Jefferson Péres indaga se não é tempo de legalizar o uso de drogas
O senador Jefferson Péres (PDT-AM) indagou nesta terça-feira (25) se não é tempo de o Brasil pensar em legalizar o uso de drogas. Referindo-se à violência que sacrifica o Rio de Janeiro e falando em nome do PDT, ele anunciou que vai sugerir ao presidente do Senado, José Sarney, a realização de um grande debate sobre o assunto.
O senador disse que é importante discutir, sem temor e com ousadia, a legalização das drogas, inclusive em âmbito internacional, talvez levando o assunto ao fórum da Organização das Nações Unidas (ONU). Ele reconheceu que seria uma temeridade legalizar as drogas apenas no Brasil. Também observou que o narcotráfico é um câncer inextirpável e que, enquanto houver consumidores de drogas, haverá produtores e fornecedores e, conseqüentemente, narcotráfico.
- Com a legalização das drogas, está morto o narcotráfico - afirmou Péres.
Na opinião do parlamentar, o que acontece hoje no Rio de Janeiro e em São Paulo soa como um símbolo perfeito dos Estados Unidos nos anos 20, quando a proibição de bebidas resultava na disseminação de destilarias clandestinas e na proliferação de gangues - das quais Al Capone era figura emblemática -, resultando na criação de um Estado paralelo em Chicago e outras grandes cidades americanas. Jefferson lembrou que essa situação nos Estados Unidos só desapareceu com o fim da chamada -Lei Seca-.
O senador considerou justo que se dê prioridade à fome no Brasil, mas lembrou que a fome é endêmica no país e que, a rigor, ninguém morre de inanição. -Mas morrem diariamente milhares de pessoas pobres vítimas da violência. A maior perda de vidas é dos pobres e dos negros, que se levantam com justa indignação contra a discriminação racial e social, contra a desigualdade-, reclamou ele.
O parlamentar lastimou que um plano nacional de segurança não seja prioridade no país. E disse ser inútil tentar adjetivar o que está acontecendo no Rio de Janeiro. -Temo muito que esteja acontecendo com a sociedade brasileira aquilo que Hannah Arendt chamou de -banalização do mal-.
- Nós estamos perdendo a capacidade de nos indignarmos diante do intolerável - afirmou.
Para exemplificar essa -banalização do mal- no Brasil, Jefferson Péres imaginou o que estaria acontecendo no Congresso americano se a 5ª Avenida de Nova York tivesse sido tomada pela violência que se abateu sobre o Rio de Janeiro. -Se Nova York estivesse paralisada, como estaria a sociedade americana hoje?-, perguntou, para concluir que, no Brasil, -parece que não aconteceu nada, parece que o poder estatal está sendo anulado pelo poder paralelo do narcotráfico-.
25/02/2003
Agência Senado
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