Joaquim admite desistir da disputa pelo Senado
Colunistas
Editorial
Joaquim admite desistir da disputa pelo Senado
Durante um almoço de confraternização com os amigos e jornalistas, realizado ontem em uma casa de festas, o deputado federal Joaquim Francisco (PFL) praticamente descartou a possibilidade de disputar o Senado. Ele fez questão de ressaltar que é, prioritariamente, candidato à reeleição. Mesmo assim admitiu que, desde o início do ano, tem acalentado o sonho de ser senador. “Errado ou certo só as urnas poderiam dizer. O meu desejo é disputar uma eleição majoritária. Queria definir isso em setembro, mas o governador Jarbas Vasconcelos não decidiu. O cenário político ainda estava incerto. Mas sou acima de tudo candidato à reeleição”, confessou.
Num rápido discurso que fez para agradecer a homenagem de correligionários e familiares, ele disse que o almoço de ontem não tinha a finalidade político-eleitoral. “É um encontro daqueles que acreditam em Pernambuco e na transformação. Jamais caminhei isoladamente. Às vezes, sou considerado rebelde até demais. Mas essa não é uma característica de minha personalidade. Tenho o sentido de grupo”, falou.
Com essas palavras, Joaquim Francisco mandou um recado direto para a cúpula da aliança PMDB/PFL/PSDB, de que não tomará nenhuma atitude à revelia, como o lançamento de sua candidatura a senador, sem contar com o aval dos líderes da coligação. Nos bastidores, o que se comenta é que o ex-governador estaria temendo perder espaço em seus próprios redutos, que complicaria a sua reeleição. Muitos candidatos da própria aliança já estavam cooptando os seus eleitores ao afirmar que a sua candidatura ao Senado já estava fechada.
PRECATÓRIOS – Joaquim também aproveitou o almoço para afirmar que, se fosse deputado estadual e estivesse na sessão da última quarta-feira (12) da Assembléia Legislativa, teria votado pela aprovação das contas referentes ao Governo Arraes de 96, seguindo o relatório do Tribunal de Contas do Estado. Ou seja, o pefelista iria avalizar a polêmica “Operação dos Precatórios”, como ficou conhecida a venda de títulos públicos do Estado para o pagamento de precatórios. “Votaria com independência, à luz dos fatos, sem interferência. Provavelmente acompanharia o TCE”, afirmou.
Ele se referiu às pressões que o Palácio teria feito para barrar a aprovação das contas do ex-governador Miguel Arraes (PSB), apesar de o governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) ter negado qualquer tipo de pressão contra a base governista. Com ou sem pressão do Palácio, o fato é que a maioria governista votou a favor de Arraes, contrariando a vontade do Governo. No dia seguinte, o próprio Jarbas criticou a Assembléia pelo resultado.
Joaquim não quis se confrontar com o governador, mas defendeu o Legislativo. “É competência da Assembléia julgar contas de governador. O Legislativo sempre acompanha o parecer do Tribunal de Contas (que naquele caso era favorável). Há repercussões políticas, como há repercussões jurídicas. Mas a Assembléia é um poder autônomo”, disse, defendendo os deputados estaduais. Joaquim reconheceu que o governador perdeu um bom mote de campanha, já que a aliança PMDB/PFL/PSDB sempre explorou o fato de os precatórios não terem sido apreciados pelos deputados. “Você tem vários motes numa campanha. O povo faz o julgamento. Numa campanha não se tem um mote só. O Governo Jarbas tem muitas realizações”, ponderou.
Lula é forçado às prévias do PT
Cúpula nacional do partido garante realização das prévias para definição do candidato petista à Presidência. Lula será inscrito por líderes da legenda
A cúpula nacional do PT, mesmo que a contragosto, aproveitou a abertura do 12º Congresso Nacional do partido, ontem, no Centro de Convenções, para referendar a realização das prévias partidárias para o dia 3 de março, visando a escolher o candidato da legenda à Presidência da República. A manutenção das prévias, apesar das especulações sobre seu adiamento, foi garantida logo no pronunciamento do presidente nacional petista, deputado José Dirceu (SP). “O PT vai realizar suas prévias sem constrangimentos. Somos um partido plural e democrático e é isso que nos faz diferentes”, afirmou.
Independentemente das prévias, o presidente de honra do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, para a grande maioria dos petistas candidato natural à uma quarta candidatura presidencial em 2002, foi recebido com festa no encontro, aos gritos de “É Lula presidente”. Lula não tem demonstrado interesse em participar das prévias e seu nome será inscrito por lideranças do partido. O prazo de inscrição termina na segunda-feira (17).
Representantes de várias legendas de esquerda prestigiaram a abertura do encontro petista. Entre eles, o presidente nacional do PSB, Miguel Arraes, o prefeito do Cabo de Santo Agostinho e presidente regional do PPS, Elias Gomes; a prefeita de Olinda, Luciana Santos (PCdoB); e o novo presidente nacional do PCdoB, deputado federal Renato Rabelo.
ROSEANA – Com um discurso unitário e quase combinado, as lideranças do PT avaliaram o fulminante crescimento da governadora do Maranhão, Roseana Sarney, nas pesquisas como “um problema do Governo Fernando Henrique”. Na mais nova sondagem, o instituto Sensus/CNT conferiu um empate técnico entre Lula e Roseana. “Quem tem que se precaver é o José Serra (Ministro da Saúde/pré-candidato do PSDB)”, disse José Dirceu, presidente nacional do PT. “Não é um problema para nós, e sim para o PSDB. Ela divide o Governo. Mas, como eles querem estar sempre no poder, a esquerda não pode subestimá-los”, advertiu o deputado federal José Genoíno (PT/SP).
O ex-governador da Bahia e deputado federal Valdir Pires considera que Roseana Sarney está ocupando o espaço natural da direita no quadro político nacional, que detém 20% a 30%. “Ela cresce na medida em que se enfraquecem os outros nomes da direita. Não digo que seja definitivo, mas que está se consolidando”, analisa. O deputado José Dirceu afirma que o PT não tem medo de Roseana, nem o fato novo de uma mulher aparecer, pela primeira vez, com altos percentuais de intenção de voto. “O problema não é ser uma mulher, e sim ser do PFL e ter apoiado os governos Sarney, Collor e FHC”, lembrou Dirceu. “Ela só atrapalha o PSDB”, disse a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy.
Organizadores ignoram Eduardo Suplicy
Apesar de ser um dos principais líderes do PT, o senador Eduardo Suplicy (SP) – candidato às prévias que escolherão o candidato a presidente da República pelo partido – não teve o mesmo tratamento dispensado às demais “estrelas” da legenda, na abertura dos trabalhos do 12º Encontro Nacional do PT, ontem pela manhã, no Centro de Convenções. Além de não ter sido convidado para compor a mesa principal, a presença de Suplicy não foi sequer citada pelo mestre de cerimônias, ao contrário do que aconteceu com outras personalidades. Até a chegada do deputado federal Marcos de Jesus, que é do PL, foi anunciada.
Sentando numa das primeiras filas da platéia, Suplicy assistiu aos discursos dos companheiros como qualquer delegado ou convidado. Mesmo com o tratamento, o senador paulista acredita ter sido privilegiado com a decisão do partido de manter as prévias para março. “Finalmente viram que não há nada demais nas prévias. Tenho o direito de participar e é o que vou fazer. Na verdade posso dizer até que algumas surpresas podem ser reveladas com a realização das prévias”, avaliou Suplicy, que faz mistério sobre sua estratégia para a conquista de votos dos filiados. Suplicy disse que as chances de vencer as prévias existem. “Acho que é disso que algumas pessoas têm receio”, descon versou.
O senador fez questão de enfatizar sua “simpatia e respeito” por Lula, mas rejeita as afirmações de que a candidatura do presidente de honra do PT seria o “caminho natural” no partido. Suplicy voltou a ressaltar que só mantém a sua pré-candidatura por causa do apoio que vem recebendo de vários setores da sociedade.
O senador também garantiu que já tem pronto um esboço de plano de Governo, no qual defende a implantação do programa de renda mínima para todos os brasileiros e estrangeiros residentes no País há mais de cinco anos. “Além disso, tenho vários outros programas sociais que ajudarão a transformar o País”, avaliou.
O resultados das últimas pesquisas eleitorais, que apontam um empate entre a governadora Roseana Sarney (PFL-MA) e Lula foram minimizados por Suplicy. “Roseana é uma boa candidata, mas na hora em que os debates começarem ela vai ter grandes dificuldades para explicar aos brasileiros porque, apesar de tanta propaganda, o Estado do Maranhão continua com índices sociais tão ruins”, concluiu.
PT aprova política de “alianças amplas” em 2002
Resolução aprovada ontem à noite permite coligação com partidos que não integram o campo das esquerdas, como o PL do deputado Marcos de Jesus. Objetivo é reforçar candidatura de Lula em 2002
O PT decidiu manter a política de “alianças amplas” para a sucessão presidencial de 2002. De acordo com a resolução, aprovada no início da noite, no 12º Encontro Nacional do partido, o PT poderá firmar parceria com legendas que não integram o campo das esquerdas, desde que se estabeleça o compromisso de apoiar o candidato petista ao Palácio do Planalto. O acordo foi fechado depois que o grupo do deputado José Dirceu (SP) recuou e decidiu retirar do texto a menção ao PL do senador José Alencar (MG), cotado para vice na chapa liderada pelo provável candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva.
Embora a cúpula deseje o casamento com o PL, o texto que passou pelo crivo do 12º Encontro Nacional do partido sustenta que a definição das alianças ainda deve ser submetida ao diretório nacional. Esta foi a forma encontrada pelos moderados para contornar as resistências à citação explícita ao PL não só por parte dos radicais como dentro do próprio grupo light.
Ontem, na abertura do 12º Encontro Nacional, no Centro de Convenções, o deputado federal Marcos de Jesus, do PL pernambucano, chegou a ser vaiado por alguns petistas. No telão do auditório, um vídeo sobre a trajetória do PT mostrou o desmembramento de partidos que vieram da Arena e do MDB. Por ironia, acabou citando o PL no rol dos que passaram pela metamorfose. “Só o PT não muda”, dizia o ator Norton Nascimento.
Na prática, porém, o que foi aprovado ontem significa a abertura do leque de alianças para além das fronteiras da esquerda, como Lula defende. “Se quisermos ganhar as eleições, tem de ser assim e este é o nosso maior desafio”, disse o presidente nacional do PT, deputado José Dirceu (SP).
Ele também quer abrir a discussão com setores do PTB, do PMDB e do PPS, sem contar a tentativa de aproximação com antigos aliados que hoje vivem às turras, como o PDT e o PSB. Os radicais discordam. “O PL e o PTB não têm nenhuma ligação com nosso programa, muito pelo contrário”, protestou o ex-prefeito de Porto Alegre Raul Pont, da facção Democracia Socialista.
Falta de organização provoca irritação entre os militantes
Com 554 delegados inscritos e outras dezenas de líderes petistas de todo o Brasil, a organização do 12º Encontro Nacional do PT, pelo menos na abertura, deixou a desejar. A falta de comunicação entre os organizadores provocou a irritação de dezenas de pessoas.
As dificuldades começaram na ausência de informações sobre o cronograma das discussões e placas indicativas. Quem quisesse um folheto com as informações sobre o evento tinha de “mendigar” a publicação no balcão de inscrições. Muitos documentos, que serão debatidos durante o encontro, não puderam ser distribuídos aos participantes por falta de cópias suficientes.
A inabilidade da comissão organizadora fez com que a pedagoga baiana Melissa Duarte abandonasse o encontro no primeiro dia. “Vim como observadora, acompanhando meu namorado. O material que recebemos não tinha nem mesmo um panfleto com horários e locais de debates e discussões. Quando fui pedir para uma das moças do cadastramento fui tão mal recebida que desisti. Vou voltar para o hotel e ficarei lá até o domingo”, queixou-se.
Esquerda festeja 85 anos de Arraes
Principais líderes dos partidos de esquerda comparecem ao almoço em homenagem ao ex-governador. Antes do ato, Arraes e Lula debateram a sucessão presidencial
A comemoração aos 85 anos do ex-governador Miguel Arraes (PSB) reuniu ontem os líderes dos principais partidos de esquerda – PT/PPS/PTB/PT/PCdoB. Após conquistar uma vitória sobre o Governo Jarbas, com a aprovação na Assembléia Legislativa da contas do seu governo, referentes aos anos de 1996 e 1998, Arraes avaliou que “o reencontro com tantos amigos representa uma grande vitória na caminhada política”.
Ele enfatizou que “ainda é cedo para se falar em sucessão”, e que a vitória na Assembléia precisa ser deixada de lado, “pois existem muitas dificuldades pela frente”. Sobre a possibilidade de o PSB ter um candidato próprio ao Governo do Estado, o socialista disse que não incentivará ninguém a disputar as eleições de 2002, “sem realizar uma ampla discussão sobre o que se pode fazer para mudar a situação do Estado e do País”.
Antes do almoço, Arraes se reuniu com o presidenciável petista Luiz Inácio Lula da Silva para avaliar o cenário político nacional. “Seria bom termos todos os partidos juntos, mas se isso não for possível teremos dois palanques de esquerda”, disse. Arraes negou que Lula tenha ensaiado, no encontro, um pedido para a retirada do governador do Rio, Anthony Garotinho (PSB), da disputa presidencial. “Ninguém pediu para tirar ou colocar nomes. Nós respeitamos a independência de cada partido.”
CHORO – Uma homenagem preparada pelos netos de Arraes fez com que ele chorasse. Em seu discurso, o tom político foi deixado de lado para dar espaço ao lado emocional. “Quando escolhi me envolver com as coisas políticas tive que abrir mão do lado pessoal. Agora, quando vejo meus netos, fico feliz porque eles têm a percepção de que o sacrifício que impus a eles não foi em vão”.
Integrantes de todos os partidos de esquerda discursaram em homenagem a Arraes. Entre eles, o senador Carlos Wilson (PTB) e o presidente nacional do PT, José Dirceu. A festa contou, ainda, com as presenças do líder do PT na Câmara, deputado Walter Pinheiro (BA), do deputado federal Valdir Pires (PT-BA) e do ex-governador do Distrito Federal Cristóvam Buarque, entre outros. Lula, a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), e o presidente do PPS, Roberto Freire, não participaram da festa devido a compromissos políticos. O senador Eduardo Suplicy (PT) disse que não foi ao evento por não ter sido convidado.
Ex-governador e Lula decidem estreitar diálogo entre PSB e PT
O ex-governador Miguel Arraes e o presidente de honra do PT e pré-candidato à presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, concordaram, ontem, que as esquerdas precisam construir uma relação permanente entre os partidos, independentemente das candidaturas postas, com vistas à disputa eleitoral em 2002. Em conversa discreta, praticamente restrita aos dois, em um canto do teatro onde ocorre o congresso nacional petista, no Centro de Convenções, Arraes (PSB) e Lula decidiram estreitar os contatos e diálogosm entre os dois partidos e procurar atrair as demais legendas da esquerda.
“Tenho feito um esforço nesse sentido. Estou conversando com lideranças, buscando abrir uma relação mais permanente, porque no segundo turno das eleições presidendiciais estaremos todos juntos”, revelou Lula ao ex-governador, segundo relato do deputado federal e presidente nacional petista, José Dirceu (PT/SP).
Lula disse a Arraes que tem percorrido a América Latina e escutado de lideranças políticas nacionais e populares sobre a expectativa, no continente, quanto às eleições presidenciais no Brasil em 2002. “Precisamos conversar mais entre nós, fora do foco da imprensa, fora do foco eleitoral”, destacou Lula, conforme contou o deputado federal socialista Eduardo Campos (PSB/PE), também testemunha da conversa.
O ex-governador lembrou à Lula a dificuldade que, tradicionalmente, as esquerdas têm de dialogar e se entender, o que – segundo Arraes – não deve ser tomado como empecilho para se superarem as barreiras. “Você sabe como é difícil. Procura-se sempre tratar as coisas pela imprensa. Temos de buscar essa unidade política. Não temos de nos preocupar em fazer aliança, porque já somos aliados”, disse Arraes.
GOVERNO PROCESSA PAULO RUBEM
A Procuradoria-Geral do Estado ingressou ontem com uma representação contra o deputado Paulo Rubem Santiago (PT), na Procuradoria Regional da República, sob o argumento de que ele teria agredido o governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) e o Tribunal de Contas da União ao colocar em suspeição a justificativa do TCU à liberação de verbas para a BR-232. Em entrevista a imprensa, Santiago insinuou que o Governo “deve ter feito muitas gestões para conseguir a aprovação do relatório do TCU”. Paulo Rubem recebeu a iniciativa com tranqüilidade e argumentou que não entende que suas declarações se constituam em crime. “Se o Governo tem interesse em entregar a obra antes das eleições, a suspensão das verbas não contraria esse interesse?”, indagou, voltando a insinuar ingerências do Governo na decisão do TCU. O deputado acusou Jarbas de estar “assumindo uma postura de ditador quando pretende impedir, a todo custo, que um deputado de oposição fiscalize o Governo”.
Artigos
Serra das almas
JURACY ANDRADE
Vamos deixar um pouco em paz o imperador Bush 2º e o nosso escalafobético xogum Fernando 2º. Vou falar hoje de um livro que vai ser lançado em janeiro, editado pela Fundação José Augusto, de Natal. Pela amostra que vi, O guerreiro do Yaco é muito bom. E, claro, não só por seu autor, Calazans Fernandes, ser meu amigo. Tenho conhecido, na vida, muita gente de valor. Na área profissional, destaco Samuel Wainer, Calazans, Irineu Guimarães e João Rath, sem desmerecer seus contemporâneos e gente mais nova. Ainda hoje, neste JC velho de guerra, continuo recebendo belas lições de meninas e meninos que se iniciam na imprensa.
Calazans tem muita história para contar, de coisas que viu e viveu como repórter por este mundo a fora. E agora ainda mais: descobriu um baú em que seu pai guardava papéis, documentos, e quer passar para nós coisas do arco-da-velha: cristãos-novos (judeus ‘convertidos’ a pulso ao cristianismo) se embrenhando pelos grotões para fugir da Inquisição e recuperar seu direito de ser judeu (nos sertões, é comum ver estrelas de Davi e outros símbolos judaicos); um tio-avô nos seringais da Amazônia, lutando, com Plácido de Castro, contra os imperialistas do Bolivian Syndicate, na Guerra do Acre; jagunços armados por El Rey para expulsar os cristãos-novos das terras que haviam desbravado; judeus planejando as rotas das descobertas, impulsionando a Escola de Sagres, trabalhando para Colombo, Cabral, Magalhães, Vasco da Gama; colaboração entre jesuítas e judeus; o papel do Seminário de Olinda na propagação de idéias iluministas, republicanas, federativas, enfim, o que os reacionários chamam de ‘idéias exóticas’. Tudo isso num modo de escrever que parece muito com a pessoa de Calazans, inquieto, inteligente, vivo, caótico (mas um caos de resultados, com método e estilo). Lembra os romances russos do século 19 e Gabriel García Márquez. O livro faz parte de uma trilogia, Serra das almas, que vai ter mais Chamas do passado e Cinzas da fortuna.
Calazans percorreu caminhos parecidos com os meus. Mas só fui conhecê-lo em 1963, quando ele era secretário de Educação do Rio Grande do Norte (o governador era outro jornalista, Aloísio Alves), onde aplicou, pela primeira vez sistematicamente, o método de alfabetização de adultos que faz parte do Sistema Paulo Freire de Educação (eu trabalhava na equipe do mestre Paulo). Foi na cidadezinha de Angicos (RN). Não entendo por que ele não levou o projeto para Marcelino Vieira, sua terra natal, pros lados de Pau dos Ferros, Serra dos Martins, Portalegre, São Miguel, Luís Gomes. Conheço todo o pedaço, pois morei em Mossoró, a capital de toda aquela região, onde meu tio Dom João Batista Portocarrero Costa foi bispo. Nas férias, a gente saía, na boléia ou na carroceria de um caminhão, descobrindo os sertões. Meio século depois, conheço o sogro de meu filho Marcos (casa hoje com Andrea), Israel Galiza (marido de Sônia), de Uiraúna, que está no sopé da serra onde fica Luís Gomes, mas já na Paraíba; andando para oeste, é o Ceará.
PS - Poucos blocos são tão organizados que nem os Papudinhos de Casa Caiada. Ainda longe do Carnaval, já fez uma assembléia ordinária (no bom sentido, como diz Maria Helena, nossa antiga secretária, promovida a diretora, e que, junto comigo, faz ponte com a imprensa). Cordas e Retalhos, outro bloco muito organizado, também já fez até acerto no Bar História (Rua da Guia). Daqui a pouco, o Bloco da Saudade, campeão de desempenho e organização, vai ficar com inveja.
Colunistas
PINGA-FOGO - Inaldo Sampaio
O PTB é confiável?
Este final de ano não está sendo dos melhores para o ex-ministro Ciro Gomes. Cresceu precocemente a um ano e meio da eleição e, impossibilitado de manter o espaço ocupado, está começando a esvaziar-se. Seu discurso de oposição ao presidente da República, embora coerente e substancioso, dá sinais de cansaço, e ainda tem que conviver com a sombra de Tasso no território cearense. De quebra, perdeu o apoio de Brizola por causa de uma operação mal conduzida em território gaúcho (a entrada de Britto no PPS).
Se tudo isso já preocupava, uma dor de cabeça maior ainda pode estar por vir: o desembarque do PTB de sua candidatura presidencial. Os principais líderes desse partido, como que arrependidos pela opção que fizeram, prestaram anteontem à noite uma homenagem ao presidente Fernando Henrique na mansão do seu presidente, deputado José Carlos Martinez (Brasília).
Se eles estivessem firmes com o ex-ministro, que faz mais oposição ao governo do que o próprio Lula, não teriam tido a iniciativa de oferecer um jantar a FHC. Mas isso tem também seu lado positivo: ajudará Ciro a chegar à conclusão de que a melhor saída para o PPS, hoje, é uma aliança com o PT logo no primeiro turno da eleição.
Cheiro de manipulação
José Dirceu, presidente do PT, vê cheiro de manipulação na pesquisa da “Sensus” segundo a qual num eventual segundo turno Roseana (PFL) bateria Lula: 42,7 x 38,4. Por via das dúvidas, a entidade que patrocina a pesquisa, Confederação Nacional dos Transportes, é presidida por um pefelista mineiro (Clésio Andrade) e o seu resultado está em desacordo com uma pesquisa do “Ibope” divulgada há cinco dias segundo a qual a governadora estacionara nos 16%.
O fato novo
Mesmo sendo eleitor de Ciro, o ex-deputado Fernando Lyra (PPS) começa a ficar procupado com o crescimento de Roseana (MA). “Foi um ensaio que deu certo porque tem aderência na sociedade”, disse o ex-ministro da Justiça. Ele acha que ela pode consolidar-se como candidata se juntar também o PPB, o PTB e o PMDB “sarn eysista”.
Silêncio sepulcral
Encerrada a sessão da Assembléia Legislativa que aprovou por 33 x 11 as contas do governo Arraes do exercício de 96, um peso-pesado do PPB formulou esta pergunta numa roda de parlamentares: “Salvo João Negromonte (PMDB) e Teresa Duere (PFL), vocês conhecem alguém aqui na Casa que está satisfeito com este governo?” Silêncio...
Investir na ferrovia daria mais resultado
Do líder Ranílson Ramos (PPS) sobre a última reunião do ano do “Pacto 21”: “Se em vez da duplicação da 232 Jarbas tivesse investido na Transnordestina e no ramal do gesso, Pernambuco iria dar um salto jamais visto na sua história”.
Quatro de Surubim estão no páreo
Não será por falta de opções que Surubim deixará de eleger representantes para a Assembléia Legislativa. Quatro estão no páreo: Danilo Cabral (PSB), José Augusto Farias (PSB), Geraldo Barbosa (PSDB) e Fabrício Brito (PPS).
Opção da direita 1
Roberto Freire (PPS) tem razão: o “candidato preferencial” da direitona brasileira à sucessão de FHC é Tasso (PSDB-CE). Ele obteve a maior média (8,99) entre os investidores nacionais e estrangeiros ouvidos sobre a eleição, seguido de Roseana (8,58), Ciro (8,47), Paulo Renato (7,54) e Lula (4,66).
Opção da direita 2
Levantamento semelhante a este, feito no mês de março pela “Gazeta Mercantil”, mostrou um quadro diferente: o primeiro colocado na preferência dos homens de negócios era FHC (9,56), seguido do vice-presidente Marco Maciel (9,3). Como Marco não é candidato, esteve ausente da segunda lista.
Candidato a candidato a ser o “campeão de votos”, em Pernambuco, no próximo ano, na eleição para a Câmara Federal, o líder Inocêncio Oliveira (PFL) transformaria o casamento de sua filha Sheila, ontem, no Recife, numa grande festa política, para a qual viriam ACM (PFL-BA) e o presidente da Câmara Aécio Neves (PSDB-MG).
O vereador e candidato a deputado federal Clóvis Corrêa (PSB) está tão confiante na sua vitória que ao passar um cheque ontem na Blue Angel, na festa dos 85 anos de Miguel Arraes, trocou as bolas. Colocou “Brasília” em vez de “Recife” no espaço que é destinado ao preenchimento do local.
A esperteza de certos planos de saúde que se negam a prestar assistência médica a doentes em estado terminal pode estar chegando ao fim. O advogado Frederico Valença entrou com ação cautelar inominada contra a Admed, que se negara a atender um segurado, e o juiz Eudes dos Prazeres França deferiu a liminar.
Joaquim (PFL) será candidato à reeleição porque a vaga do Senado destinada ao seu partido será de Marco Maciel. Mas, pela legião de amigos e ex-colaboradores que conseguiu reunir ontem na Blue Angel, para um almoço de confraternização, ele provou que tem gás para qualquer das duas opções.
Editorial
Persistência pernambucana
Mais um passo é dado para a conclusão do Porto de Suape e sua consolidação como mola propulsora do desenvolvimento de Pernambuco e de boa parte do Nordeste. O governador Jarbas Vasconcelos já assinou a ordem de serviço relativa às obras de construção e dragagem do quarto berço do cais interno do complexo portuário. Seu custo será de R$ 50,2 milhões e, segundo informou o presidente do porto, Sérgio Kano, espera-se que o trabalho esteja concluído dentro de oito a dez meses. Na mesma ocasião da assinatura do contrato, que teve a presença do vice-presidente Marco Maciel, foram inaugurados três novos acessos rodoviários ao porto, num total de 11 quilômetros, que custaram R$ 4 milhões. Com mais um acesso, cuja licitação está em andamento, se completarão os 42 quilômetros de estradas previstos no plano diretor de Suape, elaborado no início dos anos 70.
O ritmo das obras em Suape está melhorando. Nos últimos três anos, foram investidos ali R$ 100 milhões. O projeto, cuja execução começou no final do Governo Médici, ficou parado, ou em ritmo de tartagura, com o fim do ‘milagre econômico’ do regime militar. Durante os governos de Geisel e Figueiredo, de 1975 a 1985, as torneiras federais ficaram fechadas para Suape. O Governo do Estado, com os precários recursos disponíveis, continuou tocando o projeto devagar. Sua importância para o desenvolvimento do Estado não permitia que se parasse tudo, jogando fora as verbas que já tinham sido investidas ali.
A idéia do projeto de Suape surgiu no Governo de Eraldo Gueiros, quando era presidente da Diper o jornalista Anchieta Hélcias, que depois foi secretário de Indústria e Comércio, no Governo de Moura Cavalcanti (1975-79). Era o tempo do ‘milagre’ e de grandes projetos de desenvolvimento, alguns mirabolantes, outros ancorados na realidade. O de Suape provou ser realista e fator de desenvolvimento; apesar de, na origem da idéia que o impulsionou, estar o dedo do milionário americano Daniel Ludwig (do então ainda não fracassado Projeto Jari). Ele pretendia instalar em Suape um grande estaleiro para reparo de navios, algo em falta por aqui.
Mas a idéia de Suape não estava ancorada em um projeto tão utópico quanto o do Jari. Estava ligada, sim, ao vanguardismo e pioneirismo que caracterizam a história e a cultura de Pernambuco. É muito tempo, já lá se vão 30 anos, para tirar do papel e das pranchetas um projeto viável, orientado por um plano diretor válido até hoje (agora está sendo cogitado um novo plano), e atualmente comprovando na prática o acerto dos que o idealizaram e por ele se bateram, e se batem até hoje. As quantias destinadas a Suape, no Orçamento da União, são pouco mais que ridículas, sem contar os dez anos de vacas magras sobre que falamos, quando nada pingava.
O dinheiro é liberado em conta-gotas, ou migra para as prioridades do governo, ou se esfuma nos corredores dos ministérios da área econômica. A nossa estranha e distorcida federação tem seus Estados preferenciais e os de segunda, entre os quais estamos incluídos. Complica ainda mais a situação o fato de os políticos pernambucanos serem muito mais chegados à política partidária do que à administração. Em Suape, o vice-presidente, otimista, garantiu que o Brasil terminará este ano com um crescimento de 2,5% a 3%, pois a economia estaria numa variável ascendente. Que Deus o ouça; e que o fato de termos em Brasília uma autoridade de sua importância e prestígio possa nos defender da má vontade dos que decidem o curso da política e da administração lá na Corte. E que a persistência dos pernambucanos em construir o Porto de Suape seja logo recompensada com sua conclusão.
Topo da página
12/15/2001
Artigos Relacionados
Tasso admite desistir de candidatura
Itamar admite desistir para negociar
Zambiasi lidera disputa pelo Senado
Antonio Carlos diz que haverá outro candidato na disputa pelo Senado
Garibaldi diz que não quer desistir da candidatura à Presidência do Senado
Tráfico no Rio acirra disputa pelo poder