Tasso admite desistir de candidatura
Tasso admite desistir de candidatura
Governador anuncia que não disputará indicação do PSDB à presidência caso Serra se aproxime dos índices de Roseana
BRASÍLIA - O governador do Ceará, Tasso Jereissati, decidiu mudar de estratégia e pôr sua pré-candidatura à Presidência da República em banho-maria. Tasso anunciará a disposição de desistir da disputa no PSDB se o ministro da Saúde, José Serra, melhorar nas pesquisas e alcançar, até fevereiro, índices que o aproximem da governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL). Se, até lá, Serra não vingar, Tasso volta a ser candidato ao Planalto. ''Decidi suspender e dar uma trégua ao partido para resolver o candidato à presidência em clima de paz'', disse o governador, de Porto Alegre, onde se reuniu ontem com empresários.
O anúncio será transmitido ao presidente Fernando Henrique Cardoso, aos governadores e dirigentes do partido, além de Serra, no jantar de amanhã, no Palácio da Alvorada, convocado para pôr fim à disputa que divide o partido. Antes, na reunião da Executiva Nacional do PSDB marcada para hoje, será aprovado o cronograma de lançamento do candidato. A pré-convenção será transformada em festa para homologar a candidatura Serra. O PSDB se dedicará então a preparar o programa de TV do dia 6 de março. José Serra será exibido como o candidato ''mais preparado'' para suceder Fernando Henrique.
Carnaval - A pré-convenção será marcada para 23 de fevereiro, logo após o carnaval, como defende o grupo serrista, chefiado pelo líder do PSDB na Câmara, deputado Jutahy Magalhães Júnior (BA). A data foi uma sugestão do ex-governador de Minas Eduardo Azeredo. ''O partido pretende dar uma demonstração de força e união'', disse Jutahy. ''A preocupação é ter o apoio de todas as forças partidárias, inclusive do próprio Tasso.''
Jutahy conversou por telefone com Fernando Henrique, que se mostrou preocupado com a repercussão do jantar. Ele garantiu a Jutahy que será um ''ato de confraternização'', marcado apenas pelo ''espírito natalino''. FH espera que a Executiva apresse os preparativos para o lançamento de Serra.
Dante - Também o governador de Mato Grosso, Dante de Oliveira, está recebendo apelos para abrir mão da disputa. Derrotado na proposta de ampliar a pré-convenção em prévias com a participação de cinco mil delegados, Dante poderá ceder às pressões da Executiva Nacional. A meta é limpar o terreno para Serra diante do crescimento da candidatura Roseana.
Outro acontecimento que marcará os rumos da sucessão presidencial será o almoço, amanhã, entre os presidentes do PMDB, PFL, e PSDB para discutir a sugestão do deputado Michel Temer (SP) de deixar a aliança para o 2° turno. O convidado especial é o presidente do PSDB, deputado José Anibal (SP), que nem cogita desistir da cabeça de chapa e prevê uma reviravolta depois de lançado o candidato tucano.
Indiano cria território livre na fronteira
Área do tamanho de Sergipe tem vários garimpos e Polícia Federal suspeita que é usada para o tráfico de drogas
BRASÍLIA - Um indiano conhecido por Jonnhy Maha-Hara está preocupando a Polícia Federal. Ele criou um território independente na fronteira do Brasil. A área, um triângulo do tamanho do Estado de Sergipe, engloba terras em litígio entre a Guiana e o Suriname. Maha-Hara toma conta de vários garimpos e tem entre 200 e 300 empregados, grande parte armados. Eles controlam o pouso de aviões na região, usando rádios. A PF suspeita que Maha-Hara esteja traficando drogas.
''A Polícia Federal já confirmou a existência de oito pistas clandestinas na área e acredita que estejam sendo usadas para o tráfico'' diz o coordenador da Operação Cobra, delegado Mauro Sposito. Essa operação reúne as polícias de Brasil e Colômbia, para combater o narcotráfico. Maha-Hara teria entre 30 e 40 anos. É indiano, ''quase negro, forte e vigoroso. Fala inglês e teria ainda noções de francês''. Desembarcou na região há cinco anos, explorando garimpos. Fez algumas pistas de pouso no meio da mata e controla com mão-de-ferro todos os vôos que descem no local.
Os indícios levantados pela PF apontam a existência de brasileiros apoiando o indiano, ''Mas ainda não há números precisos'', diz Sposito.
O que mais dificulta as investigações é o local. Não engloba território brasileiro e a PF está impedida de realizar investigações além fronteira. Suriname e Guiana estariam postergando o problema.
Outro dificuldade é a geografia do território independente. Está na Floresta Amazônica, ocupando principalmente a margem esquerda do Rio Courantyne. O território de Maha-Hara fica incrustado em um grade vale, no meio de uma região montanhosa de difícil acesso. Não há estradas na região. ''É um enclave clandestino'', diz Sposito. O território de Maha-Hara estaria servindo como mais um ponto de tráfico de drogas que sai da Colômbia rumo aos Estados Unidos.
Universitário tem de saber escrever
Redação será prova obrigatória e vai eliminar candidatos no vestibular. Participação no Enen influenciará avaliação
BRASÍLIA - O Ministério da Educação resolveu ressuscitar a importância da redação para a entrada na universidade. Portaria assinada ontem pelo ministro Paulo Renato Souza torna, ao mesmo tempo, obrigatória e eliminatória a redação em todos os exames vestibulares realizados no país a partir de 2002. Pela nova determinação do MEC, nenhuma instituição poderá inscrever ou aceitar candidatos que não estejam cursando ou tenham cumprido todas as etapas do ensino médio.
As medidas, na pratica, têm como alvo a seleção usualmente feita pelas universidades particulares. As públicas, há anos, usam a redação como etapa fundamental para abrir as portas do ensino superior aos estudantes do ensino médio. Na maioria delas, a prova é obrigatória e eliminatória. No último vestibular da UFRJ, por exemplo, um candidato que tirasse zero na redação, estava fora da disputa por vagas. No ano anterior, o critério foi um pouco mais rigoroso. Quem tirasse menos que dois estava reprovado.
A intervenção do MEC chegou com atraso. O péssimo desempenho dos alunos brasileiros no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) - teste que envolveu mais de 265 mil estudantes de 15 anos de 32 países - mostrou o que até o ministro Paulo Renato já sabia: o estudante brasileiro não sabe ler e, quando o faz, entende ou assimila pouco do conteúdo. No Pisa, o Brasil amargou a última colocação. A melhor classificada foi a Finlândia. A justificativa oficial, além da falta de leitura, é o alto índice de repetência registrado pelas escolas brasileiras, sejam elas públicas ou privadas.
Enem - A portaria do MEC traz ainda uma novidade que vai causar polêmica entre as instituições particulares. No artigo 5° do documento que será publicado hoje no Diário Oficial da União, Paulo Renato determina que ''o resultado obtido pelo candidato no Enem deverá fazer parte necessariamente do conjunto de requisitos ou provas dos processos seletivos das Faculdades Isoladas, das Faculdades Integradas e dos Centros Universitários''. Ou seja, as particulares. Hoje os resultados do exame são utilizados apenas pelas universidades públicas.
Ainda no que diz respeito ao Enem, o MEC resolveu novamente valorizar a redação. Os vestibulares realizados para ingresso de universitários em 2003 poderão levar em consideração o resultado conseguido pelo candidato na prova de redação do exame para ensino médio. Com isso, o MEC espera colocar um fim à aprovação de candidatos tecnicamente desqualificados. Livra-se também de uma dor de cabeça. Evita a desculpa mais usada pelas particulares para não aplicar a redação: o custo da correçã o das provas. As dissertações feitas para o Enem já foram corrigidas por especialistas do ministério
Reserva ainda corre perigo
Fogo é controlado em área do Amapá, mas persiste a ameaça das queimadas
MACAPÁ - Cerca de 100 famílias criam búfalos, plantam lavouras, caçam jacarés e promovem queimadas em terras que o governo federal decretou protegidas há mais de 20 anos, com a criação da reserva biológica do Lago Pirituba em 1980. Ali, o maior incêndio já ocorrido numa unidade preservada do Amapá destrói mais de 4 mil hectares de vegetação. Nos últimos dias, surgiu um foco na margem oposta do Rio Araguari. O fogo deve ser controlado esta semana, mas as causas do desastre permanecem.
Raramente os responsáveis são identificados. Além disso, o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) não tem levantamento da fauna e flora. Por isso, não há como estimar os danos. Brigadistas do Ibama, policiais, bombeiros e mateiros cavam valas para conter o fogo.
Sem verba - A falta de recursos para desapropriação impede a retirada dos invasores da reserva. E atrai novas levas de boiadeiros e posseiros, alguns contratados por empresários. ''As verbas prometidas no início do ano infelizmente não chegaram'', diz Murilo Pinheiro, gerente-executivo do Ibama no Estado há um ano e oito meses. Prefeito de Macapá entre 1980 e 1985, duas vezes deputado federal (1991-1998), deve se afastar do Ibama para concorrer a deputado estadual pelo PFL.
Alheia às questões orçamentárias da União, Gilmara Barbosa da Silva, 19 anos, cuida das filhas numa casa sobre palafitas na fazenda Retiro do Jacaré, próximo à gerência do Ibama. Mudou-se há cerca de um ano, quando o marido, Odaniel Ribeiro Nascimento, 21 anos, foi contratado para cuidar de búfalos. A carteira de trabalho é assinada por Liter Dominguez Nunez, um dos sócios da Domestilar, cadeia de lojas de eletrodomésticos do Amapá. ''A Domestilar já estava lá quando a reserva foi criada'', exime-se Pinheiro. Procurado por telefone, Nunez não foi localizado.
Pastagens - ''O fogo começou nas pastagens'', admite Leonardo Farias Pereira, 22 anos, administrador do Retiro do Jacaré. Também foi contratado há um ano. ''Isso aqui não é realmente terra dele, ele só cria aqui'', afirma, referindo-se a Nunez. Pereira estima em mil o número cabeças de búfalo da fazenda.
''Enquanto houver essas fazendas nas unidades de conservação, isso vai continuar'', diz André Fontany, gerente da reserva da Ilha de Maracá-Jipiocá. A área, informa, foi uma das poucas em que houve desapropriação de moradores. ''A terra não é de quem está nela, mas a pessoa fica ali como posseiro'', explica. ''É comercializada sem nenhum recibo. Como o Ibama vai controlar isso?''
Queimadas - Há 26 assentamentos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no Amapá. São seis mil famílias, a maioria do Pará e Maranhão. Quando obtêm o título da terra, os colonos pedem ao Ibama autorização para queimadas controladas em até 3 hectares. Em 1999, o Incra expediu 340 autorizações. No ano seguinte, 940. Este ano, foram 2 mil até agora.
Para fiscalizar os 357 mil hectares da área, o Ibama tem seis funcionários contratados, seis terceirizados e uma lancha. Deveriam, também, cuidar da educação ambiental dos habitantes. A fauna paga o preço da desinformação.
''De vez em quando caço jacaré para comer'', diz Raimundo Gomes da Silva, 44 anos, nascido na reserva. Instalado com os seis filhos na fazenda Santa Margarida, cria 12 cabeças de búfalo e mantém uma pequena roça. Na casa de Vilcina Dolosa da Silva, 36 anos, os jacarés matam a fome dela, do marido e 12 filhos.
Ex-ministro contesta relatório sobre DNER
Padilha nega participação em pagamento irregular de dívidas
BRASÍLIA - O ex-ministro dos Transportes Eliseu Padilha contesta, em nota oficial, o relatório da Corregedoria da Advocacia Geral da União, divulgado domingo pelo Jornal do Brasil. O documento da AGU indica que Padilha e a cúpula do Ministério dos Transportes tinham conhecimento das irregularidades no pagamento de dívidas judiciais do extinto Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER).
Na nota, o ex-ministro declara que a reportagem o envolve ''mentirosa e criminosamente'' nas irregularidades. O envolvimento de Padilha foi apontado pela Corregedoria da AGU, às páginas 11 e 12 do relatório. ''''Não há dúvidas de que o Ministério dos Transportes, por intermédio do gabinete do ministro e da Consultoria Jurídica, tinham conhecimento da forma implementada para liquidação de débitos, mediante acordos realizados pelo DNER, sem observância da ordem cronológica dos precatórios'', diz o texto.
A nota do ex-ministro é longa. ''O repórter mente ao afirmar que a atual consultora jurídica do MT teria sido minha assessora especial e nessa condição, teria assinado parecer suspeito em 1996'', escreve Padilha. O parecer consta das páginas 8, 9 e 10 do relatório da Corregedoria. Em nenhum momento a reportagem afirmou que a atual consultora jurídica do ministério, Lúcia de Castro, emitiu o parecer na condição de assessora especial do ex-ministro. Lúcia assessorou Padilha depois de ter apresentado o parecer e assumiu interinamente a Consultoria Jurídica dos Transportes e outubro, quando o chefe ainda era ministro. Substituiu Arnoldo Braga Filho, afastado do cargo por Padilha.
O ex-ministro informa que ''há dois anos vários órgãos de controle do governo, além do Poder Judiciário e do Ministério Público federal, apuram as denúncias citadas na matéria''. Tal fato é destacado na reportagem do JB. ''Recentemente, determinamos eu e o Dr. Gilmar Mendes (advogado-geral da União) a instalação de novas investigações atendendo à sugestão de novo relatório da AGU'', diz o ex-ministro. A informação sobre a existência da comissão de sindicância consta da reportagem. À página 29 do relatório, a Corregedoria da AGU sugere a abertura de processo administrativo disciplinar, ''objetivando à efetiva apuração dos fatos''.
Na nota, o ex-ministro destaca: ''Não existe relatório, ato ou processo ante qualquer órgão que me envolva como partícipe ou responsável por tais atos''. No documento da Advocacia Geral, à página 10, está registrado: ''Resta evidente que também o Ministério dos Transportes tinha pleno conhecimento dos fatos, tanto que em 10.12.98, o sr. Raimundo Dantas dos Santos, chefe de gabinete do ministro Eliseu Padilha, fazendo referência a despacho da referida autoridade ministerial, datado de 10.12.98, solicitou ao consultor jurídico daquela pasta, Arnoldo Braga Filho, estudos iniciais objetivando implantação de cadastro informatizado das demandas judiciais''. No documento referido, o consultor afirma que ''os acordos administrativos firmados com as empresas vinculadas/MT e a autarquia DNER só serão consumados depois do aprovo do titular desta pasta''.
Padilha responde a ação por improbidade administrativa, apresentada à Justiça Federal pela Procuradoria da República em Brasília no ano passado. É acusado de omissão ante às irregularidades detectadas pela Corregedoria em 1999.
O ex-ministro acusa o JB de mentir, ao dizer que ele teria se recusado a comentar o relatório da AGU. A informação sobre a opção de Padilha pelo silêncio foi transmitida pelo jornalista Paulo Félix, assessor de imprensa do Ministério dos Transportes. Padilha indicou Félix como seu contato em Brasília. Em 5 de dezembro, o assessor contou ter entrado em contato com Padilha a pedido do JB. Disse que o ex-ministro estava em Santa Catarina e não iria se pronunciar sobre o documento da Corregedoria da AGU.
Brasil decodifica DNA de bactéria
BRASÍLIA - Cientistas brasileiros conseguiram dominar a técnica de seqüenciamento de código genético. Pela segunda vez no país, pesquisadores identificaram a formação completa de um cromossomo: decodificaram o DNA da Chromobacterium violaceum, organismo muito comum na região do Rio Negro, na Amazônia. Estudos já promovidos em laboratórios do país mostram que a Chromobacterium pode ser usada na produção de medicamentos para combater a doença de Chagas e a leishmaniose.
Coordenador nacional do projeto, o professor Andrew Simpson afirma que só a bactéria estudada possui três mil genes para a produção de proteínas. ''Estamos diante de uma grande descoberta, não apenas para o Brasil, mas para o mundo.'' Simpson é diretor do Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o câncer. Ele coordenou também a Rede Paulista que seqüenciou, no início do ano passado, a Xylella fastidiosa, bactéria causadora da praga conhecida como ferrugem da laranja.
A identificação do código genético da cromobactéria vai apressar a aplicação de descobertas já feitas. O trabalho foi realizado pelos integrantes da Rede Nacional do Projeto Genoma Brasileiro. Contou com a participação de 200 cientistas, em 25 laboratórios de 15 Estados.
Pesquisas como essas ganharão a partir do ano que vem novos recursos. O Senado aprovou ontem a criação do Fundo Setorial da Biotecnologia. O dinheiro virá da Contribuição da Intervenção no Domínio Econômico (Cide), a ser paga pelos importadores de petróleo e derivados. O projeto Genoma receberá 7,5% da arrecadação do Cide. Para o ministro da Ciência e Tecnologia, Ronaldo Sardemberg, os recursos extras chegarão a R$ 39 milhões em 2002.
Artigos
Estatizar as estatais
Eduardo Cunha
O processo de privatizações da era FHC teve o auge com a venda das companhias telefônicas e das licenças para o estabelecimento da suposta concorrência. O modelo de privatizações e câmbio artificial sobrevalorizado, sustentado pelo Erário, trouxeram como conseqüência uma necessidade de divisas para suportar as remessas de lucros, devido à presença cada vez maior do capital estrangeiro, não só nas empresas privatizadas como também nas empresas privadas que acabaram absorvidas por concorrentes estrangeiras.
As necessidades de se financiarem os déficits de conta corrente do país atraíram os capitais estrangeiros, que dominam cada vez mais a nossa economia e vão gerar o agravamento futuro da nossa liquidez internacional, a estourar no colo do próximo presidente.As companhias telefônicas foram vendidas a preços muito baixos e dentro de um modelo que começou certo e terminou errado.
As antigas empresas telefônicas nos Estados, integrantes do Sistema Telebrás, foram desmembradas, cada uma em duas empresas: uma de telefonia fixa e outra de telefonia celular. Exemplo: a Telerj foi dividida em Telerj e Telerj Celular. Logo em seguida agruparam as novas empresas celulares para efeito de privatização. A Telerj Celular foi juntada à Telest Celular, do Espírito Santo, e assim por diante. Após esse agrupamento, foi licitada licença das novas companhias que iriam operar na Banda B, em competição com as empresas oriundas do Sistema Telebrás.
Com esse modelo para a telefonia celular, se obteve um excelente preço para as licenças e estabeleceu-se a possibilidade de competição, já que as companhias do Sistema Telebrás foram vendidas quase um ano depois, dando tempo para que os detentores das licenças instalassem as suas redes e, além disso, para que novos investimentos fossem realizados com dinheiro dos próprios investidores, ademais de parte de financiamento do BNDES utilizado para a implantação das redes, gerando novos empregos. Como conseqüência acabaram surgindo boas empresas, tais como a ATL no Rio e no Espírito Santo e a BCP em São Paulo, com forte presença no mercado.
Já na telefonia fixa erraram no modelo. Primeiro, agruparam de forma diferente. Foram apenas quatro grupos, gerando empresas com área de atuação continental. Depois cometeram o grande erro de venderem primeiro as empresas agrupadas, em leilão, para só algum tempo depois venderem as licenças e estabelecer a competição, que ficou inviável, devido ao tempo necessário para a implantação das redes de telefonia fixa. O mesmo critério foi utilizado com a empresa de longa distância, a Embratel.
O resultado foi a obtenção de um preço irrisório para as licenças e a geração de monopólios privados: enquanto os detentores das novas licenças implantavam as suas redes, as companhias privatizadas cresciam a pleno vapor, já sob comando privado. Além disso, geraram um gigante inoperante como a Telemar, o que teria sido evitado caso o critério da telefonia fixa tivesse sido igual ao da telefonia celular.
As empresas privatizadas não tiveram, quando estatais, o mesmo ritmo de crescimento. Primeiro, devido à proibição de investimentos, para conter o déficit público, em função das regras do FMI sempre obedecidas pelas equipes econômicas. E isso embora essas empresas, quando estatais, tivessem auto-suficiência e capacidade própria de investimentos, sem necessitar utilizar um centavo sequer de dinheiro público. É o mesmo caso do atual racionamento de energia. Sua causa foi a falta de investimentos, embora Furnas sempre tivesse capacidade financeira para investir.
Em segundo lugar, existia um nível baixo das tarifas telefônicas, corrigidas na era FHC, antes das privatizações, e trazidas a um nível mais elevado do que a média internacional.
O governo FHC privatizou a um preço baixo, dentro das seguintes condições: pagamento parcelado em três vezes, com dois anos de prazo. Financiou 50% do valor de venda através de linha de crédito de prazo longo e juros subsidiados do BNDES, utilizando um recurso público que tem a finalidade de fomentar o desenvolvimento com a geração de novos empregos e o aumento da produção. Essa utilização desvirtuou a finalidade do BNDES, que financiou a aquisição de empresas para grupos privados aumentarem o seu patrimônio e ainda não preservando os empregos, já que houve muitas demissões. O governo direcionou os fundos de pensão para participarem com dinheiro, junto a grupos do seu interesse e sem qualquer voz de comando nas empresas. No caso da Telemar, o governo obrigou o BNDES a entrar com 25% do capital: os compradores não tinham os recursos.
Para completar, todos os investimentos feitos pelas companhias privatizadas foram através de recursos gerados pelas próprias empresas, pelas novas tarifas ou por endividamento, proibido quando as empresas eram estatais. Não houve qualquer capital novo para suportar os investimentos, tornando as privatizações quase uma doação.
Para regular todo esse complexo mercado de telecomunicações foi criada a Anatel, composta na sua quase totalidade por funcionários do antigo sistema Telebrás, com conselheiros com mandato, que hoje atuam em sintonia com as empresas privatizadas, dirigidas, na sua maioria, também por antigos funcionários do sistema Telebrás.
Quem não se lembra da confusa e desnecessária troca do acesso ao DDD e DDI? Geraram uma pérola única no mundo, que é o acesso por companhia em cada ligação, dificultando ainda mais as chamadas de longa distância, confundindo a vida do usuário. Só para se ter uma idéia do absurdo, um usuário do Rio de Janeiro, para ligar para um município vizinho, tem que discar mais cinco números. Isso sem contar que as ligações de longa distância geradas de celulares permaneceram no modelo antigo. Seria muito mais lógico que a numeração continuasse da mesma forma e o usuário optasse pela sua empresa de longa distância junto à sua operadora, podendo mudar quando não estivesse satisfeito. É lógico que esse confuso modelo beneficiou a Embratel, em detrimento da Intelig, já que ele foi introduzido antes de a Intelig iniciar as suas atividades.
A Anatel não demonstra muita preocupação com os usuários, tornando-se imperioso que o próximo presidente reveja o papel das a gências, as regras de concessão e o próprio processo de privatização. As mudanças divulgadas pela Anatel das metas a serem atingidas, desrespeitando a legislação da privatização das companhias telefônicas e o próprio contrato de concessão, com o adiamento de 2002 para 2005, na realidade prejudicam os usuários e beneficiam as empresas, porque dão mais tempo para o monopólio privado, e ainda de quebra bonificam a Embratel, permitindo que ela faça ligações locais. Com isso a possibilidade de guerra de tarifas que beneficiaria os usuários, tão badalada quanto das privatizações, foi adiada até 2005.
Qual a base legal desse vergonhoso benefício? Os conselheiros da Anatel privilegiaram os seus prováveis empregadores, ao fim dos seus mandatos, além de reduzirem a obrigação de atendimento de 103 para 40 cidades e ainda estão deixando a Embratel ficar com a marca DDD e DDI, sem interferir na disputa com a Intelig.
Na realidade quando analisamos o trabalho dessas agências, bem como das empresas estatais restantes, verificamos que necessitamos estatizá-las de verdade, pois hoje estão a serviço dos interesses privados, defendidos pelos seus dirigentes e altos funcionários, em detrimento dos verdadeiros interesses do país, beneficiando quase sempre futuros empregadores.
Além da Anatel, outro grande exemplo é a Petrobras, a maior empresa brasileira, detentora, na era FHC, de uma caixa preta de contratos nebulosos de milhões de dólares sem licitação, com grandes prejuízos aos cofres públicos, sem punição de ninguém.
Um bom programa de governo para o próximo Presidente: estatizar as estatais
Colunistas
DORA KRAMER
PT teme efeito-Suplicy
A quantidade e a violência dos protestos relativos ao artigo que tratava, na semana passada, das dificuldades do PT com o senador Eduardo Suplicy, mostra que o partido tem razão quando, no encontro nacional do último fim de semana em Pernambuco, chegou à conclusão de que essa é a principal e mais delicada questão que os petistas têm a enfrentar, agora, na fase de preparação do lançamento da candidatura à Presidência da República.
Seria interessante que algumas pessoas se dessem ao trabalho de raciocinar que a função de quem tem por ofício transmitir e interpretar informações - externando também sobre elas opiniões - não se sustenta na imaginação criativa de quem escreve. A agressividade da maioria dos leitores, além de não corresponder ao equilíbrio de adjetivos com que convivem neste espaço, deveria antes ser dirigida ao PT.
Gente atenta, interessada e politizada, por certo já notou a posição unânime externada pelo comando petista, segundo a qual, hoje, é um fato o desconforto causado pelo senador Suplicy dentro do partido. Esconder ou minimizar tal evidência, sim, seria um exercício de arrogância baseado na ilusão de que é possível brigar com a notícia.
Não há nada mais ofensivo para quem trata da análise dos fatos do que a suposição de que haja por detrás dela intenções que não a de relatar o que se passa na política neste período pré-eleitoral. Para dar os nomes certos às coisas, a desconfiança é a de que exista desonestidade intelectual, engajamento partidário ou mesmo outras intenções, como a que aventa um leitor, segundo o qual, aqui, se considera indiscutível a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva dentro do PT, apenas como tática, para incentivar o partido a mais uma derrota.
Se os que protestam, com tanta veemência, acreditam que Lula não poderia ser o candidato do PT, não gostam do partido ou ainda detestam a administração da prefeita Marta Suplicy, o caminho mais curto é simplesmente votar em outro candidato. E não levantar suspeitas sobre o que desconhecem.
Fato é - e esta certeza baseia-se em informações recolhidas, não só na cúpula, mas repassadas pelas posições defendidas na base durante o encontro nacional - que o partido considera-se hoje numa das situações mais delicadas em que já esteve.
Dispõe do candidato primeiro colocado nas pesquisas e não pretende abrir mão dele. Lula, por sua vez, obedece à lógica quando não se propõe a disputar prévias, muito menos a debater o programa do partido numa fase em que isso significa pura perda de tempo e abertura de guarda ao adversário. É bom repetir, este é o pensamento majoritário do partido.
Partido este cuja maior preocupação agora é não expor Lula a qualquer constrangimento político nem dar a Suplicy a oportunidade de causar um estrago que prejudique não apenas a candidatura presidencial, mas também as estaduais, principalmente em São Paulo.
Ou seja, há um temor de que o efeito-Suplicy resvale para o clima plebiscitário, no qual se misturem razões não-políticas aos motivos daqueles que, antipetitas enrustidos, acabem por potencializar para o mal uma obviedade que é a recusa de Lula sair pelo país afora debatendo com Suplicy. Poderiam, aliás, ter apoiado com mais firmeza a postulação feita, há um ano, por Suplicy quando, então, essa era uma discussão a ser aberta.
Uns não levaram o senador a sério e outros temeram enfrentar de frente o tabu Lula-presidente.
O PT hoje reconhece que é prisioneiro de sua própria prática de democracia interna que, neste momento, confunde-se com democratismo e impede o comando de tomar decisões (e a que ele gostaria seria a de cancelar as prévias) na condição de colegiado legitimamente eleito.
Mas sabem os petistas graúdos que, vítimas do próprio cacoete de enxergar a vida sem nuances - ou tudo é preto ou bem é branco -, se resolverem que simplesmente não há disputa, isso causará um desgaste imenso na opinião pública e também internamente.
Então, no fim de janeiro, o diretório nacional se reunirá para definir as regras das prévias - com toda certeza sem festival de debates - e, até lá, torcer para que o imponderável os ajude. Qual seja, o senador Eduardo Suplicy acenar com a paz, desistir de paralisar o partido em torno de prévias, agora, e também depois não se transformar num fator de desconforto durante a campanha eleitoral.
''Precisamos escalar uma montanha, não podemos correr o risco de tropeçar numa pedra que nos faça retroceder todo o caminho'', resume o vice-presidente do PT e candidato em São Paulo, José Genoíno.
Falta o básico
Nesses tempos em que analfabetos são aprovados em vestibular, chega-nos um dado desalentador da União dos Vereadores da Bahia. Levantamento feito entre os 5.000 vereadores do Estado constatou que 70% não completaram o primeiro grau. E é óbvio que os baianos não devem estar numa situação isolada do resto do país.
Editorial
Ponto Morto
O discurso ambíguo de Yasser Arafat, anunciando que reprimirá os ataques terroristas contra Israel e ao mesmo tempo alfinetando o primeiro-ministro Ariel Sharon, é bem o retrato da situação que vive no contexto atual do Oriente Médio. Dia a dia sua autoridade de raíz (chefe) da causa palestina se enfraquece, na proporção direta do endurecimento militar israelense em função dos ataques suicidas do Hamas e da Jihad Islâmica.
Instaurou-se um ciclo vicioso do qual é difícil sair. Israel não retoma o processo de paz enquanto continuarem os ataques terroristas e as lideranças do Hamas e da Jihad não cessam sua atividade enquanto Israel não fizer concessões. Resultado: as conversações de paz estagnaram num ponto morto, sem solução à vista.
Arafat se encontra no meio do furacão, acuado de um lado pelos grupos fundamentalistas que clamam por ação violenta contra a ocupação israelense e, do outro, pela pressão internacional que exige dele repressão aos fundamentalistas. A situação atual lançou a jovem geração de dirigentes palestinos nos braços do Hamas. Ao mesmo tempo o velho raíz se torna cada vez menos acreditado aos olhos do povo.
Israel certamente reforçará o estrangulamento das cidades autônomas enquanto elas estiverem sob a influência dos extremistas. Fala-se muito - e Sharon ficaria contente com isto - em alijar Arafat do poder, considerando que ele não representa praticamente mais nada. A geração palestina ascendente deveria receber por parte de Israel sinais positivos, paralelamente à perseguição e ao cerco dos camicases do Hamas e da Jihad.
Em Israel, ninguém acredita que Arafat esteja se esforçando de verdade para controlar os extremistas. Os porta-vozes do Hamas e da Jihad falam quando querem na televisão palestina e assumem a responsabilidade pelos assassinatos dos israelenses.No entanto, mesmo o jornal israelense de direita Maariv, que considera Arafat cúmplice dos extremistas, mostra-se contrário à sua derrubada. É contrário também ao desmantelamento da Autoridade Palestina, tal como ela existe atualmente. Pelo simples motivo, segundo raciocina o jornal, que os israelenses ficariam sem ninguém com quem dialogar.
Embora Arafat continue a ser o único interlocutor de Israel, suas ambigüidades desconcertam quem dele se aproxima. Em Camp David, nos EUA, em julho de 2000, o ex-primeiro-ministro Ehud Barak, em consonância com o então presidente Bill Clinton, ofereceu aos palestinos 95% da Cisjordânia e a repartição de Jerusalém em duas capitais. Tratava-se da melhor oferta jamais feita por Israel, mas Arafat recusou-a duramente e, por sua negação, foi recebido em casa como herói. Para certos setores palestinos, justamente ansiosos por proclamar a independência, como Israel em circunstâncias semelhantes fez há meio século, a melhor oferta ainda é pouco. A rigor se pode dizer que Barak foi derrubado do poder por causa das propostas generosas feitas a Arafat. Em lugar dele, subiu Sharon que declarou que jamais apertará literalmente a mão de Arafat, gesto que em sua versão simbólica deveria acompanhar qualquer reunião sobre o processo de paz.
Para quem tem um mínimo de senso comum, é claro que Israel jamais se estabilizará se não adotar a Linha Verde (linha fictícia) que o separa dos territórios ocupados em 1967. Direita israelense e extremistas palestinos refutam este ponto. Houve tempo em que a esquerda israelense, incluindo aí os 20% de árabes que fazem parte da população de Israel, batia-se por um processo de paz que cedo ou tarde sairia da encruzilhada adversa.
Hoje, em meio aos ataques terroristas, apontados não apenas contra Israel mas também contra a liderança de Arafat, em situação de extremo desconforto para todos, quase desapareceu a oposição politicamente significativa em Israel. Sumiram da política israelense a oposição apoiada numa opinião pública significativa, o debate público, os políticos que conduziam o debate e a oposição parlamentar séria.
Os extremistas palestinos desencadearam guerra incivil contra alvos israelenses dos dois lados da Linha Verde. A primeira resposta da opinião pública israelense foi a eleição de Sharon. Os dirigentes trabalhistas, como ponderou o jornal independente HaHaretz, lançaram-se à batalha surrealista pela direção de um partido que praticamente não existe mais. Por isso, diz o jornal, a primeira coisa a fazer é reconstruir a oposição política e moral face ao governo de união nacional que não é nada além de governo de pura direita.
Os políticos da direita que desejam derrubar Arafat a qualquer custo cedo descobririam que, se é ruim com ele, pior seria sem ele.
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12/18/2001
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Roseana rejeita pressões para desistir de candidatura
Tasso acelera candidatura