Jader retoma cargo e marca data para renunciar



Jader retoma cargo e marca data para renunciar A 5 dias do fim da licença, senador reassume e diz que vai entregar posto até terça-feira BRASÍLIA - Cinco dias antes do final de sua licença, o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) reassumiu ontem inesperadamente a presidência do Senado e anunciou que deixará o cargo na próxima segunda ou terça-feira. No mesmo dia, ele fará um pronunciamento na tribuna para justificar a decisão e confrontar as denúncias que colocam seu mandato em risco no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar. Até que Jader sucumbisse à pressão, foram sete meses sob a mira do Ministério Público e das oposições, que resultaram num pedido de abertura de processo por quebra de decoro parlamentar. As denúncias, porém, começaram a surgir em abril de 2000, quando ele e o ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) trocaram insultos por causa do aumento do salário mínimo. O senador reiterou que não renunciará ao mandato e alegou que sua iniciativa é de "caráter exclusivamente pessoal", para preservar interesses do Senado e assegurar o direito de o PMDB indicar seu sucessor. A decisão foi anunciada no dia em que o PFL decidiu obstruir sua volta à presidência e após a aprovação de uma indicação para impedi-lo de retornar ao cargo. Nos bastidores, o senador José Sarney (AP) é o mais cotado para substitui-lo. Jader reiterou que as denúncias de corrupção contra ele são políticas, "agravadas pelo episódio de violação do painel que levou à renúncia de ACM e de José Roberto Arruda (DF)". Ele negou ter sofrido pressão para renunciar, mas não soube explicar por que tomou a decisão após insistir em que estaria de volta na terça-feira que vem. Acordo - Até o presidente Fernando Henrique Cardoso foi mobilizado. A pedido de Jader, o presidente do PMDB, Michel Temer (SP), comunicou a decisão a Fernando Henrique e aos presidentes do PFL, PSDB e PPB. Eles estavam reunidos para tratar dos reflexos no País dos ataques terroristas de Nova York e Washington. Temer resolveu oficializar a questão para assegurar que o PMDB continua no comando da Casa. "Acertamos uma negociação consolidada, com o aval do presidente, para evitar que outros candidatos queiram disputar o cargo", afirmou Temer. A precaução, no entanto, era desnecessária, já que os governistas não questionam que a presidência cabe ao partido, pelo critério de proporcionalidade. O senador Édison Lobão (PFL-MA), vice-presidente da Casa que substituiu Jader na licença, assegurou que esse critério nunca esteve em questão. Jader se limitou a comunicar ao pefelista que interrompia a licença iniciada em 20 de julho. Lobão e o senador Geraldo Althoff (PFL-SC) aproveitaram ontem para negar a existência de um acordo entre governistas para poupar o senador paraense da cassação. Para o senador Antero de Barros (PSDB-MS), Jader optou pela renúncia porque percebeu que não poderia cometer "a violência de reassumir contra a vontade de seus pares". O líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), vai reunir a bancada na semana que vem para escolher o novo presidente do Senado. Segundo ele, adiantar qualquer nome "será um exercício de futurologia". PMDB se antecipa para não perder espaço Partido apressa desfecho de impasse com Jader e desarticula manobra do PFL BRASÍLIA - O novo comando nacional do PMDB, presidido desde domingo pelo deputado Michel Temer (SP), estreou ontem desarmando uma articulação do PFL para ampliar seu espaço de poder no Congresso. Quando os pefelistas reuniram sua executiva nacional logo cedo, em ação preventiva para impedir que o presidente licenciado do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), reassumisse o comando do Congresso na terça-feira, a cúpula do PMDB já havia decidido sentar Jader na cadeira de presidente ontem mesmo, para recuperar o território quase perdido do PMDB. Os dirigentes peemedebistas reagiram convencidos de que o PFL armava um golpe para permanecer à frente do Conselho de Ética e inviabilizar a volta de Jader à presidência do Senado, o que poria em risco o espaço destinado ao PMDB na partilha do poder no Congresso. A estratégia de forçar a eleição do novo presidente do Conselho e antecipar o retorno de Jader, para garantir a presidência do Senado a um peemedebista, foi montada em reunião na noite de quarta-feira e detalhada ontem de manhã, na casa do próprio Jader. Estiveram presentes os líderes na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA), e no Senado, Renan Calheiros (AL). "Mesmo sendo alvo de uma vendeta política do PFL, que até hoje não se conformou com a renúncia de Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), não posso desconhecer que o Senado é hoje uma instituição em crise", disse Jader aos companheiros. Os acertos finais apontaram a necessidade de envolver o presidente Fernando Henrique na sucessão do Congresso, para chancelar um acordo e evitar que a briga entre os dois partidos no Conselho de Ética acabasse virando guerra na base aliada. Ao meio-dia, Temer dirigiu-se ao Planalto. "O Jader vai reassumir hoje a presidência, mas está disposto a renunciar", anunciou o deputado a Fernando Henrique, ao explicar que estava ali como presidente do partido, com a missão de garantir a vaga de presidente do Senado ao PMDB. Fernando Henrique concordou que o espaço partidário deveria ser mantido em nome da boa convivência entre aliados, e Temer aproveitou para defender a necessidade de o presidente dar aval ao acordo, garantindo o seu cumprimento. "Não posso assumir o comando do PMDB depois de uma convenção dificílima, contestado pelos presidentes de outros partidos", disse Temer, evitando referir-se ao presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC). "Não tem dúvida", respondeu Fernando Henrique, e disse que convocaria os outros três presidentes dos partidos governistas (PFL, PSDB e PPB) para reunião às 15h30. Diante de Bornhausen e dos deputados José Aníbal (PSDB-SP) e Pedro Correa (PPB-PE), ele abriu o encontro falando da preocupação do PMDB com a presidência do Senado. Temer comunicou então aos colegas que Jader estaria reassumindo a presidência ontem, mas que teria disposição de renunciar. Isto, claro, com a garantia de o PMDB manter-se no comando. Bornhausen disse que não veria problema, mas ponderou que o sucessor de Jader deveria ser "um nome afinado com o presidente" Fernando Henrique Cardoso. Boicote do PFL apressou desfecho Com o anunciado boicote de 105 deputados e de 20 senadores, o PFL tornou inviável a continuidade de Jader Barbalho na presidência do Senado e do Congresso. O líder do partido na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE), anunciou à Executiva nacional, na manhã de ontem, que retiraria toda a sua bancada do plenário do Congresso (Câmara e Senado reunidos) toda vez que Jader ocupasse a cadeira de presidente. No mesmo caminho, o senador Waldeck Ornélas (PFL-BA), que no Senado continua a fazer os ataques a Jader - papel que era de seu guru, o ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) - exigiu e conseguiu do líder do partido, Hugo Napoleão (PI), o compromisso de que todos os senadores seriam consultados até segunda-feira, para saber se tomariam a mesma atitude dos deputados. "O Congresso Nacional não pode continuar sendo chantageado pelo senador Jader Barbalho", atacou Ornélas. Aliados querem Sarney, mas PMDB tem outros candidatos Um deles, José Fogaça, já avisou que desiste da disputa se ex-presidente aceitar a missão BRASÍLIA - O senador José Sarney (PMDB-AP) é o favorito para suceder Jader Barbalho (PMDB-PA) na presidência do Senado. Sarney é apoiado pelo Palácio do Planalto, pelo presidente do PFL, Jorge Bornhausen (SC), pelo PPB, pelo PSDB e pelo PTB. "Até quinta-feira, esse será um assunto resolvido", disse o senador Pedro Simon (PMDB). Segundo ele, o espírito da casa é não criar nenhum incidente e evitar que a vaga, pertencente ao PMDB, seja cobiçada por outra legenda. Existem, porém, outros nomes peemedebistas interessados em substituir Jader, que renunciará à presidência na terça-feira. São os senadores José Fogaça (RS), Renan Calheiros (AL), líder do partido, e José de Alencar (MG). O primeiro movimento para a escolha do sucessor de Jader será uma disputa dentro da bancada de 26 senadores do PMDB. O senador José Fogaça, por exemplo, já avisou a alguns colegas que pretende concorrer à indicação. Mas acrescentou que desiste da disputa se Sarney for candidato. Sarney tem avisado reiteradamente que só aceitará a missão se for convocado por unanimidade por seu partido e pelo Senado. Um senador oposicionista adianta, porém, que ele não terá o apoio do bloco da oposição. A respeito de Sarney e sua indisposição para a disputa, diz outro senador: "Ele só cobra pênalti se o goleiro estiver amarrado à trave". Sarney estava ontem no Rio de Janeiro e disse a correligionários que não quer o cargo. Mas, ao mesmo tempo, deixou uma porta aberta. Pediu tempo para pensar. Na análise de senadores do PMDB, a opção Renan Calheiros criaria dificuldades políticas no plenário do Senado e com o Palácio do Planalto. Ele é considerado um dos políticos mais próximos de Jader e terá que atuar como coodenador da escolha na bancada. Tem ainda vetos do PFL e do PSDB, por causa de suas brigas com Bornhausen e as acusações que fez à família do ex-governador Mario Covas, quando era ministro da Justiça. O nome de José de Alencar surge como uma alternativa que não teria resistências do plenário. O senador, porém, não tem a unanimidade do PMDB. Contudo, poderia derrubar resistências na oposição, já que é respeitado nos partidos de esquerda a ponto de ter sido convidado por Luiz Inácio Lula da Silva, provável candidato do PT à Presidência em 2002, a integrar a sua equipe. Senadores chamavam ontem a atenção para um ponto da entrevista de Jader, quando ele anunciou que reassumiria a presidência do Senado para renunciar depois. Pela primeira vez, indagado se poderia renunciar ao próprio mandato para fugir de uma possível cassação por causa do processo por quebra de decoro, Jader não foi categórico na negação. Significa, na opinião de senadores do PMDB, que, se as pressões continuarem, ele poderá renunciar também ao mandato de senador. Embora nos últimos sete meses a presidência do Senado tenha sido marcada por situações críticas e denúncias contra seu titular, trata-se do segundo cargo mais importante da República. Portanto, é um posto fundamental para quem deseja influir na sucessão eleitoral de 2002. Em janeiro, quando Sarney foi procurado pelo ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), que tencionava fazê-lo seu sucessor, foi avisado de que, se aceitasse o convite, poderia receber apoio à candidatura da filha, Roseana Sarney, do PFL. Mas Sarney não quis disputar as prévias na bancada do PMDB. O Senado, então, elegeu Jader Barbalho. Brindeiro lamenta queima de registros Para ele, 'seria mais ampla a obtenção de provas' com documentos sobre sigilo fiscal BRASÍLIA - Um dia após a Receita Federal informar ao Supremo Tribunal Federal (STF) que incinerou dados fiscais de 1988 e 1989 referentes ao presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), o procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, defendeu ontem mudanças para evitar que eventuais provas criminais sejam perdidas. Ele disse que a incineração das informações prejudica, em termos, as investigações sobre o suposto envolvimento do parlamentar na venda irregular de Títulos da Dívida Agrária (TDAs). "Seria mais ampla a obtenção de provas (se fosse possível conhecer os dados fiscais do senador)", comentou o procurador-geral. Brindeiro, no entanto, lembrou que os dados bancários de Jader já foram encaminhados ao Supremo pelas instituições financeiras e serão usados na apuração. O procurador disse, ainda, que em breve deverá encaminhar ao STF um parecer sobre a informação de que a Receita não dispõe mais dos dados fiscais do peemedebista. Após receber esse parecer, o relator do inquérito no Supremo, Carlos Velloso, deverá remeter o caso à Polícia Federal (PF). A Receita sustentou que a legislação em vigor no País prevê que as informações fiscais devem ser conservadas por um período de cinco anos. Brindeiro explicou ontem que a razão para destruir os documentos é de natureza tributária, não criminal. "Mas, já que há hipótese de crime, seria importante que houvesse (a obrigatoriedade de guardar os dados fiscais por mais tempo)", opinou. "Mas seria necessário haver uma previsão em lei." Ação - Brindeiro descartou ontem qualquer possibilidade de propor uma ação contra o procurador da República no Distrito Federal Luiz Francisco de Souza, que é acusado pelo advogado Amauri Serralvo de incluir indevidamente o seu CPF em uma ação de quebra de sigilo contra o ex-secretário-geral da Presidência Eduardo Jorge Caldas Pereira. Ele disse que caberia ao próprio advogado encaminhar ou não uma representação contra Luiz Francisco. PF pede nova quebra de sigilo do senador Requerimento foi feito ao STF por indícios de envolvimento de Jader em fraudes na Sudam BRASÍLIA - No mesmo dia em que anunciou sua renúncia à presidência do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA) recebeu três golpes. A Polícia Federal pediu a quebra do seu sigilo bancário ao Supremo Tribunal Federal (STF) por indícios de envolvimento em fraudes na extinta Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e entregou à Corregedoria do Senado um dossiê com depoimentos que o comprometem nas mesmas irregularidades. Além disso, o Ministério Público Federal no Amazonas pediu abertura de um novo processo contra o senador por suspeita de irregularidades na desapropriação de terras quando ele era ministro da Reforma Agrária. O STF já autorizou, em duas ocasiões, a quebra do sigilo bancário de Jader, mas é a primeira vez que o pedido refere-se ao período do atual mandato do senador (de julho de 1998 a julho de 2001). A requisição, feita pelo delegado federal Hélbio Dias Leite, foi baseada num depoimento colhido em Altamira, um dos redutos eleitorais do senador no Pará. Um empresário afirma ter dado R$ 70 mil para ajudar na campanha de Jader por meio de depósitos feitos na conta de Márcia Cristina Zaluth Centeno, mulher do senador, e para seu irmão, Leonel Barbalho. Além dos três, a quebra de sigilo atinge o deputado federal José Priante (PMDB-PA) - primo do senador - um assessor e o ranário de Márcia Cristina. Fotos - Com os documentos entregues ontem, o Senado poderá abrir um novo processo de investigação contra Jader. O dossiê inclui fotos do senador com empresários envolvidos nas fraudes da extinta Sudam, entre eles integrantes da família Soares, que chegaram a enviar comunicados à imprensa utilizando o gabinete da presidência do Senado. Há ainda uma relação apreendida pela Polícia Federal na casa do ex-superintendente da Sudam José Arthur Guedes Tourinho, na qual há a sigla "JB" anexa a 26 projetos a serem financiados pela autarquia. Os documentos também fazem parte dos papéis protocolados na Corregedoria do Senado e da Câmara, já que envolvem Priante. Jader foi surpreendido ainda no dia do anúnco da despedida da presidência do Senado pelo pedido, feito pela Procuradoria da República no Amazonas, de abertura de mais um processo, também no STF. O Ministério Público Federal investiga o suposto envolvimento do senador nas irregularidades da desapropriação da gleba Vila Amazônia, na região Norte, quando ele foi ministro da Reforma Agrária, entre 1987 e 1988. O inquérito, aberto no ano passado, incrimina também um dos amigos e ex-assessor de Jader, o ex-deputado Antônio Pinho Brasil, já condenado por irregularidades em outra desapropriação. Na desapropriação da Vila Amazônia, foi registrada uma superavaliação de 4.000%, em episódio considerado escandaloso pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Grilagem, encerrada no mês passado na Câmara. O procurador da República no Amazonas Sérgio Lauria Ferreira encaminhou o caso para a Justiça Federal remetê-lo ao Supremo Tribunal Federal. Maluf informou dados diferentes ao fisco e TRE À Receita, ex-prefeito disse ter R$ 34 milhões; à Justiça Eleitoral, declarou R$ 74 milhões À Justiça Eleitoral, o ex-prefeito Paulo Maluf (PPB) declara patrimônio pessoal avaliado em R$ 74,96 milhões. À Receita Federal, ele declara que seus bens e direitos somam uma cifra mais modesta: R$ 34,25 milhões. As informações que apontam diferença de R$ 40,71 milhões constam de documentos oficiais que Maluf assinou embaixo e entregou ao Fisco, em abril de 2000, e ao Tribunal Regional Eleitoral, dois meses depois. Os itens que mostram discrepâncias mais evidentes de valores referem-se aos imóveis. Por exemplo: a casa onde reside, à Rua Costa Rica, 146 - adquirida em agosto de 1959 - vale R$ 2,97 milhões perante o TRE e R$ 1,34 milhão para a Receita. Na mesma rua, no número 126, o ex-prefeito possui outra propriedade com 1.120 metros quadrados - que vale R$ 1,68 milhão perante a Justiça e R$ 462,9 mil na declaração ao Fisco. Ainda no campo imobiliário, Maluf informa ao TRE que está avaliada em R$ 2,37 milhões a parte (1/5) que detém de um terreno e edifício de apartamentos à Rua Vergueiro, números 235, 239, 249 e 265. À Receita, esse bem vale R$ 727,33 mil. E mais: terreno com 1.677 metros quadrados no Guarujá, comprado em agosto de 74, vale R$ 150 mil (TRE) e R$ 83.940,17 (Fisco). A diferença chega a quase 100% no caso de um imóvel da Rua Florêncio de Abreu, 562, centro da capital, do qual o ex-prefeito possui a "metade ideal" - R$ 400 mil declarados à Justiça Eleitoral e R$ 201.331,23 à Receita. Um imóvel com 73.375 metros quadrados localizado em Itapecerica da Serra (Grande São Paulo), comprado em janeiro de 1974, tem o valor de R$ 360 mil na declaração feita ao TRE e R$ 21.138,40 na prestação de contas ao Fisco. O ex-prefeito teve seu sigilo telefônico, bancário e fiscal quebrado por ordem do juiz-corregedor Maurício Lemos Porto Alves. Cópias das declarações de rendas e bens de Maluf estão de posse da comissão parlamentar de inquérito (CPI) que investiga o rombo da dívida pública do município. O Ministério Público Estadual também quer ter acesso à documentação fiscal do pepebista e dos familiares dele. Os promotores de Justiça Silvio Antonio Marques e Marcelo Mendroni pediram a quebra do sigilo dos quatro filhos de Maluf (Flávio, Otávio, Lina e Lígia) e de uma nora, Jacquelline. Eles apuram a existência de aplicações financeiras em nome do pepebista no paraíso fiscal da Ilha de Jersey. Nas declarações à Receita e ao TRE, Maluf não registra depósitos bancários no exterior. Valores em dinheiro, segundo ele, estão aplicados ou mantidos em conta corrente apenas em agências situadas em São Paulo - R$ 595,10 em um fundo no Bradesco; R$ 1,00 em conta no Bradesco; R$ 10.024,18 em outra conta no Banespa; R$ 129.124,65 em fundo no Bank Boston em nome da mulher, Sylvia; R$ 62,76 em conta no Bank Boston também em nome da mulher. Expressiva - Os carros estão na média. O Porsche ano 1979 está avaliado em R$ 40 mil na informação ao Tribunal Eleitoral e em R$ 43.720,28 na declaração à Receita. O Mitsubishi 3000 GT, ano 1994, está avaliado em R$ 55 mil para a Justiça e em R$ 74.618,58 para o Fisco. Diferença expressiva está no valor das cotas da Pasama Participações S/C Ltda - 52,5 milhões de cotas avaliadas em R$ 52,5 milhões perante o TRE e em R$ 23,3 milhões para o Fisco. As ações - total de 3,81 milhões - da Eucatex S.A Indústria e Comércio valem R$ 1,93 milhão na informação ao TRE e R$ 2,57 milhões na declaração à Receita. Maluf também declara a posse de dois cavalos - R$ 28 mil para a Justiça e R$ 27.758,91 para a Receita. Ele informa ao TRE ter crédito de R$ 1,00 com Walter Erwin Stumpf. O valor cai para R$ 0,68 quando presta contas ao Fisco. Na informação que enviou ao TRE em junho de 2000 - na época, candidato a prefeito -, Maluf registrou "direitos sobre bens móveis e imóveis constantes do inventário de sua mãe, em curso na Vara da Família e Sucessões da Comarca da capital". Na Receita, não há menção ao inventário. Colunistas DORA KRAMER Limites da solidariedade O próximo e decisivo passo da crise provocada pelos atentados de terça-feira nos Estados Unidos, a reação americana, está sendo acompanhado pelo governo brasileiro com a noção de que George W. Bush joga agora, já com poucos meses de mandato, o destino de sua presidência. Na avaliação do Itamaraty, que por motivos óbvios não tem caráter oficial, o presidente americano tanto pode dar a volta por cima na primeira e péssima impressão que causou, como pode afundar-se de vez no isolacionismo e na postura unilateral que, na visão da diplomacia brasileira, acirrou o sentimento antiamericano no mundo, agora substituído pela solidariedade. Caso a reação seja desmedida e acabe por atingir países ou povos cujo único pecado seja a identidade nacional e religiosa com os autores dos atentados, a expressão usada pelos diplomatas é exatamente esta: a solidariedade internacional saberá encontrar seus limites. Pautados pela racionalidade e expectativa de paz. De acordo com essa análise, a dificuldade para Bush reside no seguinte: ele terá de captar com precisão o sentimento do cidadão norte-americano - hoje quase unânime no apoio a reações de força absoluta e ávido por vingança -, assumir a liderança do processo acalmando ou instigando os ânimos, e ainda balizar esses fatores com emoções, valores e interesses de outras nações, hoje solidárias à América. George W. Bush assumiu acreditando piamente que os Estados Unidos são não apenas o centro do planeta, mas a razão de ser do universo. Diferentemente do antecessor, Bill Clinton, Bush não demonstrou até agora especial habilidade na arte de administrar a presença preponderante da nação norte-americana na convivência com as complexidades das diversas realidades nacionais. Daí a dificuldade do presidente em cumprir acordos, seguir tratados, estabelecer parcerias, levar em conta o outro. Mas o ineditismo e a ousadia da ação terrorista derrubaram a ilusão da inviolabilidade do território americano e expuseram para o sistema do qual Bush é porta-voz, o real significado do conceito de reciprocidade internacional. Trata-se de um fator nada desprezível a ser considerado na difícil decisão do governo norte-americano, já em franco - mas ainda não explícito - processo de execução. Até agora o discurso americano de conclamação à guerra não guarda correspondência com a cautela dos gestos. Principalmente porque ainda não se estabeleceu contra quem declarar essa guerra. Os cuidados também, nesse caso, são redobrados justamente porque os ataques foram feitos dentro dos Estados Unidos. O que autoriza a suposição de que eventuais contra-ofensivas à reação aos atentados de terça-feira, também podem acontecer em território americano. Aliás, pela lógica desvairada do terror não se pode descartar a hipótese de que outros terroristas já tenham sido posicionados previamente, antes do reforço das medidas de segurança para entrada e trânsito no país. E talvez seja essa a principal razão das evasivas que permeiam todas as declarações de autoridades. Ao longo desses dias, as entrevistas do porta-voz da Casa Branca, do Departamento de Estado, do FBI e de todas as instâncias governamentais têm se caracterizado pela proposital ausência de informações precisas e abundância de informações dispersas a respeito de prisões de suspeitos e pistas que estão sendo seguidas. Já apareceram suspeitos na América do Sul, na Alemanha, na Inglaterra, no Oriente Médio, em toda parte. Só não se falou ainda abertamente na possível presença de terroristas nos Estados Unidos à espera da reação para retaliar com uma nova seqüência de atos. Ritual de resultados O senador Jader Barbalho anunciou ontem que reassume a presidência do Senado para renunciar ao cargo na semana que vem, como se tivesse tomado a decisão recentemente. Não foi bem assim. Há algum tempo, semanas mesmo, o comando do PMDB já sabia desse desfecho, até porque Jader sempre teve a perfeita noção de que seu destino não tinha reviravolta possível. Melhor do que ninguém sempre esteve consciente, desde que pediu licença do cargo, de que reassumir a presidência corresponderia a uma imolação em praça pública. E ainda poderia, pelo atrito partidário e institucional que provocaria, inviabilizar os planos do PMDB de eleger o sucessor. Mas, no meio do caminho, havia uma complicação que era a convenção do PMDB. Até que seus aliados assegurassem o comando do partido, não seriam aconselháveis movimentos bruscos. Os pemedebistas, incluindo obviamente Jader, cumpriram então todo o ritual que os levaria aos melhores resultados. Primeiro, abraçaram a tese da candidatura própria e, assim, evitaram a derrota para o grupo de Itamar Franco. Em seguida, ajeitaram uma moldura de retirada estratégica do obstáculo Jader Barbalho e agora preparam-se para assumir de fato a presidência do Senado. Editorial Mudou o cenário; mude-se a política externa No calor da hora - as torres do World Trade Center, atingidas por dois aviões seqüestrados, ainda não haviam ruído, e o Pentágono ardia em chamas -, o chanceler Celso Lafer antecipou os efeitos que os atos terroristas praticados contra os Estados Unidos poderão exercer sobre a política internacional. "A ordem mundial, depois da queda do Muro de Berlim, regeu-se pela diplomacia, mas esse evento muda isso. Coloca segurança, paz e guerra em termos inusitados", disse ele. "O que está acontecendo afetará a todos e o sistema internacional de uma maneira que não é possível, neste momento, prever (...). Realça a destrutividade do terrorismo e a desmedida da violência sem limite." A comprovação de que os Estados Unidos, como qualquer outro país, são vulneráveis a ataques suicidas dificilmente superará, em importância histórica e no ordenamento mundial, a dissolução da União Soviética e conseqüente fim da guerra fria. Mas é fora de dúvida que o ataque terrorista aos Estados Unidos tem uma dimensão que afeta todo o sistema internacional, principalmente quando se considera a declaração solene do presidente George W. Bush de que os Estados Unidos não farão distinção entre os terroristas e os países que lhes deram abrigo. Isso significa que a caça aos terroristas deixará de ser uma caça a fantasmas. Os regimes que sustentam e abrigam os terroristas responderão pela violência indiscriminada que seus cúmplices praticam. Como afirmou o ex-secretário de Estado Henry Kissinger, em artigo publicado quarta-feira no Estado, "qualquer governo que abrigue grupos capazes desse tipo de coisa, prove-se ou não que eles estejam envolvidos nos fatos de ontem, terá de pagar um preço. E um preço exorbitante". Para que essa nova política antiterrorismo seja seguida e produza resultados eficazes, os Estados Unidos precisarão contar com o consenso de seus aliados e amigos e, mais que isso, de decidido apoio político. É claro que os Estados Unidos têm capacidade militar mais que suficiente para cobrar um "preço exorbitante" de qualquer país que proteja e patrocine o terrorismo. Mas sempre será melhor - até para que se exorcizem os fantasmas do unilateralismo e do isolamento - se essa ação for realizada com o apoio dos países que compartilham os valores do Ocidente. O Brasil faz parte dessa comunidade de valores e, diante da nova dimensão adquirida pelo terrorismo internacional, deve rever alguns pontos de sua política externa - o que o chanceler Celso Lafer admite fazer, se ficar comprovado que os terroristas receberam apoio de governos do Oriente Médio. Durante mais de uma década, sob o enganoso pretexto de que nossos suprimentos de petróleo dependiam do Iraque - como se não houvessem outros fornecedores -, o Brasil manteve relações privilegiadas com o regime de Saddam Hussein, vendendo-lhe armas e assistência tecnológica para a fabricação de engenhos de destruição de massa. Com o coronel Kadafi, tivemos um namoro igualmente longo, embora menos intenso. Somente quando esses dois patrocinadores de grupos terroristas foram flagrados violando normas de convívio internacional civilizado e a ONU decidiu puni-los é que o Brasil rompeu relações com Bagdá e Trípoli. Mas, agora, o Brasil está reabrindo sua embaixada no Iraque e já enviou um representante diplomático para a Líbia. Reatou relações diplomáticas com a Coréia do Norte e está estreitando relações comerciais com o Irã. A aproximação com esses quatro países, que figuram nas listas de hospedeiros e financiadores de grupos terroristas, atenderia a propósitos da diplomacia econômica. Fossem eles países politicamente confiáveis, democráticos e praticantes do pluralismo religioso e ideológico, seriam também bons mercados potenciais para o Brasil. Mas são regimes fechados, alimentadores do fanatismo sem o qual os bandos terroristas - aos quais sustentam e dão abrigo - não existiriam. E o Brasil não precisa de tão más companhias. O governo brasileiro também precisa rever a complacência com que encara o processo revolucionário em curso na Colômbia. Desde que as Farc entraram em simbiose com os produtores e traficantes de cocaína, aquele conflito deixou de ser um problema interno da Colômbia, passando a interessar diretamente ao Brasil. E a partir do momento em que as Farc acolheram representantes do Exército Republicano Irlandês, decano dos grupos terroristas em atividade, ficou claro que a política externa brasileira não atenderá aos interesses nacionais se se mantiver em distância olímpica das fontes onde bebe o terrorismo internacional e o narcotráfico. O problema não é "deles"; é nosso Topo da página

09/14/2001


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