Ciro e pefelista contestam pesquisa









Ciro e pefelista contestam pesquisa
A pesquisa do Ibope divulgada anteontem com intenção de voto para presidenciáveis, que teve patrocínio do Bank of America, foi colocada sob suspeita pelo pré-candidato do PPS, Ciro Gomes, e pelo presidente do PFL, Jorge Bornhausen. A pesquisa apontou a queda de Roseana Sarney (PFL) e a subida de José Serra (PSDB).

"O que nos surpreende é que o Bank of America tenha feito uma pesquisa. E que não seja uma pesquisa para o seu interesse pessoal, para avaliar os riscos políticos, e sim para distribuir para o público, por meio de uma emissora de televisão", disse Bornhausen.

Para ele, "é muito estranho que uma multinacional, que nunca apresentou qualquer pesquisa, apresente uma agora".

Já Ciro disse estranhar o fato de Serra ter aparecido "de repente" em segundo. "O que, pelo amor de Deus, um banco estrangeiro está fazendo ao pagar uma pesquisa que custa cerca de R$ 300 mil a sete meses das eleições? É difícil saber qual é o interesse deles do Bank of America" a respeito da preferência dos brasileiros para a sucessão presidencial."

A prática de fazer pesquisas sob encomenda de candidatos, partidos ou empresas é comum entre os institutos.
O único que somente realiza pesquisas eleitorais para veículos de comunicação é o Datafolha, com o compromisso, previsto em contrato, de que os resultados sejam sempre divulgados. O instituto não tem entre seus clientes partidos políticos.

Ibope
O presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, ironizou a suspeita de Ciro Gomes sobre a pesquisa. "É o mesmo Ibope que o Ciro sempre foi cliente. Só encomenda pesquisas quem acredita."

Montenegro classificou a atitude de Ciro como "um choro normal de quem está perdendo".

Sobre Bornhausen, afirmou que, em fevereiro, fez uma pesquisa "em que Roseana estava bem e ele não reclamou".

Contrato
A assessoria de imprensa do Bank of America afirmou que tem contrato com o Ibope desde maio de 2001, para produção de pesquisas a respeito de vários assuntos, entre eles, de intenção de voto. A empresa não revelou o valor do contrato.

"As outras pesquisas têm como objetivo identificar a expectativa da população brasileira sobre a economia e a percepção sobre questões como segurança e saúde, por exemplo", disse o porta-voz do banco, Nemércio Nogueira.

Segundo Nogueira, o teor do levantamento é repassado primeiro aos clientes do banco e então divulgado para a imprensa -geralmente, para o jornal "Valor Econômico", por ser especializado em economia.

No caso da pesquisa presidencial de anteontem, o banco foi procurado pelo Ibope, que pediu sua autorização para repassar os dados à Rede Globo, com o argumento de que o teor era "de grande interesse público". O banco deu a permissão.

O Bank of America, de origem norte-americana, tem expandido sua atuação no Brasil. Terceiro maior banco privado dos EUA, adquiriu recentemente o banco Liberal.


"Manobra política" afetou Roseana, diz Bornhausen
Presidente do PFL diz que fará apuração "sem limite"

Classificando de arbitrária e violenta a ação da Polícia Federal na empresa Lunus, o presidente do PFL, Jorge Bornhausen (SC), disse estar convicto de que houve uma "manobra política" para desestabilizar a pré-candidata pefelista à Presidência e governadora, Roseana Sarney (MA).

Segundo ele, o partido ""não terá limites" nas ações judiciais e legislativas para apurar o caso, inclusive o vazamento de fotos e documentos à imprensa.

""Nós estamos convictos de que houve uma manobra política para desestabilizar a governadora. E essa manobra política vai aparecer, porque deixa rastro", disse.

No dia 1º, a Polícia Federal, cumprindo mandado judicial, apreendeu documentos na Lunus, que pertence à governadora e ao seu marido, Jorge Murad.

Ontem -um dia após o encontro entre Roseana e Bornhausen em São Luís que resultou na saída de Murad do cargo de gerente de Planejamento do Maranhão-, o presidente do PFL convocou uma entrevista para reafirmar a candidatura de Roseana. Após deixar o governo, Murad também divulgou nota em que assume a responsabilidade integral pela arrecadação do R$ 1,34 milhão encontrado na Lunus pela PF.

A nota não foi suficiente para convencer pefelistas, que cogitavam alternativas à candidatura Roseana. Ontem, Bornhausen desautorizou declarações de pefelistas sobre gestões a favor de outro candidato.

Durante a entrevista, estava ao lado de Bornhausen o ex-ministro da Previdência e deputado Roberto Brant (PFL-MG), um dos que chegaram a dizer que, "se persistirem as dúvidas, Roseana" não pode ser candidata", mas depois mudou o tom e reafirmou o apoio à governadora.

Apurações
O presidente do PFL afirmou que o partido tomará todas as providências que considerar necessárias ao esclarecimento do episódio, ""doa a quem doer".

Confirmando a ameaça de Bornhausen, o líder do partido na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE), anunciou a intenção de propor à Corregedoria da Casa representação contra o deputado Márcio Fortes (PSDB-RJ) por falta de decoro parlamentar.

""Por tudo o que tem saído na imprensa, os indícios são de que ele é o chefe da "arapongagem" e não pode ser deputado", disse Inocêncio. Segundo ele, o senador e ex-presidente José Sarney (PMDB-AP), pai de Roseana, diz ter provas do envolvimento de Fortes em investigações contra a governadora e poderá apresentá-las ao Conselho de Ética.

Caberá à Corregedoria e, posteriormente, à Mesa da Câmara acolher ou não o pedido de investigação contra Fortes, encaminhando-o ao Conselho de Ética ou arquivando o caso.

Fortes negou, novamente, ter contratado empresa para espionar a governadora e ter qualquer participação na montagem de um suposto dossiê contra ela.

O presidente do PSDB, deputado José Aníbal (SP), disse que, caso o PFL apresente a representação, o partido irá fazer uma interpelação judicial por calúnia. ""Não se pode admitir que homens públicos sejam caluniados."

Bornhausen acusou ainda o ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, de não tomar nenhuma providência para investigar ""as arbitrariedades, ilegalidades e a violência" da ação da PF na Lunus nem a ""iniquidade" do posterior vazamento de fotos e documentos, que ele atribui à polícia.

"Os fatos é que não deverão deixar de ser apurados, para o interesse da nação brasileira, para saber se não macularam a eleição", afirmou Bornhausen.


Aloysio diz que não teme depor no Congresso sobre ação da PF na Lunus
O ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, disse ontem que não teme ser chamado para depor no Congresso sobre as acusações de atuação irregular da Polícia Federal durante a busca e apreensão na Lunus, empresa da governadora Roseana Sarney (PFL-MA) e de seu marido, Jorge Murad.

Ontem, a Comissão de Fiscalização e Controle do Senado aprovou requerimento que convida o diretor-geral da Polícia Federal, Agílio Monteiro, e mais dois delegados para prestar depoimento na próxima quarta-feira sobre o cumprimento do mandado judicial de busca e apreensão na Lunus. Outro requerimento aprovado pede informações ao ministro da Justiça sobre o objetivo e o desenvolvimento da operação.

Nem Aloysio nem Agílio quiseram comentar as declarações do senador licenciado Jorge Bornhausen (SC), presidente do PFL, que acusou Aloysio de se negar a investigar vazamentos de informações sobre a operação.
"Não tenho nada a depor. Não sou acusado de nada. Tudo que foi feito pelo Ministério da Justiça e pela Polícia Federal foi absolutamente dentro da lei, no cumprimento de um mandado judicial. O contrário é que seria um absurdo", afirmou Aloysio. A sindicância, instaurada pelo ministro na semana passada, tem um mês para concluir se a polícia agiu de forma irregular durante o cumprimento do mandado. Ainda não há resultados preliminares.

"Não falo de política, não faço política. Como diretor da PF, faço polícia", disse Agílio, que é filiado ao PSDB e também é acusado pelo PFL de agir com motivações políticas.

Em nota à imprensa, a Polícia Federal afirmou novamente que o Ministério Público do Tocantins já assumiu a responsabilidade pela divulgação das fotos do R$ 1,34 milhão apreendido na Lunus.


FHC faz ponte para reconquistar os pefelistas
O presidente Fernando Henrique Cardoso deflagrou uma operação para levar o PFL de volta ao governo, de preferência já na reforma ministerial de abril. Ele sabe ser difícil, mas deseja também recompor a coligação governista na eleição presidencial.

FHC quer se reaproximar do PFL, a fim de impedir que brigas compradas pelo pré-candidato tucano à Presidência da República, José Serra, acabem por manchar o seu final de mandato.

O presidente disse a Serra que ele terá dificuldade para ganhar a eleição e para governar passando o rolo compressor por cima de pefelistas e de tucanos.

Na avaliação de FHC e da cúpula do PSDB, o salto dado por Serra nas pesquisas deve ser comemorado com cautela. Os 17% no Datafolha alçam Serra ao segundo lugar, de acordo com a pesquisa divulgada ontem, fortalecem a já provável aliança com o PMDB e ajudam a atrair o PPB e o PTB. Mas também colocam o ex-ministro da Saúde como alvo preferencial antes da hora -faltam quase sete meses para a eleição.
A pretexto de pedir a colaboração do PFL na aprovação da CPMF, FHC telefonou ontem para o líder do partido na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE).

Ao ouvir apelos de conciliação, a resposta do pefelista foi sintomática: "Não tão ligeiro que possa parecer covardia nem tão demorado que possa parecer provocação", disse o deputado, segundo o seu próprio relato.
FHC se despediu de Inocêncio propondo novas conversas "no futuro". Além do apelo para o partido votar a CPMF, o imposto do cheque, FHC falou com todas as letras: "Quero o PFL de novo ao meu lado". Disse ainda que não quis agredir o PFL quando declarou que venceria a eleição sem o partido. FHC afirmou que se referia à importância do PFL para a governabilidade e que desejava reatar com o partido. Inocêncio gostou do afago.

O ministro Pedro Malan (Fazenda) também ligou para o pefelista. Paralelamente, os ministros Arthur Virgílio (Secretaria Geral) e Pimenta da Veiga (Comunicações) tentam reconstruir as pontes com o PFL. Os pleitos da sigla devem ser atendidos, mas só daqueles parlamentares que votarem com o governo.

FHC e o PSDB acham que a subida de Serra nas pesquisas aconteceu acima das expectativas. É nesse contexto que preocupa muito o namoro pefelista com Ciro, um dos candidatos que mais incomodam FHC e Serra, pelo discurso duro e pelo passado tucano. Para minar Ciro, FHC pediu aos serristas que freiem o ânimo bélico em relação ao PFL.

O PFL está dividido. Um grupo gostaria de se recompor com o governo, mas não aceita Serra como candidato. Outro grupo, minoritário, prefere insistir numa candidatura própria. A terceira possibilidade seria tentar um entendimento com Ciro Gomes, pré-candidato do PPS.


Sarney compara operação da PF ao caso Watergate
Senador acusa uso da máquina contra Roseana

Comparando a operação da Polícia Federal no escritório da Lunus com o caso Watergate e com o Zimbábue, o senador José Sarney (PMDB) afirmou ontem em Paris que houve uso da máquina estatal com o objetivo de acabar com a candidatura presidencial de sua filha, a governadora Roseana Sarney (PFL-MA).
Para ele, houve "um jogo sujo de utilização de métodos de espionagem".

"As eleições precisam ser limpas, sem manipulações com o objetivo de afastar candidatos", afirmou o peemedebista.

O senador e ex-presidente chegou ontem pela manhã a Paris para o lançamento de seu livro "Saraminda", que ocorrerá amanhã na Maison de l'Amérique Latine.

Dizendo-se cansado pela viagem, Sarney permaneceu no hotel durante a tarde e participou à noite de um evento organizado pelo escritor Jean-Christophe Rufin, autor de "Rouge Brésil", que ganhou o prêmio Goncourt no final do ano passado.

Hoje à noite Sarney participará a um jantar oferecido pela Academia Francesa de Letras no Palais Nazarin. Longe (pelo menos fisicamente) da agitação no cenário eleitoral brasileiro e do anúncio da queda de Roseana nas pesquisas, o senador conversou com a Folha sobre as denúncias envolvendo sua filha.

Em Paris, Sarney não quis comentar a renúncia de seu genro, Jorge Murad, do cargo de gerente de Planejamento do Maranhão, nem a versão que este apresentou para o R$ 1,34 milhão encontrado na empresa Lunus, de sociedade de Murad e de Roseana Sarney.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista concedida à Folha pelo senador, em Paris:

Folha - Em que medida o discurso do sr. no Senado abordará a suposta operação do PSDB para acabar com a candidatura de Roseana?
José Sarney - Não se trata de suposta operação. Ela é certa. A manipulação para acabar com a candidatura de Roseana não é uma hipótese.

Folha - O que o sr. critica?
Sarney - Esse método para afastar uma candidatura, que viola a democracia. Houve um jogo sujo de utilização de métodos de espionagem. O aparato estatal não pode ser utilizado dessa forma durante uma campanha presidencial. É o método da "arapongagem", algo que denigre de forma considerável o processo democrático no Brasil. Comparo o ocorrido ao caso Watergate [escândalo que levou à renúncia do presidente norte-americano Richard Nixon, em 1974", o método utilizado é o mesmo. É também exatamente o mesmo que aconteceu no Zimbábue recentemente. (Leia texto ao lado)

Folha - Mas denunciar supostas irregularidades também não faz parte do processo democrático?
Sarney - O problema é a maneira como tudo foi feito, totalmente arbitrária. A governadora tinha imunidade parlamentar e a Polícia Federal não poderia ter feito o que fez, ou seja, violar seu correio, seu escritório. Isso é espionagem.

Folha - Que posição o sr. irá adotar em relação a isso?
Sarney - Esse assunto precisa ser levado até o fim. As eleições precisam ser limpas, sem manipulações com o objetivo de afastar candidatos.

Folha - Isso significa que o sr. fará esse tipo de discurso no Congresso?
Sarney - Ainda farei muitos discursos no Congresso. As eleições devem ser limpas e o respeito à democracia é necessário.

Folha - Como o sr. avalia a queda de Roseana nas pesquisas de intenção de voto?
Sarney - Não estou sabendo disso ainda e prefiro não falar sobre o assunto.


Governadora se defende em horário nobre na TV
A governadora Roseana Sarney (PFL) comprou dois minutos e meio de horário nobre nas TVs e rádios do Maranhão ontem à noite para dizer que está sendo vítima de "preconceito contra o Nordeste", de discriminação contra as mulheres. Ela declarou que nunca cometeu "nenhum ato ilícito".

No texto gravado na tarde de ontem, Roseana não faz nenhuma menção ao marido, Jorge Murad, nem à empresa Lunus, da qual é sócia majoritária e em cuja sede a Polícia Federal, cumprindo mandado judicial, apreendeu R$ 1,34 milhão no dia 1º de março.

O pronunciamento também não fala das investigações sobre desvio de verbas da extinta Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia), no âmbito das quais se deu a operação policial na Lunus.

Diante da câmera, a governadora primeiro agradeceu "as inúmeras manifestações de solidariedade", que foram realizadas em "cartas, telefonemas, telegramas e orações". Segundo a assessoria de imprensa, são 80 e-mails diários de solidariedade à pefelista.

Sem pontuar exatamente a que atos se refere, Roseana afirma: "O povo maranhense sabe que por trás das tentativas de manchar a minha honra está uma estratégia maquiavélica para impedir a minha caminhada política".

A pefelista voltou a insistir que deseja a apuração de todas "as denúncias vazias" das quais tem sido alvo, ressaltando que não permitirá "calúnias e difamação" contra si ou contra o Maranhão.

O pronunciamento é encerrado com mais um agradecimento ao apoio dos maranhenses, a quem faz uma convocação: "Vamos ficar atentos, pois vão continuar tentando de tudo para impedir nossa trajetória".
Roseana estava decidida a gravar e levar o pronunciamento ao ar no domingo, mas diante da crise política optou por adiá-lo.


Ministério diz que precisa se precaver
O Ministério da Saúde afirma que a contratação da Fence para a varredura de grampos é uma ação de interesse nacional, pois protege ações estratégicas do governo na saúde, como a quebra de patentes de medicamentos e a luta contra o fumo.

Segundo a assessoria de imprensa, o ministério precisa se precaver, porque essas ações polêmicas contrariaram "interesses poderosos" de empresas do Brasil e do exterior.

O serviço executado pela Fence, diz a assessoria, é de "checagem de existência de grampos telefônicos e de transmissores de rádio" no ministério.

O serviço não foi confiado à Abin ou à Polícia Federal, segundo a assessoria, porque o ministério precisa de uma detecção de grampos permanente. Os órgãos do governo fariam apenas trabalhos pontuais e específicos, a partir de suspeitas de espionagem. Além disso, a Abin não teria meios nem pessoal para acompanhar a evolução tecnológica do setor de informação.

O Ministério da Saúde alega que o valor pago à empresa foi aumentado em 2002 porque as varreduras, antes mensais, passaram a ser diárias, com acompanhamento permanente dos telefones.

Segundo o ministério, a licitação foi dispensada nesse caso porque a Fence é uma empresa de notória especialização e já prestou serviços para órgão do governo como o Superior Tribunal de Justiça e Itaipu.


Garotinho diz prescindir dos programas de TV
O governador do Estado do Rio, Anthony Garotinho (PSB), atribuiu parte do seu crescimento nas pesquisas eleitorais ao fato de sua estratégia de campanha prescindir, segundo ele, de programas de TV. Apesar disso, ele diz que o PSB usará os dez minutos a que terá direito na TV em 16 de maio para reforçar sua candidatura.
Desde setembro de 2001, quando tinha 9% nas pesquisas, ele apresenta trajetória lenta, mas ascendente. Chegou a 11% em dezembro, a 13% em fevereiro e a 15% na pesquisa divulgada ontem pelo Datafolha -tecnicamente empatado no segundo lugar com José Serra (PSDB), que teve 17%, e Roseana Sarney (PFL), 15%.

"A estratégia da campanha é evitar o crescimento artificial que o programa de TV proporciona, mas que provoca, a seguir, queda nas pesquisas quando acabam as propagandas. Além disso, me mantenho forte na minha região e cresço aos pouquinhos nas outras", disse.

Segundo ele, sua candidatura ainda tem margem para crescimento por ser o candidato menos conhecido e por ainda ter a oportunidade de explorar a imagem no programa de televisão do PSB.

O governador diz que espera tirar votos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na campanha. "Estou subindo nas pesquisas na mesma proporção que o Lula cai. Acredito que a minha linha e a dele irão se cruzar."


Artigos

A TV faz, a TV desfaz
Clóvis Rossi

SÃO PAULO - A ascensão e queda de Roseana Sarney é episódio para usar como estudo de caso em classes de ciência política, marketing, propaganda e afins ou não tão afins.

Roseana chegou a ser co-líder na pesquisa do Datafolha sem ter aberto a boca, o que é um fenômeno provavelmente inédito. Era uma imagem simpática, bonita, fotogênica, mas apenas uma imagem. Sobre o que faria no governo, nada.

Já é um perigo um país em que pode ocorrer semelhante fenômeno. Em negócios, testar um produto novo faz parte do jogo. Mas esse gênero de experimentação com uma potencial presidente é assustador.

E não existe em parte nenhuma, a não ser recentemente em países latino-americanos. Na Europa Ocidental, o regime é basicamente parlamentarista. Logo, o candidato é sempre o líder do partido.

Se há alguma experimentação, ela se dá no interior do partido e é eminentemente política, não de imagem (ou não só de imagem).

No presidencialismo norte-americano, as primárias são, digamos, a experimentação institucionalizada. É, também, política. Os marqueteiros podem inventar o que quiserem, mas está frito o candidato que não sair pelos Idahos da vida apertando mãos, beijando criancinhas e dizendo por que quer o voto do cidadão. Pode mentir (e geralmente o faz), mas tem de dizer algo.

Até Collor de Mello, o mais recente e mais espetacular fenômeno mercadológico da política brasileira, disse alguma coisa.

Tal como na ascensão, Roseana nada disse na queda. Derrubou-a a imagem de uma gorda pilha de dinheiro. Os otimistas dirão que é bom que tenha sido assim, que o papel da mídia é mesmo o de investigar, denunciar, cobrar.

Também acho. Mas por que a TV não fez o mesmo com Collor? Ou com FHC na reeleição, quando havia os grampos do BNDES a explorar, entre outros episódios obscuros?

Se aparecer algum dinheiro esquisito no caminho de José Serra repetir-se-á o cerco feito a Roseana?


Colunistas

PAINEL

Cédula eleitoral
O crescimento de José Serra nas pesquisas enterrou as articulações do PFL e de setores do PSDB favoráveis a um plano B que unisse as duas siglas na eleição. Nem Tasso Jereissati (CE) nem Aécio Neves (MG) acreditam mais nessa possibilidade.

Longe daqui
Serra subiu nas pesquisas e entrou no jogo eleitoral de verdade, mas ainda há quem torça o nariz para ele no PSDB. Paulo Renato (Educação), por exemplo, cancelou todos os eventos de entrega de cartões do Bolsa-Escola. Não quer colocar a máquina de seu ministério a serviço da candidatura do colega.

Sujeito oculto
A faixa colocada no fim de semana na região do encontro do BID no Ceará - que dizia "Para que confusão? Aécio é a solução"- teve como autor Esmerino Arruda (PSDB), suplente de senador e político muito ligado Tasso Jereissati (CE).

Em pedaços
Com a derrocada de Roseana, o grande temor de Bornhausen é a fragmentação do PFL na eleição. Há articulações para todos os gostos: uns trabalham por Serra, outros, por qualquer um que possa derrotá-lo. Independentemente do caminho que a sigla tomar, haverá dissidências.

Leque aberto
Serra quer aproveitar a subida nas pesquisas para costurar definitivamente suas alianças para a eleição. Anteontem, esteve com Michel Temer (PMDB) e com Francisco Dornelles (PPB).

Cadeira vazia
O PFL manteve a agenda programada para Roseana na BA, dia 25, na entrega do prêmio Luís Eduardo Magalhães. Mas ninguém crê que ela aparecerá.

Nome regional
Foi sugestão do PFL a gravação ontem, por Roseana, de uma "mensagem ao povo maranhense". O partido acha que ela tem de cuidar do seu eleitorado no MA para concorrer ao Senado. A eleição presidencial já era.

Apoio familiar
Fernando Sarney, dono da afiliada da TV Globo no MA, não se conforma: por questões contratuais, está obrigado a fornecer a logística para a equipe da emissora que acompanha o escândalo que envolve sua irmã.

Franqueza socialista
Um possível apoio do PFL a Ciro causa repulsa em Roberto Freire, presidente do PPS: "O PFL e a Roseana representam a velha política, oligárquica e patrimonialista. O apoio do PFL não tem nenhuma serventia. Não sou intolerante nem intransigente, apenas coerente".
Ponte em construção
Apesar do veto de Roberto Freire, João Herrmann, um dos coordenadores da campanha de Ciro, receberá em seu apartamento três dirigentes do PFL na terça. No mínimo, para tentar manter um canal em aberto para um eventual segundo turno.

Fé publicitária
Duda Mendonça diz que Lula ultrapassará os 30% das intenções de voto no fim de maio, após a exibição na TV dos programas e dos comerciais do PT, que totalizarão duas horas no ar. O marqueteiro diz que não há nenhum slogan definido para a campanha do petista.

Febre de dossiês
Garotinho (PSB) foi informado por cartorários de Campos que duas pessoas fizeram, no fim de 2001, levantamento sobre suas propriedades na cidade. "Só tenho uma casa herdada de meu pai", diz o governador.

TV Malvadeza
Um cartaz com a foto de Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) abraçado a Jader Barbalho, com o título "Big Robber" ("grande ladrão"), chegou pelo correio ao Congresso. As letras imitam o símbolo do "Big Brother Brasil", da TV Globo. Aliados de Geddel atribuem a autoria a ACM.

TIROTEIO

Do senador Lúcio Alcântara (PSDB-CE), sobre o trancamento da pauta no Congresso pelo excesso de medidas provisórias enviadas pelo governo:
- É preciso uma resolução que defina a tramitação das MPs. Não é que as regras sejam falhas, elas simplesmente não existem. No governo FHC, temos convivido com a eternização do provisório.

CONTRAPONTO

Não espalhe
Há cerca de 15 dias, numa reunião pública em Porto Alegre (RS), o presidenciável do PSB Anthony Garotinho (RJ) lançou Beto Albuquerque (PSB) ao governo gaúcho sem que o próprio deputado licenciado soubesse o que iria ocorrer. Beto, que é secretário de Transportes no governo Olívio Dutra (PT), brincou com o governador:
- Desse jeito eu vou perder meu emprego.
Horas depois, Garotinho foi gravar uma entrevista na TV pública do governo estadual. A apresentadora quis saber a opinião de Garotinho sobre a sucessão estadual e o governador voltou a lançar Beto Albuquerque ao governo.
Logo que acabou a gravação, Beto aproximou-se de Garotinho e ironizou:
- Governador, não satisfeito com a minha demissão, o senhor quer que a apresentadora também perca o emprego!


Editorial

TESTE ELEITORAL

Fruto de propaganda maciça, o "fenômeno Roseana" ganhou força num substrato político em que a luta pelo poder não despertava grande interesse na opinião pública. Era assunto praticamente restrito à mídia impressa e aos círculos partidários. A candidatura da governadora do Maranhão começou a perecer no momento em que, pela primeira vez, esse padrão foi rompido, e a disputa pelo Planalto, por alguns dias, ganhou proeminência nos meios de comunicação de massa eletrônicos.

O detonador para o surgimento desse novo "teatro de operações" foi a exibição, para todo o Brasil, das 26.800 notas de R$ 50 (R$ 1,34 milhão) apreendidas pela Polícia Federal na empresa Lunus. E ocorreu justo no momento em que a segunda candidatura situacionista, saída de dentro do governo FHC e com amplo respaldo em setores-chave para ganhar eleições no país, era apresentada ao público.

José Serra conquistou imediatamente o status de Roseana nas pesquisas. Serra ganhou força sobretudo no eleitorado de nível superior e entre os que têm renda mensal entre R$ 1.800 e R$ 3.600. Mas ainda sofre resistência entre os habitantes das regiões metropolitanas, e a sua força no Sul e no Sudeste contrasta com a que detém nas outras regiões.

Lula perdeu pontos marginalmente em quase todas as categorias. Porém na faixa de renda média, a mesma em que Serra triunfou, a queda do petista foi substancial. Anthony Garotinho se mantém no páreo disputando o segundo lugar não apenas por conta do Rio de Janeiro, mas também por seu respaldo na massa metropolitana do país -especialmente jovens com renda mensal até R$ 3.600 e instrução média.

Esse foi o resultado após o primeiro ensaio em que a disputa presidencial foi submetida a condições de temperatura e pressão que se assemelham às da reta final de uma campanha. Vislumbra-se uma repetição do embate decisivo entre o PT e o candidato da situação. Mas a permanência de Garotinho em boas condições, ancorada num respaldo social coerente com o significado da sua candidatura, aflora neste momento como a variável que pode proporcionar surpresas ao longo do caminho.


Topo da página



03/14/2002


Artigos Relacionados


Pesquisa do Ibope mostra Ciro mais próximo de Lula

Pesquisa: Lula lidera. José Serra mantém e Ciro cai

FHC recebe pefelista em jantar

FHC tenta debelar rebelião pefelista

FHC se aliou a "banda podre", afirma pefelista

Agripino diz que pefelista envolvido com 'sanguessugas' será expulso do partido