Jader deixa presidência do Senado com ataques a PFL



Jader deixa presidência do Senado com ataques a PFL Isolado e politicamente imobilizado por uma série de acusações que perpassam toda a sua vida pública, o presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), renuncia hoje ao cargo para o qual foi eleito em fevereiro passado pela maioria absoluta dos votos da Casa, após renhida disputa com o ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). Jader, 56, renuncia sete meses depois de assumir o cargo. Será sua última tentativa para preservar o mandato e manter o foro privilegiado na Justiça para se defender das acusações que pesam contra ele. Na próxima quinta-feira, o Conselho de Ética do Senado decide se acata ou não o pedido de abertura de processo por quebra de decoro parlamentar contra o peemedebista. Ontem, Jader definiu as linhas gerais do discurso, mas ainda tinha dúvidas se o faria por escrito ou de improviso. Ele prefere falar de improviso, a partir de algumas anotações. Uma coisa é certa: Jader vai atacar parte da aliança governista, especialmente o PFL e integrantes do Conselho de Ética do partido, como o senador Romeu Tuma (SP). O discurso de renúncia do peemedebista está previsto para as 15h30, mas existe a possibilidade, remota, de ele vir a ser adiado. Isso acontecerá na hipótese de os partidos da coligação governista não conseguirem entrar em acordo sobre a eleição do sucessor de Jader, que será do PMDB. "Balanço" "Vou fazer um balanço do quadro político de antes das eleições [para as presidências da Câmara e do Senado" e de como esse quadro político acabou levando a essa crise no Senado. Uma retrospectiva de tudo o que aconteceu antes e depois", afirmou o senador paraense ontem à Folha. Submetido a uma avalanche de acusações que vão desde a participação no desvio de recursos do Banpará (Banco do Estado do Pará) ao envolvimento em fraudes na extinta Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia), Jader dirá em seu discurso de renúncia que foi uma vítima do jogo sucessório de 2002. Do ponto de vista do peemedebista, o ex-senador ACM desencavou antigas acusações que pesavam contra ele em suas passagens pelo governo do Pará e dois ministérios no governo José Sarney (1985-1990) para tentar neutralizar o PMDB na sucessão presidencial. Como líder e presidente do PMDB, Jader conseguira reaglutinar o partido e levá-lo a ocupar espaços cada vez maiores no governo federal. Apesar da cruzada movida por ACM contra Jader, o PFL perdeu as eleições para as duas Casas do Congresso [a Câmara ficou com o tucano Aécio Neves], credenciando o PMDB como parceiro privilegiado para a reedição da aliança governista nas eleições de 2002. Na avaliação de Jader, a sigla adversária precisava virar o jogo e ele era o alvo perfeito. Nesse jogo, Jader deu um passo em falso ao pedir ao procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, a abertura de inquérito contra um de seus acusadores, a ser acompanhado pelo corregedor do Senado, Romeu Tuma. As investigações viraram-se contra ele. Na lógica de Jader, imediatamente apareceu o PFL: Brindeiro é ligado à sigla e Tuma, um de seus principais nomes. A atuação de Brindeiro, da Polícia Federal e da AGU (Advocacia Geral da União) levaram Jader também a esfriar suas relações com o presidente Fernando Henrique Cardoso. A desenvoltura com que esses órgãos passaram a agir, segundo acredita, não seria possível sem o aval do presidente. Ontem, Jader ainda avaliava o que dizer hoje sobre a participação de FHC. Se depender do PMDB, serão coisas amenas Relatório da PF implica senador com a Sudam A Corregedoria do Senado encaminhará nesta semana ao Conselho de Ética da Casa relatório da Polícia Federal (PF) que aponta o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) e o deputado José Priante (PMDB-PA) como beneficiários de recursos desviados da extinta Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). O volume encaminhado à corregedoria inclui documentos, cópias de cheques, bilhetes e depoimentos de empresários que tiveram projetos financiados. Eles dizem ter sido pressionados a doar dinheiro para a campanha de Jader ao governo do Pará, em 1998. "Se o processo por quebra de decoro [contra Jader] for aprovado, vamos pedir que esse caso da Sudam também seja investigado pelo conselho", afirmou o senador Jefferson Péres (PDT-AM). As investigações da PF revelaram uma estreita ligação entre o diretório municipal do PMDB de Altamira e a autarquia, extinta depois que se tornou um canal de desvio de recursos públicos, cujas fraudes investigadas já somam mais de R$ 1,5 bilhão. Em duas reuniões, ambas coordenadas pelo deputado Priante, empresários de Altamira teriam sido pressionados a entrar com R$ 20 mil para cada projeto que tivessem conseguido financiar com dinheiro da Sudam. O dinheiro seria destinado à campanha municipal, que elegeu o prefeito Domingos Juvenil (PMDB), aliado político de Jader. Entre as operações de busca e apreensão de documentos empreendidas pela PF, a realizada no escritório do agiota Regivaldo Pereira Galvão levou à identificação de cheques -vários deles de empresários de Altamira- e notas promissórias que somam mais de R$ 9 milhões. Parte desses valores seria utilizada ou em doações de campanha ou para depósitos de contrapartida que levam à liberação de recursos da Sudam. O empresário Danny Gutzeit, em depoimento do 28 de agosto, afirma que a consultora Maria Auxiliadora da Barra, que vivia de apresentar projetos fraudulentos à Sudam, recebia 10% do dinheiro que conseguia liberar. E detalha: "Maria Auxiliadora ficava com aproximadamente um por cento do dinheiro, e o restante se destinava ao senador Jader Barbalho". Assinado pelo delegado Helbio Leite, o relatório da PF faz uma ressalva: "Contra os mesmos [Jader e Priante] pesam somente as provas indiciárias, não havendo até o momento provas documentais suficientemente robustas para incriminá-los e ensejar a instauração de um inquérito específico para apurar possível ocorrência de organização criminosa". Acusações levaram a situação insustentável Em abril de 2000, o então presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), e Jader Barbalho (PMDB-PA) batem boca e trocam acusações de corrupção. O clima de animosidade entre os dois aumenta ao longo do ano. No final de 2000, ACM aumenta sua ofensiva contra o peemedebista, tentando evitar que ele fosse eleito seu sucessor Tempo de glória Apesar de todas as acusações contra ele, Jader é eleito presidente do Senado, em fevereiro de 2001, com o apoio do presidente Fernando Henrique Cardoso. Em maio, vê o seu maior rival renunciar devido ao escândalo da violação do painel eletrônico da Casa Bola da vez Com a renúncia do senador baiano, as atenções se voltam para Jader. A imprensa divulga novas acusações e documentos contra o senador. Em julho, a oposição protocola denúncia contra ele no Conselho de Ética do Senado, para que seja investigado se Jader mentiu em plenário, o que configuraria quebra do decoro parlamentar e permitiria a abertura de um processo de cassação do mandato do peemedebista Pressão total A situação de Jader no Senado fica insustentável. Pressionado, ele se licencia, em julho, da presidência da Casa. A licença seria de 60 dias. O objetivo do peemedebista era que as acusações a ele não fossem investigadas pelo Conselho de Ética, mas enviadas diretamente ao Ministério Público Federal, o que teria sido combinado com senadores. A manobra não funciona, e o conselho começa a investigar o presidente da Casa Depoimento Jader depõe no Conselho de Ética, em agosto, e nega ter se beneficiado dos desvios ocorridos no Banpará. Para dois dos três integrantes da comissão constituída para fazer o relatório sobre o caso -Romeu Tuma (PFL-SP) e Jefferson Péres (PDT-AM)-, Jader não consegue provar sua inocência. O terceiro integrante, João Alberto (PMDB-MA), aliado de Jader, considera o depoimento convincente Gota d"água Em 12 de setembro, é lido o relatório da comissão sobre o caso. Ele aponta ""provas irrefutáveis" de que Jader se beneficiou dos desvios do Banpará e diz que ele mentiu ao se defender. Além disso, acusa o senador de improbidade administrativa, por ter tentado obstruir as investigações. João Alberto apresenta voto em separado, a favor do peemedebista. No dia seguinte, Jader anuncia que renunciaria à presidência do Senado nesta semana O que pesa sobre o senador TDAs Jader é acusado de ter sido beneficiário de operação fraudulenta com 55,2 mil TDAs (Títulos da Dívida Agrária), em 1988, quando era ministro da Reforma Agrária. O senador nega. Sudam Sua mulher, Márcia Zahluth Centeno, foi sócia de José Osmar Borges, acusado de ser o maior fraudador da Sudam. A Folha revelou que Jader e Borges trocaram pelo menos 333 telefonemas desde 97. Jader nega as irregularidades. Banpará Segundo relatórios do Banco Central, há fortes indícios de que rendimentos de aplicações desviados do banco no período em que Jader foi governador do Pará (83-87) acabavam em contas do senador e de seus familiares. O senador nega os desvios. Deputado nega ação; Jader não é localizado A Folha procurou o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) e sua assessoria, no final da tarde de ontem por telefone, para falar sobre o assunto, mas ele não foi encontrado. Até o fechamento desta edição, ele não havia sido localizado. Já a assessoria do deputado José Priante (PMDB-PA) nega que ele tenha participação em casos relacionados a possíveis irregularidades na Sudam. Segundo nota divulgada pela assessoria do deputado, ele "jamais solicitou contribuição de empresários para campanhas eleitorais em troca de liberação de recursos da Sudam". No documento, a assessoria diz que Priante entende que as acusações fazem parte de uma estratégia política com o propósito de atingir o senador Jader Barbalho. Candidatura Calheiros enfrenta resistência O líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), candidato da cúpula do partido à sucessão de Jader Barbalho (PMDB-PA) na presidência do Senado, enfrentará uma disputa interna e restrições externas, tanto entre setores do PFL e do PSDB como na oposição, na disputa pelo cargo. Se for referendado pelo plenário, Calheiros corre o risco de sair enfraquecido da eleição. A bancada do PMDB se reúne hoje para escolher o sucessor de Jader. Os presidentes do PSDB, deputado José Aníbal (SP), e do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), estão por trás de articulações para que Renan seja vetado já na bancada. José Fogaça (PMDB-RS) e José Alencar (PMDB-MG) afirmaram ontem que vão disputar com Renan dentro da bancada, embora tenham poucas chances de vitória. Os dois mantêm uma linha de independência em relação ao Palácio do Planalto e não costumam seguir a orientação partidária. Confronto com Covas José Aníbal defende o veto a Renan usando como principal argumento os confrontos que ele teve com o governador Mário Covas, morto este ano, enquanto ministro da Justiça do governo Fernando Henrique Cardoso. Renan fez acusações de irregularidades no governo de Covas, envolvendo até o filho do governador, Zuzinha. Covas propôs no STF (Superior Tribunal Federal) ação de calúnia contra o então ministro. Em setembro de 99, Covas conseguiu suspender a licitação para confecção de passaportes, levantando suspeitas contra o Ministério da Justiça. Renan, por sua vez, levantou suspeitas contra o governo Covas, por causa das tentativas do governador de transferir para os Estados a receita das vistorias dos veículos. A bancada do PSDB no Senado se reúne no início da tarde para discutir o assunto, mas está dividida quanto ao veto a Renan. No PFL, a rejeição à escolha do líder do PMDB é ainda maior, principalmente por causa da ligação de Renan com Jader. Para os pefelistas, a eleição do líder do PMDB para a presidência do Senado daria a impressão de que a Casa quer proteger Jader, que prometeu renunciar hoje ao cargo após discursar no plenário. Na reunião dos presidentes dos partidos aliados do governo com FHC, Bornhausen deixou claro que respeitaria o direito do PMDB de indicar o presidente do Senado -por ter a maior bancada na Casa-, desde que o nome escolhido tivesse afinidade com o Planalto e autoridade política e moral para restabelecer a imagem da Casa. Tasso critica indicação de Calheiros a vaga O governador do Ceará, Tasso Jereissati (PSDB), criticou ontem a indicação do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) para a vaga de Jader Barbalho (PMDB-PA) na presidência do Senado. Calheiros é o nome favorito da ala do PMDB ligada a Jader. "Depois dessa crise no Senado, todos esperam que o presidente seja uma figura que tenha diálogo fácil com todos os partidos, que tenha o respeito de todos os partidos, e que venha para justamente fazer uma administração acima de qualquer tipo de paixão e de divisão. Com certeza o senador Renan não tem esse diálogo fácil com o PSDB, e me parece que não tem também com os outros partidos", declarou o governador. Tasso, que esteve ontem em São Paulo para uma palestra com presidenciáveis promovida pela Fundação Getúlio Vargas, defendeu José Sarney para o cargo. ""Seria um nome que, sem dúvida, preenche essas condições com mérito. Haveria outros, mas quem sou eu para indicar." Na avaliação do governador, Renan teria se comportado de modo ""pouco ético" em relação a Mário Covas (morto este ano), com quem o ex-ministro manteve uma série de atritos enquanto esteve no comando da Justiça. Apesar das críticas, Tasso afirmou, mais cedo, no Rio, que o acordo que garante ao PMDB a manutenção da presidência do Senado será cumprido. Na ocasião, além de Sarney, relacionou outros dois nomes do PMDB que se enquadrariam no perfil que ele considera ideal para ocupar a vaga: os dos senadores Gérson Camata (ES) e Ramez Tebet (MS). O governador disse também que a intervenção do presidente Fernando Henrique Cardoso no processo que culminou com o anúncio feito por Jader de que renunciaria ao cargo foi importante, mas ressalvou que o presidente agora deve se recolher. "Acho que até agora foi importante (a atuação de FHC), na medida em que ele deu sua autoridade moral para resolver o impasse que a instituição estava vivendo. Doravante, a questão deve ser resolvida pelo Senado e pelos senadores", disse. Itamar anuncia que fica no PMDB O governador de Minas Gerais, Itamar Franco (PMDB), anunciou no início da noite de ontem, por meio de sua assessoria de imprensa, que vai permanecer no PMDB, recusando assim convite do PDT para ser candidato à Presidência da República. O governador se reuniu na manhã de ontem com o presidente do PMDB em Minas Gerais, deputado federal Saraiva Felipe, e logo após com seu vice, Newton Cardoso (PMDB), um dos que mais defendiam sua permanência no PMDB. As reuniões serviram para Itamar confirmar a seus assessores próximos sua decisão. Pela tarde, o governador fez ligações telefônicas ao líder pedetista Leonel Brizola e ao deputado federal Vivaldo Barbosa (PDT), que participou ativamente das negociações para levar Itamar para o PDT, confirmando a recusa do convite aos pedetistas. O governador de Minas enviou ainda uma carta a Brizola expondo os motivos da recusa. Vivaldo disse à Agência Folha, momentos após receber o telefonema do ex-presidente, que "as coisas" não teriam andado "bem". "O Itamar nos comunicou que desistiu [de ir para o PDT]. Vai continuar no PMDB. Ele desistiu de ser presidente", disse. A Agência Folha apurou que o governador de Minas trabalha com duas frentes, após ter decidido permanecer peemedebista. A primeira, considerada mais difícil até por assessores, é a de vencer as prévias do partido marcada para janeiro, mês em que, em tese, será escolhido o candidato do partido à Presidência. A segunda, em caso de derrota, será lançar-se ao Senado em 2002. Itamar manteve o PDT na espera durante todo o período em que travou uma disputa interna no PMDB para impor sua tese de que o partido tem que ter candidatura própria à Presidência -a dele, de preferência. Na convenção nacional do PMDB, ocorrida no último dia 9, a ala do partido que apoia o governo federal conseguiu 62,74% do diretório, enquanto que os itamaristas ficaram com 37,26%. Diante disso, alguns esperavam que Itamar fosse para o PDT. Mas o governador deu sinais de que havia gostado do resultado da convenção, principalmente da moção aprovada que ataca o governo federal. Dirceu deve vencer no 1º turno a eleição a presidente do PT O deputado federal José Dirceu (SP) deve vencer no primeiro turno a eleição direta para presidente nacional do PT. Atual presidente licenciado do partido, Dirceu deve conquistar novo mandato de três anos. Integrante da ala moderada Articulação, a mesma do provável candidato à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, Dirceu preside o partido desde 1995. A avaliação de que sua vitória se dará já no primeiro turno foi feita ontem pelo presidente interino do partido, deputado federal José Genoino. "Ainda com base em números extra-oficiais, colhidos em todo o Brasil, a nossa expectativa é que o José Dirceu se reeleja já no primeiro turno", disse Genoino, também da ala moderada do partido. Ele adiantou que Dirceu teve cerca de 62% dos votos em São Paulo e que o candidato moderado ao diretório paulista, Paulo Frateschi, também venceu. Na eleição passada, ainda indireta, Dirceu obteve 55% dos votos nacionalmente. Até a noite de ontem, mais de 24 horas após o encerramento da votação, nenhum boletim oficial de apuração tinha sido divulgado. O motivo foi uma pane no sistema [veja texto abaixo". Também houve dificuldade para obtenção de quórum em algumas cidades. O comparecimento mínimo para validar a eleição em um diretório era de 15%, o equivalente a 129 mil votos. Segundo Genoino, votaram cerca de 200 mil pessoas. O problema é que alguns diretórios municipais, que também estavam sendo renovados, não atingiram o patamar mínimo. Nesses casos, toda a votação foi anulada. Entre as cidades atingidas estão Belo Horizonte (MG), Contagem (MG), Juiz de Fora (MG) e Santos (SP). Para elas, haverá nova eleição em abril. O próprio voto de José Genoino não valeu -seu diretório zonal, no bairro do Butantã, não obteve quórum mínimo. Em outras cidades, haverá segundo turno, pois nenhuma chapa obteve mais da metade dos votos. Campinas (SP) é um exemplo. A provável vitória de José Dirceu no primeiro turno é um impulso às reformas "moderadas" que ele tem promovido no partido. O PT hoje se apresenta com uma plataforma próxima do centro, com a defesa da estabilidade econômica, da moralidade administrativa e de mudanças "sem susto". O partido virtualmente abandonou o discurso de construção de uma sociedade socialista e suavizou bandeiras como reversão da privatização e não-pagamento da dívida externa. "O candidato vencedor desta eleição terá legitimidade no partido e vai liderar o PT no processo de mudança social. Nós não nos iludimos com o modelo que aí está", disse Genoino. Concorrem com Dirceu outros cinco candidatos. Artigos Quem é o "bem"? CLÓVIS ROSSI SÃO PAULO - Há um pequeno problema para aderir à guerra do "bem" contra o "mal" decretada pelos Estados Unidos e imediatamente encampada por incontáveis líderes e mortais comuns mundo afora. O "mal" até dá para identificar: o terrorismo é de fato a barbárie e não deveria caber no mundo civilizado. Mas o que é o "bem"? Serão os Estados Unidos? Só mesmo os americanófilos mais fanáticos responderão sim. Toda pessoa de bom senso será capaz de listar as imensas qualidades mas também os enormes defeitos da sociedade norte-americana e, em especial, de sua liderança, atual ou passada. Não me parece que os Estados Unidos estejam em via de canonização, do que decorre a impossibilidade de aceitá-los como encarnação única e perene do "bem" . É até muito perigoso levar a coisa para esse terreno teológico. Por que aceitar que Osama bin Laden é culpado sem que tenha sido fornecida alguma evidência? Basta a palavra de algumas autoridades norte-americanas? Não foi, aliás, a CIA quem, de certo modo, inventou Bin Laden, por meio do MAK (Maktab al-Khidamar), a organização que canalizava dinheiro, armas e combatentes para enfrentar os soviéticos no Afeganistão nos anos 80? Menos mal que nos próprios EUA haja sinais de bom senso, como o que aparece na mensagem pessoal que Stephen L. Weber, o presidente da Universidade de San Diego (Califórnia), enviou a seus 30 mil alunos: "Tais atos de ódio (em alusão aos atentados) são possíveis somente quando nós reduzimos outros seres humanos a estereótipos, quando nós estamos longe demais para ver suas esperanças, seus amores, seus trabalhos, seu lazer". Continua a carta: "O teste para cada um de nós é sustentar e praticar os valores de tolerância e de respeito mútuo que fizeram forte esta nação de imigrantes". Que Bush o ouça, Stephen. Colunistas PAINEL Veto pefelista O PFL não aceita a candidatura de Renan Calheiros (PMDB) à presidência do Senado. Para combatê-la, o partido incentiva José Fogaça (PMDB) a disputar a eleição como candidato independente, mesmo que perca a disputa interna no PMDB. Nariz torto Renan Calheiros, segundo o PFL, não é nada confiável. O partido lembra que até há pouco tempo o peemedebista defendia a candidatura de Itamar Franco na sucessão de FHC. "Se decidir apoiá-lo, FHC terá de arcar sozinho com isso depois". O clone O PFL espera contar com o apoio de parte do PSDB e da oposição à candidatura de Fogaça (RS). Se o gaúcho recuar, o PFL poderá até lançar candidato próprio. "Não votamos no Jader Barbalho e não votaremos em seu alter ego, que irá trabalhar para salvá-lo", diz um senador. Guarda-chuva José Sarney disse a aliados que desistiu de disputar a presidência do Senado porque temia prejudicar a pré-candidatura de sua filha, Roseana Sarney, à Presidência da República com os ataques que passaria a sofrer. Segunda intenção José Alencar (MG) tem dito que aceita abandonar sua candidatura à presidência do Senado desde que vá para a liderança do PMDB no lugar do senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Rival por herança Tasso Jereissati condenou a candidatura Renan Calheiros, antigo desafeto de Mário Covas. Quer deixar claro que se mantém alinhado à política do ex-governador, de olho no apoio do grupo covista na disputa pelo nome tucano à Presidência. Com a barriga Juvêncio da Fonseca (PMDB-MS), presidente do Conselho de Ética, vai alegar que é preciso ouvir Jader Barbalho antes de colocar em votação o pedido de processo por quebra de decoro. O PMDB quer ganhar tempo. Pressão a cavalo Cerca de 1.200 cavaleiros são esperados hoje na Esplanada dos Ministérios, numa manifestação contrária à política agrícola. Duzentos deles vieram a cavalo de Passo Fundo (RS), numa viagem de cerca de 2.000 km. Discurso de candidato José Serra mudou de discurso. O ministro disse a aliados que aceita disputar a eleição presidencial independentemente do cenário econômico. Antes, o ministro da Saúde dizia que só concorreria num quadro favorável. Primeira classe Valter Pomar, dirigente da esquerda do PT, pediu explicações a José Dirceu sobre o uso de jatinhos na campanha para a presidência nacional do partido. "É abuso econômico", diz o petista. Caminho da roça Num telefonema de cinco minutos, Itamar Franco alegou a Brizola que vai continuar no PMDB para não "prejudicar antigos companheiros". "Cada um segue seu destino", respondeu o pedetista, que apoiará Ciro. Entrave doméstico Aliados de Itamar Franco dizem que o governador pretende disputar a reeleição em Minas Gerais, caso não consiga vencer as prévias do PMDB para presidente. O difícil será convencer o vice Newton Cardoso a se contentar em concorrer ao Senado. Promessa de campanha Ciro Gomes (PPS) anunciou em Curitiba que, eleito presidente, nacionalizará a Copel (central paranaense de energia), caso ela seja adquirida por uma empresa estrangeira. O candidato prometeu ainda convencer Lula e Itamar Franco a firmar o mesmo compromisso. Visita à Folha Roberto Nicolsky, professor do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro, visitou ontem a Folha. TIROTEIO Do senador Jefferson Péres (PDT-AM), um dos relatores do caso Jader Barbalho (PMDB-PA), sobre o discurso no qual o peemedebista renunciará à presidência do Senado: - A questão agora é saber se Jader Barbalho vai sair com um mínimo de dignidade ou não. CONTRAPONTO Ameaça de bomba Francisco Pinheiro era vereador pelo PTB em Juiz de Fora (MG) nos anos 60. Amigo do presidente João Goulart, deposto no golpe de 64, o nome do vereador apareceu na primeira lista de cassação do regime militar. Numa noite, sua casa foi invadida pela polícia. Nervoso, Pinheiro começou a passar mal. Parecia que o vereador estava com dificuldade para respirar. Os policiais, no entanto, continuaram a vasculhar sua casa na tentativa de achar documentos que pudessem comprometê-lo. De repente, o vereador começou a gritar, olhando para a sua mulher: - A bomba, a bomba! Os policiais deram um pulo. Alvoroçados, ameaçaram o vereador com revólveres. Só se acalmaram quando o vereador conseguiu explicar: - A bomba de ar, a bomba de ar. Eu sou asmático! Editorial MERCADO REABERTO A reabertura da mais importante praça financeira do mundo, ontem, confirmou o prognóstico predominante já no final da semana passada. A Bolsa de Nova York, que teve uma queda de 7%, refletiu a deterioração da confiança. No entanto é igualmente evidente que, passado o período inicial de choque, os fatores estruturais tendem a pesar mais que o ataque terrorista na formação das expectativas de investidores e consumidores. Tais fatores, há vários meses, parecem condenar o sistema econômico global a uma fase de desaquecimento. Um pouco para dar uma injeção de ânimo após a tragédia, mas também para tentar aumentar as chances de que o pouso continue suave e a recuperação econômica dos EUA venha logo, o Fed (banco central), antes mesmo da reabertura do pregão em Wall Street, anunciou uma redução de meio ponto na taxa de juros. Certamente seria ingenuidade esperar que houvesse uma reabertura da Bolsa com alta do Dow Jones, mas a decisão do Fed ajudou a amortecer o movimento de baixa. As Bolsas asiáticas fecharam com fortes quedas, mas as européias tiveram ainda tempo de refletir maior otimismo com a iniciativa de Alan Greenspan. Para a economia brasileira, continuam pertinentes as dúvidas sobre o financiamento externo, sobre o desempenho fiscal e mesmo sobre a viabilidade da meta inflacionária, pois a taxa de câmbio entrou nas últimas semanas num patamar que parece difícil de reduzir a curto prazo. O BC anuncia amanhã o resultado de mais uma reunião do seu conselho de política monetária, mas um número expressivo de analistas de mercado espera no mínimo a manutenção dos juros no patamar atual (afinal, diante da redução dos juros nos EUA, o diferencial entre taxas internas e externas no Brasil cresceu). Levando em conta que o cenário de uma atuação militar ou mesmo de uma escalada do terror em todo o planeta é ainda hipotético, o desafio continua sendo o de evitar que o pouso suave desande numa recessão internacional. Topo da página

09/18/2001


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