Ideli diz que divisão de partidos e assunto polêmico ajudaram a derrotar governo nos bingos



A líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), listou em discurso oito situações que ajudaram as oposições a derrotar o governo na votação da medida provisória que proibia os bingos no Brasil, na quarta-feira (5). Entre as razões, estão a divisão do PMDB, por causa da emenda constitucional que prevê reeleição para as presidências das Câmara e do Senado, e o alto grau de polêmica que envolve os jogos de azar no país.

Para ela, o funcionamento de casas de bingos e de caça-níqueis dividiu todos os partidos e não houve uma bancada sequer com voto único. O curioso, na observação da líder petista, é que, no final, a disputa do assunto se transformou também numa disputa entre governo e oposição, mesmo com os dois lados votando de forma dividida.

Ela acusou ainda o interesse financeiro em jogo, observando que "foram colocados nas galerias do Senado os desempregados dos bingos", quando "o foguetório que se ouviu logo depois", na Esplanada dos Ministérios, foi bancado por quem "tem a caixa registradora" dos bingos.

- É muito cômodo para os empresários dos jogos. Eles vão reabrir suas casas sem nenhum controle, sem nenhuma fiscalização. É muito dinheiro envolvido. Isso justifica o foguetório - disse.

Ideli Salvatti apontou ainda as dificuldades existentes em uma base de apoio ao governo com perfil "que parece um mosaico".

- Às vezes, é preciso conversar a cada minuto e, mesmo assim, surgem surpresas a todo momento e a gente não sabe se aquilo se deve ao parlamentar, ao partido, à situação política no estado ou se é algo ligado ao futuro do envolvido - disse.

Ela citou o PL, partido do vice-presidente da República, José Alencar, que não faz mais parte da base do governo no Senado. Dos três senadores, um votou contra, outro a favor e um terceiro estava viajando.

A disputado interna no PMDB, por causa da emenda constitucional que prevê a reeleição dos presidentes do Senado e da Câmara, também foi apontada pela líder do PT "como fonte de tensão" entre os senadores, dividindo ainda mais base governista. As outras duas razões da derrota do governo, continuou, são "muito abstratas, difusas, mas têm sua influência". A primeira é a desqualificação do trabalho dos senadores da base, "em notinhas na imprensa, comentários da rádio-corredor".

Nesse ponto, ela defendeu o líder do governo, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), que não esteve presente à votação dos bingos.

- Me perguntaram: "mas ele foi para enterro do ex-sogro?" - relatou a senadora. Para ela, só quem não sabe que a primeira esposa do senador morreu de câncer, e não conhece a ligação de sua filha com o avô, não pode entender porque o senador se ausentou de Brasília. Por último, Ideli lamentou que haja um "preconceito sutil" contra o trabalho dela no Senado, por ser mulher, sem uma vida política anterior de reconhecimento nacional.

- Isso é difuso, mas existe e atrapalha - disse.



06/05/2004

Agência Senado


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