leonel Brizola, dizendo que será importante para Ciro ter Brizola como "especialista em segurança", e confirmou ter convidado para vice o senador José Alencar (PL).

Inaugurou a sede do PSB em Brasília e lançou pré-candidatos nas eleições do Distrito Federal: o deputado distrital Rodrigo Rollemberg como pré-candidato ao governo e o advogado Reginaldo de Castro ao Senado. Confirmou ainda intenção de convidar o presidente do Superior Tribunal de Justiça, Paulo Costa Leite, para disputar uma vaga na Câmara.

Serra, que estava ontem em São Paulo, decidiu constituir um conselho político para assessorá-lo na campanha presidencial. Enquanto Serra define os nomes do conselho, o PSDB reunirá os presidentes dos diretórios regionais hoje, em Brasília, para acertar detalhes da convenção marcada para o próximo dia 24 e do programa de TV do partido em março.


Tucanos de SP discutem segurança
Atingido pela crise de segurança em São Paulo e preocupado com as consequentes repercussões no projeto tucano de reeleger o governador Geraldo Alckmin, o PSDB paulista reuniu ontem suas bancadas federal, estadual e municipal para configurar um plano de ação no combate à violência.

Por iniciativa da executiva estadual, os parlamentares tentaram sintonizar os trabalhos e definir o papel de cada bancada, adotando um discurso de que estão unidos contra a insegurança.

Em um encontro de quatro horas com o secretário de Segurança Pública do Estado, Saulo de Castro Abreu Filho, os parlamentares definiram quais projetos de lei são prioritários e devem ser aprovados, tanto na Assembléia quanto na Câmara dos Deputados.

Desde a morte do prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), as relações entre Alckmin e o presidente Fernando Henrique Cardoso estavam estremecidas. O presidente defendeu que a crise na segurança era um problema estadual, enquanto Alckmin tentou trazer para o debate o papel do governo federal nas questão.
O clima ficou ainda pior quando, na semana passada, o governo federal não colocou em sua pauta de prioridades para este ano projetos sobre segurança. Pegou mal. O governo voltou atrás e decidiu considerar prioritárias medidas relacionadas à segurança.

"Demos um passo importante ao unificar as bancadas federais e estaduais para podermos agir", afirmou o presidente estadual do partido, Edson Aparecido.

O diretório estadual já decidiu que metade das quinze inserções a que o partido tem direito em fevereiro será destinada à divulgação das ações do governo de São Paulo na área de segurança.

Quinze prefeitos tucanos da Grande São Paulo foram orientados a buscar uma maior interação entre a Guarda Civil Metropolitana e a Polícia Militar.

Está também nos planos dos tucanos a ida a Brasília de líderes dos partidos na Assembléia para cobrar ações dos deputados federais sobre a questão. "Segurança pública é uma tarefa coletiva", disse o presidente da Assembléia Legislativa, Walter Feldman, que conversou ontem por telefone com o presidente do Senado, Ramez Tebet (PMDB-MS), para marcar a visita dos deputados ao Congresso.


Brizola deve apoiar Ciro e se candidatar a deputado federal
O presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, deverá ser candidato a deputado federal nas eleições deste ano com dois objetivos: ser o "puxador de legenda" do partido no Rio e viabilizar que o partido consiga um mínimo de 5% dos votos para deputado federal em todo o país.

Essa é a votação mínima que cada partido precisa conseguir, na eleição da Câmara, para manter o direito a tempo de TV superior a dois minutos por semestre.

Os 5% terão de se distribuir por nove Estados, com um mínimo de 2% dos votos de cada um. Em 1998, o PDT foi o último colocado dos sete partidos que conseguiram esses índices.
Os pedetistas avaliam que o ex-governador do Rio Leonel Brizola (1983-1986 e 1991-1994) terá entre 500 mil e 600 mil votos como candidato a deputado federal no Estado, conseguindo com isso eleger outros candidatos da legenda.

Ciro e Brito
Brizola praticamente fechou anteontem a participação do PDT na aliança que lançará a candidatura de Ciro Gomes (PPS) à Presidência. No dia 21, em Brasília, uma reunião conjunta das executivas nacionais do PDT, PPS e PTB deve sacramentar a aliança.

Perto da zero hora de segunda, após quase seis horas de reunião, Brizola, 80, demonstrava -em entrevista ao lado de Ciro, Roberto Freire (presidente do PPS), José Carlos Martinez (presidente do PTB), e do deputado federal Roberto Jefferson (líder do PTB no Congresso)- estar completamente ganho para a aliança.

"O doutor Ciro Gomes é o mais preparado de todos os candidatos que estão aí para tirar o nosso país desse buraco", afirmou. Para que a aliança se concretize, o pré-requisito é que os três partidos consigam articular chapas comuns para governador e senador em todos os Estados.

De acordo com membros do PDT próximos a Brizola, ficou acertado que, para viabilizar a aliança no Rio Grande do Sul, o ex-governador Antônio Brito (PPS), inimigo do PDT local, deverá ser convencido a concorrer a deputado federal e não a governador, como pretendia o PPS.


PT investe em conversa com banqueiros
Provável candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva colocou como uma das prioridades a realização de encontros de sua equipe com investidores internacionais, banqueiros e empresários nos próximos meses, para desfazer ao menos em parte o receio que eles têm de uma vitória sua.

O ator principal dessa movimentação é o braço direito do presidenciável para assuntos econômicos, o professor da Fundação Getúlio Vargas Guido Mantega. Para as próximas semanas, Guido já tem agendados encontros. Alguns de seus interlocutores recentes foram diretores dos bancos de investimentos norte-americanos J.P. Morgan e Merril Lynch e do Citibank, entre outros.

Os encontros vêm desde o ano passado e têm se tornado mais frequentes. No final de 2001, uma das reuniões de Mantega foi com diretores da agência de classificação de risco Standard & Poor's.

Lula não comparece com frequência aos encontros, em razão de sua agenda de candidato, mas esteve no ano passado em reuniões com o banco BBV e as empresas Telefônica e Embraer.

"Há uma certa dose de desinformação entre meios econômicos e financeiros internacionais sobre o que propõe o PT, por não terem condições de acompanhar tão de perto o Brasil", diz Mantega.

Ele declara que não é de se estranhar a apreensão demonstrada por alguns empresários estrangeiros no Fórum Econômico Mundial, em Nova York. "Ao mesmo tempo, há grande curiosidade deles. Praticamente não tem semana em que eu não tenha encontros", diz.

O mote principal das conversas, de acordo com o assessor de Lula, é sempre a expectativa quanto ao projeto econômico do partido.

"O que digo é que o nosso projeto de governo muda para melhor o atual eixo da política econômica, mas respeita contratos e a legislação", declara o professor.


Grupo vaia manifestantes contra os EUA
Toda vez que houve uma grande passeata, a certa altura um grupo de no máximo uma dezena de pessoas dava as caras para vaiar os manifestantes. Eles se chamam de The Star-Spangled Banner (o nome da bandeira americana) e afirmam que vivem no melhor dos mundos (os Estados Unidos, no caso), então não há motivos para protestos. Um de seus cartazes afirma: "Vão fazer terapia!"


Artigos

A Enron e a agenda global
Clóvis Rossi

NOVA YORK - Nunca como neste ano se falou tanto de pobreza no Fórum Econômico Mundial, pela primeira vez realizado em Nova York.

É verdade que o tema frequentou os debates em anos anteriores. É igualmente verdade que, desde que a palavra globalização se tornou de uso recorrente, os encontros do Fórum apontam a assimetria do processo, em que alguns ganham muito e muitos ganham pouco ou nada.

Mas não parece ter havido nada entre o encontro de 2001 e o deste ano que justificasse a ênfase maior posta na questão da pobreza. Ao contrário: os atentados de 11 de setembro deveriam ter conduzido o eixo muito mais para a segurança do que para o lado social ou econômico.

Entender as causas da ênfase demanda uma investigação mais prolongada. Mais fácil é supor a razão pela qual a segurança foi menos discutida do que inicialmente se supunha: todo o mundo está cansado de saber que, nessa matéria, os Estados Unidos estão fazendo e continuarão a fazer o que lhes der na telha, sem dar muita bola mesmo para qualquer outro país.

Seria, portanto, mero academicismo debater a questão.

Não que o debate sobre a pobreza tenha, até agora, saído do academicismo. Mas a presença simultânea na agenda global de um Fórum como o de Porto Alegre obriga o pessoal do andar de cima a olhar mais e mais para baixo.

Além disso, pesa o fato de que o capitalismo desabrido vive um momento de, digamos, vergonha. O colapso da Enron, a empresa energética norte-americana, foi um caso de livro- texto de como empresários podem ficar mais ricos e seus trabalhadores e/ ou acionistas, mais pobres ou até na miséria.

Exceção? Diz "The New York Times" que a investigação sobre o episódio "está focada em complexas transações, que, embora suspeitas e pobremente executadas, parecem cair na moldura das finanças cotidianas das corporações".

Leia-se: sem controles, o capitalismo produzirá uma Enron por dia.


Colunistas

PAINEL

Encontro às escuras
Emissários de José Serra tentam articular um encontro do presidenciável tucano com o governador mineiro, Itamar Franco (PMDB), para amanhã. O ministro estará em Belo Horizonte participando da formatura de um grupo de agentes de saúde.

Tirar da frente
Serra sabe que é praticamente impossível obter o apoio de Itamar Franco na sucessão presidencial. A intenção do ministro da Saúde é convencer o governador mineiro a manter-se neutro na disputa e não abrir uma dissidência no PMDB em favor da candidatura Lula (PT).

Longe das câmeras
Para não abrir uma crise com o PSDB mineiro (adversário de Itamar), aliados de Serra dizem que o encontro com o governador será protocolar, num evento oficial da pasta da Saúde. Mas, assessores de ambos já mantiveram contatos para tentar agendar uma conversa particular.

Fica para depois
Roseana (PFL) adiou seu pedido de licença de 20 dias do governo do MA para 15 de fevereiro, quando a Assembléia voltará do recesso. A "folga" já havia sido autorizada pelo presidente da Casa, mas a governadora achou mais prudente esperar o retorno dos parlamentares para evitar uma contestação legal.

Promessa de fidelidade
O sociólogo Antônio Lavareda avisou ontem ao PFL que ficará até o fim na campanha de Roseana Sarney à Presidência, independentemente da decisão que Nizan Guanaes vier a tomar. O marqueteiro baiano pode se bandear para a campanha do tucano José Serra (SP).

Chumbo trocado
Alberto Cardoso (Segurança Institucional) sugere a Geraldo Alckmin reduzir as folgas dos policiais paulistas, em momentos críticos de insegurança, para melhorar o policiamento. É uma resposta do general à proposta do governador de usar o Exército na guarda de presídios.

Oposição de butique
De Walter Pinheiro (PT-BA), sobre Inocêncio Oliveira (PFL-PE) ter consultado o STF a respeito da legalidade da medida provisória do Imposto de Renda: "Se ele acha que o projeto é ilegal, é só orientar seus cem deputados a votarem com a oposição para derrubar a medida".

Hóspedes antigos
A polícia chilena não ficou inteiramente surpresa com a ação no Brasil de integrantes da Frente Patriótica Manuel Rodríguez (acusados de sequestrar Washington Olivetto). Desde os anos 90 há informes atribuídos ao serviço reservado que indicam o uso de fazendas no sul do país para reuniões do grupo.

Campanha salarial
Os juízes trabalhistas ameaçam entrar em greve em maio por melhores salários. No final de semana, representantes dos 3.200 juízes aprovaram indicativo de paralisação. O vencimento médio de um juiz de primeira instância é de R$ 5.400,00.

Última palavra
Lula deixou gravada uma mensagem em vídeo para justificar sua ausência numa mesa-redonda ontem no Fórum Social Mundial. Informou à surpresa platéia que, após quatro dias distante dele, "dona Marisa [sua mulher" reclamou a presença do companheiro".

Panela de pressão
A pré-candidatura de Suplicy continua irritando parlamentares do PT. Dizem que o partido deveria mandar a conta das prévias (estimada em R$ 500 mil) para o senador. Para eles, o dinheiro, em vez de custear uma consulta da qual todo mundo sabe o resultado, deveria ser usado na campanha de Lula.

Visita à Folha
José Serra, ministro da Saúde e pré-candidato do PSDB à Presidência da República, visitou ontem a Folha, onde foi recebido em almoço.

TIROTEIO

Do ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), sobre a pesquisa do instituto GPP, ligado ao PFL, que mostra José Serra (PSDB) com apenas 13,5% dos votos em São Paulo:
- Já se sabe que o ministro não tem ambiente no Nordeste, porque ele não acredita na região. Agora, perder mesmo em São Paulo é terrível...

CONTRAPONTO

Doente do pé
Em 1986, na campanha pela prefeitura paulistana -em que o ex-presidente Jânio Quadros o derrotou por 141.154 votos-, o então senador e líder do governo Sarney no Congresso, Fernando Henrique Cardoso, foi convidado a visitar um ensaio da escola de samba Camisa Verde e Branca, na Barra Funda.
No barracão da escola, uma das mais tradicionais de São Paulo, bateria e passistas deram um show para o candidato. FHC empolgou-se e começou a dançar com os integrantes da escola.
Após acompanhar por alguns minutos a performance do candidato, o presidente da escola, Carlos Alberto Tibúrcio, morto de infarto em 90, aproximou-se de um assessor de Fernando Henrique e cochichou:
- Diga para ele parar.
O assessor virou-se e perguntou o motivo. Tibúrcio explicou:
- Do jeito que ele samba, está é perdendo votos aqui...


Editorial

SEQUESTRO LATINO

Depois de seu desfecho na noite de sábado, o sequestro do publicitário Washington Olivetto começou a despertar uma discussão sobre a motivação do crime. A polícia aventa a possibilidade de haver conexões políticas no caso, notadamente com grupos de radicais esquerdistas da América Latina.

São estrangeiras as pessoas que foram detidas em Serra Negra (SP), suspeitas de terem participado do sequestro. A maioria delas provavelmente é latino-americana. A pessoa identificada pelos policiais como o líder do sequestro, o chileno Mauricio Hernández Norambuena, também preso, é ligada à Frente Patriótica Manuel Rodríguez, grupo de extrema esquerda surgido na década de 1980 para combater a ditadura de Augusto Pinochet. Hernández tem duas condenações à prisão perpétua e um histórico de assassinato e sequestro em seu país de origem.

Não seria novidade se a polícia chegasse à conclusão de que um grupo originalmente composto por radicais de esquerda foi responsável pela ação contra Olivetto. A migração desse tipo de organização para a criminalidade comum marca a América Latina desde o fim da Guerra Fria e do suporte que países como Cuba e União Soviética proporcionavam a guerrilhas de esquerda. Mas essa ainda é uma hipótese entre outras que precisam ser cuidadosamente investigadas pela polícia.

Se todo o tipo de informação é útil para desbaratar quadrilhas e desvendar as ramificações de grupos como o que sequestrou Washington Olivetto, do ponto de vista processual o caminho é mais simples.

Pessoas que se organizam para sequestrar no Brasil devem ser tratadas como criminosos comuns, a despeito de sua ideologia e de sua nacionalidade. A única distinção que a lei penal reserva a estrangeiros é a de que, uma vez cumprida a pena no Brasil, sejam expulsos daqui. A observação de tratados que permitem a extradição de condenados estrangeiros para seus países de origem deve ser criteriosa. No caso dos sequestradores do empresário Abílio Diniz, houve uma certa confusão a respeito. Que ela não se repita desta feita.


Topo da página



02/05/2002


Artigos Relacionados


No seu primeiro discurso na legislatura, Serra homenageia Covas

Mão Santa diz ter se emocionado quando Serra lembrou do pai em discurso

Serra deixará plano de governo fora de discurso

Alvaro Dias destaca trechos do discurso de despedida de José Serra do governo de São Paulo

Confira o discurso de Cláudio Lembo durante transmissão do cargo de governador para José Serra

Serra participa de formatura de 143 aspirantes a Oficial da Polícia Militar