Jader diz no Pará que vai renunciar



Jader diz no Pará que vai renunciar Supremo nega liminar que impediria instauração de processo de cassação e político decide concorrer às eleições de 2002 BRASÍLIA - O senador Jader Barbalho (PMDB-PA) anunciou ontem à noite em Belém, durante programa na sua emissora de televisão, a RBA, que renuncia ao seu mandato porque não terá os instrumentos para se defender das acusações de corrupção. ''Não permaneço porque não quero correr o risco desse jogo de cartas marcadas. A renúncia é um recuo para continuar na luta'', disse. Cerca de uma hora antes, às 22h30, o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), havia negado a pretensão de Jader de impedir a instauração formal do processo de cassação de seu mandato. Segundo o ministro, a defesa de Jader repetia os argumentos da liminar anteriormente negada. A petição dos advogados do senador também foi considerada tecnicamente imperfeita. Durante mais de duas horas, Jader utilizou o programa Argumento, apresentado pelo jornalista Mauro Bonna na RBA, afiliada da Rede Bandeirantes, como palanque para ratificar sua intenção de concorrer às eleições em 2002. ''Não existe uma prova sequer contra mim. Mas não vou dar a chance de me deixarem oito anos fora da vida pública, inelegível. Se eu escapei do regime militar, do senhor Romeu Tuma, que na época era do Dops... Só Deus e o povo do Pará é que vão dizer se eu devo ou não ser governador do Pará, se devo ou não concorrer ao Senado no ano que vem'', disse, acusando o senador Romeu Tuma (PFL-SP), integrante da comissão que investigou o desvio de recursos do Banpará, de falsificar documentos para incriminá-lo. Além de críticas a Tuma e ao PFL, o dono da emissora acusou a imprensa de comandar uma ''campanha de linchamento'' para tirá-lo do Senado. Segundo ele, a renúncia seria conseqüência de uma ''vingança das elites brasileiras, que não admitem a presença de um nortista na presidência do Senado''. Perguntas - Jader respondeu várias perguntas dos telespectadores e ouvintes que acompanharam sua entrevista, transmitida por mais de 20 emissoras de TV e de rádio do Pará. Embora não descarte a possibilidade de tentar voltar ao Senado em 2003, Jader tem demonstrado em conversas com seus correligionários do PMDB sua disposição de enfrentar o candidato indicado pelo governador Almir Gabriel (PSDB), que deverá ser o atual secretário especial de Produção, Simão Jatene. ''Seria uma honra para mim voltar a governar o Pará pela terceira vez'', disse Jader antes do programa. E logo em seguida emendou: ''Isso só depende do povo paraense, que aliás me coloca em primeiro lugar em todas as pesquisas para esse cargo na próxima eleição.'' Nas duas horas do programa, Jader fez, principalmente, o papel de vítima de uma ''farsa''. Nimitz em clima de paz no Rio Porta-aviões americano fará manobras em conjunto com a Marinha brasileira Enquanto os Estados Unidos fazem os últimos ajustes para a resposta militar aos atentados terroristas de 11 de setembro, um monumento das Forças Armadas americanas chega hoje ao Brasil. Em clima de paz. A partir de amanhã, o porta-aviões nuclear Nimitz (CVN-8) fará exercícios conjuntos com a Marinha brasileira na costa do Rio de Janeiro, próximo a Cabo Frio. Longe da guerra, trata-se apenas de mais uma parada do navio em sua viagem de trânsito pela América do Sul, que já estava programada antes dos atentados e nada tem a ver com o conflito iminente no Oriente Médio. A programação, que será feita em águas internacionais, inclui treinamento aéreo em conjunto e pouso de aviões A-4 da Marinha brasileira no Nimitz. O porta-aviões, criado no início dos anos 70, tem 333 metros de comprimento e 77 de largura, com tripulação de aproximadamente 3 mil pessoas. Movido por dois reatores nucleares, comporta jatos e caças de combate como o F-14 Tomcat, o F/A-18C Hornet e o EA-6B Prowler. Desde julho de 1976, quando entrou em combate pela primeira vez, no Mediterrâneo, o Nimitz já esteve no golfo de Sidra, próximo à área considerada pelo líder líbio Muammar Khadafi como Linha da morte; fez a segurança das Olimpíadas de Seul, em 1988; e participou da operação americana na Guerra do Golfo, em 1991. A ''cidade flutuante'', como o navio é chamado pela Marinha dos Estados Unidos, tem a bordo departamentos médico, odontológico, jurídico e até religioso, composto por três capelães. O sistema de defesa, nada católico, inclui mísseis, canhões e uma série de dispositivos eletrônicos. Em 1980, o porta-aviões chegou às telas de cinema, pelas mãos do diretor Don Taylor. Na aventura fantástica O Nimitz volta ao inferno, com Kirk Douglas e Martin Sheen, o comandante da embarcação volta no tempo e chega a Pearl Harbor às vésperas do ataque japonês. Governador do ES se filia ao PMDB VITÓRIA - O presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP), não foi. Mas enviou um fax cumprimentando o partido pelas filiações e explicou que estava preso em São Paulo devido às chuvas. Animação, porém, não faltou. Mais que uma reunião, foi uma festa com direito a batucada, galerias e corredores lotados, o plenário da Assembléia Legislativa tomado por novos afiliados. Segundo o presidente regional do PMDB em exercício, Hugo Borges Júnior, serão mais de 200 até sábado, quando expira o prazo de filiação para as eleições do ano que vem. Só na tarde de ontem foram mais de 50. Entre eles, o governador e ex-tucano José Ignácio Ferreira, que enfrenta diversas acusações de irregularidades; o deputado federal Marcus Vicente, os deputados estaduais Gumercindo Vinnad, Marcos Gazzani e Antônio Cavalieri, 12 prefeitos e oito vereadores. Sendo um deles, Maurício Leite, da capital. Com isso a bancada do PMDB passa a ter sete deputados, enquanto o PSDB fica apenas com a deputada Fátima Couzi. O partido vai lançar candidatos em todos os níveis no estado. Para governador está entre Guerino Zanon e Camilo Cola. O senador Gerson Camata e sua mulher Rita Camata, em vias de deixar o partido, não apareceram. Presidência - O ministro da Educação, Paulo Renato Souza, defendeu ontem a formação de uma chapa para a candidatura à Presidência da República encabeçada pelo PSDB. O ministro elogiou a administração da governadora do Maranhão, Roseana Sarney, mas ponderou: ''Ela é do PFL.'' Paulo Renato quer a manutenção das alianças partidárias que compõem a base governista, mas acredita que apenas um candidato do PSDB daria continuidade às propostas que estão sendo seguidas desde o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso. O prefeito de Belo Horizonte, Célio de Castro, que deixou o PSB no início do ano, anunciou ontem a decisão de se filiar ao Partido dos Trabalhadores (PT). Segundo o prefeito, a iniciativa foi comunicada ao governador de Minas Gerais. Itamar Franco (PMDB), de acordo com ele, apoiou a decisão e reafirmou que este seria o ''caminho correto''. Um comunicado também foi feito ao presidente nacional do PDT, Leonel Brizola. Tropa vigia fazenda da família de FH BRASÍLIA - O ministro da Defesa, Geraldo Quintão, enviou ontem tropas do Exército para impedir a invasão da fazenda dos familiares do presidente Fernando Henrique Cardoso em Buritis (MG), enquanto o presidente está em viagem a Quito, no Equador. Fernando Henrique foi avisado da nova ameaça pelo ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Alberto Cardoso. O pedido do general Cardoso foi feito no início da noite de ontem ao Ministério da Defesa. É a terceira vez que o Exército envia tropas para guarnecer a fazenda Córrego da Ponte, de propriedade dos filhos do presidente Fernando Henrique, e que está em plena colheita de café. O ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann, voltou às pressas de Belo Horizonte onde passou o dia de ontem para decidir se negocia ou não com os militantes do MST. Cerca de 200 trabalhadores rurais ligados ao movimento decidiram intensificar a mobilização pelo perdão das dívidas agrícolas, aproveitando a ausência do presidente para acampar em frente à fazenda. Hoje, militantes do MST farão acampamento em Buritis (MG), cidade localizada no noroeste de Minas Gerais. Ontem, os trabalhadores iniciaram marcha rumo à fazenda Córrego da Ponte, que fica a 60 quilômetros da sede do município. Segundo a direção nacional do MST, os trabalhadores realizarão assembléia para decidir se irão acampar em frente à propriedade ou mesmo tentar invadi-la, como já aconteceu em pelo menos duas vezes anteriores. O MST realiza a marcha pela abertura de créditos agrícolas, renegociação e perdão de dívidas de assentados na região. Recursos do SUS somem no Piauí Subprocurador da República e auditores do Ministério da Saúde vão fazer devassa em contas de secretário de Mão Santa BRASÍLIA - Um esquema de desvio de recursos do Sistema Único de Saúde (SUS) colocou o governo do Piauí na mira do Ministério Público Federal. Na quinta-feira, um subprocurador da República, acompanhado por 32 auditores do Ministério da Saúde, desembarcam em Teresina para fazer uma devassa nas contas do estado. O principal alvo dos auditores é o secretário estadual da Saúde, Paulo Lages. De acordo com o Ministério Público, auditorias do Ministério da Saúde apontam Lages como maior beneficiário da fraude. O esquema contaria ainda com a conivência dos diretores de hospitais públicos de todo o estado. As primeiras auditorias, feitas por amostragem, revelaram um mecanismo grosseiro de falsificação de guias de internação. Há, por exemplo, diversos casos de cobertura do SUS para ultrassonografia gestacional realizadas em homens. O SUS também cobriu cirurgias feitas em pessoas mortas. Em alguns hospitais, nomes de pacientes foram alterados nas fichas de atendimento usadas para falsificar guias de internação. Clínica - O secretário de Saúde também é acusado de aumentar os repasses do SUS para a clínica Santa Edwiges, de Parnaíba, que já foi sua e hoje está sob a direção da família. As denúncias levaram o Ministério Público a pedir ao Ministério da Saúde uma intervenção no estado, até que a fraude seja desvendada. Só este ano, já foram repassados R$ 3,3 milhões do Ministério da Saúde para o Piauí. Não é a primeira vez que Paulo Lages é alvo de denúncias. Na eleição de 1998, a Polícia Federal descobriu a distribuição de medicamentos em troca de votos. Mesmo assim, Lages conta com o apoio do governador do estado, Francisco de Assis Moraes Souza, o Mão Santa. ''Ele já explicou tudo isso'', limitou-se a dizer Paulo Almeida, assessor do governador. A assessoria de Mão Santa tratou com descaso até a possibilidade de uma intervenção federal no estado, que implicaria suspensão do repasse de recursos do SUS para o Piauí. ''Entre a apresentação de um pedido de intervenção e a aprovação há uma distância muito grande. Aqui não é como aí em Brasília, não'', desafiou Almeida. Mão Santa - O Ministério Público ainda não não sabe o tamanho do rombo. A fraude no SUS soma mais uma linha no complicado currículo do governador Mão Santa. Em seu segundo mandato, ele é acusado de tráfico de influência e de uso da administração pública nas eleições de 1998 e no pleito municipal do ano passado. A investigação do MPF e do Ministério da Saúde no Piauí acontece no mesmo momento em que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) prepara-se para julgar um processo por abuso de poder econômico na eleição de 1998 contra Mão Santa. No processo, o governador do Piauí é acusado de usar dinheiro da companhia de água e esgotos do rstado para pagar bandas e cantores que se apresentaram em seus comícios e também de incluir 900 cabos eleitorais na folha de pagamento em cargos de comissão. Estevão, Naya e deputado perdem ação BRASÍLIA - Ex-sócios na construção de um shopping center no Lago Norte de Brasília, o ex-senador Luiz Estevão e o ex-deputado Sérgio Naya e o deputado Paulo Octávio (PFL-DF) perderam, de vez, a causa em que pretendiam executar a Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap) em R$ 23 milhões. A 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) extinguiu processo de execução iniciado em 1992 pela LPS (consórcio formado Estevão, Naya e Paulo Octávio) contra a Terracap, que, por sua vez, entrara com ação de retrovenda contra o consórcio. A retrovenda consiste em readquirir terreno vendido com prazo de construção, em virtude do não cumprimento dessa cláusula. Prazo - Como a LPS não cumpriu o prazo de 30 meses que tinha para construir o shopping, a Terracap ingressou com ação para reaver o terreno. A 3ª Vara da Fazenda Pública do Distrito Federal deu ganho de causa à Terracap, mas determinou que indenizasse a LPS pelo terreno e benfeitorias. O Tribunal de Justiça confirmou a sentença e a LPS recorreu ao STJ. Em 1997, a LPS entrou com ação, cobrando da Terracap a correção do que tinha pagado pelo lote. O pedido foi acolhido nas primeira e segunda instâncias. No STJ, a Terracap teve sucesso ao defender a tese de que o consórcio LPS não poderia beneficiar-se da sentença. Artigos Quem tem medo de Virgínia Woolf? Teodomiro Braga Tentando se defender de acusações indefensáveis, o senador Jader Barbalho repetiu a pergunta várias vezes, quinta-feira passada, aos integrantes da Comissão de Constituição e Justiça do Senado que vão decidir sobre a abertura do processo de cassação do seu mandato por conta do seu envolvimento no assalto aos cofres do Banpará: ''Quem tem medo de Virgínia Woolf? Quem tem medo de Virgínia Woolf?'' Jader não explicou a razão da estranha pergunta, que remete ao título da famosa peça de Edward Albee, reprodução de uma frase que ele viu pichada numa parede, fazendo um trocadilho com a cantiga Quem tem medo do lobo mau? O senador paraense devia ter seus motivos para buscar inspiração no teatro. Afinal, ele é protagonista do espetáculo da política nacional de maior sucesso da atualidade, da interminável série de produções sobre um tema velho mas sempre atual: a corrupção. O caso de Jader, na verdade, tem muito a ver com o título da peça do dramaturgo americano. Jader entrou na história da política brasileira como primeiro senador afastado da presidência do Senado, justamente porque não teve medo do lobo mau quando começou a virar a bola da vez, no ano passado, ao insistir em se candidatar à sucessão do senador Antônio Carlos Magalhães na presidência da casa. Não faltaram avisos, de colegas do PMDB, de que se tratava de uma aventura perigosa, em que poderia se dar muito mal. A sugestão dos companheiros e amigos era para que ele se recolhesse aos bastidores, ''calado, caladinho'', exatamente como havia recomendado a ACM, naquele discurso do ano passado que deu início à conflagração entre os dois mais poderosos senadores da época. Jader teve uma oportunidade de ouro para sair do show em que ele fazia o papel de grande vilão, quando a bancada do PMDB o escolheu, quase por unanimidade, como o candidato do partido à direção do Senado. Vários senadores pemedebistas tentaram convencê-lo de que era boa hora para encerrar o espetáculo, sob a desculpa de que se sacrificaria em nome da pátria e da conciliação política. De nada adiantaram os apelos: Jader preferiu permanecer em cena, como o ator principal. Ao se tornar presidente do Senado, forçou a continuação do dramalhão que lhe custaria depois o afastamento do cargo e agora está nas vésperas do epílogo, que será a sua renúncia ao mandato para escapar das garras do lobo mau. Jader vai embora, pelos fundos do palco, mas o show continua. As atenções do público deverão se concentrar num espetáculo de segunda categoria que se vem desenrolando com pouca audiência na Câmara dos Deputados. Trata-se das investigações sobre as denúncias de tentativa de chantagem a empreiteiros feitas por integrantes da CPI das obras inacabadas. O principal suspeito de achacar as empreiteiras é um obscuro deputado chamado Damião Feliciano, do PMDB da Paraíba. Há informações de que Damião telefonou a representantes de empreiteiras pedindo dinheiro para poupá-los na CPI. Essa é uma prática antiga no Parlamento brasileiro e provavelmente nasceu junto com as Comissões Parlamentares de Inquérito. É do conhecimento geral, no Congresso, que parlamentares integrantes daquele grupo que Lula certa vez qualificou de ''picaretas'' se tornam titulares de CPIs apenas para auferir vantagens através de barganhas com acusados ou possíveis acusados ou mesmo com o governo, quando o assunto envolve interesse do Palácio do Planalto. Entre essas vantagens estão favores políticos, ajudas de diversas naturezas ou dinheiro pura e simplesmente. Os achaques começam na formação das CPIs. O ex-deputado José Felinto, que exerceu mandado pelo Paraná entre 1990 e 1994, era especialista nesse tipo de picaretagem. Ele deu início ao processo de formação de várias CPIs, recolhendo assinaturas necessárias para constituição de comissões de inquérito em listas que depois levava aos prováveis acusados pedindo dinheiro para não levar a iniciativa adiante. Um dos alvos do achaque foi a Associação Brasileira de Entidades Fechadas de Previdência Privada (Abrapp), que rechaçou a chantagem. Na atual legislatura, uma outra tentativa de extorsão extrapolou os corredores da Câmara, devido à reação de um deputado à recusa do dono de uma distribuidora de remédios a agraciá-lo para ficar de fora da CPI do Narcotráfico. Inconformado com o fracasso da extorsão, o deputado divulgou a denúncia de que a empresa estava envolvida no transporte de drogas. A acusação não foi comprovada mas sua publicação, pela imprensa, quase levou a distribuidora à falência, em razão da decisão de importantes fabricantes multinacionais de remédios de suspender temporariamente seus negócios com a companhia até que a denúncia se esclarecesse. A prática não se restringe apenas às CPIs e ocorre também nas discussões de projetos de lei de grande importância nas comissões especiais, onde as propostas recebem a forma final antes de ir à votação no plenário. Também no ano passado vazaram informações de que deputados levaram vantagens para fazer modificações no projeto de lei sobre a reforma do sistema postal enviado pelo Executivo. As denúncias chegaram ao conhecimento da direção da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), então comandada por Egydio Bianchi. Essa turma de picaretas - uma minoria da Câmara, é importante ressaltar - normalmente é bem-sucedida porque, como Jader Barbalho, é campeã em ousadia e não tem medo de lobo mau. Ela costuma se dar mal nas raras vezes em que suas traquinagens saem dos subterrâneos do Congresso e viram espetáculo público, como está acontecendo agora com as denúncias de chantagem contra empreiteiros denunciados pela CPI das obras inacabadas. Só falta a estrela desse novo show, o deputado Damião Feliciano, repetir Jader Barbalho e estrilar com ares de indignação: ''Quem tem medo de Virgínia Woolf?'' O desafio da América Latina Carlos Aguiar de Medeiros Qualquer avaliação das conseqüências econômicas dos últimos trágicos eventos sobre a economia mundial, e em particular sobre as economias latino-americanas, é seguramente frágil e de natureza totalmente especulativa. Entretanto, talvez fosse promissor sugerir algumas questões para debate. Deve-se recordar, preliminarmente, que a economia americana vinha passando por forte desaceleração em seu crescimento desde o início deste ano. A percepção de um excesso de capacidade nas indústrias de tecnologia da informação tornou-se evidente, não apenas na queda vertiginosa nas ações de empresas americanas desse setor mas na intensa concorrência das economias asiáticas pelo acesso ao mercado da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O declínio das importações americanas e, conforme sublinha o último relatório da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), o acentuado declínio dos investimentos diretos estrangeiros distinguiram, até o último dia 11 de setembro, a economia mundial dos anos imediatamente precedentes. Anos que revelaram a extrema debilidade da inserção externa das principais economias da América Latina. Ainda que por razões distintas, do México à Argentina e ao Brasil, a restrição externa afirmou-se como o principal obstáculo ao crescimento econômico. Face a esse obstáculo, o aprofundamento da abertura financeira e a desnacionalização de setores produtivos constituíram-se na principal aposta das política econômicas conservadoras. Essa aposta incluía, naturalmente, a atuação do Fundo Monetário Internacional (FMI) como banqueiro de última instância, assegurando a liquidez em dólares dos direitos (dos não residentes) sobre ativos denominados em moedas frágeis. No início do governo Bush, o cenário começou por se alterar e tornou-se visível pelo endurecimento do Tesouro americano nas negociações do FMI com a Argentina. Aumentaram as pressões para uma aceleração da ALCA e as críticas à política de ''negligência benigna'' do Fundo. Com a desaceleração das importações americanas, o México teve de interromper o seu frágil crescimento e com o declínio dos investimentos externos as estratégias preferidas de financiamento externo no continente tornaram-se ainda menos consistentes. A Argentina é o testemunho mais eloqüente dos limites óbvios dessa política. Depois de 11 de setembro o cenário mudou. Os Estados Unidos deram uma guinada ainda maior para a expansão bélica e para uma economia de guerra. Os gastos relativos ao complexo militar industrial e com serviços de segurança poderão, mais uma vez, dependendo da forma e da extensão da campanha militar, impulsionar a economia americana e, em conseqüência, seus fornecedores externos. Estes, entretanto, deverão sofrer uma intensa concorrência devido à existência de excesso de capacidade em segmentos importantes da indústria mundial e ao provável recrudescimento do protecionismo americano. Os investimentos e os fluxos de capitais de longo prazo para os países emergentes (em particular na América Latina) deverão entretanto prosseguir em sua trajetória declinante em função do aumento do risco associado a essas moedas. Nesse contexto, com a possível exceção do México, as condições de solvência externa das principais economias deverão se deteriorar. Ao lado do agravamento da restrição externa, uma outra circunstância já começou a se afirmar no continente. Além de uma posição marginal na economia mundial, o continente, por razões geopolíticas, tornou-se ainda menos central do ponto de vista político e estratégico. Como referiu-se o historiador Kenneth Maxwell, a América Latina (com parcial exceção do México) saiu do radar. Indiscutivelmente está na Ásia Menor (nos países limítrofes ao Afeganistão) a atenção política e provavelmente econômica (como já aparece visível no Paquistão) dos EUA. Como declarou quinta-feira passada o sempre explícito Paul ONeill, secretário do Tesouro dos EUA, ''a Argentina estava no topo de nossa lista de trabalho há uma semana. Obviamente, não está mais.'' Ainda que a curto prazo essa segunda característica possa agravar os problemas decorrentes da restrição externa na América Latina, a médio prazo pode ser uma oportunidade. Com efeito, o que vier a acontecer com cada economia depende cada vez mais de suas decisões internas, projetos restritivos como o ALCA saem da agenda de prioridades, apostas otimistas na globalização sem qualquer estratégia revelam-se cada vez menos convincentes, o reconhecimento da necessidade de identificar caminhos nacionais específicos torna-se cada vez mais aceito. Houve nos últimos dias um imenso salto entre, de um lado, a atenção que as economias latino-americanas dedicam aos EUA e, de outro, a atenção que esse país confere aos países do continente. Formou-se, dessa forma, um ''déficit de atenção'' (econômico e não político) , para se recordar uma expressão de Albert Hirschman. Com este, aumentam as oportunidades, caso os governos da região decidam adotar uma postura menos passiva e subordinada, para a proposição de políticas econômicas voltadas aos interesses domésticos. Colunistas COISAS DA POLÍTICA – DORA KRAMER A intolerância dos bem-pensantes Agora que a guerra vai começar, aumentará bem a conta a ser paga pelos Estados Unidos nas bocas e mentes dos bem-pensantes que consideram o antiamericanismo argumento indispensável à boa formulação de suas análises. Sendo a vítima rica, poderosa e dona de currículo com máculas do passado, aplica-se a ela a norma rodriguiana pela qual sabe porque apanha e, portanto, merece a agressão. Tal pensamento é, no conteúdo, igual àquele, segundo o qual aos atentados de 11 de setembro deve corresponder a extinção do mundo árabe. Um se manifesta em desabrida truculência, enquanto o outro se disfarça num suposto equilíbrio em que a condenação do terrorismo se faz acompanhar de manifestações de intolerância, não apenas aos governos e ao país em geral, mas também ao modo de ser de cada cidadão norte-americano em particular. Como se 6.000 pessoas mortas, a alma de uma nação massacrada e a ameaça ao mundo inteiro - incluindo aí também o Oriente - fosse nada diante do antiamericanismo irracional, quase obrigatório ao exercício de certa rebeldia sem causa, sempre à caça de uma dicotomia na qual possa se alistar. Ainda que do alto do usufruto de todas as facilidades do mundo moderno e a léguas de distância daquele outro mundo de povos cujas crenças e sofrimentos são instrumentalizados por redes de destruição que não incluem a negociação diplomática em seu cardápio de atuação. Em magistral artigo publicado no Estado de S. Paulo no fim de semana, Bryan Appleyard, do inglês Sunday Times, examina a questão nominando os autores da gratuita execração aos Estados Unidos - neste momento, uma postura no mínimo de mau gosto - de ''as classes dos tagarelas''. Appleyard relaciona inúmeras benfeitorias dos Estados Unidos à Humanidade, entre elas a salvação da Europa da barbárie de duas guerras mundiais e a reconstrução do continente após a última delas, mas aqui vale a pena reproduzir um trecho em que o jornalista busca detectar as origens dessa confusão mental que, a se perpetrar sem freios, caminha célere para transformar em vítima o agressor. Escreve Bryan Appleyard: ''Com o fim dos confrontos da guerra fria, os movimentos anticapitalismo e antiglobalização abandonaram as ansiedades potencialmente racionais, culturais e ambientais em favor de um monstruoso pacote aleatório de execração antiamericana. E, é claro, o Oriente Médio parecia fornecer um caso claro de superpotência arrogante e valentona perseguindo os pobres.'' E aí, o jornalista entra na subjetividade simples e precisa que pauta a deselegância intolerante dos bem-pensantes: ''A idéia do valentão encaixa-se claramente numa das mais grotescamente duradouras de todas as crenças antiamericanas: que eles são todos ianques burros, o que é um desvario tanto da direita quanto da esquerda.'' Ele lembra grandes expressões da cultura (música, cinema, literatura) mundial nascidas nos Estados Unidos e aponta que há pelo menos 30 universidades americanas às quais as européias ''teriam de lutar muito para se equiparar''. Apesar disso, continua, ''a idéia era que os Estados Unidos eram um grande e desajeitado trapalhão e nós (europeus), os grandes e refinadíssimos pensadores''. Segundo esse pensamento, destrinchado por Appleyard, ''os tagarelas'' consideram os americanos ingênuos e, por isso, por sua triste inocência, fazem coisas terríveis. Podemos concluir com um trecho do artigo que não finaliza o texto, mas resume bastante bem a simplificação do ódio à América por parte daqueles que nenhuma razão objetiva - complexo de inferioridade é subjetivo - tem para tal: ''As razões disso são óbvias. Queremos que o valentão seja bronco pela mesmo razão que queremos que a bela modelo seja bronca. Não podemos suportar a possibilidade de alguém ter força ou beleza e também cérebro.'' Liberdades civis Outro tema relativo ao estado de beligerância em que se encontram os espíritos foi com precisão e oportunidade abordado pela presidente da Associação Americana de Liberdades Civis, Nadine Strossen, e mostra como há nesse episódio muito o que se criticar, sem que seja necessário despertar preconceitos adormecidos. Nadine falou ao Jornal do Brasil sobre o pacote de medidas de segurança enviado por George W. Bush ao Congresso americano. Ela aponta o perigo de se estabelecer um ambiente geral de ''noção de culpa por associação'', semelhante ao que vigorou durante o macarthismo, quando se perseguiam cidadãos pela presunção de colaboração ou simpatia com regimes comunistas. Na visão de Nadine Strossen, os poderes reivindicados por Bush encerram três grandes perigos: a licença para a deportação de todo e qualquer estrangeiro sem necessidade de provas; a autorização para o Executivo operar vigilância eletrônica sem limites judiciais; e o próprio conteúdo da legislação cuja amplitude da definição do que seja terrorismo inclui outros tipos de protestos políticos. Caso o pacote seja aprovado, o Congresso terá feito da Primeira Emenda da Constituição americana a vítima fatal que faltava aos propósitos dos autores dos atentados de 11 de setembro. Editorial Questão de Tempo Apesar das notícias dando conta de que a guerra contra o Afeganistão está na iminência de estalar, diante da necessidade de travá-la antes da chegada do inverno na região, não resta dúvida que esta guerra será um jogo de paciência em três frentes. Os EUA, ainda traumatizados pelo ataque terrorista de 11 de setembro, lideram a ofensiva diplomática, militar e econômica - trio de providências simultâneas sem as quais poderiam incorrer no erro da precipitação. Enquanto a engrenagem militar se arma para confronto ainda nebuloso no teatro da guerra (sem esquecer que ali os ingleses no século 19 e os soviéticos no século 20 levaram a pior), pôs-se em marcha a mais vasta investigação anterrorista da História, em todo o mundo, incluindo a América Latina, onde foram detidos 26 suspeitos de origem árabe. Nos EUA está o maior número de detidos (mais de 500 pessoas), embora o arrastão se estenda, entre outros países, à Inglaterra, Alemanha, França, Espanha, Grécia, Filipinas, Iêmen, Mauritânia... O terrorismo não tem fronteiras. Se Maquiavel tinha razão ao dizer que para o governante é preferível ser odiado do que amado, pode-se definir o terrorismo como o meio criado para inspirar medo e, em conseqüência, provocar ação contrária. O terrorismo é um intento de persuasão pela força, mecanismo psicológico vazio de conteúdo racional que os antigos lógicos latinos descreveram, em termos lingüísticos, como quimera do argumentum baculinun (argumentação à base de porrete). Mais de um economista previu o aparecimento da economia criminal plenamente operativa no século 21. O mundo a vive na prática com as revelações da amplitude da rede terrorista de Osama Bin Laden, capaz de financiar grupos treinados para executar atos englobados sob o slogan de guerra santa (embora alguns arabistas, como o espanhol Javier Rodríguez Marcos, tradutor duas vezes do Corão, garanta que a expressão jihad significa esforço, e não guerra santa). A criminalidade organizada abrange vários setores, entre eles narcotráfico, comércio de armas, terrorismo, seqüestro, tráfico de pessoas e de órgãos humanos, corrupção política e econômica, que às vezes se interpenetram. Segundo o FMI as transações econômicas em torno destas atividades, em 1993, atingiam 1 bilhão de dólares; seu crescimento tem sido superior a 20% anualmente; hoje se aproxima de 5% do PIB mundial. É patente a convergência entre evolução econômica e expansão criminal, ambas baseadas na globalização financeira e na desregulação normativa. O atentado de 11 de setembro demonstrou a necessidade de desmontar a trama financeira das organizações terroristas. Os paraísos fiscais em combinação com as câmaras de compensação e as contas numeradas facilitam o processo criminal. Há menos de três meses o próprio presidente Bush se opôs à intenção de regular os paraísos fiscais. Hoje ele se convenceu de que a ação mais eficaz contra o terrorismo é privá-lo destes apoios. A luta será longa. Bin Laden se apresenta como o Savonarola do Islã, mas o próprio Savonarola acabou na fogueira que mandava atear para os infiéis... É apenas uma questão de tempo. Topo da página

10/02/2001


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